domingo, 31 de março de 2024

Ao Domingo Há Música

O anjo na escada

Na volta da escada,
Na volta escura da escada.
O Anjo disse o meu nome.
E o meu nome varou de lado a lado o meu peito.
E vinha um rumor distante de vozes clamando
clamando...

Mario QuintanaO Aprendiz de Feiticeiro

Escuto

Escuto mas não sei
Se o que oiço é silêncio
ou deus

Escuto sem saber se estou ouvindo
O ressoar das planícies do vazio
Ou a consciência atenta
Que nos confins do universo
me decifra e fita

Apenas sei que caminho como quem
É olhado amado e conhecido
E por isso em cada gesto ponho
Solenidade e risco.

Sophia de Mello Breyner Andresen,  Geografia


Soneto à Beleza

Visitar a beleza dá-nos vida,
infunde-nos uma energia nova!
Na beleza está sempre prometida
uma dádiva, ao som de uma trova.
Eugénio Lisboa, 28.06. 2023

Não são apenas vozes é  a voz e  as vozes que se juntam, clamando e cantando para todos nós, neste domingo de Páscoa. Que nos infundam uma energia nova!

Barbara Hendricks interpreta Laudate Dominum de Wolfgang Amadeus Mozart e  a Capella Istropolitana interpreta  Hallelujah, de Georg Friedrich Händel.

   

sábado, 30 de março de 2024

A Palavra

Já não quero dicionários
consultados em vão.
Quero só a palavra
que nunca estará neles
nem se pode inventar.

Que resumiria o mundo
e o substituiria.
Mais sol do que o sol,
dentro da qual vivêssemos
todos em comunhão,

mudos,
saboreando-a.
Carlos Drummond de Andrade, in A Paixão Medida, Editora Record, 2002

Neste sábado...

  

Vangelis & Irene Papas, em  'O! Gliki Mou Ear''....Oh, My Sweet Springtime.

sexta-feira, 29 de março de 2024

Miserere nobis

 
Agnus Dei, de Samuel Barber

No calendário litúrgico católico hoje, sexta-feira santa, evoca-se a Paixão de Cristo

"Traído pelo seu discípulo Judas, Cristo é preso, sob a acusação de semear desordem pública por causa dos seus ensinamentos e, especialmente, de usurpar o título de Messias, “porque se fez Filho de Deus”, como dizem os responsáveis judaicos. Interrogado por Pôncio Pilatos, governador romano da região, açoitado por soldados, é condenado à morte na cruz, pena reservada a criminosos.
Em Jerusalém, Jesus sobe a colina do Gólgota (literalmente “Monte do crânio”, também designado como Calvário) e cai várias vezes, por causa da exaustão. Crucificado, expira depois de algumas horas de suplício. É descido da cruz pelos seus parentes, envolto num pano branco (sudário) e colocado no túmulo." Agência Ecclesia

quinta-feira, 28 de março de 2024

País de Abril – Os Avisos Secretos

País de Abril – Os Avisos Secretos
por Eugénio Lisboa
 
The poem is a dream made flesh.
Henry Miller
 
"Em boa hora, reuniu Manuel Alegre, nesta antologia belamente celebrativa, os seus “poemas de Abril” (e Maio…). Chamou-lhe País de Abril e nela reuniu todos os poemas que “falam de Abril antes de Abril e de Maio antes de Maio, em Praça da Canção, editada em 1964, e em O Canto e as Armas, de 1967.” A antologia inclui, também, outros “poemas de Abril”, escritos durante o período revolucionário, e outros, ainda, mais tarde. Mas o que a torna particularmente interessante – e isso já antes se teria podido ver, mas esta reunião de todos os “poemas de Abril” num só todo torna-o particularmente gritante – é o anúncio do “tempo de Abril” (o de 1974), em poemas publicados num livro dez anos anterior à eclosão do movimento que restituiu a liberdade à “ditosa pátria minha amada”. Numa breve “nota de edição”, o poeta não resiste a chamar a atenção para este facto: “Não deixa de ser intrigante que, tantos anos antes, o autor tenha escrito sobre o País de Abril, Maio e os cravos vermelhos. Como se explica? Mistérios da poesia.”
Não creio que Manuel Alegre estivesse consciente, quando agarrou o tópico de “Abril”, de uma das etimologias atribuídas à palavra “Abril”: essa etimologia ligá-la-ia ao verbo latino aprire, isto é, abrir, referência ao abrir dos botões, que dão flor (os cravos, as rosas). Mas algo lavraria, por certo, o seu subconsciente, porquanto os cravos vermelhos povoam já, explicitamente, o seu “inventado” “País de Abril”, que, dez anos depois, passaria de “inventado” a real (e também habitado por cravos vermelhos, aparatosamente simbólicos).
Estas “misteriosas” presciências podem ser “misteriosas”, mas não são assim tão novas. Têm sido verificadas e anunciadas desde tempos imemoriais. Talvez, afinal, Aristóteles tenha tido algum fundamento, ao afirmar que “a poesia é mais filosófica e de mais alto valor do que a história”, porque, em vez de reflectir sobre uma realidade passada, anuncia, profeticamente, uma realidade futura. Ela seria, assim, não uma comentadora de mundos que a antecedem, mas, antes, uma fabricadora de mundos novos. E não foi, já, Aristóteles, mas um grande poeta dos tempos modernos, T. S. Eliot, quem afirmou que “a poesia não é uma asserção de verdade, mas uma fabricação dessa verdade, mais completamente real para nós.”
Alguns dos poemas deste belo “País” que Manuel Alegre congeminou e fundou, de toutes pièces, confirmam, de modo impressionante, estas formulações poéticas ou filosóficas de Eliot ou Aristóteles. Leia-se, por exemplo, esta fulgurante passagem do poema “Explicação do País de Abril”, inserto na Praça da Canção: Não procurem nos livros que não vem nos livros / País de Abril fica no ventre das manhãs / fica na mágoa de o sabermos tão presente / que nos torna doentes sua ausência /. Esmiuçando o sentido profundo destes versos, não é abusivo “traduzi-los” por: não procurem nos ardidos livros de história o meu País de Abril, porque ele ainda só reside no meu sonho, mas, ao sonhá-lo, torno tão presente a sua realidade, que me dói, a sua, por enquanto, real ausência. O poeta torna o seu sonho carne, usando as belas palavras de Miller, que coloquei como epígrafe deste meu texto, mas é, por enquanto, uma carne-a-haver, o que, insuportavelmente dói. É uma “carne” que ele sabe verdadeira e presente, no seu sonho, mas ausente da realidade quotidiana. Porém, ao mesmo tempo, anuncia, assertivamente, que a aquela realidade, por enquanto, ausente, há-de obedecer ao seu sonho, como no belo poema de Yeates, como que feito de propósito para visitar este poema de Alegre: That William Blake / Who beat upon the Wall / Till Truth obeyed the call/ . (“… William Blake / Que se bateu de forma danada / Até a verdade obedecer à chamada”)
Os versos confirmativos do que atrás digo abundam e atropelam-se (e atropelam-nos): Por ti eu me perdi ou me encontrei / por ti que eras ausente e tão presente / por ti cheguei ao longe aqui tão perto. /E achei achando-te o País de Abril./ “Que eras ausente e tão presente”, isto é, presente no sonho, ausente, na realidade.
No expressivo poema “É preciso um país”, do seu segundo livro, de 1967 – O Canto e as Armas – afirma, peremptoriamente, logo no título e, depois, no último verso da primeira estrofe, que “é preciso um país”, não o país de navios a partir” (para a guerra, para a emigração), mas o país em que se volta “ao ponto de partida”. Criar o “País de Abril”, para substituir “a pátria onde foi traída / não só a independência / mas a vida./ Porque “Abril” (o sonhado e o que há-de ser real) é isso mesmo: a abertura para a vida, simbolizada nos botões que se abrem em cravos vermelhos como o sangue, que simboliza a vida, o florir da vida, o contrário de Alcácer Quibir, que é fim e que é morte.
Na poesia moderna, a partir de Baudelaire ou, até, de Wordsworth, tudo é matéria de poesia, mesmo o preconceituosamente anti-poético: o inferno urbano, a porcaria, o vício, a podridão, o vómito, a máquina, tudo a poesia faz matéria prima das suas elucubrações. Por que não, nesse caso, a intervenção política? A indignação social? Desde que se não traia a arte – que até potencia a “mensagem” – tudo alimenta o bojo faminto da barca da poesia: “Assim como, para a mente pura, todas as coisas são puras, assim, para o espírito poético, todas as coisas são poéticas”, dizia o poeta americano, Longfellow. As “femmes damnées” de Baudelaire, que Régio fez matéria dos seus desenhos, não são menos poéticas do que as Elviras de estatuto garantido. Artesão consumado, tocador de lira afeiçoado pelo estudo e pelo ouvido, Alegre canta o seu sonho de um País de Abril, como outros cantam, com igual ardor, a solidão dos corações ou a perplexidade ante os espaços infinitos. E dispara os seus “avisos secretos”, para que constem. Tudo são explorações do nosso assombro, por via da percussão afinada da palavra.
Todo o verdadeiro poeta, mesmo sem o saber (mas sabe!), acrescenta a realidade. Ao sonhar o País de Abril, Alegre, mais do que anunciá-lo, criou-o. “Um bom poema”, disse Dylan Thomas, “é uma contribuição para a realidade. O mundo nunca mais fica o mesmo, desde que um bom poema lhe é adicionado. Um bom poema ajuda a mudar a forma e o significado do universo, ajuda a ampliar-se o conhecimento que cada um tem de si próprio e do mundo que o rodeia.” Ao escrever Praça da Canção e O Canto e as Armas, Manuel Alegre não permitiu que Portugal continuasse imutável: inventou outro, que, no futuro, substituiria o primeiro, partindo para nova aventura  e subsequentes novas sedes de mudança. Que o mundo é todo feito de mudança, de novas sedes e de novas fomes: “Com as mãos se faz o poema – e são de terra”, diz o poeta, que muito bem sabe do que fala. O sonho faz-se carne, que devém sonho, que se muda em carne."
Eugénio Lisboa,   em PRO MEMORIA , publicado no JL, 2014                

quarta-feira, 27 de março de 2024

Viajar pela Argentina

 
A Argentina 4K , pelo  Scenic Relaxation Film.
"A  Argentina é um dos países mais bonitos da América do Sul. 
Aproveite este filme de relaxamento panorâmico em 4K apresentando as paisagens e maravilhas da Argentina. Da icónica montanha Fitz Roy ao cenário selvagem da Terra do Fogo, a Argentina é um país vasto e diversificado  para ser visitado. 
Qual é o seu lugar favorito na Argentina?"

Curiosidades sobre a América Latina AQUI 

A Senhora do Cãozinho

 
A Senhora do Cãozinho
por Anton Tchékhov
1
“Espalhou‑se logo a notícia de que uma cara nova se passeava pela marginal: uma senhora com um cãozinho. Dmítri Dmítritch Gúrov, com duas semanas de Ialta, já se adaptara o bastante para também se interessar por quem chegava de novo. Sentado à mesa no café Vernet, viu a senhora a passar na marginal: uma loura jovem e nada alta, de boina; atrás dela corria um spitz branco.
Depois voltou a cruzar‑se com ela, várias vezes nesse dia, no jardim municipal e no parque. Sempre sozinha, a mesma boina, o spitz branco atrás; ninguém sabia quem era, diziam simplesmente: a senhora do cãozinho.
 «Sozinha aqui, sem marido nem amigos — congeminava Gúrov —, valia a pena conhecê‑la.»
Gúrov não chegara aos quarenta anos, mas já tinha uma filha de doze e dois rapazes no liceu. Haviam‑no casado cedo, ainda no seu segundo ano da universidade, de maneira que a esposa, agora, parecia ter o dobro da idade dele. Era uma mulher alta, de sobrancelhas escuras, muito direita, solene, ar importante e, como dizia ela de si, uma pensadora. Lia muito, nas cartas já não escrevia o «iáti»*, chamava ao marido Dimítri em vez de Dmítri, marido que, por sua vez, a achava de inteligência estreita, ideias curtas, deselegante como mulher, lhe tinha medo e não gostava de parar muito em casa. Enganava‑a havia muito tempo, e com frequência, talvez por isso pensasse quase sempre mal das mulheres, e, quando na sua presença se falava delas, caracterizava‑as por:
 — Raça inferior!
Achava­‑se com suficiente e amarga experiência para lhes chamar o que quisesse, mas nem dois dias podia passar sem a «raça inferior». Não se sentia bem na companhia dos homens, aborrecia‑se, era frio, pouco loquaz; mas na companhia das mulheres ficava logo à vontade, com elas sabia como se portar, como falar, até como se calar. Na sua aparência, no seu feitio, em toda a sua natureza havia alguma coisa que atraía, que ganhava a simpatia das mulheres, que as seduzia; Gúrov sabia‑o, e também uma força qualquer o puxava para elas.
 A sua experiência vasta, e realmente amarga, ensinara‑lhe havia muito que qualquer intimidade, de início uma coisa agradável para variar na vida, uma aventura fascinante mas ligeira, entre as pessoas decentes, se transformava inevitavelmente em problema dos mais complicados, sobretudo entre os moscovitas indolentes e irresolutos, e se volvia, ao fim e ao cabo, em situação penosa. A cada novo encontro com uma mulher interessante, porém, toda a experiência como que se lhe varria da memória, e tinha outra vez vontade de viver, e era tudo tão fácil, tão divertido.
Estava então uma vez, pelo entardecer, a almoçar no jardim e viu que a senhora da boina se aproximava sem pressas, com a intenção de ocupar a mesa perto da sua. A expressão, o andar, a roupa, o penteado, tudo lhe dizia que a mulher era da boa sociedade, casada, em Ialta pela primeira vez, e que se aborrecia… Nas histórias sobre a pouca­‑vergonha dos hábitos locais havia muita mentira, e Gúrov desprezava­‑as, sabia que tais histórias eram inventadas por pessoas que se soubessem pecar também pecavam, mas quando a senhora se sentou à mesa ao lado, a uns três passos dele, vieram­‑lhe à memória essas histórias de conquistas fáceis, de escapadelas para os montes, e a ideia sedutora de uma relação leve e passageira, a ideia de romance com a desconhecida de quem não sabia sequer o nome, dominou‑o repentinamente.
Chamou o spitz com um gesto afável e, quando o cãozinho se aproximou, pôs­‑se a ameaçá­‑lo com o dedo. O spitz rosnou. Gúrov voltou a brandir o dedo para o cão.
A senhora olhou para ele e baixou logo os olhos.
 — Não morde — disse ela, e corou.
— Posso dar‑lhe um osso? — E, quando ela fez que sim com a cabeça, perguntou, simpático:
 — Há muito que chegou a Ialta?
— Há cinco dias.
— Pois eu já me arrasto por cá vai para duas semanas.
 Curto silêncio.
 — O tempo corre depressa, e mesmo assim isto por aqui é tão aborrecido! — disse a senhora sem olhar para ele.
— Já é um chavão as pessoas dizerem que isto é aborrecido! Vivem num Beliov ou numa Jizdra quaisquer e não se aborrecem, mas mal chegam: «Ah, que seca! Ah, que poeirada!» Como se acabassem de chegar de Granada.
Ela riu‑se. Depois, cada qual começou a comer em silêncio, como dois desconhecidos; mas após o almoço saíram juntos, conversando num tom leve e brincado, de pessoas livres, bem‑dispostas, a quem era indiferente para onde fossem, do que falassem. Passeavam e comentavam que o mar tinha uma luminosidade estranha; que a água estava cor de lilás, tão suave e tão quente; e que a lua traçava uma faixa dourada sobre o mar. E também que, depois de um dia de tanto calor, o ar estava abafado. Gúrov contou­‑lhe que era moscovita, fizera o curso de Letras, mas trabalhava num banco; que em tempos se preparara para cantar na ópera privada, mas desistira, que tinha duas casas próprias em Moscovo… E dela ficou a saber que crescera em Petersburgo, mas casara na cidade de S., onde se instalara havia dois anos, que ia ficar em Ialta mais um mês e que o marido talvez se lhe viesse juntar, porque também precisava de descansar. Não conseguiu foi explicar cabalmente em que serviço estava o marido — se na administração provincial, se na rural —, o que de resto lhe pareceu, a ela própria, engraçadíssimo. Gúrov ficou também a saber que se chamava Anna Serguéevna.
Depois, chegado ao quarto, pôs­‑se a pensar nela, a pensar que no dia seguinte a voltaria, decerto, a encontrar. Tinha de ser. Quando já recolhia à cama, ocorreu‑lhe que não haveria assim tanto tempo que ela, como a filha dele, se sentava nos bancos do liceu, e lembrou‑se da timidez, do acanhamento com que ria e falava a um homem desconhecido: pelos vistos, fora a primeira vez na vida que, sozinha, se achara naquela situação de andarem atrás dela, de olharem para ela, de falarem com ela com uma única e secreta intenção que ela não podia deixar de adivinhar. Lembrou­‑se do seu pescoço fino e frágil, dos seus olhos bonitos, cinzentos.”
Anton Tchékhov , in A Senhora do cãozinho, Relógio D’Água Editores, pp.7-12
 
* Antiga letra do alfabeto russo correspondente a um som específico que acabou por se fundir com o «e». Em finais do século xix debatia-se na imprensa russa a questão de eliminar a letra inútil. (N. T.)
 
Anton Tchékov, (186660-1904)
Sobre o autor:
“O avô de Anton Tchékhov era servo; o pai, um pequeno comerciante. Na década de 1870 arruinou-se, pelo que toda a família se mudou para Moscovo; Anton Tchékhov ficou sozinho em Taganrog (Sudeste da Rússia) a fim de terminar o curso dos liceus. Viu-se obrigado a ganhar a vida. Terminado o curso, em 1879, mudou-se também para Moscovo e entrou na universidade. Tchékhov começou a escrever os seus primeiros contos para ajudar a família. Ao acabar o curso de Medicina, tornou-se assistente do médico distrital de uma pequena cidade de província. As duas primeiras colectâneas de contos de Tchékhov — Contos Matizados e No Crepúsculo — foram editadas em 1886 e 1887 e mereceram de imediato o reconhecimento dos leitores. A partir daí, e com a publicação de contos, novelas e de peças como A Gaivota e O Ginjal, passou a ser considerado um dos mais importantes escritores russos, tendo a possibilidade de publicar as suas obras nas melhores revistas literárias, de abandonar a prática clínica e de se dedicar a tempo inteiro à literatura. Depressa comprou uma pequena casa perto de Moscovo, onde se instalou com toda a família. Em Junho de 1904, já muito enfraquecido pela tuberculose, viajou pela última vez em busca da cura — desta vez para Badenweiler, na Floresta Negra alemã. (…) Morreu em 2 de Julho de 1904, longe da família e dos amigos. (A partir de um texto de Vladimir Nabokov)."
A Senhora do Cãozinho é, a par de O Beijo, um dos melhores e mais conhecidos contos de Tchékhov.”

segunda-feira, 25 de março de 2024

Uma noite em Machu Picchu

Uma noite em Machu Picchu
por Manoel de Andrade
2 - Na memória de Cusco
"A cidade de Cusco ficou na memória dos meus anos. Milenar e sagrada, reservada e cosmopolita, a cidade engastada qual uma concha geológica num rico vale entre montanhas de mais de três mil metros, foi a capital de um reino que durou trezentos anos, e cujas obras foram construídas para a eternidade. Pachacútec, Túpac Yupanqui e Waina Cápac marcam a glória de um século em que o império se estendeu da Colômbia até as fronteiras meridionais com o Chile e a Argentina, abarcando parte da selva amazônica, numa extensão maior do que o império romano. Cusco era a capital desse colosso territorial, o ventre da pátria peruana e o berço da sua infância nacional. Era a cidade viril, máscula, monumental. Quando Lima nasceu, parida pela estratégia, a ambição e a vaidade espanhola, representava a imagem da cidade feminina, moldada pelos caprichos e a sensualidade dos conquistadores. Cusco, encravada nas alturas, simbolizava a resistência, o palco espartano das grandes batalhas, a imagem rebelde de dois comandantes: Túpac Amaru I e Túpac Amaru II, ambos ali martirizados, em 1572 e 1781, respectivamente.
 Aquí unificó pueblos y enseñó técnicas Manco Cápac, personaje escapado de la leyenda que puso los cimientos del más grande imperio de la América india. En Cusco nació y vivió “el más grande hombre que há producido la raza aborigen americana” a decir de Markham, refiriéndose al “transformador del mundo” a Pachacútec. En esta cuidad se aposentaron los Pizarro y los Almagro y varios de ellos dejaron sus huesos. Aquí también sucumbió el incanato con el asesinato “legal” de Túpac Amaru en 1572 bajo la mirada del duro virrey Toledo. Aquí nació la idea y la lucha independentista peruana con Manco Inca que levantó al Perú contra los españoles en 1536, y con José Gabriel Túpac Amaru en 1780. En Cusco se gestó la idea y se organizó la expedición que descubrió Chile, jefaturada por Almagro “el viejo”, (…); en Cusco se organizó la expedición de Pedro de Valdivia para colonizar Chile; en esta ciudad se organizó la expedición que partió hacia Quito y luego el País de la Canela, descubriendo el Amazonas; (…) La ciudad aclamó a Simón Bolívar después de la batalla de Ayacucho.[129]
Parecia inacreditável estar finalmente em Cusco, a cidade atemporal e histórica, lendária e real, fundada por Manco Cápac há mil anos, capital de um império teocrático, cuja misteriosa origem pairava em cada vestígio do tempo, no espírito da cultura, sobrevivendo nos monumentos portentosos, nas imensas pedras lavradas, adornando os grandes portais, pátios e arcadas. Depois chegaram os “deuses” da Espanha, violentando seus santuários e abrindo seu relicário de artes sagradas, construindo a catedral majestosa com seus dois campanários, dominando toda a praça adornada internamente com a simbologia da fé cristã. As demais igrejas, os altares dourados, o esplendor dos vitrais da Igreja da Companhia, o Convento de Santo Domingo, construído e reconstruído, depois do terremoto de 1950, sobre as ruínas de Corikancha, o Templo do Sol. Eu agora estava ali, no “umbigo” do mundo, refletindo a glória do período de Pachacútec, seu filho Túpac Yupanki e a extensão do imenso império, depois da grande vitória de Yahuarpampa sobre os Chancas e a anexação do Reino Chimú. Um lustro de esplendor, domínio e conciliação de tantas tribos. Cusco era a capital sagrada de um mundo construído ao longo de cinco mil quilômetros de montanhas e tudo ali, para mim, era magia, um poder sagrado encravado na paisagem imóvel e eloquente da cidade, pronunciada pelo tempo como a mais antiga da América e espiritualmente envolvida por uma secreta religiosidade vinda não da religião dogmática dos conquistadores, mas do passado panteísta do Tawatinsuyo, onde o céu e a terra são representados na cosmovisão inca da Pachamama, a Mãe Terra, e onde a política e a religião, o templo e o palácio, o Sol e o Inca se identificavam no mesmo sentimento, na mesma fé e na mesma submissão. Para o habitante do Império, a religiosidade era vivenciada, diária e incondicionalmente, na sua ética e na sua conduta social, muito mais voltadas para o sentido agrário e material da vida, do que para qualquer forma de transcendência. Mariátegui,[130] que penetrou, com precocidade histórica e, também, com genial precocidade intelectual, no âmago cultural do problema indígena peruano afirma, ao analisar o Fator Religioso que:
O povo incaico ignorou toda a separação entre a religião e a política, toda diferença entre Estado e Igreja. Todas suas instituições, como todas suas crenças, coincidiam estritamente com sua economia de povo agrícola e com seu espírito de povo sedentário. A teocracia apoiava-se sobre o comum e o empírico; não na virtude taumatúrgica de um profeta nem de seu verbo. A religião era o Estado. [131]
Machu Picchu. “Acreditará alguém no que encontrei?”
Dia 29 de Outubro, saí de viagem para Machu Picchu. O trem correu a manhã inteira pelo Vale Sagrado, ziguezagueando, sempre subindo, passando por regiões agrícolas, pomares, mostrando os frutos negros do capuli, vales povoados de lhamas, salgueiros debruçados sobre os cursos de água, altas encostas rochosas, o estreito caminho beirando os precipícios, assustadoras gargantas, corredeiras. Depois..., a descida para o vale do Vilcanota e a exuberante vegetação que já anuncia a flora amazónica. No decorrer da viagem viam-se caminhos e trilhas abandonadas, onde corriam, séculos atrás, os chasquis, os mensageiros do correio inca que atravessavam todo o império, do sul da Colômbia até o norte da Argentina. A dois terços do caminho passamos pelas ruínas da Fortaleza de Ollantaytambo e chegamos a Águas Calientes, onde todos descem para almoçar e comprar lanches e onde desembarcam quase todos os indígenas. Poucos quilômetros adiante, por volta de treze horas, o trem chegou em Machu Picchu, com uns trinta turistas. Tudo era muito precário. Pagava-se uma pequena taxa e subia-se uma longa e empinada escadaria até o plano das ruínas, onde um jovem recebia o boleto num pequeno portão de entrada, dizendo que a visita se encerraria às dezessete horas. Não havia guia para explicar a disposição dos monumentos, mas eu trazia de Cusco alguns postais legendados e um folheto explicativo. Os passageiros de Cusco, e alguns mochileiros que haviam embarcado em Ollantaytambo, espalharam-se pelas ruínas da entrada. Juntei-me a três mochileiros argentinos e um deles já conhecia o local. Era emocionante dar os primeiros passos em Machu Picchu, “o grande pico” e começamos perambulando pelas ruínas da entrada, seguimos para a íngreme subida do Wayna Picchu numa cansativa caminhada de uma hora, por uma difícil trilha de pedras. A recompensa estava lá, nas alturas: uma visão deslumbrante de toda a paisagem montanhosa e dentro dela a visão lá em baixo, distante e completa, das ruínas da Cidade Sagrada, sobre o dorso planificado da montanha. Hoje, na distância de quatro décadas e com outras visões do mundo, posso dizer que foi o que de mais deslumbrante entrou pelos meus olhos. O historiador Arnold Toynbee, que no início de 1956 passou pela região em sua viagem em torno do mundo, conta, em seu livro De Leste a Oeste, do seu espanto ao chegar em Machu Picchu. Sobre “o pequeno pico” diz ele:
Wayna Picchu! Ele se ergue para o céu como a agulha da torre de uma catedral gigantesca. E a cidade pousada entre os dois picos equipara-se em grandeza ao seu ambiente natural, embora o supere em mistério. Jamais atingida pelos conquistadores espanhóis do Império Inca, ela foi posta a nu por um explorador norte-americano, Hiram Bingham. Este irrompeu através da selva que protegia a cidade e trouxe-a para a luz como uma bela adormecida.[132]
Depois descemos o Wayna Picchu e entramos por um desvio pelo qual  se chega ao pequeno Templo da Lua. Lá pelas quatro e meia da tarde muitos já saíam para pegar o trem. Mas eu decidi me ocultar para passar a noite dormindo nas ruínas.
Guardo muitas lembranças que me encheram os olhos nas paisagens dos caminhos: Canyons gigantescos, precipícios profundos, altas passagens no centro-sul dos Andes, densas florestas, verdes vales cultivados, as travessias do Atacama e do Chaco paraguaio, baías deslumbrantes, rios imensos, lagos escondidos na intimidade das montanhas e a visão inesquecível do Titicaca. Mas Machu Picchu era magicamente diferente. Tudo ali era solene e sagrado. Circundada pelo rio Vilcanota, cujas águas ligeiras correm em torno dos picos de Machu Picchu e Huayna Picchu e cercado de altas montanhas, a cidade é única em majestade, isolamento e beleza. Acreditará alguém no que encontrei?, foi com essa frase que o antropólogo Hiram Bingham registrou seu espanto, no livro A Cidade Perdida dos Incas, ao descobrir as ruínas de Machu Picchu, em 24 de julho de 1911.
Minha noite solitária em Machu Picchu
No fim da tarde, quando o trem já havia partido, apareceram outros mochileiros, descendo apressados do Wayna Picchu e me disseram que iam acampar lá embaixo. Perguntaram se eu não iria descer, porque era proibido ficar à noite entre as ruínas. Depois disso, eu me encaminhei para a parte alta da entrada, onde ficava o local das moradias. Abri minha mochila, escrevi no meu diário e quando a penumbra invadiu o ambiente, estendi meu saco de dormir no canto de uma peça, para ali passar a noite. Era primavera e estava fresco, quase frio a 2.400 metros de altitude. E ali estive muito tempo, envolvido pelo entardecer e debruçado sobre a parte baixa das paredes do meu “aposento”, olhando o perfil das montanhas, a silhueta vertical do Wayna Picchu. Sentia que algo faltava no meu íntimo e o que faltava era a ansiada experiência da noite que me propus passar na solidão das ruínas. Ali fiquei, esperando que a lua aparecesse. Guimarães Rosa escreveu que: esperar é reconhecer-se incompleto. E era assim que minha expectativa fazia-me sentir: incompleto, perante a expectativa daquela experiência noturna em Machu Picchu e incompleto até hoje, porque o conhecimento, quanto maior, mostra-nos que muito maior se torna a consciência do que ignoramos. As primeiras estrelas que surgiam e toda aquela paisagem noturna passava a ser só minha e parecia existir somente pela minha consciência sobre ela. Lembro-me que havia uma passagem no romance A Náusea, de Jean Paul Sartre em que o personagem -- Antoine Roquetin -- estava sentado diante de um amplo vale e achava que tudo aquilo somente existia pela sua consciência e que se aparecesse outra pessoa tomando consciência do ambiente, a paisagem já não era só sua. Bem, era assim que eu me sentia, porque sabia que estava absolutamente sozinho naquele lugar fantástico. A lua surgiu, iluminando a vaga escuridão e uma onda de mistério começou a rondar minha mente.
Imaginava como teria sido a vida dos habitantes que ali viveram nos dias do Tawatinsuyo. A sua anímica religiosidade povoada de deuses, os rituais sagrados, as cerimônias no Templo do Sol e da Lua. Ali tudo se pronunciava em silêncio: as ruas, as praças, as escadarias, o caminho que levava ao Wayna Picchu. Ali tudo era uma “saudade de pedra”, embora não fosse o cais a que se referiu Fernando Pessoa em sua Ode Marítima. A memória histórica de tantos fatos era conduzida por minha excessiva imaginação e algo estranho me acontecia aquela noite. Era como se minhas evocações mentais abrissem uma sintonia com outro plano de pensamento.
Eu era, naquela época, um incrédulo, com uma visão materialista do mundo e a vaga noção de transcendência vinha dos diálogos de Platão, de Fédon, sobretudo, do conceito socrático de imortalidade e do mundo platônico das ideias. E me perguntava se a minha consciência era a única presença mental naquele espaço. Ou haveria um ambiente paralelo, um outro plano, ou seja, se por trás da realidade objetiva e da nossa limitada visualidade, haveria o que alguns filósofos chamaram de um mundo fantasma de percepções, ou de energias distintas, como estabeleceu a ciência nas muitas faixas de ondas no espectro eletromagnético!? [133] Haveria uma Machu Picchu invisível, uma Cidade Sagrada paralela, nas ruínas de um plano astral, com presenças espirituais ao meu lado? Quem sabe as almas dos que ali viveram no passado ou talvez o espírito protetor e “ciumento” do Imperador Pachacútec [134] --- que, em 1452, colocara a primeira pedra e convocara o arquiteto Apomayta para construir Machu Picchu, fundada com o nome mítico de Huiñaymarca (Cidade Eterna) e que depois, estrategicamente, passou a denominar-se Vitcos, para iludir a ganância dos espanhóis na sua busca do El Dourado. Onde estariam as almas das duzentas sacerdotisas, as virgens que cultuavam o sol, trazidas às pressas de Ajjllahuasi, a residência das vestais, em Cusco, antes que lá chegassem os sanguinários e depravados espanhóis?
Quem sabe a Cidade Numinosa ainda existisse, alimentada pela possível imortalidade dos seus “mortos”, reconstruída incessantemente pela paisagem mental dos seus arquitetos, sacerdotes, vestais, amautas e haravicus (poetas)! Medo do invisível? Não, nenhum... Enquanto escrevia meu diário, uma ideia se impunha em minha mente, como a dizer que eu era bem-vindo e esperado ali, que eu fora mentalmente induzido àquela casa e que eu não poderia ter ido dormir nos templos. Que isso teria sido uma profanação. Depois, tudo foi substituído por um imenso bem-estar, por uma inexplicável confiança e a isso sobreveio a sublime catarse daquela absoluta solidão, do silêncio perfeito e a imaginação, buscando a vida e os rastros indeléveis dos que viveram um dia no cotidiano encantado daquele fantástico local. Quantas preces e rituais, quantos amores, quantos dramas, quantas danças e cantares, quantos sonhos se sucederam atrás daquelas ruínas, ali sepultadas pelo tempo!?
Meu espírito bebia o mistério de um tempo que eliminava seus próprios limites. Um tempo que a memória tornou mágico, aleatório, fora da linearidade cronológica, um tempo permanente, sustentado pelo encanto e onde havia a beleza de uma grande literatura, embora não fosse escrita, porque os incas não conheciam a escrita, fonética ou pictográfica. “Escreviam” nas páginas da memória com a expressão da oralidade.[135] Os poetas escreviam seus jailli ao Sol, à Lua, à Wiracocha e à Pachamama. Havia um teatro de tragédias e comédias composta pelos amautas, filósofos do império, cujas cenas eram dramatizadas diante da nobreza inca. Havia uma prosa quíchua, composta de fábulas e lendas e suas preces ao Senhor da vida chegam a lembrar a beleza da Prece de Cáritas. Diziam eles com fervor:
Oh Fazedor, felicíssimo, venturoso Fazedor, que tens misericórdia e piedade dos homens; olha teus servos, pobres desventurados, que tu criaste, e a quem deste o ser; tem piedade deles, vivam com saúde e salvos com seus filhos e descendentes, caminhando pelo reto caminho sem pensar na maldade! Vivam longo tempo, que não morram em sua juventude, que não passem fome e vivam em paz.
Minha alma de poeta buscava, naquela abstração, um “encontro” com o lirismo panteísta dos haravicos, os jograis que levavam a tradição oral do povo pelos quatro cantos do império e por certo ali passaram declamando seus poemas, cantando os huaynos, contando os mitos e as lendas dos antepassados. Quem sabe seus gestos e suas vozes estivessem e ainda estejam ali registrados numa tela misteriosa que as filosofias orientais chamam de registros acásicos, uma memória universal contendo todo o conhecimento do passado.
Intihuatana , a pedra que amarrava o sol
Tudo o que eu havia lido sobre os Incas borbulhava aquela noite, atropelando-se no torvelinho incessante da memória. Ali fora a capital sagrada de um império que possuía uma organização político-religiosa e social perfeita. A produção agrícola partilhada como uma devoção à Terra, e as misteriosas construções do seu gigantesco império. Que fatores astronômicos ou geográficos determinaram as localizações de Macchu Picchu, de Cusco e Ollantaytambo, assim como o platô de Nazca e suas estranhas figuras? Que misteriosos significados havia por trás daquela famosa pedra de Intihuatana, ali em Macchu Picchu, um relógio solar, por onde se chegava através de uma escadaria, tido como um poderoso centro de energias cósmicas, cultuada ainda hoje pelos indígenas e por místicos e esotéricos? Lavrada num único bloco e embora não fosse grande, a forma enigmática e sua posição soberana no terraço mais alto das ruínas, sugeria-me uma inesgotável e mística curiosidade. Decompondo seu significado, inti significa sol e huatama significa amarrar. E daí a pergunta: Estaria aquela pedra posicionada em função dos pontos cardeais do mundo? Seria ali o lugar onde os incas pensavam “amarrar” o sol? Seria ela o centro energético e teocrático do Império? Suas profundas relações com o além são surpreendentemente cada vez maiores, à medida que sucessivas investigações são feitas pelos pesquisadores e, muitos livros, alguns interessantes, outros exagerados, têm procurado interpretar o significado espiritual da pedra de Intihuatana e os desenhos de Nazca.
Como teria sido composta a família e a quem pertencera aquela casa onde eu me “hospedaria” aquela noite? As informações históricas afirmam que na Cidade Sagrada viviam cerca de três mil pessoas e que a grande maioria eram mulheres: as sacerdotisas . Nunca se soube ao certo sobre a vida social de Machu Picchu e há quem afirme que muitos morreram de uma epidemia, ou que os sobreviventes abandonaram o local em 1572, depois da execução do último inca.
En toda La Ciudad Oculta, la noticia de la muerte de Túpac Amaru corrió de casa en casa y, de inmediato, se oyeron grandes lamentaciones de dolor y voces duras que recriminaban a los bárbaros y a sus crueles divinidades de madera. (...) Todos cantaram con la misma voz del corazón el Phuluya Phuluya Huila o “La Canción de los Difuntos, 

Anda, señor mio, derecho a la luz
no te inquiete el rayo de la muerte
ni te hostiguen las voces perversas
tu cuerpo que fue de hueso noble
ahora es filamento de niebla.
Que tu viaje sea guiado por la luna
que te cubra de amor el arco iris
no mires el vacío de los abismos
ni hagas caso de los rencores
anda nomás, nobilísimo difunto,
derecho al país de los ancestros.


(...) Durante todo ese tiempo, Vitcos (a pesar de los vientos de guerra y de la viruela) fue la activa y numinosa Ciudad de los Ritos, pero a partir de mañana debería convertirse, inevitablemente. en la Ciudad de los Muertos, una estancia privativa de los antepasados y de sus maneras de pasar la eternidad. (...)
Muchísimo tiempo después el nombre de la ciudad sería olvidado. Las nuevas generaciones terminarían atribuyéndola solo la denominación del cerro que la cobija: Machu Picchu. [136]

Naquela noite, relata ainda o autor, acenderam-se fogueiras para iluminar, com o clarão das chamas e os gestos do coração, a glória final do Tawantinsuyo. Era o grande ato religioso no final do império. O último suspiro do longo estertor político do incário. Foi a derradeira noite habitada na Cidade Sagrada, e no dia seguinte, tudo seria abandono. O que ficou, seria encontrado somente 339 anos depois, retirando do silêncio o grande segredo dos incas. As ruínas contariam, com sua mudez, a história fascinante do sacrário de um povo, construído nas montanhas. A história de uma civilização abatida pela cobiça e pelo fanatismo, mas que renasceria de suas cicatrizes, sublimada, nos séculos seguintes, nas grandes expressões da arte, da música e na literatura.
Naquele momento, Machu Picchu ali estava, impassível e enigmática diante do meu espírito. Mesmo os arqueólogos ainda não decifraram o mistério que envolveu a vida naquele local. E eu, um mero viandante do tempo, chegara ali 397 anos depois, e ousava perguntar, mentalmente, quem teria sido a última pessoa que dormiu naquela peça onde eu iria passar a noite. Quem sabe naquele quarto ela tivesse agonizado de varíola ou tivesse derramado suas lágrimas pela cruel execução de Túpac Amaru. Quem sabe seus restos repousassem ainda no grande cemitério à direita, na parte baixa das ruínas. Eu observava aquelas pedras perfeitamente encaixadas. Eram os documentos “vivos”, as silenciosas testemunhas de tantos seres que ali conviveram. Lembrei-me dos meus estudos de história e de Cecília Westphalen, aquela fantástica professora e historiadora que me motivou a ler Fernand Braudel, e ele dizia que a história não é apenas a ciência do que muda, mas também daquilo que ficou e permanece imutável. Sim, permanecia ali uma legião imutável de testemunhas. E era assim que eu me sentia, no irreal torvelinho de minha consciência, cercado por uma “nuvem de testemunhas” como afirmou Paulo de Tarso. E era preciso “ver” o que havia atrás, muito atrás das aparências, porque agora eram meras paredes. Já não havia abrigo, nem fogo, nem calor humano. Já não havia teto. E se chovesse? Mas não, o céu estivera azul durante todo o dia e a lua começava a surgir na parte oriental do cenário.
Um ateu na Cidade Sagrada
O frio foi chegando e finalmente entrei em meu saco de dormir. Acendi minha pequena lanterna e li algumas páginas de Walt Whitman. Mas eu estava muito inquieto e não me concentrava na leitura. Apaguei a luz e fiquei de frente para as estrelas. Que outros mundos habitados haveria no universo, ou aqueles minúsculos faróis acesos diante dos meus olhos eram apenas a luz que chegava de estrelas que já haviam se apagado há milhões de anos? Mas, naquele momento, que lugar era mais real que o meu leito no topo de uma montanha, no meio da Cordilheira e onde o andino e o amazônico estendiam seus braços para me amparar naquela noite? Creio que adormeci envolvido por esse enredo mágico e não sei onde me levaram e com quem estive em meus sonhos, porque nada interrompeu meu sono e somente acordei com os passos de algumas lhamas que, ao amanhecer, pastavam a poucos metros da “minha casa”. Elas vinham dos inúmeros terraços agrícolas. Era muito cedo e não havia ainda ninguém em toda a região urbana das ruínas. Levantei-me deslumbrado e a luz do sol ainda não havia transposto as montanhas do leste. Tinha a impressão que tudo renascia com a luz do sol e todo aquele mágico recanto do mundo parecia a imagem maternal da vida. Desci, caminhando descalço sobre a grama umedecida pelo rocio da madrugada, até uma fonte de água corrente que brotava das ruínas, e me lavei. Depois, acariciado pelo ar matutino das montanhas, subi lentamente para a parte superior, onde ficavam as grandes edificações e, sentado sobre a rocha sagrada do Templo do Sol, presenciei seus raios chegarem sobre o pico do Wayna Picchu, invadindo aos poucos todo o vale, envolto ainda numa bruma transparente. Ao redor da praça principal, a luz chegou afastando as sombras entre as paredes dos santuários, das torres e das tumbas. Ali fiquei por quase duas horas. Quanta subjetividade! Um ateu numa silenciosa prece, o olhar passeando respeitoso por um cenário de encanto, entre a praça e as ruínas ou sobrevoando o distante perfil das montanhas. Diante de uma paisagem que se iluminava sempre mais, o meu permanente espanto. Sentado sobre a lateral da grande pedra circular, majestosa e única, ali estive, na aldeia inesquecível do tempo, hipnotizado por tanta beleza, imaginando os dias em que, em seus jardins, as flores recendiam seu perfume pelo ambiente e as crianças corriam alegres pela praça.

Ollantaytambo, habitada desde o Império
Por volta das dez horas chegaram os primeiros mochileiros e espantaram-se com a minha presença, por estarem seguros que eram os primeiros que subiam, porque não havia hotéis nem casas lá embaixo. Somente a estação de trem e a casa dos poucos empregados. Disseram-me que haviam acampado perto da entrada da escadaria e ninguém subira antes deles. Eram os dois casais chilenos que desceram apressados o Wayna Picchu e disseram que sabiam que eu dormira nas ruínas, porque ninguém desceu depois deles. Perguntaram curiosos sobre minha experiência.
Aquele segundo e último dia revisitei e vasculhei outros recantos da cidade. Ainda pela manhã fui ao cemitério, andei pelos terraços agrícolas, descobri novas fontes e espreitei as encostas, os precipícios, observando de todos os ângulos o curso do Vilcanota, correndo em torno dos dois picos e serpenteando no sopé do Wayna Picchu. Eu sabia que aquelas águas um dia chegariam ao Brasil, através dos cursos do rios Ucaiali, Urubamba e Marañon e que ao entrar no território brasileiro passa a chamar-se Solimões. Mas só então, perto de Manaus, ao encontrar-se com o Rio Negro, e que recebe o nome de Amazonas. Em alguns momentos reencontrei os chilenos e foram eles que mataram a minha fome. No fim da tarde, desci para tomar o trem de volta a Cusco.
Quando o trem parou na estação de Ollantaytambo, subiram vários mochileiros. Um deles sentou-se ao meu lado e logo começamos a conversar. Acampara por dois dias em suas ruínas, onde estivera em missão de estudo. Estudava antropologia na Universidade de São Marcos, em Lima, e fora aluno do escritor José Maria Arguedas. Muito versado em cultura e arqueologia peruanas, falou-me da importância da arquitetura incaica do local, que na época todos chamavam de Fortaleza de Ollanta, dizendo que o que se via, através das janelas do trem, não dava a ideia da grandiosidade das suas ruínas interiores. Comentou que Garcilaso de la Vega referira-se a ela em seus Comentários Reales..., que aquelas fortificações foram construídas sob as ordens do Inca Wiraquocha e que era, além de Cusco, a única cidade da época do Incário que ainda continuava habitada por mais de seiscentos anos. Em outras fontes da história de Cusco me inteirei que Simon Bolívar, no auge de sua glória de Libertador, depois das vitórias de Junín e Ayacucho, em viagem pelas províncias do sul, chegou a Cusco em 25 de junho de 1825 e visitou, dias depois, a fortaleza de Ollantaytambo. Diante de sua grandeza, recomendou, por carta, a Hipólito Unanue,[137] as providências para sua conservação, afirmando que a glória destes monumentos ainda em ruínas reclamam a favor dos seus autores, e não deve ser esquecida."
Manoel de Andrade, in NOS RASTROS DA UTOPIA: Uma memória crítica da América Latina nos anos 70, Ed. Escrituras, S. Paulo, 2014, pp.244-257

[129] VARGAS, Víctor Angles. Historia del Cusco Incaico. Cusco: Edição do autor, 1988, t. I, p.19-20.
[130] José Carlos Mariátegui (Moquegua, 1894 – Lima, 1930) Apesar de ter vivido apenas 35 anos, foi, por certo, o mais brilhante pensador peruano e o mais lúcido intérprete do marxismo latino-americano. Autodidata, jornalista, ensaísta e poeta, celebrizou-se através dos seus Sete ensaios de interpretação da realidade peruana, livro pelo qual tornou-se uma referência intelectual e política em todo o Continente e onde analisa com clareza e originalidade o problema da terra e do indígena peruano e latino-americano.
[131] MARIÁTEGUI, José Carlos. Siete ensayos de interpretación de la realidad peruana. Lima: Amauta, 11ª ed., 1967, p. 146.
[132] TOYNBEE, Arnold J. De Leste a Oeste. Tradução de Aydano Arruda. São Paulo: Ibrasa, 1959, p.28.
[133] A ciência mostrou que a realidade perceptível ao olho humano é vista somente pela estreita “janelinha” das ondas de luz que compõem parte do espectro eletromagnético, e que somos cegos a uma vasta faixa de radiação que se estende das altas frequências dos raios cósmicos, cujo comprimento de onda é de apenas um trilionésimo de centímetro, até as ondas de rádio, infinitamente longas.
[134] Pachacútec (1.400? - 1471) foi a figura mais notável do Império inca antes da chegada dos espanhóis. Foi seu nono governante e o fundador do Império. Sábio e legislador, aboliu os sacrifícios humanos nos atos religiosos e pelo elevado espírito público reconstruiu Cusco, canalizando os rios que cruzavam a cidade e construindo calçadas, monumentos e palácios, num tempo em que a capital do Império tinha mais de cem mil habitantes. Instituiu o sistema de cultivo de terraços, com que se notabilizou o sistema comunista da agricultura inca.
Visionário e destemido guerreiro, defendeu o Império quando os ferozes Chancas estiveram a ponto de tomar Cusco. Posteriormente expandiu o Império até o Equador, chegando a ter o domínio de mais de quinhentas tribos com línguas, costumes e religiões diferentes.
Deixou seu nome imortalizado pela construção da cidadela de Sacsayhuaman, a cidade fortaleza de Macchu Picchu e a reconstrução, em Cusco, do Coricancha (Templo do Sol).
[135] Em seu livro Muchas Lunas en Machu Picchu, o escritor cusquenho Enrique Rosas Paravicino, conta que o astrônomo Sapan Huillcanina apresentou ao inca Huayna Ccápac sua invenção de um sistema de escrita, baseado em setenta e nove signos pintados em pranchas de madeira, representando imagens de aves, plantas, montanhas, astros, flores, mãos humanas , garras de águia, figuras do sol e da lua, etc.. Os signos representavam o som da voz humana que, associados equivaliam a palavras, frases e pensamentos. Seu invento, no entanto, foi rejeitado pelos sábios do Imperador e as suas tábuas da memória foram queimadas, posteriormente, por um sacerdote espanhol como uma obra do diabo.
[136] PARAVICINO, Enrique Rosas Muchas Lunas em Machu Pucchu, Lima: Huaca Prieta e Lluvia Editores. 2006, p. 216-218.
[137] José Hipólito Unanue y Pavón (1755-1833), médico, naturalista e político, foi um precursor da independência peruana. Amigo de Simon Bolívar, a quem atendeu como médico, revolucionou a medicina em seu país e, como presidente do Primeiro Congresso Constituinte do Peru, esteve à frente da comissão que redigiu a sua Constituição Republicana.

domingo, 24 de março de 2024

Ao Domingo Há Música


Eugénio Lisboa dá à palavra o lugar de honra em qualquer obra que produz. Escritor, cronista, poeta, ensaísta , jornalista, professor, investigador, Eugénio Lisboa tem celebrado o prazer da diversidade num registo de excelência. Nome maior da nossa Literatura compôs uma obra extensa e ímpar . 
Sendo um  amante fiel de Wolfgang Amadeus Mozart ,  resolvemos extrair de uma crónica publicada no JL, um excerto em que confessa  como foi o caminho  para a Música. 
"(...) Não tenho, repito, educação musical técnica, embora tenha um ouvido bem treinado a ouvir centenas se não milhares de horas de música. Em suma, não irei pretender. Quando entrei para a universidade, há muitos anos, vinha de África e ouvira, até então, pouquíssima música. Aqui, em Lisboa, comecei a ouvi-la e a ir a concertos. Com o mais aliciante dos cicerones: Mozart. A música deslumbrava-me e intimidava-me. Fazer aquilo – só para magos. Ficara-me a memória de um solfejo errático, aprendido em Lourenço Marques, com a ajuda de um pianista espanhol, republicano, fugido à sanha assassina dos franquistas. Resumindo, pouco. Mas espantava-me o topete de um conhecido meu, em Lisboa, colega universitário, de um curso diferente, que ia a concertos e fazia observações neste gosto: “Vejam-me aquela mão esquerda!” Ou, arrefecendo , com ouvido severo, qualquer nosso entusiasmo, aparentemente mal fundado: ”Houve ali um Si bemol completamente futricado.” Eu embasbacava: teria ele um conhecimento assim tão apurado, que desse por essas miudezas? Aquela trapaça serviu-me de vacina: nunca iria por ali!"
E não foi.  Possui toda a obra mozartiana  e conhece-lhe os acordes . 
Assim , é com profundo prazer e gratidão que lhe dedicamos as duas peças de Mozart, seleccionadas para este domingo.

Lacrimosa & Amen (Requiem) , de Wolfgang A. Mozart,  pela  Symphony Orchestra & Grand Choir of the Collegium Musicum Berlin , sob a direcção da Maestrina Donka Miteva.
 
Renaud Capuçon, OCL,  Concerto No. 5 in A Major, K. 219 "Turkish": I. Allegro aperto, de Wolfgang A. Mozart.
 

sábado, 23 de março de 2024

A Promessa

As fotos do ‘Álbum de Auschwitz’ mostram um dos momentos mais atrozes da história
da humanidade, o processo de selecção na plataforma de Birkenau, onde os deportados,
 em apenas alguns segundos, eram seleccionados por médicos das SS para viver ou morrer
imediatamente..Nesta imagem, os judeus  preparam-se para o processo de seleção.  
YAD VASHEM

A Promessa
por Romain Gary
Capítulo XIV
"O meu pai tinha abandonado a minha mãe pouco depois de eu nascer, e cada vez que eu mencionava o seu nome , o que raramente fazia, a minha mãe e Aniela trocavam um olhar rápido e o assunto da conversa era sem demora desviado. Bem sabia eu, no entanto, por bocados de conversa surpreendidos uma vez ou outra, que havia no caso qualquer coisa de incómodo, de doloroso até e não tardei a compreender que era melhor evitar falar no assunto.
Eu sabia que o homem que me dera o seu  nome tinha mulher, filhos e que viajava muito, ia à América, e encontrei-o algumas vezes. Tinha um aspecto agradável, grandes olhos bondosos e mãos muito cuidadas; comigo era sempre amável e tímido e quando me fitava, tristemente e creio que com certo censura, eu baixava os olhos e tinha, não sei porquê, a impressão de que lhe houvera pregado uma partida.
Só depois da sua morte ele entrou verdadeiramente na minha vida e duma maneira que nunca esquecerei. Sabia bem que fora morto durante a guerra numa câmara de gás, executado como judeu, com mulher e filhos, que já tinham, creio eu, quinze e dezasseis anos de idade. Mas foi somente em 1956 que soube um pormenor particularmente revoltante do seu fim trágico. Vindo da Bolívia, onde era adido comercial, dirigia-me nessa altura a Paris para receber o Prémio Goncourt por um romance que acabara de publicar, As Raízes do Céu. Entre as cartas que recebi por essa ocasião houve uma que me dava pormenores sobre a morte daquele que eu tão pouco conhecera.
Não tinha morrido na câmara de gás como me haviam dito. Morrera de medo a caminho do suplício , a alguns passos da entrada.
A pessoa que me escrevia tinha sido encarregada de receber à porta os condenados - não sei que nome lhe aplicar, nem qual o título oficial que lhe davam. 
Na carta , sem dúvida para me ser agradável, dizia-me que o meu pai não chegara atá à câmara de gás e que tinha caído morto de pavor antes de entrar.
Fiquei durante muito tempo com a carta na mão; saí em seguida pela escada da NRF, apoiei-me no corrimão e ali fiquei, não sei por quanto tempo, com a farda talhada nos alfaiates de Londres, o meu título de adido comercial da França, a minha Cruz da Libertação, a roseta da Legião de Honra e o meu Prémio Goncourt.
Tive sorte : Albert Camus passou nesse momento e, vendo que me sentia indisposto, levou-me para o seu gabinete.
O homem que morrera daquela forma era um estrangeiro para mim, mas desde esse dia passou a ser meu pai e para sempre.
Continuei a recitar as fábulas de La Fontaine, os poemas de Déroulède e de Béranger e a ler uma obra intitulada Cenas edificantes da vida dos grandes homens, grosso volume de capa azul ornado duma gravura dourada representando o naufrágio de Paulo e Virgínia. A minha mãe adorava a história de Paulo e Virgínia, que ela achava particularmente exemplar. Relia-me muitas vezes a emocionante passagem em que Virgínia prefere morrer afogada a ter de se despir. A minha mãe fungava de satisfação sempre que acabava esta leitura. Eu escutava com atenção, mas era já cético a tal respeito. Convencia-me de que Paulo não tinha sabido 
encaminhar as coisas.
Para me ensinar a manter a minha categoria com dignidade fui também convidado a estudar um grosso volume intitulado  Vidas dos franceses ilustres;  a minha mãe lia-me alguns passos em voz alta e, depois de ter evocado um episódio admirável das vidas de Pasteur, Joana  d'Arca e Rolando de Roncesvales, lançava-me um demorado olhar cheio de esperança e de ternura, com o livro nos joelhos.  Só a vi revoltar-se uma vez, vindo à superfície a sua alma russa ante as correcções inesperadas que os autores faiam á História. Eles descreviam , nomeadamente,  a batalha de Borodino como uma vitória francesa, e a minha mãe, depois de ter lido este parágrafo , ficou um momento  perturbada e disse a seguir,  fechando o volume , num tom escandalizado:
- Não é verdade. Borondino foi uma grande vitória russa. É preciso não exagerar."
Romain Gary, in  A Promessa, Livros do Brasil, Novembro de 2019, pp.90-92
Romain Gary, (1914-1980)
Sobre o Autor:
"Romain Gary nasceu em 1914 em Vilnius, na Lituânia (então Polónia). Judeu de origem russa, emigrou com a sua mãe para Nice em 1928. Em 1940 junta-se ao general de Gaulle e às forças livres francesas em Londres e combate como navegador da esquadrilha «Lorraine» até ao final da guerra. Ferido, recebe a condecoração suprema dos combatentes franceses, Compagnon de la Libération e foi um dos poucos sobreviventes dos duzentos homens da esquadrilha. O êxito dos seus primeiros romances, Educação Europeia e As Raízes do Céu (Prémio Goncourt 1956) tornaram-no imediatamente um escritor famoso em todo o mundo. Ocupou vários postos diplomáticos na Europa e nos EUA. Em 1975, escrevendo sob o pseudónimo Émile Ajar, ganhou de novo o Prémio Goncourt (caso «impossível» na história do prémio) com Uma Vida à Sua Frente. Gary suicidou-se em 1980, pouco mais de um ano depois do suicídio da sua ex-mulher Jean Seberg. Deixou escrito um pequeno opúsculo intitulado Vida e Morte de Émile Ajar, texto extraordinário onde revelou a «mistificação» Ajar."
Sobre o livro:
"No momento em que Romain Gary se preparava para partir para a frente de batalha da Segunda Guerra Mundial, abraçou a mãe e assinou consigo mesmo um compromisso: iria fazer-lhe justiça, daria um sentido à incansável luta solitária daquela mulher para garantir ao filho apenas e só o melhor, e regressaria um dia a casa coberto de louros, «depois de ter vitoriosamente disputado a posse do mundo àqueles cujo potencial de crueldade aprendera a conhecer desde os primeiros passos». Este é o seu testemunho de vida, e é também uma sentida declaração de amor filial. Das recordações da infância em Vilnius à viagem para a Riviera francesa, dos primeiros ensaios na escrita à sua aventura de combate, A Promessa é um emotivo romance de memórias de um dos grandes autores do século XX, que se tornaria um marco da literatura francesa do pós-guerra. Foi vertido para português pela mão de Augusto Abelaira."

sexta-feira, 22 de março de 2024

Nunca saberemos

 
Nunca saberemos se os dias felizes
eram feitos de sol, estrelas ou luar
Nunca saberemos se os dias felizes
chegavam na manhã intensa de luz
Nunca saberemos se os dias felizes
se fechavam  na espessura da noite.
Nunca saberemos se os dias felizes
brilhavam na opacidade do tempo.
Nunca saberemos se os dias felizes
tinham   espaço, tempo ou forma. 
Nunca saberemos se os dias felizes
vinham no sopro da  brisa ou do vento
Nunca saberemos se os dias felizes
cresciam no mar, na terra ou em nós
Nunca saberemos se os dias felizes
incendiavam os corpos ou os corações. 
 
Nunca saberemos se os dias felizes
nasceram, cresceram, aconteceram
Nunca saberemos.

Nunca saberemos se os dias felizes
foram dias  de um ignoto calendário 
Nunca saberemos.

Nunca saberemos
se os dias felizes que nunca saberemos
se perderam, se esfumaram, se aluíram
Nunca saberemos.
Maria José Vieira de Sousa ,in Escritos diversos, 2014

quinta-feira, 21 de março de 2024

No Dia Mundial da Poesia

 
Luís Represas, Ricardo Ribeiro , Ser poeta (Live)
  
Há no mundo uma conjura geral e permanente contra duas coisas, a poesia e a liberdade; as pessoas de gosto encarregam-se de exterminar uma, tal como os agentes da ordem de perseguir a outra. 
                 Gustave Flaubert , Correspondência

Ser Poeta
Ser Poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim…
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

Florbela Espanca,in Sonetos de Florbela Espanca. Mem Martins: Edições Europa-América. 1985i”

Tempo de Poesia

Todo o tempo é de poesia.

Desde a névoa da manhã
à névoa do outro dia.

Desde a quentura do ventre
à frigidez da agonia.

Todo o tempo é de poesia.

Entre bombas que deflagram.
Corolas que se desdobram.
Corpos que em sangue soçobram.
Vidas qu'a amar se consagram.


Sob a cúpula sombria
das mãos que pedem vingança.
Sob o arco da aliança
da celeste alegoria.
 
Todo o tempo é de poesia.
 
Desde a arrumação do caos
à confusão da harmonia.
António Gedeão, in Poesias Completas , Sá da Costa Editora, p.19
 

Liberdade

O poema é
A liberdade

Um poema não se programa
Porém a disciplina
— Sílaba por sílaba —
O acompanha

Sílaba por sílaba
O poema emerge
— Como se os deuses o dessem
O fazemos
Sophia de Mello Breyner Andresen, in  O Nome das CoisasAssírio&Alvim
 
O Poeta  é um fingidor
 
Exprimo o que já não sinto.
Escrevo o que já pensei.
Em arte , se sofro, minto:
registo o que já não sei.
 
Fazer é ter já sofrido
o que hoje não é sofrer.
já não faz nenhum sentido,
a dor dita no escrever.
                                            
Eu finjo que já sofri,
com arte que sou capaz,
aquilo que eu vivi,
no tempo de ser rapaz.
 
Viver é um luxo passado,
perdido, já sem sentido,
que eu terei recuperado
no texto agora mentido.
 
O poeta é um fingidor:
finge tão completamente,
que finge de fingidor,
no momento em que mente.
                      Londres, 15.05.82
Eugénio Lisboa, in a matéria intensa, Editora Peregrinação, Suíça, p 52
 

Sobre um poema

Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.

Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
– a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.

E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.

– Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
– E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
Herberto Helder, in Poemas Canhotos,  Porto Editora

Palavra puxa palavra,uma ideia traz outra,
e assim se faz um livro,
um governo, ou uma revolução,
alguns dizem mesmo que assim
é que a natureza compôs as suas espécies.”
Machado de Assis,in Volume de contos. Rio de Janeiro : Garnier, 1884. 

A um Jovem Poeta

Procura a rosa.
Onde ela estiver
estás tu fora
de ti. Procura-a em prosa, pode ser

que em prosa ela floresça
ainda, sob tanta
metáfora; pode ser, e que quando
nela te vires te reconheças

como diante de uma infância
inicial não embaciada
de nenhuma palavra
e nenhuma lembrança.

Talvez possas então
escrever sem porquê,
evidência de novo da razão
e passagem para o que não se vê.
Manuel António Pina, in  “Todas as Palavras”, Assírio&Alvim

Apontamento em Voo

Não conseguiu o tempo
do poema
coincidir-lhes voo,
um vento atrás:

ao das jovens cegonhas
pelo céu,
lisas e puras

Só tentar-lhes compasso
em arremedo

E o passo arrastado
do poema
ficou-se nesse atraso:

o motor raso,
os dedos sob a asa —
do avesso

rasgando, sem rasgar,
o dúctil ar
da folha —
Ana Luísa Amaral, in “O Olhar Diagonal das Coisas”, Assírio&Alvim

Cinco Palavras Cinco Pedras

Antigamente escrevia poemas compridos
Hoje tenho quatro palavras para fazer um poema
São elas: desalento prostração desolação desânimo
E ainda me esquecia de uma: desistência
Ocorreu-me antes do fecho do poema
E em parte resume o que penso da vida
Passado o dia oito de cada mês
Destas cinco palavras me rodeio
E delas vem a música precisa
Para continuar. Recapitulo:
desistência desalento prostração desolação desânimo

Antigamente quando os deuses eram grandes
Eu sempre dispunha de muitos versos
Hoje só tenho cinco palavras cinco pedrinhas
Ruy Belo, in “Todos os poemas”, Assírio&Alvim


Vestígios

noutros tempos
quando acreditávamos na existência da lua
foi-nos possível escrever poemas e
envenenávamo-nos boca a boca com o vidro moído
pelas salivas proibidas – noutros tempos
os dias corriam com a água e limpavam
os líquenes das imundas máscaras

hoje
nenhuma palavra pode ser escrita
nenhuma sílaba permanece na aridez das pedras
ou se expande pelo corpo estendido
no quarto do zinabre e do álcool – pernoita-se

onde se pode – num vocabulário reduzido e
obsessivo – até que o relâmpago fulmine a língua
e nada mais se consiga ouvir

apesar de tudo
continuamos a repetir os gestos e a beber
a serenidade da seiva – vamos pela febre
dos cedros acima – até que tocamos o místico

arbusto estelar
e
o mistério da luz fustiga-nos os olhos
numa euforia torrencial
Al Berto, in “O Medo”, Assírio&Alvim

Pacto
Do pacto que o Verbo celebroiu comigo
há sempre um artigo que sem subsiste
 
Deixar que as palavras apenas exprimam
o que sem palavras tentava exprimir-se
 
Deixá-las que rompam da noite da vida
para que suspendam a morte do dia
David Mourão-Ferreira, Os remos,  in Obra Poética (19448-1995), Assírio & Alvim, 2019, p 624
 
Soneto do reencontro                                     
 
Na  primavera  tu  voltaste de mansinho
finda a tempestade, surgiste na bonança
me  conjugando o verbo  da esperança
num  íntimo  gesto  de  lírico carinho.
 
Tu foste  meu fuzil, o meu canto guerreiro
a  voz  peregrina  acesa  no  meu  peito,
ensina-me  a cantar agora de outro jeito
para entoar amor e paz ao mundo inteiro.
 
Combatente e amordaçada em meu destino
silenciados e por atalhos clandestinos
trinta  anos  se  passaram,  dia-a-dia.
 
Depois a liberdade chegou para o meu povo
mas  só  agora  eu  te encontrei de novo
para  nunca  mais  perder-te... ó poesia.                                                                                                               
                          Curitiba, dezembro de 2002
Manoel de Andrade, in Cantares , Escrituras Editora, São Paulo, Brasil
 
Alice Neto Sousa

Poeta

Eu era pequena,
Escola primária,
Inocente,
Mas curiosa nas palavras.
Peguei nos lápis,
Aqueles,
Com todas as paletas de cores,
Amarelo-torrado,
Azul-marinho,
Cor…
Com o lápis na mão,
Sem nem esconder a minha confusão,
Olhei para o lápis, e para mim,
Que eu ainda era da altura de a língua afiar,
Tocar os sinos presos na garganta,
Dizer o que sinto e me espanta:
— Professora.
— Sim.
— Que raio é um lápis cor de pele?
Levei uma reprimenda, uma criança de tão tenra idade
A questionar a autoridade,
E olhava para o lápis,
Olhava para a minha pele,
Olhava fixamente para aquele lápis cor… de pele.
Poeta.
Naquele dia, desisti de falar sobre unicórnios
E fazer citações,
Porque ser-se poeta é falar de emoções,
Mas bem podia citar Luís de Camões, Fernando Pessoa
Sem dizer um poeta preto.
Pensei em então citar Martin Luther King ou Nelson Mandela
Só para ficar bem na tela.
Ignorar o vazio do mundo,
Fazer dos ouvidos mudos,
Porque preferem um poema com o sol no canto do papel,
As nuvens pintadas a azul,
Sem a dor no fundo.
Falar do que incomoda?
Andar a afiar a língua,
O que é que isso importa?

Porque naquele dia fizeram de mim uma
Poeta cor de pele,
De lápis cinza aguçado acastanhado,
No nevoeiro dos mares
Dantes e sempre navegados,
A minha língua é o lápis
Onde escrevo a cor dos meus sentimentos,
Quem vai perder tempo a escrever versos de amor
Com estes tempos, estas tempestades, estes sismos, ismos
E eu sei, podia ser menos uma poeta a falar sobre racismo
Mas preferiram o quê?
Que em vez do lápis a carvão pegasse uma arma na mão?
Que caísse em tantas outras estatísticas, noticiários?
Que me escondesse por detrás dos armários?
Que nunca tivesse chegado a terminar o secundário?

“Falas tão bem português”, fecho os olhos a engolir todos os clichês.
“Mas não ouves kizomba, ah, claro que sabes dançar”, dizem enquanto meto os Arctic Monkeys a dar.
E já se sabe, quanto mais talento, mais se tolera a cor, porque a Beyonce pode ser preta afinal de contas o que importa, é o interior.

Ouço as palavras a fazer ricochete, 
Num corpo em bala,
Eu vejo,
De sol a sol,
Mantemo-nos fortes,
Que as mães têm calos de pensar,
Os pais as mãos a esbranquiçar.

Fazemo-nos de fortes,
Que mais poderíamos ser?
Numa sociedade de moldes,
A fingir entender,
A rir no eco a seguir,
A pensar que Black Lives Matter é mais um post para curtir.

Mas Muxima Uamiê está sofrendo,
Respira,
Mãos ao alto, levanta a poesia,
Esta poeta cor de pele,
já pintou a carta de alforria.
Alice Neto Sousa


Poesia e oralidade
por Manoel de Andrade
"A Poesia, ao longo do tempo, foi perdendo a nítida feição com que nasceu: a oralidade. Conta-se que há 2.500 anos, o poeta grego Simónides de Ceos — célebre pelo hino que compôs aos heróis das Termópilas e que treinou sua memória para correr a Grécia declamando os poemas de Homero, de Safo e de poetas que o antecederam — encontrou um dia seu discípulo e conterrâneo Baquílides, escrevendo suas odes sobre uma placa de cera e o acusou de trair a poesia cuja magia e encanto, dizia, estava em sua expressão declamatória e não na palavra escrita. “A Poesia, afirmava ele, é uma pintura que fala”. A poesia oral consta dos mais antigos registros literários da Grécia micênica e embora, no terceiro mundo, ainda se encontrem hoje culturas ágrafas, cuja expressão poética se manifesta apenas pela oralidade, é necessário lembrar que a literatura nasce da littera(letra), como pressuposto da escrita e da leitura. Assim, um fenômeno não pode excluir o outro e é tão importante valorizar a tradição oral da poesia, quanto reconhecer que sem a escrita, parte de todo o seu acervo histórico se perderia com o tempo. Nesse sentido tanto a poesia escrita, como a vocalizada ou dramatizada são expressões por onde permeia a mágica dimensão poética. Nas antigas culturas de tradição oral os poetas eram tidos como os receptores e transmissores do Conhecimento e reverenciados como os guardiões da Sabedoria e por isso considerados tão importantes como os reis, sendo que os reis podiam ser mortos, mas matar um poeta era considerado um sacrilégio. O premiado poeta nicaraguense Ernesto Cardenal, em seu notável Prólogo a la antología de la poesía primitiva, afirma que “ el verso es el primer linguaje de la humanidade. Siempre ha aparecido primero el verso, y después la prosa; y ésta es una espécie de currupción del verso. En la antigua Grécia todo estaba escrito en verso, aun las leyes: y en muchos pueblos primitivos no existe más que el verso. El verso parece que es la forma más natural del lenguaje”. (…) Nós, os poetas, temos plena consciência de que não podemos mudar o mundo, embora nosso DNA seja feito de sonhos. Por isso somos tão poucos e estamos cada vez mais sozinhos. Quem sabe por sermos os herdeiros solitários de tantas utopias!? A pós-modernidade aniquilou o homem. Tentou matar Deus, tentou matar a Verdade, está tentando matar a Arte e a Poesia. Na década de 70 perguntaram a Pablo Neruda o que aconteceria com a poesia no ano 2000. Ele respondeu que, com certeza, não se celebraria a morte da poesia. Que em todas as épocas deram por morta a poesia, mas que ela está sempre ressuscitada e que parece ser eterna. O grande poeta e revolucionário argentino Juan Gelman, prémio Cervantes de 2007, afirma que “Lo extraordinário es como la poesía, pese a todo, a las catástrofes de todo tipo, humanas, naturales, viene del fondo de los siglos y sigue existiendo. Ese es el gran consuelo para mí. Va a seguir existiendo hasta que el mundo se acabe si es que se acaba alguna vez”. (…) A poesia está inscrita no âmago da alma humana e ela é de todos os tempos. Desde Homero, há 3.000 anos, cantando as peripécias de Ulisses e os combates de Aquiles; desde Camões cantando a saga dos grandes descobrimentos, até Castro Alves cantando a liberdade para os escravos e Drummond de Andrade, dizendo-nos, poeticamente, que há sempre “uma pedra no caminho” de nossas vidas. A palavra, na poesia, foi e será sempre a mais bela forma de resistência contra um mundo desumano, e um profético aceno para um tempo melhor. (…) Eis porque nós, os poetas, sentimos que só resta a nossa própria plenitude, esse misterioso monólogo com a história e o incognoscível, porque habitamos o território do encanto e do amanhecer. Cantamos porque vivemos dessa partícula de sonho que nos sobrepõe ao real, como disse Ingenieros. Cantamos porque acreditamos na missão imperecível da beleza, apesar de todo esse desamparo e essa perplexidade ante um mundo cada vez mais violento e cruel. Cantamos “porque a canção existe” e essa é a nossa fortuna. Cantamos para dizer nossas verdades e repartirmo-nos em cada verso. Cantamos porque cada palavra, cada poema nosso é uma esperança de busca e de encontro, um mágico roteiro para a liberdade, uma
proposta de diálogo com o mundo, um gesto de amor para legitimar a condição humana e também nossa gota de lirismo para salvar a poesia de sua angustiante agonia. (...)”
Manoel de Andrade, poeta brasileiro, em ensaio publicado no Blog Palavras todas as palavras, Novembro 4, 2008


O Dia Mundial da Poesia comemora-se anualmente, a 21 de Março. A data foi instituída  na 30.ª Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), em 1999. O objectivo é salientar a importância da poesia enquanto manifestação artística comum a toda a Humanidade. Celebra-se também a criatividade, a pluralidade linguística e cultural e promove-se o ensino e declamação da poesia.

Saiba mais:

Dia Mundial da Poesia | Centro Cultural de Belém


10 ideias para celebrar o Dia Mundial da Poesia