segunda-feira, 31 de outubro de 2022

APOCALIPSE

 

Digam-me, por favor, se estes dilúvios
são causa ou efeito de algum horror:
anunciarão medonhos Vesúvios
ou vingança de algum Adamastor?
 
Que ventos, raios, fogos nos esperam?
Que gelos, derretendo, farão mares,
que ameaçam, crescem e prosperam?
Que pragas, que doenças, nesses ares?
 
Que futuro sem futuro é este?
Que razão soltou tanta desrazão?
Quem fez do mundo um nicho de peste?
 
Pensar que nisto já não temos mão!
Prever um paraíso devastado,
sem memória de alguém aqui ter estado!
                          31.10.2022
Eugénio Lisboa
 
Com os animais que, neste momento, têm os lemes do mundo, estas perguntas têm mais do que algum fundamento. Infelizmente, conhecemos a resposta.

Madrigal


Madrigal
 
A minha história é simples.
 A tua, meu Amor,
 é bem mais simples ainda:
 
 "Era uma vez uma flor.
 Nasceu à beira de um Poeta..."
 Vês como é simples e linda?
 
 (O resto conto depois;
 mas tão a sós, tão de manso
 que só escutemos os dois).

Sebastião da Gama, in Campo aberto.  Prefácio de Maria de Lourdes Belchior Pontes.3ª. Edição.Lisboa: Edições Ática, 1967. 112 p.  Obras de Sebastião  da Gama IV  (Colecção “Poesia”, fundada por Luiz de Montalvor).   

Sebastião da Gama (1924-1952). “Poesia”(2.02.1945) in «Serra-Mãe», 1945
Dito por Carmen Dolores, no CD «Poemas da Minha Vida», Dito e Feito, 2003

Poesia

Ai deixa, deixa lá que a Poesia
no perfume das flores, no quebrar
das ondas pela praia,
na alegria
das crianças que riem sem porquê
— deixa-a lá que se exprima, a Poesia.

Fica sentado aí onde estás, Poeta,
e não mexas os lábios nem os braços:
deixa-a viver em si;
não tentes segurá-la nos teus braços,
não pretendas vesti-la com palavras...

Se a queres ter,
se a queres sempre ver pairando à flor das coisas, fica aí
no teu cantinho, e nem respires, Poeta, e não te bulas,
p'ra que ela não dê por ti.

Não a faças fugir, toda assustada
com a tua presença...
Deixa-a, nua, pairando à flor das coisas,
que ela não sabe que a viste,
nem sabe que está nua,
nem sequer sabe que existe...

domingo, 30 de outubro de 2022

Ao Domingo Há Música


O post de hoje é dedicado à Ucrânia e ao Brasil.


No dia da cor azul


Ser livre é um imperativo que não passa pela definição de nenhum estatuto.  Não é um dote. É um dom.

                                                                 Miguel Torga

 

A liberdade é um dos dons mais preciosos que o céu deu aos homens. Nada a iguala, nem os tesouros que a terra encerra no seu seio, nem os que o mar guarda nos seus abismos. Pela liberdade, tanto quanto pela honra, pode e deve aventurar-se a nossa vida.

             Miguel de Cervantes, (29 de Setembro de 1547-  22 de Abril de 1616), "Dom Quixote".

 

O afinador de palavras apresentou-se ao fim do dia. A luz, obumbrada pelo ocaso, escondia as cores que sempre exibia. Era um aparecimento estudado. Sorria com alguma astuta ingenuidade, não fossem descobrir que tudo fora  planeado.  A quoi bon, o jogo das palavras pertencia-lhe.

Nesse dia, vestira o azul. Fora um labor infindável. Vieram tantas que ficara exausto. Tinha sido uma revelação. Não era que havia um ror de palavras   a acreditar no impossível. 

O azul era a cor da utopia. Todas aquelas palavras que  tinham lançado acordes, que poetavam, que esgrimiam o som libertário para uma nova humanidade, que carregavam o sonho de um mundo justo se enfileiraram para que as afinasse. Outras ainda, mal alinhadas nas letras que as faziam nascer, vinham trôpegas à espera de um elixir  que as fortalecesse. Só ele conhecia os poderes do azul. Só ele sabia quem  o podia vestir. A autenticidade revelava-se a um pequeno lançar de olhos. Ficou atónito com tanta palavra genuína. Que fazer se o dia tinha cronómetro? E ele que se exigia demais. Como dizimar tanta  maleita inesperada?

Frágeis e desamparadas rogavam, com assertiva doçura, uma recuperação. O azul era melodicamente gentil, intrinsecamente harmonioso. Fugia ao aparatoso, ao ruído dissonante da exigência. Elas, as palavras, queriam  não um remendo, não um penso que se acomodasse  às circunstâncias desse tempo crísico, dessa época infame. Não . Ouvira, límpido e nítido, sem  qualquer vacilação, um rotundo e ardente não. Que burilasse. Que se servisse de um cinzel  e as esculpisse sem demora, mas para todo o sempre.

Qual folha caduca? Que pensamento abstruso.  O Outono  acontecia apenas na natureza. Palavras são palavras. Têm vida própria. Forma definida e lugar no  repositório  das nações. E sabia-se. Era um dado categórico. E o azul identificava as palavras que acreditavam no impossível.

Trabalhou. Recuperou.  Cinzelou. Remendou. O dia prolongou-se até que a cor se tornou invisível. Muitas palavras ficaram prostradas no chão, quando se obscureceu. Nada mais podia fazer. Sem os raios do sol, o azul tornava-se volátil. Desaparecera na magia do insondável poder da luz.

Amanhã seria outro dia. Vestiria também uma outra cor. Afinaria outras palavras. O azul teria de esperar pela roda do tempo.

Agora, escurecia. A noite protegia. Guardara uma única palavra. Trazia-a no bolso. Vinha redonda . A sorrir para quem a esperava, a espargir um odor magnificente. Que azul luminoso a vestia. Era única e imperdível. Fora difícil restabelecê-la. Com ela estavam associadas muitas outras palavras . Não eram visíveis. Mas compunham-na .

Uma sinfonia  soltava-se,  audível apenas para ele: a sinfonia da criação. Desconhecida, majestosa e sedutora. Nem ao fluir, a lembrança dos sons do  Oratorio de Haydn  se apunha. Surgiam diferentes, apesar de produzidos pela estética do belo e sustentados por um denominador comum. Separava-os a  sonoridade dos instrumentos. Era uma sinfonia de  acordes únicos, heróicos  e gloriosos.  Uma sinfonia que se erguera do caos, do nada informe que debruava o vazio. Explodia, alargando-se, em eufónicos e imparáveis movimentos, para lhe encher  o corpo e a mente de novas forças, de diferentes vontades que teria de partilhar.

Vinha com uma palavra forte. Sabia-o. Vira-a por dentro. Tinha as letras bem desenhadas. Nove letras em sincronia perfeita. Ficaria para sempre, como a saudade das coisas felizes. Deixaria de lhe pertencer, logo que fosse  apresentada. Seria de todos e para todos.

Com leveza e disciplinada ternura, começou a retirá-la  devagarinho. À medida que saía,  a noite transformava-se. Tomava-a  um  novo e estranho esplendor. E quando a desnudou e a mostrou inteira , o brilho intenso da Liberdade  iluminou os rostos e encheu de promessas o coração  de cada  um. 

Assim se cumpria, naquele dia, o sonho que veste o azul.

Maria José Vieira de Sousa , in "O Afinador de Palavras", pp.11, 12

 
Franz Joseph Haydn  (1732-1809) , em  Overture〈The Creation〉/ Die Schöpfung, Oratorium , Hob. XXI:2 (1798), ( English version, Vienna 1800 - (Part 1 / The First Day) 1. Overture (Introduction) - The Representation of Chaos Emma Kirkby (soprano / Gabriel) Anthony Rolfe Johnson (tenor / Uriel) Michael George (bass / Raphael) Choir of New College, Oxford The Chorus of Academy of Ancient Music The Academy of Ancient Music Christopher Hogwood (conductor.
A Criação (alemão: Die Schöpfung)) é um oratório escrito entre 1796 e 1798 por Joseph Haydn (H. 21/2), e considerado por muitos como a sua obra-prima. O oratório retrata e celebra a criação do mundo como descrito no livro bíblico de Gênesis e no Paraíso Perdido. Haydn foi inspirado a escrever um grande oratório durante as visitas à Inglaterra em 1791-1792 e 1794-1795, quando ouviu oratórios de Handel, interpretados com grande esplendor. Acredita-se que Israel no Egipto tenha sido um deles. É provável que Haydn quisesse tentar alcançar resultados de peso comparável, usando a linguagem musical do estilo clássico.

sábado, 29 de outubro de 2022

Lei de Murphy

  

Lei de Murphy
 
Se algo pode correr mal, corre.
Lei de Murphy, na forma abreviada.
 
Se uma coisa pode correr mal, corre.
Em Portugal, tudo corre tão bem,
que tudo, no fim de contas, concorre
para que tudo corra mal, porém.
 
Porque a verdade é que correr mal,
seja o que for o que planeamos,
é o modo de correr natural,
por isso nos acontecer, há anos.
 
Que tudo pode aqui correr mal,
que mal tem, se isto é Portugal?
O nosso correr mal é sem igual,
 
porque somos os melhores do mundo.
Se nos visitar pedregulho astral,
Portugal, com orgulho, irá ao fundo!
                               29.10.2022
Eugénio Lisboa

Um instinto de luz

Portalegre , 26 de Janeiro de 1951. 
"Muitas vezes cito o nome de Deus , mas não sei de que Deus falo. A verdade é que nem sei, hoje, se creio na existência dum Deus-Pessoa.  Desde que me ponha a pensar, tenho por impossível, ou não credível, essa existência. ( Que maravilha , haver um Deus pessoal em quem se pudesse confiar , para quem se pudesse apelar como recurso primeiro e supremo e a quem , depois da morte do corpo, se unisse o nosso espírito!) Tudo que em mim pensa - recusa essa maravilhosa hipótese. Mas o que em mim é instintivo, profundo , obscuro, ( ou , porventura, simplesmente primitivo ou atávico) persiste em crer no que as minhas ideias repelem. Não posso deixar de me lembrar de Deus. Ele acompanha-me até nos longos prazos em que vivo esquecido de Ele. Não posso deixar de falar de Ele  desde que me refira ao que , no passado ou no futuro, sinto muito ligado ao meu destino.
Será mero efeito duma educação e convivência muito religiosas? Será o « instinto de luz rompendo a treva»1, mas nada não senão isso? ou uma certeza do ser profundo, - a este mesmo concedida pelo mesmo Deus? Que fácil , me parece, deveria tornar-se  a santidade,  a quem tem a certeza  simples e absoluta! Quase me custa  compreender  que não sejam santos todos  que a têm . (...)"
José Régio, in Páginas do Diário Íntimo, Introdução de Eugénio Lisboa, Círculo de Leitores, p180
1- « Um instinto de luz , rompendo a treva», verso do soneto «Nocturno», de Antero de Quental.

Desenho de José Régio

Cristo

Quando eu nasci , Senhor!, já tu lá estavas,
Crucificado, lívido, esquecido.
Não respondeste , pois, ao meu gemido,
Que há muito tempo já que não falavas...

Redemoinhavam , longe, as turbas  bravas,
Alevantando ao ar fumo e alarido.
E a tua benta Cruz de Deus vencido, 
Que eu erguê-la em minhas mãos escravas!

A turba veio então, seguiu-me os rastros;
E riu-se , e eu nem sequer fui açoitado,
E dos braços da Cruz fizeram mastros...

Senhor! eis-me vencido e tolerado:
Resta-me abrir os braços a  teu lado,
E apodrecer contigo à luz dos astros!.
José Régio, in Poemas de Deus e do Diabo, Portugália Editora, 1969

Nota de LPPoemas de Deus e do Diabo,  foi o primeiro livro de versos de José Régio , publicado em 1925.  
Em 1969, este poeta maior da Literatura Portuguesa escreveu um  novo  posfácio a este livro,  que , numa prosa límpida e  de excelência,   se debruça sobre a obra  e o seu tempo e do qual extraímos o seguinte : "Andava o autor em Coimbra quando o publicou. Era adolescente quando escreveu a maior parte das poesias que o compõem. À sua custa o publicou, ( ou à custa de seus pais) e por ai o espalhou aliás bem mal. Inexperiente como era, nem sequer chegou a fazer contas claras  com as livrarias que, possivelmente, venderam alguns exemplares.".

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Uma criança índia que chora

Amazónia , Brasil
Devastação do maior bioma do Brasil, Amazónia 

Chora uma criança na Amazónia,
ela é índia e criança e chora,
despejada naquela babilónia,
aguardando ajuda que demora.

Ser índio desprezado é destino
de imensas crianças na floresta.
Lágrimas lavam seu corpo franzino,
lágrimas sendo tudo que lhes resta!

Quem isto tolera e até promove
diz-se cristão de não sei que evangelhos:
a ganância assassina é que move

estes autênticos escaravelhos!
Uma criança índia que ali chora
é pra sempre mancha em qualquer aurora!
                            28.10.2022
Eugénio Lisboa

quinta-feira, 27 de outubro de 2022

Nos Rastros da Utopia

 

O Brasil vive momentos tensos e turbulentos . Disputam-se eleições entre dois candidatos antagónicos. 
Manoel de Andrade , poeta , ensaísta, memorialista tem um longo e distinto passado em prol da democracia , da Liberdade. Desse passado, em que foi forçado a um exílio no tempo da ditadura, publicou um extraordinário livro de memórias , do qual extraímos o capítulo que se segue, pela evidente e  profunda actualidade.
                                                              
XIV 
NOS RASTROS DA UTOPIA                                              

Se as coisas são inatingíveis...ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos se não fora
A mágica presença das estrelas!
                   Mário Quintana

" Eram os últimos dias de 1969 e, nas conversas em Lima, discutíamos a herança que recebêramos dos “anos rebeldes”. A década de 60 se iniciara com um exército murando a liberdade de Berlím, mas terminara com três astronautas abrindo os caminhos do universo. Naqueles anos, o mundo comovera-se com a mensagem de paz e de amor, na imagem sacrificada de Martin Luther King, e conhecera o real significado da resistência, na figura irretocável de Ho Chi Minh. A revolta de Nanterre mobilizara os estudantes do mundo inteiro e, ao longo do continente, aportávamos em 1970 na crista de uma poderosa onda libertária, cujas espumas espraiavam o exemplo de Che Guevara. Vivíamos num tempo sem liberalismo e sem globalização e Cuba surgia como uma alternativa socialista e referência da luta revolucionária. O mundo era uma alquimia de ideias e a América Latina seu melhor laboratório. A nova história, no contexto continental, era a de uma só nação, de um só povo, latino e “indo-americano” -- na expressão de Mariátegui. A esperança era uma bandeira hasteada no coração de todos os que ousavam sonhar com uma sociedade justa e fraterna, fossem eles um guerrilheiro, um intelectual engajado ou integrasse uma vanguarda estudantil. Nossa ancestralidade cultural – manchada pela violência colonial e por tantos mártires na memória sangrenta de cinco séculos – era redescoberta como uma fonte trazendo novas águas para interpretar a história. Nossos sonhos navegavam no misterioso veleiro do tempo, enfunado pelos ventos da fé revolucionária, carregado de hinos e canções libertárias, levando a mãe-terra e as sementes para os deserdados, carregado com as emoções e o encanto da solidariedade e rumando à sociedade que sonhávamos.
Nós, os poetas, expressávamo-nos pelos líricos rastros dessa ansiada utopia, cantando as primícias de um novo mundo e pressentindo as luzes daquele imenso amanhecer. Transitávamos na rota das estrelas, em busca de um porto no horizonte, em busca de um homem novo, de uma terra prometida a ser entrevista nos primeiros clarões da madrugada. Havia uma perseverante certeza no amanhã e muitos caíram lutando com essa crença tatuada na alma, embora os sobreviventes nunca tenham chegado a contemplar essa alvorada.

           Nos anos 60, ser jovem significava estar comprometido com uma fé, com uma causa social e, naqueles passos da história, era um desconforto, perante o grupo, não ter um engajamento político e, pior ainda, ser de “direita”. Na juventude daqueles anos, ser um “reacionário” era um estigma. Essa era a palavra com que nós, da “esquerda”, desfazíamos ideologicamente os adversários da “direita” e até os dogmáticos do Partidão,[1] por quem éramos chamados de revisionistas. Por outro lado, falava-se de um “Poder Jovem”. Mas que “poder jovem” era aquele, maquiado com a credibilidade das filosofias orientais se esse poder não estivesse comprometido com o significado social da liberdade e da justiça? A ideologia marxista não nos permitia confundir os ideais inconsequentes da contracultura com o ideário daqueles que estavam dispostos a dar a vida pela construção de uma nova sociedade. Era como se houvesse, na América Latina, duas Mecas para a juventude: uma em Berkeley e outra em Cuba.
           Se a palavra “esquerda”, perante as benesses do poder, foi perdendo sua transparência ideológica, é imprescindível não se perder o significado histórico dessa dicotomia, já que na sua origem, durante a Revolução Francesa, o clero e a nobreza ficavam à direita do rei e os representantes do povo à sua esquerda. Passados duzentos e vinte anos, todos sabemos qual o lado que continua defendendo as causas sociais. Os princípios são intocáveis mas não as ideias. É razoável, portanto, que possamos ressignificá-las redefinindo as cores de nossa antiga bandeira, assim como reconhecer os equívocos e os defeitos congênitos da própria  “esquerda”.
           Os anos 60, ricos pela geração de novas teses sociais, por filosofias que apontavam para o progresso das relações humanas, não mostrariam, no gosto amargo dos frutos, o doce sabor semeado pela esperança. Os grandes sonhos políticos foram desmobilizados por interesses ideológicos equivocados, pelo oportunismo eleitoral e pela sedução do poder. Os sonhos alimentados pela contracultura, inicialmente legitimados pelas postulações contra os males do capitalismo, perderam-se nas perigosas síndromes da ilusão propiciada pelas drogas, pelos desencantos da sexualidade e pela posterior dependência de tecnologias alienantes. Sonhos e esperanças  acabaram desaguando neste inquietante “mar de sargaços” em que se transformou o mundo, onde navegam os corsários da ambição e da crueldade.
           Mas também havia jovens que não vivenciaram essa sublime  emoção de indignar-se com as injustiças. Naqueles anos, numa outra linha de reações,  uma elitizada coluna de jovens marchava contra  tudo pelo que lutávamos. Conheci essas sinistras figuras nas ruas de Curitiba. Porta-vozes da alta hierarquia da Igreja, desfilavam altaneiras, com seus paramentos medievais, nos primeiros anos da ditadura no Brasil, defendendo o regime militar e os interesses conservadores da oligarquia que representavam com os estandartes da “Tradição, Família e Propriedade”. Vi também seus parceiros, no Chile, liderados por Maximiano Griffin Ríos, em 1969, durante o governo de Eduardo Frei, portando, nos panos ao vento com o emblema da “Fiducia”, o ódio social, o ressentimento contra um cristianismo que abraçava as causas populares e, sobretudo, plantando as sementes da conspiração que derrubaria, com outros aliados sanguinários, o governo legítimo de Salvador Allende.
       A partir da década de 70, a ascensão do capitalismo financeiro, sob o disfarce de globalização, começou a estender as suas redes e a ganhar, com armas invencíveis, essa nova e imensa guerra mundial, avançando com sua voracidade, desterrando os valores humanos, gerando multidões de excluídos,  triturando nossas utopias, transformando o planeta num supermercado e descaracterizando a própria  cultura com atraentes modelos de um consumismo supérfluo e descartável.
            Ainda que haja, no Brasil, muitos jovens “conectados”, preocupados com a ética, com as fronteiras alarmantes da corrupção, com a redenção ambiental e com belos projetos comunitários, toda aquela geração foi vítima da nova ordem social imposta ao longo dos vinte e um anos de ditadura militar, sendo induzida a “educar-se” pela cartilha da Educação Moral e Cívica, focada na obediência, passividade, no anti-comunismo e num patrioterismo doentio. Vítimas de todo um processo subliminar de moldagem comportamental, os jovens que abdicaram da consciência crítica foram transformados em meros consumidores.  Formam parte da juventude apressada dos nossos dias, descomprometida com os problemas sociais, imediatista, avessos à leitura,  ou derrotada pelo vício. Essa é a face trágica de um segmento da juventude contemporânea: jovens como meras marionetes de um mercado global de ilusões, aculturados pelas novas midias, homogeneizados desde os primeiros anos para consumir, abdicando quase sempre da análise dos fatos e do estágio promissor da cidadania.
          Os precursores involuntários da pós-modernidade – leia-se Nietzsche e Heidegger – e os seus mais ilustres ideólogos, na filosofia e na arte, aliaram-se ao trabalho posterior de demolição comandado pela globalização. Reagindo aos paradigmas orgulhosos e dogmáticos da ciência mecanicista do século XIX, os intelectuais niilistas apostaram na reação generalizada da descrença nos valores humanos, desconstruindo o significado da verdade, da beleza e da transcendência do humanismo na tradição ocidental; anunciando uma liberdade sem a noção do dever; desrespeitando os arquétipos da religiosidade; desqualificando a história; invertendo a estética da arte ao despojá-la da estesia e do encanto (e se há algum mérito nos exageros da arte moderna é o de retratar o perfil catastrófico do mundo contemporâneo); retirando a melodia da música,  proclamando a irreverência  e ironizando os ideais e o significado da utopia. Sobre esse termo, tão desfigurado em nossos dias, certa vez estudantes colombianos fizeram ao celebrado cineasta argentino Fernando Birri, a seguinte pergunta: Para que serve a utopia? Ele respondeu que a utopia é como a linha do horizonte, está sempre a nossa frente e por isso nunca podemos alcançá-la. Se andamos dez, vinte, cem passos, ela sempre estará adiante de nós. Se a buscamos, ela se afasta. Para que serve a utopia? perguntou ele, respondendo: Para fazer-nos caminhar…
           Embora  quase tudo tenha sido desconstruído, nossos ideais desterrados e a globalização já não nos deixe sonhar e nos insinue a esquecer, é imprescindível acreditar que há uma Fênix entre as cinzas que restaram do mundo pelo qual lutamos. Não abdicamos da esperança, mas reconhecemos que nosso veleiro soçobrou e que seus restos foram bater nas praias melancólicas desses anos. Sobrevivemos quais náufragos num mar de ultrajes e decepções, junto com os destroços das grandes ideologias e com as cruéis aberrações que envergonharam os nossos sonhos ao vermos  o marxismo dogmatizado pelo stalinismo e ao compreendermos porque murchava a “Primavera de Praga”. Sobrevivemos nas lágrimas derramadas sobre as páginas d’O Arquipélago Gulag,  no desencanto de saber a beleza da utopia hegeliana invertida pelo totalitarismo nazista e o conhecimento científico manchado pela explosão atômica.
A contracultura, a pós-modernidade, a globalização e a destruição ambiental, são os novos cavaleiros do mundo apocalíptico que recebemos. Dessas quatro patéticas “figuras”, as três primeiras causaram efeitos desastrosos sobre a cultura – e lá na região andina, minha nova escola naqueles anos, a globalização insinuaria o esquecimento da história e da cultura deparando-se com a luta dos peruanos ante a herança quéchua e a resistência inquebrantável dos bolivianos pela manutenção da cultura aymara – e as duas últimas sobre os rumos futuros da humanidade.
Não herdamos somente a decepção, mas uma crônica indignação a despeito de qualquer otimismo. Hoje somos, tão somente, seres comprados nesse grande shopping de negócios e aparências em que se transformou o mundo, herdeiros impotentes de um sonho, vivendo num mundo alienante, distópico e devorado pelas fauces da globalização.
Anos 60  - Que ventura ter sido jovem naquele tempo! Lá a realidade estava a poucos passos dos ideais.
Século XXI  -  Que estranha transição! Para onde vamos? Sem norte, sem porto, sem um amanhecer! Quanta perplexidade, quantos pressentimentos! Haverá outro mundo, melhor e possível? Sem crueldade, estupidez e promessas mentirosas? São perguntas plurais que pedem respostas plurais. Essa é uma transição sombria balizada pela desventura e o desencanto. É um tempo de antíteses. Esperamos que o próprio Tempo, com sua misteriosa dialética, nos traga uma regenerada síntese. Nesse impasse restam-nos, contudo, os territórios invioláveis da imaginação e da esperança e para mim um pouco mais: a transcendência, e a grata introspecção nessas memórias."
Manoel de Andrade, in "Nos rastros da Utopia, uma memória crítica da América Latina nos anos 70", Edições Escrituras, São Paulo, Brasil, 2014,  pp.393-398

[1] Apodo que tinha o Partido Comunista de Brasil, na época considerado o maior partido político de esquerda do país.

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Alguns poemas de Reinaldo Ferreira



Alguns poemas
de Reinaldo Ferreira
 
I
Volver às rimas suaves,
Aos metros embaladores,
Cantar o canto das aves,
A aurora, a brisa e as flores…
 
Vibrar na deposta lira
Dos trovadores sepulcrais
Delidas queixas d’Elvira
Zelos de bardo, fatais
 
Para que nessa ficção,
De outras apenas diferente,
Ao fogo do coração
Arda a razão descontente.
 
II
 
Regresso de parte alguma
Rico mais do que partira,
Pois trago coisa nenhuma
Sem desespero e sem ira.
 
Agora vivo contente
No meu exílio sereno;
Tomei tamanho de gente
E não me dói ser pequeno.
 
Pedra parada na calma
Tranquilidade dos charcos,
Deixem dormir minha alma,
Como apodrecem os barcos…
 

III
 
Eu, Rosie, eu se falasse, eu dir-te-ia
Que partout, everywhere, em toda a parte,
A vida égale, idêntica, the same,
É sempre um esforço inútil,
Um voo cego a nada.
Mas dancemos, dancemos
Já que temos
A dança começada
E o Nada
Deve acabar-se também,
Como todas as coisas.
Tu pensas
Nas vantagens imensas
Dum par
Que paga sem falar;
Eu, nauseado e grogue,
Eu penso, vê lá bem,
Em Arles e na orelha de Van Gogh…
E assim entre o que eu penso e o que tu sentes
A ponte que nos une – é estar ausentes.
 

IV
RECEITA PARA FAZER UM HERÓI
 
Tome-se um homem,
Feito de nada, como nós,
E em tamanho natural.
Embeba-se-lhe a carne,
Lentamente,
Duma certeza aguda, irracional,
Intensa como o ódio ou como a fome.
Depois, perto do fim,
Agite-se um pendão
E toque-se um clarim.
 
Serve-se morto.
 

Noutro dia, acrescentaremos alguns poemas de Reinaldo Ferreira, a assinalar o centenário do seu nascimento.
Eugénio Lisboa, 26.10.2022

Nota de LP Eugénio Lisboa, além de ter sido amigo deste poeta,  foi um dos organizadores do livro de Poemas  que teve  publicação  póstuma.  É um profundo e qualificado estudioso da  obra de Reinaldo Ferreira.

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Centenário de Reinaldo Ferreira

 

Centenário de Reinaldo Ferreira
por Eugénio Lisboa
 
O poeta fala a todos os homens, daquela outra vida
que eles sufocaram e esqueceram.                                                                                     Edith Sitwell
 
«Passa este ano o centenário de um grande lírico português – Reinaldo (de Azevedo e Silva) Ferreira – mais simplesmente conhecido como Reinaldo Ferreira, como o seu pai, o notório e talentoso Repórter X. Como nem só do centenário de Saramago vive o homem, sendo até provável que, dentro de não muito tempo, Reinaldo seja uma presença mais viva e assídua, para os leitores, do que o autor de MEMORIAL DO CONVENTO, talvez não fosse má ideia assinalar o centenário do nascimento deste grande lírico português, nascido em Barcelona, em 1922, e falecido em Lourenço Marques, em 1959. Malhas que o império tece.
Dizia Jean Cocteau que os poetas são, quase sempre, criaturas muito pouco poéticas. Reinaldo Ferreira, com a sua cabeça de fauno bom e afectuoso, era a personificação do poeta, mesmo fora da poesia escrita. Bondoso e mesmo generoso até dizer chega, desinteressado do dinheiro que ganhava com o seu talento, incapaz de fazer mal a uma mosca, contava-se dele esta história exemplar: descuidado como era e vivendo sozinho, guardara na gaveta de uma mesa da cozinha, os papéis com os seus poemas manuscritos. Um dia, abrindo a gaveta, achou-a vazia. Chamou o empregado africano e perguntou-lhe se ele tinha mexido naquela gaveta. Ele respondeu que deitara tudo fora por pensar que eram papéis velhos e sem préstimo. A única reacção do poeta foi encolher filosoficamente os ombros e dizer: “Lá se foram sete anos de trabalho…” E nem sequer repreendeu o rapazinho. Este seu comportamento vale volumes de poesia.
Tive o privilégio de estar com Reinaldo Ferreira, em Lisboa e em Lourenço Marques. Era um companheiro inesquecível e um conversador extraordinário. Fazia teatro no Rádio Clube de Moçambique, escrevia canções para marchas populares e revistas musicais, porque tinha grande facilidade de improvisação. Mas quando as jogava a sério, era de um teimoso perfeccionismo, que deu, aos editores da sua poesia póstuma, um trabalho infernal, para decidirem qual das várias versões de um poema era a definitiva.
Outra história que gostava de aqui contar é esta: tendo-lhe sido diagnosticado, em Lourenço Marques, um cancro nos pulmões, aos 37 anos, foi a Joanesburgo, tentar uma opinião que lhe desse esperança. Ficou em casa da que viria a ser a minha grande amiga, Dianne Lidchi, bela pintora e mulher endinheirada. Contou-me ela que ficou muito impressionada com o comportamento de Reinaldo, porque, na noite do dia em que ele recebeu a sentença de morte, da parte do médico sul-africano, esteve todo o tempo a participar numa reunião que Dianne organizara em sua honra, exibindo uma brilhante convivialidade, como se nada de extraordinário lhe tivesse acontecido. Dianne Lidcchi ficou tão siderada com a sua coragem e o seu panache, que fez alguns retratos dele, dos quais sou hoje possuidor. Um deles serviu para a capa da primeira edição dos poemas, feita em Lourenço Marques, a expensas da Imprensa Nacional e graças ao esforçado labor de três amigos.
A poesia de Reinaldo foi imediatamente saudada, após a sua publicação, em Lourenço Marques. Figuras como José Régio ou David Mourão-Ferreira logo o saudaram como grande poeta português de qualquer tempo. No Brasil foi saudado por críticos e professores universitários, tendo um deles afirmado alto e bom som que Reinaldo Ferreira era o maior poeta português do século XX, logo a seguir a Fernando Pessoa, o que enfureceu Jorge de Sena, que reclamou esse lugar para si próprio. Mas, quando, em 1972, passou por Moçambique, pediu-me encarecidamente que lhe arranjasse a primeira edição dos POEMAS, do malogrado poeta. Sena era colérico mas não era mesquinho. Os famosos Jograis de S. Paulo logo o incorporaram no seu reportório.
Há muita gente, sobretudo sociólogos e políticos, para não falar em economistas, que são de opinião que a poesia não serve para nada. Há não muito tempo, um conhecido sociólogo dizia, preto no branco, que essa coisa das artes e letras era coisa para se ensinar fora das horas normais de aulas. A epígrafe roubada à poetisa inglesa, Edith Sitwell, de algum modo responde a esse tipo de enormidades. Mas, já agora, junto e termino com esta admirável reflexão do grande poeta Dylan Thomas: “Um bom poema é um contributo para a realidade. O mundo nunca mais fica o mesmo, desde que um bom poema lhe é acrescentado.”»
Eugénio Lisboa, 25.10.2022

Novas vozes portuguesas

   
Milhanas , em  Lamentos .
Música: Milhanas, Ângelo Freire e Rodrigo Correia. Letra: Milhanas.Contrabaixo; Guitarra: Rodrigo Correia Mistura e Masterização: JustJon, Real Caviar.
 Ficha Técnica: Video Realização: Sebas Ferreira. Câmaras: Joel Correia, Manuel Abelho e Sebas Ferreira. Edição: Sebas Ferreira.  Produção: Real Caviar. Make-up: Margarida Robalo. 2021, Real Caviar.
 
Marta Carvalho, em  Tudo o que eu te dou (canção de Pedro Abrunhosa), no Mega Hits - Confessions .
Teclado: Inês Oliveira. Mistura audio: Márcio Silva.Captação e Masterização: Rui Fernandes. Equipa de Vídeo: David Carronha, Inês Matias e Joana Cordeiro.

Prémio Camões 2022

“Silviano Santiago diz que vencer o Prémio Camões é reconhecimento do "longo trabalho em literatura"
Silviano Santiago diz que este "prémio chega num momento difícil para o mundo e para o Brasil".
Silviano Santiago, de 86 anos, anunciado esta segunda-feira o vencedor do Prémio Camões 2022 afirmou que este é um reconhecimento do seu "longo trabalho em literatura".
Para o brasileiro, em declarações ao Estadão, jornal onde chegou a colaborar como colunista, este "prémio chega num momento difícil para o mundo e para o Brasil".
"Não deixa de ser, para mim, em particular, um momento de alegria - um reconhecimento do meu longo trabalho em literatura", acrescentou.
Nascido em 1936, em Formiga, Minas Gerais, Brasil, Silviano Santiago mudou-se com dez anos para Belo Horizonte e, aos 18 anos, começou a escrever para uma revista de cinema, além de ter ajudado a idealizar e publicar a revista Complemento.
Apesar de não ter qualquer obra publicada em Portugal, Silviano Santiago escreveu cerca de 30 livros, entre os quais se destacam romances como "Em liberdade", "Stella Manhattan", "Machado" e "Mil rosas roubadas".
A escolha do escritor brasileiro Silviano Santiago como vencedor do Prémio Camões 2022 foi anunciada esta segunda-feira pelo ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva.
No ano passado, o Prémio Camões foi atribuído à escritora moçambicana Paulina Chiziane, autora de "Balada de Amor ao Vento" e "Ventos do Apocalipse".
O Prémio Camões de literatura em língua portuguesa foi instituído por Portugal e pelo Brasil, com o objetivo de distinguir um autor "cuja obra contribua para a projeção e reconhecimento do património literário e cultural da língua comum".
Segundo o texto do protocolo constituinte, assinado em Brasília, em 22 de junho de 1988, e publicado em novembro do mesmo ano, o prémio consagra anualmente "um autor de língua portuguesa que, pelo valor intrínseco da sua obra, tenha contribuído para o enriquecimento do património literário e cultural da língua comum".
Foi atribuído pela primeira vez, em 1989, ao escritor Miguel Torga.
Em 2019, o prémio distinguiu o músico e escritor brasileiro Chico Buarque, autor de "Leite Derramado" e "Budapeste", entre outras obras; em 2020, o professor e ensaísta português Vítor Aguiar e Silva (1939-2022).
O Brasil lidera a lista de distinguidos com o Prémio Camões, com 14 premiados cada, seguindo-se Portugal, com 13 laureados, Moçambique, com três, Cabo Verde, com dois, mais um autor angolano e outro luso-angolano.
A história do galardão conta apenas com uma recusa, exatamente a do luso-angolano Luandino Vieira, em 2006.” Lusa/DN, 24.10.2022

Saiba mais: Aqui

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

ANATOMIA DA GLÓRIA

 

ANATOMIA DA GLÓRIA
 
I am famous.That is my job.
         Jerry  Robin
 
Há gestos que são cheios de astúcias,
mas são gestos tristes e sem grandeza:
congeminam-se todas as minúcias
de que precisa uma boa defesa.
 
E trai-se um amigo, sendo preciso,
porque mais precisa é ainda a glória:
o amigo que tivesse juízo
e pensasse melhor na trajectória!
 
A glória não prevê delicadezas
e ganha-se, mesmo que seja a murro.
Não dá para pruridos de inteireza
 
e finge-se, se preciso, de burro.
A glória não se importa com mãos sujas
e acha úteis palavras sabujas!
                        24.10.2022
Eugénio Lisboa
 
NOTA ERUDITA, à laia de aviso: a glória que quase sempre se consegue, com as astúcias acima inventariadas, trazem-me à memória a irresistível Dorothy Parker: “I was the toast of two continents: Greenland and Australia.

Haverá sempre Guerras?

 

Haverá sempre Guerras?
por Anselmo Borges
"1. Quando olho para a tragédia que se abateu sobre a Ucrânia: bombas atrás de bombas, milhões de refugiados, valas comuns, mortos e mais mortos, crianças afogadas no pânico, mulheres sem palavras para chorar e gritar os horrores, hospitais, creches, escolas destruídos, ruinas, mais ruinas, um mundo a desabar, ameaças de guerra nuclear..., só poderia desejar, do fundo do coração, poder responder: Não, nunca mais haverá guerra. Mas sei que não é assim. Haverá sempre guerras, a não ser que se desse uma conversão radical da humanidade.
Neste sentido, há um texto que me foi enviado, cujo autor desconheço mas com o qual estou de acordo, até porque encontrou as palavras certas para descrever este mundo de loucura. Reza assim: “Nenhuma guerra tem a honestidade de confessar: ‘Eu mato para roubar’. As guerras invocam sempre motivos nobres: matam em nome da paz, em nome de Deus, em nome da civilização, em nome do progresso, em nome da democracia e, por causa das dúvidas de nenhuma destas mentiras ser suficiente, aí estão os meios de comunicação dispostos a inventar inimigos imaginários para justificar a transformação do mundo num grande manicómio e um imenso matadouro. Em Rei Lear, Shakespeare escreveu que neste mundo os loucos guiam os cegos, e, quatro séculos depois, os senhores do mundo são loucos enamorados da morte que transformaram o mundo num lugar onde a cada minuto morrem de fome ou doença curável dez crianças e a cada minuto se gastam três milhões de dólares, três milhões de dólares a cada minuto, na indústria militar, que é uma fábrica de morte. E as armas exigem guerras e as guerras exigem armas, e os cinco países que dominam as Nações Unidas, que têm direito de veto nas Nações Unidas, acabam também por ser os cinco principais produtores de armas. A gente pergunta: ‘Até quando? Até quando a paz do mundo estará nas mãos dos que fazem o negócio da guerra? Até quando continuaremos a acreditar que nascemos para o extermínio mútuo e que o extermínio mútuo é o nosso destino? Até quando?’ “.
2. O filósofo I. Kant escreveu que o ser humano se defronta com três impulsos fundamentais: o prazer, o poder e o ter. Por mim, penso que o mais forte é o poder enquanto domínio. De facto, o ser humano é carente e confronta-se com a morte, que o confronta com o nada. Através do poder, de poder em poder, cada vez com mais poder, alcançaria a omnipotência e mataria a morte.
Pascal, o grande Pascal, o matemático eminente, uns dos maiores de sempre, e também um dos maiores cristãos europeus de sempre, viu bem quando escreveu que a constituição do ser humano mora ali algures entre “le rien et l’infini” (o nada e o infinito). Por isso, a mais poderosa tentação, desde o início da humanidade, é a omnipotência. Embora se trate de uma estória mítica, ela diz o essencial: no Génesis, a serpente voltou-se para Eva e disse-lhe que, apesar da proibição por Deus, se comessem do fruto proibido, seriam como Deus, alcançariam a omnipotência. E deu a Adão, e ela também comeu. E aí estão as trágicas consequências: foram expulsos e, logo a seguir, Caim matou o irmão, Abel, inaugurando uma torrente de sangue sem fim.
Com o poder, vem o ter e cada vez mais teres, porque o desejo de ter é insaciável. E os teres precisam de ser aumentados sempre mais e defendidos, e aí estão a violência e a guerra, que, paradoxalmente, aumentam o poder e o ter. Neste nosso tempo, os gastos com novas armas rondam os dois milhões de milhões (2.000.000.000.000) de dólares, com a lógica de que as armas exigem guerras e as guerras exigem armas, também para gastar o armamento velho e produzir novas armas.
3. O poder fascina de tal modo que até há bem pouco tempo se cantava nas igrejas a Deus como “Senhor Deus dos exércitos” — aliás, ainda há um bispo das forças armadas, mas não um bispo da saúde e da cultura...— e a maior traição da Igreja foi ter-se transformado numa instituição de poder.
Jesus tem duas advertências essenciais. “Não podeis servir a Deus e a Dinheiro”. Ele conhecia bem a importância do dinheiro — não passou a maior parte da  vida a trabalhar? —, mas não se pode adorar Dinheiro (com maiúscula). Significativamente, os Evangelhos foram escritos em grego, mas mantiveram duas palavras em aramaico, a língua materna de Jesus: Abbá, Paizinho (era com esta ternura que Jesus se dirigia a Deus) e Mammôn, a deusa do dinheiro. Mammôn tem o radical mn, que significa confiar. A revelação de Jesus é que Deus é bom, Pai e Mãe de todos, e realmente não é possível confiar, entregar-se confiadamente a Deus e ao mesmo tempo confiar, entregar-se confiadamente a Dinheiro como salvador.
Jesus também disse: “Eu sou Senhor e Mestre”, mas “vim para servir, não para ser servido”; “quem quiser ser o primeiro seja servidor”. Deus é omnipotente? Sim, tem todo o poder, mas não enquanto dominação mas Força infinita de criar.
O latim pode ser iluminante. Mestre tem na sua origem magister, com base em magis, que significa mais, de tal modo que o mestre é o que está acima, o maior, em contraposição com ministro, que vem de minister, com base em minus, menos, e que é o servente, o que serve. (Quantos ministros — também os ministros da Igreja — se lembram que devem ser os que servem, os serventes?). E isso nada tem que ver com ser incompetente. O exemplo é Jesus: ele é o verdadeiro Mestre e Senhor, mas é servidor. Assim, todos devem levar o mais longe possível os seus dons, não para dominar, mas para a maior realização de todos.”
Anselmo Borges, (Padre e professor de Filosofia), Artigo publicado no DN  | 15 de Outubro de 2022

domingo, 23 de outubro de 2022

Elogio do Bichano


Elogio do Bichano(1)
 
Ser ou não ser bichano, eis a questão!
Pode provar-se, com bom fundamento,
que não ser bichano é perdição
e, provavelmente, puro tormento.
 
Assim sendo, qual será a razão
de existir dos que não são bichanos?
Não ser bichano é só desrazão
que causa aos outros bichos muitos danos!
 
Deus criou Leonardo já tarde(2),
e, por isso, criou os não bichanos
e fê-lo xó com medo do alarde
 
que os bichanos trariam aos humanos:
Deus sabia muito bem que os bichanos
satisfariam gregos e troianos!      
                            23.10.2022
 
(1) - Bichano: o mesmo que gato ou, de preferência, gatinho.
(2)  -  Alusão ao facto de ter sido Leonardo quem desenhou o gato. Antes desta genial criação – a obra-prima do artista – Deus foi criando outros animais menos esbeltos e menos interessantes. Até que!
 
Eugénio Lisboa 

Ao Domingo Há Música


E a tempestade por fim passou
Não se ouve passos no corredor
Ninguém cá vem chamar, a calma há-de voltar
O céu quebrado ilumina sonhos
Já a caminho de um novo lar

Bosques, veredas, que conheci
Visões de eu poder chegar a ti
Abismos onde eu voei, promessas que eu tentei
Enganos meus, amor, adeus
Abismos onde eu voеi, promessas que eu tеntei
Enganos meus, amor, adeus
Leva na memória cada beijo que eu te dei

Nestes dias de tão ansiada chuva e de muita turbulência indesejada, o céu quebrado pode iluminar sonhos e a Música debelar alguma súbita intempérie. 
Ana Moura, em Te Amo ( Calema), no palco de Confessions. 
Neste Confessions  sobe ao palco Ana Moura com uma versão da música "Te Amo" dos Calema. De certeza que não vai conseguir ficar indiferente a este cover na voz de uma das maiores artistas nacionais, acompanhada pela guitarra portuguesa do Gaspar Varela.
 
Gisela João , em  Tempestade, no palco de  Confessions. 
"Não é fadista quem quer, mas sim quem nasceu fadista." São as últimas palavras da última música do seu primeiro disco e as que melhor descrevem Gisela João. »
   
E num dueto improvável , Moonspell & Dulce Pontes, na 4ª Edição PLAY, dos Prémios da Música Portuguesa. Vozes e estilos tão díspares que se conjugam neste admirável e  inesquecível dueto.

sábado, 22 de outubro de 2022

Livros , as Novidades do Outono

Da Gradiva

NOVIDADE
As Guerras de Albert Einstein Vol. 2, de François de Closets, Corbeyran, Éric Chabbert
Edição Outubro 2022
Páginas 64
Preço - €19,50 €17,55
Sinopse
“Durante a Primeira Guerra Mundial, Einstein, o antimilitarista, fica horrorizado por ver o seu grande amigo, o químico Fritz Haber, produzir gases asfixiantes. Mas, no início da Segunda Guerra Mundial, seria o próprio Einstein a escrever ao presidente Roosevelt para o incitar a construir uma bomba nuclear... Um químico nacionalista, um físico pacifista - dois destinos, para uma história extraordinária e apaixonante.
Nesta narrativa tudo é verdade. Os personagens são autênticos, tal como os seus comportamentos, privados ou públicos. Tudo foi por isso tratado em pormenor - por exigência da narrativa de Corbeyran -, e tudo foi escrupulosamente reconstituído, graças ao extraordinário trabalho gráfico de Éric Chabbert. Começa aqui, com a relação dos génios Fritz Haber e Albert Einstein, uma história que não sabemos até onde poderá levar a Humanidade.”

Ucrânia, As Lições da História e Outros Estudos Sobre o Oriente Cristã, de Luís Filipe F. R. Thomaz,
Edição Outubro 2022, Colecção Obras de Luís Filipe ThomazISBN 978-989-785-160-5
Páginas- 328
Preço-€20,00 €18,00
Brevemente
Sinopse
“Mais ou menos discreto, o registo da religião esteve quase sempre ou mesmo sempre activo nos acontecimentos e conflitos na História. Com o seu saber estelar e o conhecimento singular da História da região e da especialidade em causa, este livro de Luís Filipe Thomaz revela essa dimensão no drama da Ucrânia. Dimensão que estando bem presente – e sendo mesmo, porventura, determinante – tem sido ignorada ou é subestimada. A visão e o contributo de novidade que é uma lufada de ar fresco no que se ouve e se vai lendo na enxurrada de comentários que se repetem.”
O Fascismo Nunca Existiu, de Eduardo Lourenço
Edição Outubro 2022P
Páginas -264
Preço- €14,00 €12,60
Sinopse
«À Democracia cumpre pensar‑se como a estrutura mais adequada para que no seu seio se realizem progressivamente as condições de libertação dos indivíduos. A Democracia não tem outro conteúdo que esse mesmo de promover essas condições. Ela não pode ser definida como regime da liberdade senão na medida em que se dá como fim a coexistência e a promoção de todas as formas de liberdade de uma dada sociedade. Por isso mesmo se pode dizer que a Democracia é o único regime que não tem liberdade própria. Ela é prisioneira do mais alto dever de não ter outra que a dos cidadãos. Aparentemente nada mais absurdo.»

Do Grupo Presença

A Menina de Kiev , de Luca Crippa , Maurizio Onnis
Preço- 13,41€ 14,90€
Sinopse
“Passada no coração da guerra na Ucrânia, esta história lembra-nos de que a esperança só existe, verdadeiramente, quando há também coragem.
Alisa é uma menina de dez anos que mora com o pai, Semyon, e a mãe, Polina, num prédio nos arredores de Kiev. Nos telejornais, as notícias pioram a cada dia, mas ninguém quer acreditar que os russos vão mesmo atacar a capital. Nem Olexandr, o avô de Alisa. Sim, ele não quer acreditar, porque tem idade suficiente para se lembrar das histórias da Segunda Guerra Mundial, e não entende como pode essa tragédia repetir-se no coração da Europa. É sobre isto que a família de Alisa conversa na noite de 23 de fevereiro. Até ao momento em que um enorme barulho inunda o céu, as ruas e as casas de Kiev, e a noite parece partir-se em mil pedaços.
Alisa acorda de repente, tomada por um terror brutal, sem saber o que pensar ou sentir. Que está a acontecer? Terá a guerra chegado finalmente à cidade que a viu crescer? Estará o horror ali, à porta de casa, a espreitar pela janela do seu quarto?
Baseada em factos reais, esta é a comovente história de uma menina, Alisa, e da sua família, no seio do conflito russo-ucraniano; uma história que representa a de milhares de famílias. Aqui, o medo, a fuga e os piores momentos são a antecâmara da história de resiliência, coragem, esperança e amor verdadeiros, que Alisa simboliza para todos nós. Como ela, queremos a paz, de todo o coração, e continuamos a querer acreditar na bondade do ser humano - uma e outra vez, sempre.”

 

Autora do Bestseller Internacional «O Tatuador de Auchwitz» pela primeira vez em Portugal
Heather Morris estará pela primeira vez em Portugal, num encontro especial com os leitores portugueses, nos dias 25, 26 e 27 de outubro 2022.
A autora irá apresentar a edição especial e limitada do livro «O Tatuador de Auschwitz», comemorativa dos 100 mil exemplares vendidos em Portugal e com um prefácio da autora para os leitores portugueses. Não perca esta oportunidade.
Motivos não faltam para ter esta edição especial na sua estante.
«O Tatuador de Auchwitz - Edição Especial», de Heather Morris
«Ainda hoje sinto necessidade de assegurar a mim mesma de que não é tudo um sonho. Nada disto teria acontecido sem os incontáveis leitores que leram o livro, não lhe ficaram indiferentes e o recomendaram a familiares e amigos. Assim aconteceu em Portugal e confesso que fiquei incrédula.» Prefácio de Heather Morris para a edição portuguesa.

Da Relógio D’Água


Outubro

1 — A Alma dos Ricos, de Agustina Bessa-Luís
2 — Aforismos, de Agustina Bessa-Luís (Prefácio de Paulo Tunhas)
3 — Ferry, de Djaimilia Pereira de Almeida
4 — O Passageiro, de Cormac McCarthy (Tradução de Paulo Faria)
5 — O Meu Ano de Repouso e de Relaxamento, de Ottessa Moshfegh
6 — O Tempo É Uma Mãe, de Ocean Vuong
7 — Os Nossos Corações Perdidos, de Celeste Ng
8 — O Império da Dor: A História Secreta da Dinastia Sackler, de Patrick Radden Keefe
9 — Anotação do Mal, de Jaime Rocha
10 — A Lua de Bruxelas, de Amadeu Lopes Sabino
11 — Obra Poética, de José Afonso
12 — Espíritos Afins, de Virginia Woolf

Novembro

1 — A Ucrânia e a Rússia: Do Divórcio Civilizado à Guerra Incivil, de Paul D’Anieri (Versão Actualizada)
2 — A Morte Breve ou A Democracia Imanente, de José Gil
3 — Flores para Algernon, de Daniel Keyes
4 — Inteligência Artificial 2041, de Kai-Fu Lee e Chen Qiufan
5 — A Floresta Negra, de Liu Cixin
6 — Maternidade, de Sheila Heti
7 — Fé, Esperança e Carnificina, de Nick Cave e Sean O’Hagan
8 — A Decisão, de Karine Tuil
9 — O Que não Compreendo É a Música, de Ana Teresa Pereira
10 — W. B. Yeats, de Cristina Carvalho
11 — O Chef, de Luís Afonso (Colecção Contos Singulares)

Da Quetzal

 

Como Viver. A Vida de Montaigne numa pergunta e vinte tentativas de resposta, de Sarah Bakewell
Páginas - 424
Preço – 19,90 €
Sinopse
“Michel de Montaigne (1533-1592) foi o primeiro ensaísta no verdadeiro sentido da palavra. Toda a sua obra pretendia responder a uma pergunta: como viver?
As perguntas são simples: como viver com os outros, como encontrar um sentido para a vida, como enfrentar o envelhecimento, a perda, o amor ou a desilusão? Como manter um bom relacionamento com as pessoas, como lidar com a violência, como se adaptar à perda de um amigo querido?
Estas questões fazem parte da vida da maioria das pessoas. A extensa obra de Montaigne tenta responder a essas inquietações não como um guia, uma lição ou uma soma de conselhos — mas dando conta da experiência de viver, do gosto pelo vinho e pela amizade, das memórias de infância e de juventude, dos passeios pelo campo na companhia do cão, das suas meditações sobre os aromas, o divertimento, a existência de canibais, a amizade, a crueldade ou a perda de alguém. E todas elas derivam de outra ainda maior: como viver? Ou, de outra forma: que significa uma vida honrada, plena, simples e possível?
Sarah Bakewell escolhe vinte possíveis respostas, percorrendo o caminho do próprio Montaigne, ou seja, escrevendo a sua biografia e mostrando como, ao longo dos últimos séculos, a sua grande obra (uma das mais influentes da cultura universal) dialogou incessantemente com o passado e o futuro, falando-nos de nós mesmos e ajudando-nos a encontrar um caminho, e não o caminho.”

Da Guerra & Paz
LOVE ME DO: A Ascensão dos Beatles, de Michael Braun
Preço- 16,50 €14,85 €
Sobre o livro:
"O primeiro livro de sempre a ser editado sobre os Beatles
O ano é 1963. Love Me Do é o primeiro single de sucesso dos Beatles. Please, Please Me leva-os ao n.º 1 dos tops. John, Paul, George e Ringo celebram esse primeiro sucesso com uma digressão de seis semanas. É o início da Beatlemania. E Michael Braun está lá.
Está lá durante meses, em Londres, nas digressões a Paris, aos Estados Unidos: nas conversas privadas dos Beatles, nas gravações recheadas de incidentes e piadas muito impróprias, na fuga às hordas de fãs aos gritos. Mas, em vez da imagem betinha das revistas de fãs, Love Me Do mostra os Beatles a nu. «Éramos uns sacanas», jura Lennon, elogiando este livro como o mais verdadeiro que se escreveu sobre eles.
Este é um retrato da absoluta loucura dos quatro Beatles e é, também, o retrato do ambiente eufórico que então se viveu. Palavrões, bebida sem limite, opiniões controversas foram a resposta à pressão sufocante que a banda sofria, o que faz deste livro uma obra muito à frente do seu tempo. Love Me Do mostra quatro seres humanos imperfeitos e geniais: até no sono o autor os acompanha.
Não admira que a revista Rolling Stone, o considere o melhor livro de todos os tempos sobre os Beatles. Um clássico.
Para quem procura sentir o pleno sabor do período em que a Beatlemania começou, Love Me Do! é fascinante e, a meu ver, insuperável... pode até ser o melhor livro alguma vez escrito sobre os Beatles."
Mark  Lewisohn

Conheça os nossos cabazes


"Chegou aquela altura do ano em que ficamos horas a olhar para montras (físicas ou digitais) a perguntarmo-nos: «o que é que eu vou dar à minha tia no Natal»? Normalmente a Guerra e Paz Editores, isenta de qualquer viés, sugeriria um livro. Mas este ano é diferente, este ano precisamos de um consolo extra, precisamos de ser mimados. Decidimos então criar os cabazes Guerra e Paz, com a companhia da Quinta S. Sebastião.
Temos dez cabazes diferentes, todos eles acompanhados por duas pequenas garrafas de vinho (à excepção do infantil, que terá outras surpresas), um marcador de madeira e, claro… livros.Familiares e amigos românticos? De certeza que um belo copo de vinho acompanhará muito bem a leitura de Jane Austen e do seu Orgulho e Preconceito, da Amante de Lady Chatterley de D.H. Lawrence ou de Camilo Castelo Branco e o seu Amor de Perdição.
Para os que acham que sabem tudo sobre História, nada melhor do que a leitura do Atlas da Guerra Fria, Atlas Histórico de África e o Conversando com o Inimigo de Henrique Cymerman: com um tinto a acompanhar.
E para os mais irreverentes? Venha de lá um brinde e uma animada conversa sobre Os Benefícios de Dar Peidos de Jonathan Swift, ou um aceso debate em torno do ensaio Autos de Fé - A Arte de Destruir Livros de Michel Onfray, e, no caso da conversa descambar, uma troca de insultos compilados por Manuel S. Fonseca no explosivo O Pequeno Livro dos Grandes Insultos."

Conheça os nossos cabazes

Das Edições 70, Grupo Almedina



Gravidade Zero, de Woody Allen
Novidades
Ano: 2022
Páginas – 216
Preço – 15,21€
Sinopse
“ZERO GRAVITY é o quinto livro de textos humorísticos de Woody Allen, um artífice de prosa hilariante que conquistou um alargadíssimo séquito de leitores desde seus clássicos Pura Anarquia, Sem Penas, Getting Even e Side Effects. Sejam os textos sobre cavalos que pintam, carros que pensam ou a vida sexual de celebridades, Woody Allen é sempre original, sofisticado, extremamente observador e, o mais importante, implacavelmente engraçado.”

Da Porto Editora
Abelhas cinzentas, de Andrei Kurkov
Edição/reimpressão: 09-2022
Páginas - 372
Preço – 16,92€
Sinopse
“Ucrânia, região do Donbass, 2017
Pequena Starhorodivka é uma aldeia de apenas três ruas em plena Zona Cinzenta ucraniana, a terra de ninguém entre as forças nacionalistas e separatistas. Devido à violência constante de uma guerra que se arrasta há anos, todos os habitantes abandonaram a aldeia, menos dois: Sergey Sergeyich e Pashka, dois animigos de infância. Juntos, encontram formas de sobreviver, no meio de constantes bombardeamentos que não se sabe bem de onde provêm ou quais os seus alvos. Naquela aldeia, o conflito perdera há muito qualquer tipo de sentido.
Sem eletricidade há meses, e com pouquíssima comida, Sergeyich tem um único prazer na vida: as suas abelhas. Com a chegada da primavera, o apicultor sabe que terá de as transportar para longe da Zona Cinzenta, onde elas poderão recolher o pólen em paz. Esta simples missão leva-o a conhecer combatentes e cidadãos dos dois lados da frente de batalha: nacionalistas, separatistas, ocupantes russos e tártaros da Crimeia. Para onde quer que vá, a inocência e simplicidade de Sergeyich, a par da sua moral irrepreensível, desarmam todos aqueles que encontra pelo caminho.
Em Abelhas cinzentas, Andrei Kurkov traça, fazendo uso do seu humor desconcertante, um assombroso retrato da terrível situação que o seu país atravessa, mostrando-nos que, mesmo nos contextos mais improváveis, e por vezes da forma mais absurda, a vida encontra forma de seguir o seu rumo.”

 


 Prémio Nobel da Literatura 2022 
 Annie Ernaux vence Prémio Nobel
Livros do Brasil orgulha-se de publicar em Portugal
a autora francesa Prémio Nobel da Literatura de 2022.
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 Do Leste para os resto do mundo 
 Do Leste para o resto do mundo
24 de fevereiro de 2022 é uma data que ficará inscrita nos livros
de História, porque marca o início de uma guerra anunciada.
A invasão russa avançou ...
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 Entrevista a Richard Zimler 
 Entrevista a Richard Zimler
A intolerância religiosa, o medo e a desconfiança na época d
a Inquisição assombram este novo livro de Richard Zimler
 narrado por um menino judeu de nove anos, ...
LER ENTREVISTA
 
 A Escolha do Editor 
 Escolha do Editor
Uma receita literária sem pecados, preparada de uma assentada
 por uma autora britânica, de ascensão caribenha e residente
 em Itália – inevitavelmente atraída pelo poder...
CONTINUAR A LER
 
 Um Porto de Encontro com Carlos Tê 
 Um Porto de Encontro com Carlos Tê
O letrista e escritor apresentou «Arquibaldo» no
arranque da 11.ª temporada deste ciclo de conversas...
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 Sugestões para o outono 
 Sugestões para o outono
Um policial e um romance histórico que nos levam
do norte de Portugal até ao sul de Angola.
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Da Folio