sexta-feira, 30 de abril de 2021

Património Europeu ameaçado em 2021


Anunciados os “7 Mais Ameaçados” em 2021
"A Europa Nostra, organização europeia de defesa do Património, e o Instituto do Banco Europeu de Investimento anunciaram quais os monumentos e locais da Europa considerados mais ameaçados em 2021.
Esses locais, pertencentes a sete países, são:

Linha de comboio a vapor de Achensee, Tirol, ÁUSTRIA
Complexo do Cemitério histórico de Mirogoj, Zagrebe, CROÁCIA
Cinco ilhas do sul do mar Egeu, GRÉCIA
O Jardim Giusti, Verona, ITÁLIA
Mosteiro de Dečani, KOSOVO
Estação Central dos Correios, Skopje, MACEDÓNIA DO NORTE
Ermida de San Juan de Socueva, Cantábria, ESPANHA

O anúncio dos “7 Mais Ameaçados” de 2021 foi feito num evento online co-organizado por representantes da Europa Nostra e do Instituto do Banco Europeu de Investimento, com a participação de Mariya Gabriel, Comissária Europeia para a Inovação, Investigação, Cultura, Educação e Juventude. Representantes dos 7 locais selecionados contribuíram para o evento online, que atraiu mais de 300 pessoas de toda a Europa e não só.
Guy Clausse, Vice-Presidente Executivo da Europa Nostra, enfatizou: “O objectivo da nossa Lista dos “7 Mais Ameaçados” de 2021 é fazer soar o alarme sobre as graves ameaças que estes sítios enfrentam. De um excepcional mosteiro medieval a um notável jardim renascentista, de construções industriais e modernas a paisagens culturais icónicas: estes locais são testemunhos importantes do nosso passado, memória e identidade partilhada. Numa altura em que o nosso continente atravessa uma crise sem precedentes, a Europa Nostra deseja expressar a sua solidariedade e dar o seu apoio às comunidades locais em toda a Europa que estão determinadas em salvar estes tesouros patrimoniais em perigo. Através da nossa ampla rede pan-europeia de membros e parceiros, mobilizaremos diversos conhecimentos e recursos para ajudar a salvar estes sítios históricos, que devem ser reconhecidos como vetores poderosos de desenvolvimento sustentável, bem como ferramentas vitais para a paz e o diálogo entre as várias comunidades. Juntos conseguimos!”
Francisco de Paula Coelho, Reitor do Instituto do Banco Europeu de Investimento, afirmou: “Mais uma vez, o Instituto BEI está lado a lado com a Europa Nostra, parceira de longa data na salvaguarda do património cultural europeu em perigo. Os europeus orgulham-se do seu património cultural. Isso aproxima-os. Para o Banco da UE, é natural ajudar a fortalecer esta ligação através do apoio e compromisso com o Programa anual “Os 7 Mais Ameaçados”.
Reagindo ao anúncio dos “7 Mais Ameaçados” de 2021, Mariya Gabriel, Comissária Europeia para a Inovação, Investigação, Cultura, Educação e Juventude, disse: “O património cultural da Europa é o nosso passado, presente e futuro. Faz parte da nossa identidade e reúne pessoas de todo o continente em torno de valores e experiências partilhadas. É precioso e merece a nossa máxima atenção e proteção. Através deste programa, colocamos os holofotes no património europeu em perigo, aumentando a consciencialização e preparando o caminho para um futuro viável para os locais seleccionados.”
Os “7 Mais Ameaçados” para 2021 foram escolhidos pela Direção da Europa Nostra de entre os 12 selecionados por um painel de especialistas. A selecção foi feita com base na importância patrimonial excecional e no valor cultural de cada um dos locais, bem como com base no grau de perigo que enfrentam. O nível de envolvimento das comunidades locais e o compromisso das partes interessadas públicas e privadas para salvar estes locais foram cruciais. Outro critério de seleção foi o potencial destes locais para actuarem como um catalisador para o desenvolvimento socioeconómico sustentável, bem como uma ferramenta para promover a paz e o diálogo nas suas regiões.
Os “7 Mais Ameaçados” seleccionados serão elegíveis para um subsídio do Banco Europeu de Investimento (BEI) de até 10.000 euros por local. Este subsídio poderá, por exemplo, apoiar uma actividade destinada a assegurar a salvaguarda dos 7 sítios incluídos na lista final de 2021.
Nos próximos meses, peritos da Europa Nostra e do Instituto do Banco Europeu de Investimento, em conjunto com outros parceiros, visitarão os 7 locais seleccionados para se encontrarem com aqueles que poderão ter as soluções. Equipas multidisciplinares fornecerão assistência técnica, identificarão fontes de financiamento e mobilizarão todos os recursos possíveis para recuperar estas obras-primas do Património. No final deste processo, irão sugerir um conjunto de recomendações para acções futuras.
O Programa “7 Mais Ameaçados” é gerido pela Europa Nostra em parceria com o Instituto do Banco Europeu de Investimento. Conta ainda com o apoio do programa Europa Criativa da União Europeia. Lançado em 2013, este programa faz parte de uma campanha da sociedade civil para salvar o património europeu ameaçado. Aumenta a consciencialização, prepara avaliações independentes e propõe recomendações de acção. Ao assinalar um local em perigo, o seu objectivo é servir como catalisador para a acção, mobilizando o apoio público ou privado necessário, incluindo financiamento.
Após o Convento de Jesus em Setúbal ter feito parte, em 2013, da lista da primeira edição dos “7 monumentos e sítios mais ameaçados na Europa”, Portugal integrou em 2014 a segunda edição do programa com os Carrilhões do Palácio Nacional de Mafra."
CNC, 8.04.2021

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quinta-feira, 29 de abril de 2021

Viajar pela Europa

A Europa foi e é percorrida a pé. Isto é fundamental. A cartografia da Europa é determinada pelas capacidades, pelos horizontes percepcionados dos pés humanos. Os homens e as mulheres europeus percorreram a pé os seus mapas, de lugarejo em lugarejo, de aldeia em aldeia , de cidade em cidade.
                                   George Steiner, A Ideia de Europa
 
Este vídeo percorre várias cidades medievais da Europa, como Tallin, Bruxelas, Ghent, Brugge, Windsor e o seu famoso castelo e Dubrovinik, a mais bela e histórica cidade da Croácia.
 
Os vinte melhores lugares da Europa: Paisagens belíssimas em 4K Ultra H
 
As mais belas regiões de Portugal. Das exuberantes ilhas dos Açores às falésias da costa algarvia, as paisagens de Portugal têm tanta beleza e variedade para explorar. 
Portugal 4K - Scenic Relaxation Film With Calming Music.

quarta-feira, 28 de abril de 2021

O imenso Mar

Mar

Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.

E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras.

Sophia de Mello Breyner Andresen , in "Antologia", Circulo de Poesia Moraes Editores, 1975,  p. 13



Ilha de Moçambique, Moçambique

Ilha dourada 

A fortaleza mergulha no mar
os cansados flancos 
e sonha com impossíveis
naves moiras.
Tudo mais são ruas prisioneiras
e casa velhas a mirar o tédio.
As gentes calam na 
voz 
uma vontade antiga de lágrimas
e um riquexó de sono
desce a Travessa da Amizade.
Em pleno dia claro 
vejo-te adormecer na distância ,
Ilha de Moçambique 
e faço-te estes versos 
de sal e esquecimento. 
Rui Knopfli, in Antologia Poética, organizada por Eugénio Lisboa, Editora UFMG,2010, p.20
 
José Afonso ,Fui à beira do Mar,  in "Eu Vou Ser Como a Toupeira", 1972. Poema e música de José Afonso

terça-feira, 27 de abril de 2021

Soneto de Inverno


SONETO DE INVERNO

Aproxima-se o fim da viagem
que há imensos anos começou.
Tenho, dessa origem, uma imagem
de um sol que nunca me abandonou.

Berço caloroso, mas desigual,
paraíso meu, doutros, inferno,
tanto descobri ao preço do mal,
que não fiz, mas que me dói, neste inverno

da vida que se aproxima do fim.
Ter tanto vivido e tanto aprendido,
naquele mar e naquele jardim,

e não ter, por mal de mim, conseguido
deixar, no meu percurso, uma semente
que sossego trouxesse ao meu poente!

                      27.04.2021
Eugénio Lisboa, em poema inédito

segunda-feira, 26 de abril de 2021

A festa do cinema: Óscares 2021

Melhores momentos da entrega dos Óscares.
"Fight For You", faixa de H.E.R escrita para Judas e o Messias Negro, foi a vencedora de Melhor Canção Original.
Trent Reznor e Atticus Ross, em  Epiphany (From "Soul"/Audio Only), vencedora da melhor banda sonora original.
 
Anthony Hopkins , vencedor do óscar de melhor actor, em "The Father".

Melhor filme

  • Nomadland
  • The Father
  • Judas and the Black Messiah
  • Mank
  • Minari
  • Promising Young Woman
  • Sound of Metal
  • The Trial of the Chicago 7

Melhor actor

  • Anthony Hopkins (The Father)
  • Riz Ahmed (Sound of Metal)
  • Chadwick Boseman (Ma Rainey's Black Bottom)
  • Gary Oldman (Mank)
  • Steven Yeun (Minari)
  • Promising Young Woman

Melhor actriz

  • Frances McDormand (Nomadland)
  • Viola Davis (Ma Rainey's Black Bottom)
  • Andra Day (The United States vs Billie Holiday)
  • Vanessa Kirby (Pieces of a Woman)
  • Carey Mulligan (Promising Young Woman)

Melhor actor secundário

  • Daniel Kaluuya (Judas and the Black Messiah)
  • Sacha Baron Cohen (The Trial of the Chicago 7)
  • Leslie Odom Jr (One Night in Miami)
  • Paul Raci (Sound of Metal)
  • Lakeith Stanfield (Judas and the Black Messiah)

Melhor actriz secundária

  • Yuh-Jung Youn (Minari)
  • Maria Bakalova (Borat Subsequent Moviefilm)
  • Glenn Close (Hillbilly Elegy)
  • Olivia Colman (The Father)
  • Amanda Seyfried (Mank)

Melhor realizador

  • Nomadland (Chloe Zhao)
  • Another Round (Thomas Vinterberg)
  • Mank (David Fincher)
  • Minari (Lee Isaac Chung)
  • Promising Young Woman (Emerald Fennell)

Melhor guião

  • Promising Young Woman (Emerald Fennell)
  • Judas and the Black Messiah (Will Berson, Shaka King, Will Berson, Kenny Lucas e Keith Lucas)
  • Minari (Lee Isaac Chung)
  • Sound of Metal (Darius Marder, Abraham Marder, Derek Cianfrance)
  • The Trial of the Chicago 7 (Aaron Sorkin)

Melhor guião adaptado

  • The Father (Christopher Hampton, Florian Zeller)
  • Borat Subsequent Moviefilm (Sacha Baron Cohen, Anthony Hines, Dan Swimer, Peter Baynham, Erica Rivinoja, Dan Mazer, Jena Friedman e Lee Kern)
  • Nomadland (Chloé Zhao)
  • One Night in Miami (Kemp Powers)
  • The White Tiger (Ramin Bahrani)

Melhor filme animado

  • Soul
  • Onward
  • Over the Moon
  • A Shaun the Sheep Movie: Farmageddon
  • Wolfwalkers

Melhor documentário

  • My Octopus Teacher (Pippa Ehrlich, James Reed e Craig Foster)
  • Collective (Alexander Nanau e Bianca Oana)
  • Crip Camp (Nicole Newnham, Jim LeBrecht e Sara Bolder)
  • The Mole Agent (Maite Alberdi e Marcela Santibáñez)
  • Time (Garrett Bradley, Lauren Domino e Kellen Quinn)

Melhor filme estrangeiro

  • Another Round (Dinamarca)
  • Better Days (Hong Kong))
  • Collective (Romania)
  • The Man Who Sold His Skin (Tunísia)
  • Quo Vadis, Aida? (Bósnia e Herzegovina)

Melhor canção original

  • Fight For You - Judas and the Black Messiah (H.E.R., Dernst Emile II e Tiara Thomas)
  • Hear my Voice - The Trial of the Chicago 7 (Daniel Pemberton e Celeste Waite)
  • Husavik - Eurovision Song Contest: The Story of Fire Saga (Savan Kotecha, Fat Max Gsus e Rickard Göransson)
  • Io Si (Seen) - The Life Ahead [La Vita Davanti a Se] (Diane Warren e Laura Pausini)
  • Speak Now - One Night in Miami... (Leslie Odom, Jr e Sam Ashworth)

Melhor banda sonora original

  • Soul (Trent Reznor, Atticus Ross e Jon Batiste)
  • Da 5 Bloods (Terence Blanchard)
  • Mank (Trent Reznor e Atticus Ross)
  • Minari (Emile Mosseri)
  • News of the World (James Newton Howard

Melhor cinematografia

  • Mank (Erik Messerschmidt)
  • Judas and the Black Messiah (Sean Bobbitt)
  • News of the World (Dariusz Wolski)
  • Nomadland (Joshua James Richards)
  • The Trial of the Chicago 7 (Phedon Papamichael)

Melhores efeitos visuais

  • Tenet (Andrew Jackson, David Lee, Andrew Lockley e Scott Fisher)
  • Love and Monsters (Matt Sloan, Genevieve Camilleri, Matt Everitt e Brian Cox)
  • The Midnight Sky (Matthew Kasmir, Christopher Lawrence, Max Solomon e David Watkins)
  • Mulan (Sean Faden, Anders Langlands, Seth Maury e Steve Ingram)
  • The One and Only Ivan (Santiago Colomo Martinez, Nick Davis, Greg Fisher)

Melhor edição

  • Sound of Metal (Mikkel EG Nielsen)
  • The Father (Yorgos Lamprinos)
  • Nomadland (Chloé Zhao)
  • Promising Young Woman (Frédéric Thoraval)
  • Melhor indumentária

    • Ma Rainey's Black Bottom (Ann Roth)
    • Emma (Alexandra Byrne)
    • Mank (Trish Summerville)
    • Mulan (Bina Daigeler)
    • Pinocchio (Massimo Cantini Parrini)

Melhor som

  • Sound of Metal (Nicolas Becker, Jaime Baksht, Michelle Couttolenc, Carlos Cortés e Phillip Bladh)
  • Greyhound (Warren Shaw, Michael Minkler, Beau Borders e David Wyman)
  • Mank (Ren Klyce, Jeremy Molod, David Parker, Nathan Nance e Drew Kunin)
  • News of the World (Oliver Tarney, Mike Prestwood Smith, William Miller e John Pritchett)
  • Soul (Ren Klyce, Coya Elliott e David Parker)

Melhor design

  • Mank (Donald Graham Burt and Jan Pascale)
  • The Father (Peter Francis and Cathy Featherstone)
  • Ma Rainey's Black Bottom (Mark Ricker, Karen O'Hara e Diana Stoughton)
  • News of the World (David Crank e Elizabeth Keenan)
  • Tenet (Nathan Crowley e Kathy Lucas)

Melhor maquiagem e penteados

  • Ma Rainey's Black Bottom (Sergio Lopez-Rivera, Mia Neal e Jamika Wilson)
  • Emma (Marese Langan, Laura Allen e Claudia Stolze)
  • Hillbilly Elegy (Eryn Krueger Mekash, Matthew Mungle e Patricia Dehaney)
  • Mank (Gigi Williams, Kimberley Spiteri e Colleen LaBaff)
  • Pinocchio (Mark Coulier, Dalia Colli e Francesco Pegoretti)

Melhor curta

  • Two Distant Strangers (Travon Free e Martin Desmond Roe)
  • Feeling Through (Doug Roland e Susan Ruzenski)
  • The Letter Room (Elvira Lind e Sofia Sondervan)
  • The Present (Farah Nabulsi)
  • White Eye (Tomer Shushan e Shira Hochman)

Melhor curta animada

  • If Anything Happens I Love You (Will McCormack e Michael Govier)
  • Burrow (Madeline Sharafian e Michael Capbarat)
  • Genius Loci (Adrien Mérigeau e Amaury Ovise)
  • Opera (Erick Oh)
  • Yes-People (Gísli Darri Halldórsson e Arnar Gunnarsson)

Melhor documentário curto

  • Colette (Anthony Giacchino e Alice Doyard)
  • A Concerto is a Conversation (Ben Proudfoot e Kris Bowers)
  • Do Not Split (Anders Hammer e Charlotte Cook)
  • Hunger Ward (Skye Fitzgerald e Michael Scheuerman)
  • A Love Song for Latasha (Sophia Nahli Allison e Janice Duncan)

domingo, 25 de abril de 2021

Ao Domingo Há Música


Mesmo que eu queira mudar 
De mim não consigo fugir
Sou feito do vento 
que sopra devagar 
E do tempo que sobrar 
E do tempo que sobrar 
     Tiago Nacarato

Neste domingo , sobra-nos tempo para a música.  Um tempo  que sopra em português, tal como o revolucionário dia 25  de Abril  de 1974 que deu  fim a um longo e cinzento tempo. 
Os  cantores, que vamos  apresentar,   já nasceram num  novo tempo, quando o vento se enrolava em Liberdade.
Que não nos  falte tempo para este vento  e,  se nos sobrar, que seja para a música.

Tiago Nacarato | Salvador Sobral | Tony Cassanelli, em Tempo. Letra e música de Tiago Nacarato. Interpretação - Salvador Sobral e Tiago Nacarato. Gravação - Bruno Pereira Mistura - Mário Barreiros Estúdio - chiu . Pintor - Tony Cassanelli
  
Gisela João, em  Canção Ao Coração, do Álbum "Aurora". 
“Canção ao Coração” foi composta por (Gisela João/ Gisela João & Justin Stanton, arr. Justin Stanton & Michael League)Gisela João - voz; Ricardo Parreira – guitarra portuguesa;Nelson Aleixo - guitarra;Francisco Gaspar - baixo;JustinStanton - piano & teclados e Michael League - Mellotron, guitarra eléctrica &voz.
 
Orelha Negra com A Garota Não, em  Ready (Mulher Batida) , no programa Eléctrico, da  Antena 3.
Marco Rodrigues e Marisa Liz, em Amor Em Construção .
Letra: Marisa Liz, João Pedreira; Música: Tiago Pais Dias; Bateria: Sertório Calado;Baixo: Frederico Gato;Viola: Nelson Aleixo;Piano: Tiago Machado; Violinos: Vasco Broco, Pedro Pacheco, Jorge Teixeira, David Ascensão, Miguel Simões;Violas: Teresa Fernandes, Maia Kouznetsova Violoncelos: Barbara Duarte, Nelson Ferreira.

sexta-feira, 23 de abril de 2021

Celebrar o Livro

“ Neste dia consagrado ao livro, ofereço aos leitores deste blog este pensamento do escritor francês Alfred de Vigny:

UM LIVRO É UMA GARRAFA ATIRADA AO MAR
NA QUAL SE COLE ESTA ETIQUETA: APANHE-ME QUEM PUDER.

Alfred de Vigny insinua que mesmo um livro de valor pode deixar de ser descoberto, se nenhum leitor atento o “apanhar”.
Há pois que estar atento, sem se deixar influenciar demasiado pelo julgamento dos juízes em vigor. Balzac tirou Stendhal do oblívio, por um triz. Mas, mesmo os mais acreditados juízes não costumam ter o olho de lince do grande Balzac.”
Eugénio Lisboa, 23.04.2021

quinta-feira, 22 de abril de 2021

Manoel de Andrade, o cantor peregrino da América

Manoel de Andrade , numa Palestra em Portugal,  2016
Manoel de Andrade, poeta de Curitiba (Brasil), tem vários livros publicados . É sempre um prazer evocá-lo . Neste tempo em que a utopia se orienta para o combate de um vírus que tomou o mundo, convém recordar que, de todos os valores utópicos do século passado, o mais precioso foi a reconquista da Liberdade. Viver em democracia não é mais um sonho, uma meta , uma luta.  Entre nós, há já gerações que nasceram e cresceram em democracia. Manoel de Andrade foi um dos que lutou  pela liberdade contra a tirania que sufocava a América Latina , na segunda metade do século passado.
Abrimos o seu último livro, "As Palavras no espelho",   para extrair, do capítulo  "Fortuna Crítica",  o depoimento de um insigne  poeta peruano, sobre o  notável   livro bilingue Poemas  para a Liberdade, de Manoel de Andrade. Ao percorrer esse canto profundo , essa poesia engajada  de Manoel de Andrade  ,  Enrique Rosas Paravicino ressalta a força e a esperança deste guerrilheiro que soube  lutar, através da palavra   em nome de um continente,   contra o opróbrio  do vil despotismo. 
Para que se não esqueça como a utopia pode mudar o mundo, saudamos  Manoel de Andrade, hoje e sempre. 
Manoel de Andrade , numa Palestra em Portugal,  2016

El cantor peregrino de América 1
por Enrique Rosas Paravicino (Peru)2
" Un proverbio chino dice que un largo viaje empieza con un simple paso. Este paso en la vida de Manoel de Andrade debió ser una palabra, una metáfora, un verso juvenil, algo que diera inicio a la gran aventura de su existencia: escribir y caminar, crear y peregrinar, versificar el dolor social y recorrer los infatigables caminos de América. Como León Felipe, fue el viento áspero y testimonial de las injusticias de la tierra, pero además, el que proclama su fe en aquel tiempo nuevo que la historia reserva para los pueblos oprimidos. Poesía labrada en la lucha tenaz, macerada en lágrimas y enunciada con tono viril y desafiante a pesar de los tiranos, poesía esparcida por las  tempestades andinas para que resuene en villorrios, ciudades, centros mineros, fábricas y comarcas campesinas. ¿De dónde salió Manoel de Andrade con esa misión que se impuso, como un apostolado laico, con una firme convicción que lo identifique como esencial entre los poetas de su generación? Salió de Curitiba, Paraná, la noble tierra brasileña que se arrulla con el eco cercano del Atlántico. Nació en un hogar proletario, se hizo hombre a golpe de esfuerzo y necesidad. Por algo en uno de sus poemas se define forjado en la dureza de las privaciones: 

Cuando me preguntan de qué vale un poeta en el mundo / yo contesto con mi canto de hijo proletario / con mi infancia descalza ysin juguetes / con todos los niños del mundo que fui en mi estómago de agua. (“Tiempo de siembra”) 

En tal origen humilde ya estuvo el germen de una poética que proclamaba derechos y utopías sociales. Bajo el magisterio de los dos íconos latinoamericanos más influyentes del siglo XX, Vallejo y Neruda, el brasileño se propuso entonces poetizar la gesta popular, el sacrificio colectivo, la solidaridad de clase, el ansia de libertad y el rechazo a la exclusión y el oprobio. En ese afán, crispa el puño contra los opresores de toda laya, aquellos que convirtieron la ancha tierra americana en una comarca de cadenas, saqueos y fosas comunes. Su poesía es una respuesta a esa paz de cementerio impuesta por los dictadores, pero también poesía matizada con tonos de ternura, de requiebros afectivos y de reafirmación de principios. Fueron años intensos de recorrido del poeta por Bolivia, Perú, Chile, Colombia, Ecuador y México. Portador de la bandera de “los hombres sin rostro”, Manoel de Andrade sintetiza así su largo peregrinar por el continente:

 …Y de pueblo en pueblo / por esas ciudades llenas y vacías / en los teatros y las fábricas / en las escuelas y en lossindicatos / por los socavones profundos de las minas / en lo alto de los Andes / y por el eco misterioso de las montañas / sobre los valles florecidos / y entre los campesinos en medio de la cosecha / de frontera a frontera, / de esperanza en esperanza / por todas partes sembraré mi canto. (“El caminante y su tempo”)

 El poeta se yergue contra la infamia de las tiranías y se constituye en una voz digna y desafiante, esto es, la voz del sur que reclama la justicia secuestrada por los tecnócratas del norte opresivo, la palabra vibrante que conjuga, en sí, ética y estética, y resuena acompasada por el péndulo de los grandes ideales humanos. Porque, ciertamente, la ruta al futuro está asfaltada de “sacrificios profundos” (dixit, Eduardo Galeano), con las acciones de los mártires y los sueños aurorales de los paladines de la emancipación continental. Convenzámonos de esto hoy que celebramos el segundo centenario de nuestra Independencia, momento propicio para revalorar una poética como la de Manoel de Andrade, firmemente enraizada en el fermento de las luchas populares, vivificada por una herencia histórica llena de gestas libertarias; sin perder en tal contexto su yo poético, ese pronombre identitario que se enlaza con el yo colectivo de los humillados y negados de América. 

Yo vengo a denunciar falsas revoluciones / y el oportuno pacifismo / vengo a hablar de un tiempo de destierros y torturas, / yo vengo a hablar de un terror que crece uniformado, / y de estos años en que cada promesa de paz es una mentira. (“Canción de amor a América”). 

No es gratuito, entonces, que en sus versos asomen los arquetipos de la heroicidad latinoamericana: Ernesto Guevara Serna, Javier Heraud, Guido Inti Peredo y Otto René Castillo  entre otros. Tampoco es casual que su primer poemario, publicado en Bolivia, lo haya dedicado a la memoria del líder minero Federico Escobar Zapata. Ni menos nos sorprende que los editores de sus primeras hojas volantes hayan sido estudiantes bolivianos y peruanos, quienes fueron, asimismo, sus más entusiastas difusores. De ahí que Manoel de Andrade más que un simple hablante periférico, viene a ser la personificación de una conciencia moral que al señalar, reclamar y nombrar en representación del pan y la equidad, le restituye a la palabra su inflexión más raigalmente humana, allí donde madura la simiente inicial de todo proyecto de justicia en el mundo. Su invocación a la libertad lo retrata mejor en esta ruta: 

Libertad… oh libertad… / hoy somos apenas los guardianes de un sueño / los que sustentamos en tantas patrias la bandera de la bravura / hoy somos los guerreros del silencio / para que tu himno pueda ser entonado con alegría por los hijos del mañana. (“Libertad”) 

Extraño caso el de este poeta. Adquirir el prestigio de la voz no en su patria natal, sino en el exilio y en el rumor de las multitudes sin voz de América. Él encarna esa ansia de liberación, la necesidad de romper los grilletes que atan al hombre a la enajenación, la miseria y a la marginalidad. El prestigio de su poética viene, esencialmente, de su identificación con la causa de los expoliados, de los que teniendo memoria han sido privados de futuro, de aquellos que con su duro trabajo cotidiano forjan las riquezas ajenas y acrecientan el poder opresivo de los pocos. Esta tesitura verbal se sustenta en certezas cotidianas y palpables, no así en abstracciones metafísicas decimonónicas; es una poesía que denuncia y alega, a la vez que afirma y remarca convicciones de lucha, en un tiempo en que pareciera decaer la e en los valores supremos de la humanidad. En fin, es una poesía que debemos hacerla nuestra, porque nos representa como discurso y como demanda, porque todos estamos inmersos en su reclamo fidedigno y en la promesa que conlleva: la llegada de un amanecer que sea, necesariamente, el inicio de una historia de plenitud para nuestros pueblos. Gracias, Manoel de Andrade, por resemantizar, con notable solvencia de voz, la memoria social de América.
                                                                 Cusco, Perú, primavera de 2010
Manoel de Andrade, in As palavras no espelho, Editora Escrituras, São Paulo, Brasil, 2018, pp.301-305.

1- 
A propósito del libro  Poemas para a liberdade. Ed. Escrituras, São Paulo, 2009. Resenha originalmente publicada no nº 43 da Revista Hispanista, outubro/novembro/dezembro de 2010 e postada em 13 de janeiro de 2011 no blog Palavrastodaspalavras. 

2- Enrique Rosas Paravicino nasceu em Cusco, no Peru, em 1948. É narrador, poeta, ensaísta, romancista e autor dos livros: Ubicación del hombre (1969), seu primeiro poemário. Los Dioses Testarudos (1973), Al filo del rayo (1988), El gran señor (1994), Ciudad apocalíptica (1998), La edad de leviatán (2005), Muchas lunas en Machu Picchu (2006), El patriarca de las aves (2006), El ferrocarril invisible (2009), Elogio de la escritura radical (2012) além de inúmeros artigos publicados em revistas especializadas. Em conjunto com outros autores também publicou: Fuego del sur (1990), Alfredo Yépez Miranda y su tiempo (2001) e Nueva antología del Cusco (2005). Em 1993 foi designado Secretário peruano de JALLA (Jornadas Andinas de Literatura Latinoamericana). Seus textos integram estudos e varias antologias. É professor e pesquisador da Universidade Nacional de San Antonio Abad del Cusco e reconhecido com vários prémios e distinções nacionais.

quarta-feira, 21 de abril de 2021

A beleza do barroco musical


Aci: Verso già l’alma col sangue,
lento palpita il mio cor. 
Già la vita manca e langue 
per trofeo d’empio rigor.

Roberta Mameli, em Verso già l'alma col sangue , de Aci, Galatea e Polifemo, HWV 72: cantata dramática de Georg Friedrich Händel, apresentada pela primeira vez em Nápoles, em 19 de Julho de 1708.
Aci, Galatea e Polifemo: "Verso gia l'alma col sangue ", foi composta  para um libreto de Nicola Giuvo, para a duquesa Donna Aurora Sanseverino, por ocasião do casamento do Duque de Alvito com Beatrice Tocco di Montemiletto.
É uma cantata secular que narra a interrupção do amor entre Aci  e Galatea  pelo Cyclops Polifemo também apaixonado por Galatea. Polifemo esmaga Aci sob uma rocha. Galatea, devastada, transforma Aci num riacho.

 
Roberta Mameli, em  "Apri le luci e mira" ,da ópera Catone (Act I Scene 9),  do compositor italiano Antonio Vivaldi (1648- 1741).

segunda-feira, 19 de abril de 2021

Para que serve a Cultura?


Para que serve a Cultura?
por Eugénio Lisboa
"No malogrado diário Europeu, dirigido por Augusto de Carvalho, nos anos oitenta do século passado, publiquei a primeira de uma série de crónicas, com o inquietante título acima. A pergunta preocupava-me e nunca, para ela, encontrei uma resposta satisfatória. Como nem o jornal onde foi publicada nem o livro onde foi recolhida são de fácil acesso, e dado me parecer que a pergunta merece reflexão, trago-a aqui de novo e muito me agradaria que fosse comentada.

Na imprensa, uns pugilistas, braços nus,
Uns contra os outros, rábidos, disparam
Sarcasmos, que ao diabo não lembraram…
Que línguas, santo nome de Jesus!
Camilo, Nas Trevas (sonetos sentimentais e humorísticos)

Quando era mais novo e mais inocente, acreditava que havia três mundos sagrados, onde o espírito soprava, privilegiadamente: o da Arte, o da Religião e o da Academia. O templo da criação, o templo do retiro e da meditação solitária, o templo da reflexão e do diálogo. Cá fora era o caos, a poluição, a falta de rigor, a promiscuidade… Dos três templos, só o da religião me parecia inacessível, por me faltar a fé. Ainda assim, ousava eu dizê-lo, de mim para comigo, como me seduzia às vezes, depois do vendaval e da intensidade das paixões (com o seu desgaste e o sentido de abaixamento que não raro nos infligem), um bom retiro e uma longa meditação, num vasto e frio claustro apetecido! Que pena ser a fé um ingrediente indispensável! Assim sonhava, e vejo hoje para quão longe da realidade eu disparava o meu apetecer!
A vida dá-nos muito e tira-nos ainda mais. Tira-nos, sobretudo, as nossas melhores ilusões. Sei hoje – e sabe-o quem não queira persistir em alimentar sonhos e alienações que já nada sustenta – que o mundo da Arte, o mundo da Religião e o mundo da Academia nada têm de sagrado: são territórios profanos, tão bons e tão mesquinhos como quaisquer outros onde se desenvolve a actividade dos humanos, com as suas grandezas e as suas infâmias. Ocasionais Palatinos de intrigas pérfidas, de sórdidas lutas pelo poder, palcos de intrigas bizantinas, terrenos quase sempre improváveis para o activo «exercício da bondade», para usar uma expressão cara a José Régio – a Arte, a Religião e a Academia nada têm a oferecer de sofisticadamente especial à sensibilidade refinada e ao gosto austeramente exigente.. Ou por outra: não a Arte, a Religião e a Academia em si, mas o terreno, o contexto humano em que tais pelouros se manifestam… O homem tudo reduz à sua dimensão quotidiana, que não é necessariamente estimável e, menos ainda, particularmente admirável. De aí que muito cedo me tenha começado a chocar a atmosfera de zaragata adstringente em que frequentemente se processa o «diálogo» dos nossos escritores, dos nossos artistas, dos nossos homens de cultura… A luta desenfreada pelo território ocupado, a ânsia de captar, manter e expandir as chamadas «zonas de influência», a paroquial preocupação com uma reputaçãozinha provinciana e nem por isso menos apreciada, cedo inclinam o «diálogo» no sentido do famigerado «modelo de polémica portuguesa» (Camilo). A tal ponto tudo tende a descambar no insulto pessoal, no dichote, na insinuação pequenina e um pouco sórdida, que a higiene quase sempre recomenda que voltemos a cara para outro lado. «Ó Musa da calúnia, não me contes / D’esta lusa Calábria altos mistérios», gemia Camilo que no entanto mergulhou até ao pescoço no pântano da milenar polémica portuguesa, cujo perfil ajudou a delinear. Diante deste espectáculo pouco estimulante, turvo e torpe, apetece perguntar: «Mas, afinal, para que serve a cultura? Para que serve, se nos não dá um padrão de conduta elegante, se nos não afina nem o espírito nem os códigos de comportamento?» Repito: «Para que serve a cultura? Que faz ela de nós, que nos não torna melhores? Que faz ela que nos não dá o gosto de um estilo, de uma estética das maneiras, que em nós não promove o sentido de uma rigorosa exigência?»
É claro que a cultura é uma coisa e a moral é outra. Mas já Gide insinuava que a moral era, ao menos, uma eventual dependência da estética (e não o inverso, diga-se de passagem). Seja como for, alguns de nós gostaríamos de pensar que a estética promove ou desencadeia uma certa elegância do proceder porque o contrário disso… é feio (como dizem os pais às criancinhas, quando elas praticam um acto moralmente punível: note-se a contaminação do moral pelo estético, que naturalmente o absorve). A este respeito, observava Somerset Maugham ( que era, por sinal, um espírito livre e desenvolto, alheio a preconceitos e por isso detestado e desprezado pela classe menos inteligente que a Inglaterra até hoje produziu – a dos «high-brows»): «O valor da cultura é o seu efeito no carácter. Não serve propósito nenhum a não ser que o enobreça e o fortaleça. O seu uso é a própria vida. O seu objectivo é, não a beleza, mas a bondade». Não sei se será assim. A verdade é que os factos observáveis nos levam frequentemente a pensar, ainda com Maugham, «que o único uso da cultura é permitir que digamos disparates com alguma distinção». E, às vezes, mesmo sem qualquer particular distinção. A cultura torna-se um mero «ornamento» social ou, no limite, um equipamento profissional que não confere qualquer especial elegância de gestos ao eventual manipulador dela. Neste extremo (que não é uma raridade), a cultura, como notava Simone Weil, «é um instrumento manejado por professores para fabricarem professores que, chegada a sua vez, fabricarão outros professores». Tudo à margem de qualquer superioridade, distinção, exemplaridade e, muito menos, sacralidade…
Pode compreender-se e fazer-se até um inventário inteligente das causas deste fenómeno um tanto penoso. É um facto: os artistas, os escritores convivem mal uns com os outros. Nos seus romances, em especial no ciclo romanesco A Velha Casa e também no notável e pouco lido romance que é o Jogo da Cabra Cega, José Régio fez, entre outras notáveis coisas, um levantamento perfidamente penetrante e exaustivo das armadilhas em que tropeça, no convívio com «os outros», a fauna dos artistas e, de um modo geral, dos homens de cultura. E na sua extraordinária Confissão dum homem religioso, Régio voltou ao assunto: «Por agora», notava ele, num capítulo precisamente intitulado «O Convívio Humano», «não versarei senão as dificuldades que levanta o exercício da literatura. Creio serem mais ou menos conhecidos os ressentimentos, as rivalidades, as lutas aceradas e mesquinhas, as pequeninas intrigas, os rancores manifestados ou recalcados, os impulsos de revindicta, etc., que se criam entre os criadores literários, ou entre os criadores e seus críticos, ou ainda entre os criadores e o público. A necessidade de compreensão, aprovação e apologia – torna todo o artista vibrantemente sujeito a esses por vezes baixos fenómenos psíquicos». Eu iria um pouco mais longe do que Régio: é a necessidade de aprovação e apologia, aliada a uma permanente incerteza ou insegurança que estão na base do comportamento não raro pouco elegante de tanto escritor e artista. Rivalidade, espírito de competição – existem em todos os sectores da actividade humana, incluindo o pelouro científico. Simplesmente, neste último, tudo se processa a um nível menos áspero, mais civilizado. É que, como observava C. P. Snow, «um cientista criador tem, em regra, uma razoável certeza quanto ao valor da sua obra», ao passo que a maior parte dos escritores e pintores não a têm. Os critérios de avaliação dos resultados, em arte, não têm a mesma meridiana segurança e nitidez que poderão ter os de avaliação idêntica, em ciência. Um êxito, no domínio científico, sossega e aplaca. Um «êxito», em arte, deixa perpetuamente inquieto o seu autor, porque nenhum juízo lhe pode dar uma garantia segura do valor da sua obra. De aí, insinuava Snow, o bizarro e inquietante comportamento do grande poeta americano, Robert Frost, que, inundado de prémios e comendas, mas sempre inseguro, sofreu até ao último minuto com a angústia do Prémio Nobel, que acabou por nunca chegar… Um grande poeta, pendurando o seu destino num prémio falível! Um grande artista que honraria qualquer prémio, aguardando, com ansiedade «cocasse», uma recompensa que já nada lhe acrescentaria à glória! Mas Eliot tivera o prémio e Frost queria-o também! «De todas as paixões, comentava Snow, «a inveja – e tanto mais quando devora personalidades de grande formato – é a menos agradável de contemplar.» Frost era um grande poeta e, em alguns aspectos, um grande homem. Mas era um grande homem que a sua imensa cultura e convívio profundo com as coisas e pessoas da cultura não afinaram até ao ponto de ser capaz de desprezar uma honraria discutível. Stendhal afirmou um dia que chegara a saber alemão tão profundamente como o francês, que era a sua língua, mas que esquecera deliberadamente a língua de Goethe, por desprezo, ao dar-se conta de que os alemães levavam a sério as condecorações. Entre esta atitude extrema e o patético desassossego de Frost, eu opto decididamente por Stendhal. Há neste pequenismo de se levar a sério um galardão qualquer, mesmo supostamente importante, uma inelegância fundamental, uma falta de integridade em relação aos fundamentos da própria criação, um habitar de zonas superficiais que nada têm que ver com a génese profunda que o acto criador implica. Há, em suma, uma falta de estilo infinitamente dolorosa de contemplar. Os galardões e prémios dão uma certa alegria festiva à vida e, às vezes, uma certa compensação material. Mas, se uma vida de alegria profunda, como se supõe que é a alegria da criação, se vê subtilmente ameaçada por aquilo que não é do domínio do essencial, então apetece perguntar: Para que serve a arte? Para que serve a cultura? Para que servem, se tudo quanto produzem, como resultado, é uma fauna humana cujo comportamento milenar é de uma suprema falta de estilo? «A civilidade recíproca entre autores é uma das cenas mais risíveis na farsa da vida», observava o implacável Dr. Johnson, testemunha aguda da comédia humana do seu tempo. Ai de mim, de então para cá as coisas não mudaram para melhor! O poeta hindu Tutsi Das passava por ter chegado a um tal estado de afinação, doçura e sintonia com a natureza, que conseguia comunicar com todas as criaturas vivas dos bosques. E Rabindranath Tagore, grande poeta indiano do século XX, possuía um espírito tão suave e gentil, que os esquilos lhe trepavam pelas pernas acima e os pássaros vinham, sem receio, pousar-lhe nas mãos. Pudesse isto ficar como emblema do que a verdadeira cultura, fecundando o que em nós há de melhor, deveria afinal produzir: um estilo, uma elegância, um panache, uma bondade, uma doçura de viver. Uma capacidade de desprezar tudo quanto não é essencial. Uma lealdade fundamental com o nosso eu profundo. Um decidido voltar as costas aos jogos mundanos, aos códigos em voga e às «zonas de influência». Uma forma de saber escutar o «canto profundo». E só esse."
17.04.2021
Eugénio Lisboa

domingo, 18 de abril de 2021

Ao Domingo Há Música

Over the Town, 1918, Marc Chagall

Take me home 
You've got to take me home, 
you silly girl and put your arms around me
 you've got to take me home, you silly girl 
oh, the world's not round without you
 
I'm so sorry that I broke your heart 
please don't leave my side 
oh, take me home, you silly girl 
cause I'm still in love with you...

Dois belos registos que têm a marca do tempo .Um convite   da nossa  melódica memória que traz ainda o prazer das primeiras audições perante  a singularidade  das vozes . 

   
Tom Waits e Crystal Gayle, em Take Me Home  .
 
Nick Cave & The Bad Seeds e PJ Harvey , em Henry Lee (Official Video)
‘Henry Lee’ é o segundo single do nono álbum desta banda,  ‘Murder Ballads’,   gravado em Fevereiro de 1996.