As
palavras de Churchill ajudaram na vitória dos aliados na Segunda Guerra?
"Não
tenho nada a oferecer senão sangue, trabalho, lágrimas e suor".
"No
discurso inaugural como primeiro-ministro do Reino Unido, em 1940, Winston
Churchill apontou como as palavras teriam papel importante, durante a sua
liderança, no combate a Hitler e à Segunda Guerra.
Este
e outros discursos memoráveis de Churchill testemunham a importância dada pelo
estadista à retórica. Com apenas 22 anos, por exemplo, ele escreveu: "De
todos os talentos concedidos aos homens, nenhum é tão precioso como a graça da
oratória. Quem dela desfruta possui um poder mais duradouro do que o de um
grande rei".
Mas
falar publicamente não foi algo natural para Churchill.
Saiba como ele superou
ridicularizações e problemas na fala para ser um dos oradores mais reconhecidos
da política mundial.
Língua
presa
Churchill
odiava a sua língua presa quando estava na escola, tentando eliminá-la com
exercícios.
Mas,
quando já era primeiro-ministro, ele percebeu que a característica poderia ser
uma arma no esforço de guerra , dando-lhe uma marca autêntica em transmissões de
rádio. Então, suas dentaduras eram confeccionadas de forma a preservar a língua
presa.
Um
conjunto de dentaduras do estadista foi leiloado em 2010 pelo valor de cerca de
15 mil libras ( cerca de 17.995,00 Euros). Outro conjunto está hoje no Museu
Hunterian, em Londres.
"Estes
são realmente os dentes que salvaram o mundo", diz Jane Hughes,
representante do museu. "Eles foram vitais no esforço de guerra"
Um
orador disciplinado
Quando
Churchill se tornou primeiro-ministro, logo reconheceu a importância da
oratória em inspirar uma nação em guerra. Inicialmente, ele enfrentou críticas
sobre a sua oratória e vocabulário, frequentemente vistos como antiquados. Mas
eventos traumáticos durante o verão de 1940 levaram o drama a um nível que foi
ao encontro da prosa do estadista.
A
informalidade não era uma característica de Churchill - na verdade, ele gastava
muito tempo preparando e treinando a sua fala. Era uma forma de superar o nervosismo em falar publicamente, algo que ele sentiu desde cedo.
Diferente
de muitos políticos modernos, Churchill não contava com redactores de discursos.
Ele era o dono de sua palavra, defendendo que "a história será gentil
comigo, porque eu pretendo escrevê-la".
Ele
foi um grande escritor, ganhando o prémio Nobel de Literatura em 1953. Entre
seus métodos revelados, escrevia o texto em formato de salmos. As
passagens fraseadas ajudavam-no a manter uma cadência na fala, entremeada por um
ritmo próprio e pausas dramáticas.
Ele
também usava uma linguagem emotiva e metáforas, além de estimular fortemente a
imaginação dos ouvintes - quase simulando a presença destes no campo de
batalha. Dominava ainda a arte da aliteração (repetição em sequência de
algum fonema), frequentemente repetindo as palavras mais sonoras para maximizar
o impacto.
As
palavras e a batalha
Provavelmente,
o mais famoso discurso de Churchill foi o de 18 de junho de 1940, quando a
Grã-Bretanha ficou sozinha na guerra, após a derrota da França, que teve parte
do território ocupado pelo exército alemão.
Cópias
do discurso hoje alocadas na Universidade de Cambrigde revelam quanto tempo o
estadista gastou fazendo rascunhos e mais rascunhos dele.
Allen
Packwood, director do sector de arquivos relacionados a Churchill na
universidade, explica como o político editou o discurso até o último minuto.
"A
página é coberta por anotações suas feitas à mão. Ele sabia do peso daquilo,
mas foi capaz de produzir o discurso naquele momento de extremo stress",
explica Packwood.
Hoje,
o discurso ganha crédito importante por dar ânimo ao Reino Unido, nas vésperas do combate aéreo entre alemães e britânicos sobre as águas do Canal da
Mancha. Mas, segundo o pesquisador Stephen Bungay, a reação inicial ao discurso
foi muito entusiasmada.
"Churchill
falou na Câmara dos Comuns, à
tarde, e a transmissão aconteceu à noite. O seu secretário escreveu que 'ele
havia falado pior do que na ocasião anterior'. O parlamentar Harold Nicolson
disse que Churchill soou 'péssimo'. Para Cecil King, proprietário de um jornal,
ele (Churchill) soava como quem estivesse doente ou bêbado. Churchill falou o
tempo inteiro enquanto fumava um charuto, o que somado à sua antiga dificuldade
em pronunciar a letra 'S' pode ter feito parecer que ele estava bêbado",
diz Bungay.
Apesar
do cepticismo inicial, as palavras de Churchill inspiraram os britânicos e, para
vários historiadores, teve papel relevante em impulsionar a vitória dos aliados
na Segunda Guerra.
Um
relatório do Ministério da Justiça britânico (Home Office) apontou que o
discurso foi considerado "corajoso e esperançoso". A popularidade
também cresceu, de acordo com uma pesquisa da empresa Gallup - que indicou uma
taxa de aprovação de 88% em Julho.”
BBC,
11.02.2018
Sem comentários:
Enviar um comentário