"Mas só há um mundo. A felicidade e o absurdo são dois filhos
da mesma terra. São inseparáveis. O erro seria dizer que a felicidade nasce
forçosamente da descoberta absurda. Acontece também que o sentimento do absurdo
nasça da felicidade. “Acho que tudo está bem”, diz Édipo e essa frase é
sagrada. Ressoa no universo altivo e limitado do homem. Ensina que nem tudo
está perdido, que nem tudo foi esgotado. Expulsa deste mundo um deus que nele
entrara com a insatisfação e o gosto das dores inúteis. Faz do destino uma
questão do homem, que deve ser tratado entre homens. Toda a alegria silenciosa
de Sísifo aqui reside. O seu destino pertence-lhe."
Albert Camus, in O Mito de Sísifo ,Ed. Livros do Brasil
A felicidade sentava-se todos os dias no peitoril da janela.
Tinha feições de menino inconsolável.
Um menino impúbere
ainda sem amor para ninguém,
gostando apenas de demorar as mãos
ou de roçar lentamente o cabelo pelas faces humanas.
E, como menino que era,
achava um grande mistério no seu próprio nome.
Jorge de Sena, Perseguição,1942 in Poesia I ,Moraes Editores
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