Um dia, pronto, me acabo / e
seja o que Deus quiser / Morrer, que me importa, o diabo / é deixar de viver.
(Mário Quintana)
Eutanásia
é o mote que se retoma. Ciclico. Muitos destes temas fortes vão e voltam. Debrucei-me muito sobre a finitude da vida ,
incluindo esta vertente, há vinte anos. Entretanto, assisti a muitas entradas
do tema e a repentinos silêncios.
Sempre
que se fala em Eutanásia, com alguma leviandade
ou desconhecimento, fico assustada. A tal boa morte que vem de Sócrates.
A
filosofia já foi considerada, no passado, a aprendizagem da morte. Desde
Sócrates, filósofo era aquele que sabia morrer. Função da filosofia seria
preparar-nos para uma “boa morte”, e o termo grego genérico, no caso, era mesmo
“eutanásia”. Supunha-se que aquele que sabe morrer aprendeu a viver, e assim a
vida e a morte se iluminavam reciprocamente.
No século XIX, época dos grandes sistemas, a morte saiu da temática central dos textos filosóficos, e foi talvez Kierkegaard quem inaugurou uma nova perspectiva, chamada depois “existencial”, descrevendo a morte como algo que para cada um de nós é certo, mas cuja hora é bem incerta. Os filósofos da existência, no século XX, aprenderam esse dado sob a fórmula mais genérica da experiência da “finitude humana”. Para Heidegger, um dos “existenciais”, que caracterizaria o homem como o “ser-para-a-morte”,(“Zum-Tode-sein” ), isto significaria que, entre as diversas possibilidades do homem, há uma que representa “a possibilidade da impossibilidade”, ou seja, quando esta ocorre, todas as demais possibilidades ficam excluídas.
No século XIX, época dos grandes sistemas, a morte saiu da temática central dos textos filosóficos, e foi talvez Kierkegaard quem inaugurou uma nova perspectiva, chamada depois “existencial”, descrevendo a morte como algo que para cada um de nós é certo, mas cuja hora é bem incerta. Os filósofos da existência, no século XX, aprenderam esse dado sob a fórmula mais genérica da experiência da “finitude humana”. Para Heidegger, um dos “existenciais”, que caracterizaria o homem como o “ser-para-a-morte”,(“Zum-Tode-sein” ), isto significaria que, entre as diversas possibilidades do homem, há uma que representa “a possibilidade da impossibilidade”, ou seja, quando esta ocorre, todas as demais possibilidades ficam excluídas.
Mas
o termo eutanásia é muito amplo e pode ter diferentes interpretações. O termo
vem realmente do grego, podendo ser traduzido como "boa morte"ou
"morte apropriada". O termo foi proposto por Francis Bacon, em 1623,
na obra "Historia vitae et mortis", como sendo o "tratamento
adequado das doenças incuráveis".
De uma maneira geral, entende-se por eutanásia quando uma pessoa causa deliberadamente a morte de outra que está mais fraca, debilitada ou em sofrimento. Neste último caso, a eutanásia seria justificada como uma forma de evitar um sofrimento acarretado por um longo período de doença. Tem sido utilizado, de forma equivocada, o termo Ortotanásia para indicar este tipo de eutanásia. Esta palavra deve ser utilizada no seu real sentido de utilizar os meios adequados para tratar uma pessoa que está morrendo.
De uma maneira geral, entende-se por eutanásia quando uma pessoa causa deliberadamente a morte de outra que está mais fraca, debilitada ou em sofrimento. Neste último caso, a eutanásia seria justificada como uma forma de evitar um sofrimento acarretado por um longo período de doença. Tem sido utilizado, de forma equivocada, o termo Ortotanásia para indicar este tipo de eutanásia. Esta palavra deve ser utilizada no seu real sentido de utilizar os meios adequados para tratar uma pessoa que está morrendo.
Um
exemplo de utilização diferente da que hoje é utilizada foi a proposta, no século XIX, dos teólogos Larrag e Claret,
em "Prontuários de Teologia Moral", publicado em 1866. Eles
utilizavam eutanásia para caracterizar a "morte em estado de graça".
Pesquisas mostraram que 40%
dos médicos entrevistados já receberam, de seus pacientes, pedidos para morrer.
Este número de pedidos é significativo e demonstra como o fim de vida pode ser
muito penoso. Entretanto, a maioria destes pedidos não resultou em sua
aceitação. Quando os médicos falam da consumação do acto, o método mais
utilizado é o dos coquetéis que misturam calmante, anestésico e veneno, e que
permitem uma morte tranquila. A fronteira entre sedação e eutanásia é muito
ténue; o que diferencia as duas é a intenção, nem sempre muito clara.
Infelizmente, a diferença entre palavras e intenções nem sempre pode ser
explicitada.
Muitos membros da equipe de
saúde não sabem como manejar a dor e outros sintomas incapacitantes, e acabam
se afastando destes pacientes. Hennezel (2001) considera que 90% dos pedidos de
eutanásia desapareceriam se os doentes se sentissem menos sós e com menos dor.
Para ela é importante considerar a legitimidade dos pedidos, ou seja, os
pacientes poderem falar que estão cansados da vida, que não aguentam mais o
sofrimento. Mas ao pedirem que se finalizem os seus sofrimentos, a autora se
pergunta: será que para nos apropriarmos de nossa própria morte, é preciso
pedir para que alguém nos mate?
Hennezel, explorando o tema,
lança um outro olhar para a questão, ao afirmar que, quando o doente pede para
morrer, pede também que se olhe para ele, para o seu sofrimento, para que se
sinta legitimado na sua dor. Procura também aprofundar a questão, discutindo a
diferença entre desejo e necessidade. Para ela, a necessidade é o que está
premente, acessível à consciência e demanda uma resolução imediata, como, por
exemplo, o alívio da dor. O desejo não é tão claro à consciência. Uma grande
dor para o paciente, sensível e atento, é pensar que o enterraram antes do
tempo, prevendo sua morte. Nesta situação, antecipa-se, pedindo para morrer
antes que o matem. E a autora afirma que, tanto no pedido para morrer, como na
eutanásia, podem estar embutidos uma agressividade inconsciente, uma desilusão
de ambos os lados, claros indícios de impotência.
E será que o pedido do
paciente para morrer não poderia ser também uma resposta ao olhar de impotência
do profissional, que não sabe o que fazer na situação? Como já referi, o pedido
para morrer pode ser visto como um pedido de atenção, uma afirmação de que se é
humano, que ainda se está vivo. Às vezes, o paciente está tão deformado que não
se sente mais vivo, nem é mais visto assim. Não pede obrigatoriamente que se
faça algo, mas para que seja visto e ouvido. Não podemos nos esquecer da
importância dos últimos momentos de vida para o doente e para os seus familiares.
É importante ressaltar: será
que o desejo de morrer está sempre relacionado com sofrimento e depressão? Será
que, em alguns casos, não é a constatação de que a vida chegou ao fim? A
diferença é que, no primeiro caso, os pacientes exalam tristeza e, no segundo,
serenidade. Há pessoas que não conseguem morrer e pedem ajuda para soltar-se.
Morrer pode ser tão tenso , que não conseguem libertar-se. Permitir morrer não
é igual a matar. Às vezes, o medo de morrer é tão grande que há enorme
necessidade de paz, segurança e, à semelhança do parto, é a busca de um
contacto que não retém e sim liberta. Como o assunto é, certamente, polémico e
não há consenso entre os profissionais envolvidos, aqui estão apenas sendo
alinhavadas algumas considerações.
Em vários hospitais, o fim
de vida é pleno de sofrimento, com muitas dores e sem calor humano; pacientes,
familiares e enfermeiros abandonados à própria sorte, não sabendo o que fazer,
e os últimos tendo mesmo de realizar procedimentos com os quais não concordam.
O que é mais complicado nos
hospitais não é a morte em si, mas os dramas até a morte, a agonia. É aí que
surge a tentação de aliviar o sofrimento, induzindo a morte. Mishara (1999)
observa que houve um aumento de 35% nos pedidos de eutanásia, de 1990 a 1995. Acredito
que este facto esteja directamente ligado às intervenções médicas, que provocam
um prolongamento da vida, sem preocupação equivalente com a qualidade da
mesma.( Maria Júlia Kovács –USP)
A
pessoa é o ser mais completo que existe no universo e a protagonista de cultura
e de história, única sujeita a direitos e a deveres – só a pessoa humana tem
direito a nome próprio. É um ser consciente que se realiza na relação com o
outro, estando implícita a sua passagem pelo outro, que o entendemos como
envolvendo todas as dimensões do homem:bio-psico-social, afectiva, espiritual,
política, cultural, económica, constituindo a alteridade e que engloba o
conceito de diversidade.
I.Renaud alerta, entre algumas considerações, os
profissionais de saúde para que estejam atentos ao corpo que a pessoa é. E, para além
da prestação dos cuidados de saúde que o corpo necessita , devem ter em vista todos aqueles que visam a
promoção da harmonia entre corpo e espírito."
Cada homem tem dentro de si a forma
completa da condição humana.
Michel
de Montaigne ( 1533-1592)
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