"Às 8.30 da manhã passava pela rua do Ouro, em triunfo, a artilharia , que era delirantemente ovacionada pelo povo.
As ruas acham-se repletas de gente, que se abraça. O júbilo é indescritível!
A essa hora, no Castelo de S. Jorge, que tinha a bandeira azul e branca, foi içada a bandeira republicana.
O povo dirigiu-se para a Câmara Municipal, dando muitos vivas à REPÚBLICA, içando também a bandeira republicana.
O povo em massa dirigiu-se aos quartéis dos Paulistas , Carmo e rua da Estrela, onde foram içadas bandeiras brancas, dando vivas à República e à pátria, que eram correspondidas entusiasticamente pelos soldados . Às 8.20 as forças que estavam no Rossio entregaram-se, aclamando -as o povo com delírio. À hora a que escrevemos, os navios estão salvando a bandeira republicana. O "S. Paulo" salvou igualmente.
Vê-se muita gente no Castelo de S. Jorge acenando com lenços para o povo que anda na baixa. Os membros do directório foram às 8.40 para a Câmara Municipal, onde proclamaram a República com as aclamações entusiásticas do povo.
O Governo provisório consta será assim constituído: presidente, Teófilo Braga; interior, António José de Almeida; guerra, coronel Barreto; marinha, Azevedo Gomes; obras públicas, António Luiz Gomes; fazenda Basílio Teles; justiça, Afonso Costa; estrangeiros, Bernardino Machado.
Governador Civil, Eusébio Leão.
Em quase todos os edifícios públicos estão tremulando bandeiras republicanas. A polícia faz causa comum com o povo, que percorre as ruas conduzindo bandeiras e dando vivas à República."
As paredes amanhecem forradas de editais:
EDITAL
ANTÓNIO DO CARVALHAL DA SILVEIRA TELES DE CARVALHO, General comandante da 1ª Divisão Militar e da cidade de Lisboa.
Faço saber que está proclamada a República tanto na capital como noutras localidades do país, e que reina a ordem mais completa. A nobre atitude do povo revolucionário tem protegido tanto quanto é possível nestas ocasiões os haveres e a vida dos moradores de Lisboa. É de esperar, portanto, que o comércio desta capital corresponda a esta atitude levantada do povo lisbonense,abrindo os seus estabelecimentos principalmente os de víveres, que tão indispensáveis são à população, e que terão de ser abertos pela força militar se até às 3 horas o não forem espontaneamente pelos respectivos proprietários.
Os estabelecimentos de bebidas alcoólicas , cafés e casas de pasto fecharão às 8 horas da noite.
O governo da cidade continua provisoriamente entregue à autoridade militar.
Ao Exército e à Marinha
O Governo Provisório da República Portuguesa saúda as forças de terra e mar que com o povo instituíram a República para felicidade da Pátria.
Confia no patriotismo de todos. E porque a República para todos é feita, espera que os oficiais do exército e da armada, que não tomaram parte no movimento revolucionário, se apresentem no quartel-general a garantir pela sua honra a mais absoluta lealdade ao novo regime.
No entretanto, os revolucionários devem guardar todas as suas posições para defesa e consolidação da República.
Lisboa, 5 de Outubro de 1910
PELO GOVERNO PROVISÓRIO
O presidente, TEÓFILO BRAGA
Raul Brandão, in " Memórias, volume II,", Quetzal Editores, pp.254, 255, 256
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