Ziggy |
É, eu me acostumo, mas não amanso, por Deus! Eu me dou melhor com os bichos do que com gente [...] e quando acaricio a cabeça do meu cão sei que ele não exige que eu faça sentido ou me explique.
Clarice Lispector
Desde que me conheço que me habituei à companhia de bichos. Não para escrever sobre eles como Torga o fez , mas porque habitavam o meu espaço. Nasci no Norte. Numa cidade ancestral em que muitas das habitações eram quintas . Tinham , além de grandes casas , terrenos frondosos a rodeá-las. Nesse tempo, havia espaço , tempo e afeição pelos bichos, que carinhosamente eram assim designados nessas terras nortenhas. Muitas das nossas brincadeiras infantis estão pejadas de lembranças com animais. Desde o galo a lançar o grito matinal, ao cortejo colorido das galinhas que nos ofereciam, em desafio aliciante, a descoberta dos ovos, escondidos num circuito labiríntico. Mas o animal, que nunca me deixou, foi o cão. Ao conhecê-lo, uma afeição imediata eclodiu. Nem sei nomear todos os que fizeram parte da minha já longa vida. Sei que nasci e que já lá estavam à minha espera. Eram vários. O meu pai era caçador. Juntava matilhas de lindos e elegantes exemplares. Comecei a conhecê-los e eles a mim. E iniciámos uma parceria que perdura. Não sei viver sem um cão. Faz parte integrante do meu agregado familiar. Não é mais um. É apenas um: ele, o meu cão. Também não sei quantas lágrimas verti pela morte de alguns. É tamanha a dor que me toma um pesado luto prolongado. Sair desse torpor doloroso é sempre violento. Por mais que tente, a dor permanece e a lembrança está por todo o lado. A morte é a ausência que não cessa de se evidenciar, de reclamar.
Quando a mágoa abranda , há sempre alguém que me traz um cachorro. Vê-lo, faceiro, a sorrir , liberta qualquer resistência ao possível retorno a uma nova perda. A parceria é reatada de imediato. E começa aquele enlevo que rodeia um novo amor. Um animal pequenino que depende de nós e se entrega sem reservas. Tem sido sempre assim.
Vive-se com algum sobressalto. Há dias de indisposições, de leves doenças, de alguns sustos por precárias fugas. Mas há a certeza de um sentimento único que afaga o coração.
Hoje , o dia é de muita incerteza . Ziggy, o meu doce cão, adoeceu. Está internado , numa luta pela vida. A casa ficou vazia. Não sei como suprir esta dor porque nunca é a mesma . A espera pesa e alonga-se. No entanto, e apesar de todos os receios, acredito que se restabelecerá e regressará ao lugar onde sempre pode ser feliz.
Que Deus o proteja, pois também é dele o reino dos céus.
MJVS
💪💪💪💪💪
ResponderEliminarO nosso rapaz é forte, temos esperança que rápidamente volta ao colo da sua familia onde é mimado e amado.
ResponderEliminarEle é lutador vai certamente voltar ás corridas e brincadeiras convosco. Fico com muita esperança . M
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