quinta-feira, 30 de junho de 2022

Vamos aprender Volapuque


VAMOS TODOS APRENDER VOLAPUQUE
por Eugénio Lisboa
"Vou confessar uma dificuldade minha, que era, provavelmente, um defeito horroroso: quando lia a maior parte dos textos ditos literários que por aí se publicam, sentia a maior dificuldade em penetrar no sentido de tudo aquilo. Eu leio fluentemente o português, o francês, o inglês e o castelhano. Já sobre o tarde, tentei aprender, com Jorge de Sena, o volapuque, que era a língua em que ele falava, em Creta, com o minotauro. Lembram-se? Jorge de Sena era um homem extremamente generoso e estava sempre pronto a ajudar, mas a verdade é que já não teve vida suficiente, para me indicar livros e dicionários que me permitissem dominar decentemente o volapuque. E foi pena, já vos digo porquê.
Durante muito tempo, bati com a cabeça nos tais textos literários (sobretudo os de crítica literária) e senti-me completamente perdido. Aquelas palavras não casavam bem umas com as outras. Aquelas longas e compactas interpretações de textos poéticos ou em prosa deixavam-me o cérebro e os olhos enviesados. Ali havia coisa. Que diabo, sempre me considerei um homem normal, com uma inteligência não abaixo da média. Fiz até estudos bastante bem classificados e tenho uma biblioteca bem recheada e bem visitada. Mas a leitura da nossa crítica literária derrotava-me. Lia sem dificuldade os grandes textos ingleses, americanos, espanhóis, franceses (não todos), mas, quando tentava entrar na conversa lusíada, era um inferno. Desesperadamente, tentei saber porquê. Mexi, remexi, esgaravatei, falei com amigos, fiz tudo quanto era humanamente possível, para compreender o que se passava. Sejamos humanos: ninguém gosta de passar por asno, no meio de mentes consabidamente brilhantes! Até que um dia, inesperadamente, gloriosamente, a luz condescendeu em descer até mim, E compreendi! A solução do problema era extremamente simples e por isso me iludira tanto tempo. Eu andava a ler volapuque, convencido de que estava a ler português! De aí a evidente dificuldade. Tudo se resumia, pois, a aprender volapuque e logo aqueles textos se tornariam transparentes como cristal.
Como não gosto de ficar com as minhas grandes descobertas, só para mim, aqui vos deixo a luminosa conclusão a que cheguei. Suponho que, só por timidez e vergonha, nunca confessastes as vossas dificuldades, diante da crítica literária lusíada. É simples: por qualquer obscura razão, ela é redigida em volapuque. Vamos, pois, todos, apender volapuque!"
Eugénio Lisboa, 29.06.2022

Crónicas da Infâmia

 


Crónicas da Infâmia
11 - Da barbárie consentida


O mundo com vários abcessos prestes a rebentar. Ainda há pouco exultávamos de esperança, e já ninguém tem paz na alma. É que não há mais tempo de duração. Todas as nossas horas são ofegantes , e cadentes as estrelas anunciadas e anunciadoras .Temos tudo, e falta-nos o essencial. É como se de repente a vida ficasse do avesso e a não soubéssemos vestir.

                                                       Miguel Torga, Diário XVI


Tudo que se passa no onde vivemos é em nós que se passa. Tudo que cessa no que vemos é em nós que cessa.
                                  Fernando Pessoa



É com  horror e espanto que continuo a saber, ou seja,  a redescobrir que a guerra desencadeada pela Rússia contra a Ucrânia é apenas uma guerra da Ucrânia. A Rússia pode continuar a chacinar, a destruir, a rir , a ordenar o mais infernal arsenal bélico  sobre aquele país porque o mundo e,  nomeadamente,  a Europa permite e permitirá  que assim seja. A guerra, o alvo e o palco é a Ucrânia. A Europa, a NATO, o mundo não responderão. A ONU está em balanço ecológico e a guerra é tóxica.  Os tão europeus ucranianos que morram, permitem todos eles,  num cinismo quase velado. Que fiquem sem chão. Que fujam. Que abandonem o seu país. Que as suas casas ardam. Que os seus filhos fiquem órfãos. Que as cinzas os cubram. Que se abatam os seus hospitais, escolas, universidades. Que desapareçam do mapa vilarejos, cidades, portos e se extinga, à face da terra, qualquer parte desse secular território que ninguém, a não ser os ucranianos, responderá. País abandonado aos facínoras e pelo cândido mundo dos outros : Europa ,  ONU, NATO, G7, G20  e  quejandos. E continuam os massacres diários nos écrans televisivos, com reportagens nas frentes  de combate. De tão exaustivo  relato, de tão perigosa a exposição, deu tempo aos canais de  rodarem os seus jornalistas. Sucedem-se novos rostos que relatam a guerra dos outros: a Ucrânia às mandíbulas do opressor/invasor russo. E Putin, lá do alto do seu palácio, dispara o que lhe apetece, em cada dia do seu delírio imperial. Está sozinho. O mundo dá-lhe essa oportunidade por ele tão arquitectada. Não há obstáculos. A Ucrânia é dele e para ele. Ninguém , a não ser esse povo que sempre será russófilo  e não ucraniano, lhe fará frente. A luta é quase bíblica: David e Golias. Até o Patriarca da Santa Igreja Russa o abençoa. É um destino  mítico e místico que lhe foi vaticinado desde que a gloriosa URSS se desfez às mãos de alguns traidores. 
E quando algumas vozes, contagiadas pelos desertores do raciocínio e de cegueira egoísta, se dizem cansadas da guerra e condenam a Ucrânia por pedir ajuda, Putin solta aquele riso hediondo de um inarrável contentamento. A contaminação do mal propaga-se . A ajuda destes é preciosa. Pedir armamento é próprio de uma mentalidade belicosa. Ora , a Rússia está  a prestar  um serviço humanitário: a defesa dos ucranianos dos próprios ucranianos. Haverá altruísmo maior?! Para que querem os Ucranianos material bélico? A história vira-se do avesso. 
A demagogia entrou pela porta principal. Há um falso alastramento da guerra à Europa: o  custo de vida aumentou. Quem culpar? A Rússia ou a Ucrânia? As notícias, os balanços, as leituras pelos doutos comentadores são diversas. Os governantes calam-se num silêncio hipócrita, muito oportuno. Há quanto tempo, muito anterior à guerra, a inflação deflagrava ? Há quanto tempo, os sinais de um retrocesso se desenhavam? Há quanto tempo, os titubeantes ministros das Finanças se escondiam nos números? Há quanto tempo , se tapava  uma crescente pobreza e se iludia o eleitor com um falso crescimento dourado? Há quanto tempo? Há demasiado! No excesso da ambição de um sucesso que não aconteceu.
Que o cansaço da guerra aconteça na Ucrânia é entendível. Que seja no resto do mundo é incompreensível, face à sua própria inacção continuada e arrastada ad aeternum.
Que todos os dias nos arrasem os olhos com tanta crueldade não faz o cansaço. Arrasa, sim,  os olhos e fere o coração. Mas o cansaço não está aí. Isso é querer fechar os olhos a uma dura realidade , qual Pilatos a lavar as mãos.
Como não defender a nossa casa de um ladrão destruidor? É a pergunta que todos poderemos fazer. Será, por isso, que se colocam alarmes, objectos dissuasores ou  recebemo-lo, de mãos abertas,  prontos para a  destruição e roubo dos nossos pertences, para uma agressão intempestiva da nossa pessoa e da nossa casa? Poderá ser, para alguns,  um cansaço assistir a um acto destes, mas vivê-lo é uma experiência terrível que, além de nos deixar sem abrigo e marcas profundas  , nunca esqueceremos.
Que dizer, então,  da Ucrânia e dos ucranianos? Sim, que dizer perante a aniquilação da expectativa de vida e da real vivência numa terra que lhes pertence? Que dizer?!  Apenas que  continuam a resistir com denodo e heroísmo  e vencerão, em nome da Liberdade e da Justiça. Que seja  por  eles e por todos nós .
E , de novo, me aproprio das palavras do grande bardo português: Tudo que se passa no onde vivemos é em nós que se passa. 
Que Deus não salve Putin. Viva a Ucrânia.
Maria José Vieira de SousaPraia da Rocha, 30.06.2022

quarta-feira, 29 de junho de 2022

Outro Retrato de Putine


 

Como estúpido, Putine é teimoso,
e, como teimoso, é insensível.
É, na brutalidade, ardiloso,
e, na boçalidade, irredutível.
 
Experimentado torturador,
de uma KGB de assassinos,
ele não sente hoje qualquer horror,
perante os mais infames desatinos.
 
Babado diante de Pedro, o Grande,
mas amarrado ao seu metro e sessenta,
resta-lhe servir-se da sua gangue,
 
a qual ele constantemente aumenta,
pra mostrar um tamanho que não tem
e um além de que fica sempre aquém.
                                    29.06.2022
Eugénio Lisboa

A Aposta

 
Anton Tchékhov, 1892

        Tomando a forma de médico, de estudante, de mestre-escola e de gente de muitos          outros ofícios, é este o ser humano que atravessa todos os contos de Tchékhov.
                                                                 Vladimir Nabokov

Regressamos a Tchékov (29 de Janeiro de 1860,  Rússia - 15 de Julho de 1904, Alemanha) num extraordinário conto que nos suscitou uma irrecusável  premência de evidenciar quão foi primorosa a escrita deste magnífico e talentoso contista e notável  dramaturgo russo.
A perfeição no texto curto guindou-o ao patamar mais alto deste género - o conto. Deu à Literatura um novo fôlego, ao trazer para as páginas de tão variados contos ,uma galeria diversa da gente comum  que constituía o povo russo. Ao lê-lo, descobre-se a singularidade de um povo nos defeitos, paixões, virtudes, trapaças, angústias , sonhos , crimes que sempre o acompanharam. 
A Aposta prende o leitor desde a primeira linha até ao surpreendente desfecho . Mantém-se  vivo e redobrado o interesse que sempre acomete qualquer obra deste grande homem da Literatura Universal.
Convido-vos a comprová-lo.
Tchékov visita  Tolstoi, em  Agosto de 1895,
na sua propriedade de Yasnaya Polyana. 

A Aposta
por Anton Tchékov
"Era uma escura noite de Outono. O velho banqueiro passeava de um lado para outro no seu gabinete, recordando a festa que dera quinze anos atrás, também no Outono. Nela se haviam reunido muitas pessoas de espírito, entre as quais figurava grande número de sábios e jornalistas, que haviam travado entre si conversas bastante interessantes. Um dos assuntos discutidos fora a pena de morte, contra a qual a maioria dos convidados se manifestara, considerando-a obsoleta, indigna de povos cristãos e imoral. Segundo alguns, tal castigo devia ser substituído, em todos os países, pela prisão perpétua.
- Meus senhores - declara o banqueiro -, não concordo com a vossa opinião. Nunca sofri nenhuma das duas penas; no entanto, se é licito emitir um juízo a priori, considero a pena de morte mais moral e humana do que a prisão perpétua. A execução acaba com o condenado de uma vez só, ao passo que a cadeia o vai matando lentamente. Qual dos dois carrascos é mais humano: o que dá a morte em segundos, ou aquele que arranca a vida pouco a pouco, gastando anos na sua tarefa?
- Ambas as coisas são igualmente imorais - observou um dos convidados -, porque uma e outra têm o mesmo objectivo em vista: o aniquilamento da vida. O Estado não é Deus. Não lhe assiste o direito de destruir aquilo que não poderia devolver, se assim o desejasse.
Achava-se entre eles um jovem estudante de direito, de cerca de vinte e cinco anos, o qual, ao ser-lhe pedida a opinião, afirmara:
- A pena de morte e a prisão perpétua são igualmente imorais. Se, porém, me dessem a escolher, optaria, sem dúvida, pela segunda. Mais vale viver seja em que circunstâncias for do que não viver de forma alguma.
Sucedera-se acalorada discussão. O banqueiro, então ainda jovem e nervoso, perdera de súbito a calma, batera com o punho na mesa e, dirigindo-se ao estudante, exclamara:
- É falso! Aposto dois milhões em como o senhor não aguentaria cinco anos encerrado num cárcere.
- Se fala a sério - respondeu o jovem -, aposto que sou capaz de aguentar uma pena de prisão, não de cinco, mas de quinze anos.
- Quinze anos! Pois seja. Meus senhores, aposto dois milhões!
- De acordo. O senhor afasta dois milhões e eu a minha liberdade - replicou o estudante.
E assim se fez a absurda e insensata aposta. O banqueiro, homem habituado a satisfazer todos os caprichos e inconstante, a esse tempo senhor de uma fortuna que ascendia a muitos milhões, mostrara-se deveras entusiasmado. Durante a ceia, dissera ao jovem estudante, em tom de gracejo:
- Pense bem, antes que seja demasiado tarde. Para mim dois milhões constituem uma insignificância, enquanto o senhor se arrisca a perder três ou quatro dos melhores anos da sua vida. Digo três ou quatro, pois sei que não aguentará mais tempo. Não se esqueça também meu pobre amigo, de que a prisão voluntária ¬é mais difícil de suportar que a forçada. A ideia de que pode, em qualquer momento, recuperar a liberdade, envenenar-lhe-á a vida no cárcere. Tenho pena de si.
Agora, o banqueiro, recordando tudo aquilo enquanto passeava de um lado para o outro no seu gabinete, perguntava a si próprio:
«Por que fiz essa aposta? Que utilidade pode advir do facto de este rapaz perder quinze anos da sua existência e eu atirar fora dois milhões? Provará isto que a pena de morte é melhor ou pior que a prisão perpétua? Não e não! É uma tolice, uma insensatez! Pela minha parte, não passou do simples capricho de um homem a nadar na abundância; quanto a esse jovem moveu-o simplesmente a cupidez.»
Em seguida recordou o que acontecera após a referida festa. Ficara então resolvido que o jovem devia conservar-se preso, sob a mais estreita vigilância, num pavilhão existente no jardim do banqueiro. Durante quinze anos, não lhe seria permitido transpor o limiar da porta do seu cárcere, ver quem quer que fosse, ouvir vozes humanas, receber cartas ou jornais. Podia no entanto, se assim o desejasse, dispor de um instrumento musical, ler livros, escrever cartas, beber vinho e fumar. De harmonia com o contrato, estava autorizado a comunicar, embora apenas em silêncio, com o mundo exterior, através de uma janelita aberta com esse fim. De tudo aquilo que necessitasse - livros, música, vinho - podia receber qualquer quantidade, atirando a requisição pela referida janela. No pacto não fora esquecido o mínimo pormenor susceptível de tornar a prisão absolutamente solitária, e o estudante teria de permanecer ali quinze anos completos, a contar do meio-dia de 14 de Novembro de 1870 a igual hora do mesmo dia e mês de 1885. A simples tentativa por parte do preso, para violar as condições impostas no documento, embora faltassem apenas só dois minutos para expirar o prazo, desobrigava o banqueiro do pagamento dos dois milhões.
Durante o primeiro ano passado no cárcere, o estudante, a julgar pelas suas breves notas, sofreu horrivelmente com a solidão e o tédio. Dia e noite vinha do pavilhão o som do piano. Recusava o vinho e o tabaco. «O vinho - escrevia - excita o desejo, e o desejo constitui o principal inimigo de um prisioneiro; além disso, não há coisa mais aborrecida do que beber bom vinho quando se está desacompanhado.» O tabaco, dizia, viciava-lhe o ar do quarto.
Durante o primeiro ano, os livros enviados ao jovem encarcerado eram, principalmente, do género ligeiro: romances com complicadas intrigas amorosas, novelas policiais, contos fantásticos, comédias, etc...
No segundo ano, deixou de ouvir-se a música no pavilhão, e nos bilhetes que arremessava pela janela o prisioneiro só pedia obras de autores clássicos. No quinto voltaram a soar as notas do piano, e o jovem requisitou vinho.
Aqueles que o vigiavam pela janela diziam que passou todo esse ano a comer, a beber, estendido na cama. Bocejava com frequência e falava consigo próprio em tom irritado. Não lia. Às vezes, de noite, sentava-se a escrever. Ocupava-se nesta tarefa durante longo tempo, e de manhã rasgava tudo o que escrevera. Ouviram-no chorar em várias ocasiões.
Na segunda metade do sexto ano, o prisioneiro dedicou-se, afincadamente, ao estudo de línguas, filosofia e história. Atirou-se a estas matérias com tal avidez, que o banqueiro mal tinha tempo de lhe adquirir os livros de que necessitava. No espaço de quatro anos foram comprados, a seu pedido, cerca de seiscentos volumes. Foi nesse período de fome de leitura que o banqueiro recebeu dele a seguinte carta:
 
Meu querido carcereiro:
Escrevo-lhe estas linhas em seis línguas. Dê-as a ler a pessoas entendidas na matéria. Se não encontrar nelas qualquer falta, peço-lhe que mande disparar um tiro no jardim. Pela detonação ficarei a saber que não foram baldados os meus esforços. Os génios de todos os séculos e de todos os países exprimem-se em idiomas diferentes, mas neles arde a mesma chama. Oh! Se soubesse a celestial felicidade que experimento agora que posso compreendê-los!
O desejo do jovem foi satisfeito. O banqueiro mandou disparar dois tiros no jardim.
Mais tarde, ao cabo do décimo ano de cárcere, o prisioneiro permanecia sentado, imóvel, diante da mesa, lendo apenas o Evangelho. O banqueiro achava muito estranho que um homem que durante quatro anos decora seiscentos volumes eruditos gastasse quase um ano na leitura de um livro pouco volumoso e fácil de compreender. Ao Evangelho seguiram-se a história das religiões e a Teologia.
Durante os dois últimos anos de reclusão, o estudante leu muitíssimo, servindo-lhe qualquer género, indistintamente. Tão depressa se agarrava às ciências naturais, como se voltava para Byron ou Shakespeare. Às vezes enviava um bilhete em que pedia, ao mesmo tempo, um livro de química, outro de medicina, um romance e um tratado filosófico ou biológico. Reparando nos géneros de leitura a que se entregava, dir-se-ia tratar-se de um náufrago que, nadando no mar, entre os restos de um navio, desejoso de salvar a sua vida, se agarrava, freneticamente, às tábuas que se lhe deparavam.
 
II
Ao recordar tudo aquilo, o velho banqueiro pensava:
«Amanhã, ao meio-dia, é posto em liberdade. De acordo com o contrato, terei de pagar-lhe dois milhões. Se assim fizer, tudo estará perdido para mim. Ficarei completamente arruinado...»
Quinze anos antes o banqueiro possuía um número incontável de milhões, enquanto agora receava perguntar a si próprio o que seria mais elevado: se o montante da sua fortuna, se o das dívidas. O jogo na Bolsa, as especulações arriscadas e uma veemência de carácter, que não conseguira nunca dominar, nem mesmo na velhice, haviam, pouco a pouco, levado os seus negócios à decadência; o homem rico e orgulhoso, sem apreensões, seguro da sua pessoa, tornara-se um banqueiro de segunda ordem, que temia cada subida ou baixa registada no mercado.
«Maldita aposta! - murmurava o velho, levando as mãos à cabeça num gesto de desespero. - Porque não morreu esse homem? Tem quarenta anos apenas. Vai levar-me tudo o que me resta, casará, gozará a vida, jogará na Bolsa... enquanto eu terei de o contemplar com inveja como um mendigo, e ouvir-lhe todos os dias as mesmas palavras: «É ao senhor que devo a minha felicidade, permita-me que o ajude». Não, é demasiado. A única coisa capaz de me salvar da falência e da vergonha seria a morte desse homem.»
O relógio acabava de bater as três. O banqueiro pôs-se à escuta. Naquela casa todos dormiam; apenas se ouvia do outro lado da janela o rumor das árvores cobertas de gelo, agitadas pelo vento. Procurando não fazer o mínimo ruído, o velho tirou do cofre-forte a chave da porta que não fora aberta nos últimos quinze anos, vestiu o sobretudo e saiu. O jardim estava escuro e gelado. Chovia. Um vento húmido e cortante gemia, não deixando às árvores um instante de repouso. Por mais que se esforçassse, o banqueiro não conseguia distinguir o solo, nem as brancas estátuas, nem o pavilhão, nem as árvores. Ao aproximar-se do local onde se erguia o cárcere do estudante, chamou duas vezes pelo guarda, não tendo obtido resposta. O homem, evidentemente, abrigara-se do mau tempo, e naquele instante estava a dormitar em qualquer canto da cozinha ou da estufa.
«Se eu tiver coragem de executar o meu intento - pensou o ancião -, as suspeitas recairão, em primeiro lugar, sobre o guarda.»
Tacteando, encontrou os degraus e a porta; entrou no vestíbulo do pavilhão. Em seguida, enfiou por um estreito corredor e acendeu um fósforo. Não havia ali vivalma. Apenas se lhe deparou uma cama por fazer e, ao canto, a sombra de um fogão de ferro fundido. Os selos da porta dos aposentos do prisioneiro achavam-se intactos.
Quando o fósforo se extinguiu, o banqueiro, a tremer de impaciência, espreitou pela janelita
No quarto brilhava a débil luz de uma vela. O prisioneiro, de que só se viam as costas, o cabelo e as mãos, estava sentado ao pé da mesa. Sobre esta, as duas cadeiras e o tapete havia livros abertos.
Decorreram cinco minutos sem que o ocupante daquele quarto esboçasse um movimento. Em quinze anos de prisão aprendera a conservar-se sentado em perfeita imobilidade. O banqueiro bateu com os dedos na janela, mas nem assim o prisioneiro se mexeu. Arrancou, então, os selos da porta e meteu a chave na fechadura. Esta, coberta de ferrugem, deixou ouvir um gemido rouco, e a porta rangeu. O ancião esperava escutar imediatamente um grito de espanto e o som de passos, mas três minutos se passaram e lá dentro tudo continuou tão calmo como antes. O banqueiro resolveu entrar.
Diante da mesa achava-se sentado um homem diferente dos vulgares seres humanos. Era um esqueleto recoberto de pêlo, com longo cabelo encaracolado, semelhante ao de uma mulher, e de barba desgrenhada. O rosto ostentava uma tonalidade amarela, com certo matiz terroso; tinha as faces encovadas, as costas compridas e estreitas; e a mão, sobre a qual descansava a cabeça, estava coberta de cabelo. Era tão magra e diáfana, que contemplá-la até causava pena. A sua comprida cabeleira começara já a encanecer, e ninguém acreditaria que aquele rosto senil, emaciado, pertencesse a um homem de quarenta e cinco anos apenas. Em cima da mesa, diante da sua cabeça inclinada, via-se uma folha de papel, na qual havia algo escrito em letra miudinha.
«Pobre homem! - pensou o banqueiro. - Está a dormir e, provavelmente, a sonhar com milhões! Bastar-me-á pegar neste ser semimorto, atirá-lo para cima da cama, apertá-lo um pouco com o travesseiro... e nem o mais minucioso exame descobrirá qualquer sinal de morte violenta. Antes, porém, leiamos o que ele escreveu.»
O ancião pegou na folha de papel que estava sobre a mesa e leu:
Amanhã, ao meio-dia em ponto, recuperarei a minha liberdade e o direito de conviver com as outras pessoas. Antes de deixar este quarto e rever o Sol, julgo, contudo, necessário dirigir-vos algumas palavras. Com a minha consciência limpa e perante Deus que me vê, afirmo o meu desprezo pela liberdade, a vida, a saúde e tudo quanto nos vossos livros se chama bens do mundo.
Durante quinze anos estudei atentamente a vida terrena. Verdade é que eu não via nem a terra nem os homens, mas, através dos vossos livros, bebia aromático vinho, entoava cânticos, perseguia, nas florestas, veados e javalis, amava mulheres... E beldades vaporosas como nuvens, criadas pela magia do génio dos vossos poetas, visitavam-me de noite e murmuravam-me contos maravilhosos que me embriagavam os sentidos. Nos vossos livros eu escalava os cumes do Elbruz e do Monte Branco, donde avistava, de manhã, o sol a nascer e, à tarde, a inundar o céu, o oceano e as cristas das montanhas com o seu ouro carmesim. Via dali, por cima de mim, brilharem os relâmpagos, rasgando as nuvens; contemplava florestas verdes, campos, rios, lagos, cidades; ouvia o cântico das sereias e o toque das flautas pastoris; e sentia as asas de belos demónios que voavam na minha direcção para me falarem de Deus... Graças aos vossos livros despenhava-me em abismos sem fundo, obrava milagres, incendiava cidades, pregava novas religiões, conquistava reinos inteiros...
Os vossos livros deram-me a sabedoria. Tudo quanto o infatigável pensamento humano criou durante séculos acha-se comprimido numa pequena bola dentro do meu cérebro. Sou mais inteligente que todos vós, bem o sei.
E desprezo os vossos livros, desprezo todos os bens e a sabedoria deste mundo. Tudo é fútil, efémero, quimérico e enganoso, como uma miragem. Embora sejais orgulhosos, sábios e belos, a morte há-de apagar-vos da face da terra como os ratos dos campos, e a vossa descendência, a vossa história, a imortalidade dos vossos génios desaparecerão, gelados ou consumidos pelo fogo, juntamente com o globo terrestre.
Sois insensatos e seguis caminho errado. Tomais a mentira pela verdade e a fealdade pela beleza. Espantar-vos-íeis se vísseis, de súbito, as macieiras e as laranjeiras produzir rãs e lagartos, em lugar de frutos, e se as rosas começassem a exalar cheiro a suor de cavalo. Pois igual espanto eu sinto ao verificar que trocais o céu pela terra. Não quero compreender-vos.
Para vos demonstrar o meu desprezo por tudo aquilo que constitui a razão da vossa vida, recuso os dois milhões com os quais sonhei em tempos como se fossem o paraíso, mas de que agora desdenho. Para me privar do direito à sua posse sairei daqui cinco horas antes do prazo estipulado, violando assim o contrato.
Terminada a leitura, o banqueiro repôs a folha em cima da mesa, beijou a cabeça daquele estranho homem, desatou a chorar e saiu do pavilhão. Nunca, em qualquer outra ocasião, nem mesmo após as suas maiores perdas na Bolsa, ele experimentara tamanho desprezo por si próprio como agora. De volta a casa atirou-se para cima da cama, mas durante largo tempo a excitação e as lágrimas não lhe permitiram adormecer...
Na manhã seguinte, os guardas acorreram muito pálidos e comunicaram ao banqueiro que tinham visto o homem do pavilhão saltar da janela para o jardim, dirigir-se para o portão e depois desaparecer. O velho, acompanhado pelos criados, encaminhou-se logo para o que fora o cárcere do estudante e verificou a sua fuga. A fim de evitar comentários inúteis, pegou na folha do papel que continha a renúncia do prisioneiro e, quando chegou a casa, fechou-a no cofre-forte."
 Anton Tchékov in Contos , Relógio D'Água Editores

terça-feira, 28 de junho de 2022

Elogio do romance policial

Ler um bom romance policial
é tão bom como beber água fresca,
quando se tem uma sede colossal:
satisfaz nossa sede vampiresca,
 
isto é, substitui em nós um crime,
que não precisamos de cometer,
se um instinto profundo nos oprime
e nos põe muito perto de o fazer.
 
Um bom romance policial purga-nos
de crimes que dentro de nós existem:
com toda a sua sedução, expurga-nos
 
de venenos e tóxicos que assistem,
dentro de nós, a turvas fantasias
e a inquietas tentações bravias.             
                              28.06.2022
Eugénio Lisboa 

Pessoas cultas e educadas

Anton Tchékhov e Hina , Melikhovo, 1897

Anton Tchékhov (29 de Janeiro de 1860, Taganrog, Rússia - 15 de Julho de 1904, Badenweiler) considerava que as pessoas verdadeiramente educadas deviam evidenciar algumas  qualidades,  tendo  destacado oito como as mais importantes. 
"Para  Tchékhov ser educado vai muito além de acumular conhecimento, é antes  uma perspectiva profunda e enriquecedora que deve  encorajar a reflectir. O grande escritor russo distingue uma pessoa genuinamente culta, que adquiriu conhecimento, mas que por essa circunstância  não se coloca acima dos outros.
Quando ainda era muito jovem,Tchékhov escreveu para o seu irmão Nikolai quando este tinha 28 anos e começava a ganhar fama como pintor na capital russa. A carta, enviada de  Moscovo, com a data de  1886, contém uma série de conselhos  para um artista incipiente que reclamava que ninguém o entendia. O primeiro conselho é uma declaração de intenção: “As pessoas entendem-no  perfeitamente bem. Se não se entende, não é culpa delas”, escreveu Tchékhov com extrema lucidez. Mas a carta continua, e cada frase é uma autêntica pérola de sabedoria.
Pessoas cultas e educadas são as que,  na minha opinião,  satisfazem as seguintes condições:
1. Respeitam a personalidade humana e, pelo mesmo motivo, são sempre amáveis, gentis, educadas e dispostas a ceder ante os outros. Não fazem fila por um martelo ou uma peça perdida de borracha indiana. Se vivem com alguém  que não  consideram agradável e a deixam, não dizem “ninguém poderia viver contigo”. Perdoam o barulho , a carne seca e fria,  as ocorrências e a presença de estranhos nos  seus lares.
2. Têm simpatia não só pelos mendigos e os gatos. Ficam também com o coração doído por aquilo que  não veem.  Levantam-se de noite para ajudar […], para pagar a universidade dos irmãos e comprar roupa para a  sua mãe.
3. Respeitam a propriedade de outros e, em consequência, honram todas as suas dívidas.
4. São sinceras e temem  a mentira como o fogo. Não mentem inclusive em pequenas coisas. Uma mentira é o mesmo que insultar quem está escutando e colocar numa perspectiva mais baixa quem está a falar. Não aparentam: comportam-se na rua como em sua casa e não presumem ante seus conhecidos mais humildes. Não tagarelam e não obrigam a confidência impertinente dos outros. Por respeito aos ouvidos de outros, calam mais frequentemente do que falam.
5. Não se sentem menosprezados por despertar compaixão. Não desertam a pena dos demais para que  gemam e façam algo (ou muito) . Não dizem “Sou um incompreendido” ou "Tornei-me de segunda categoria” porque isso é perseguir um efeito barato, é vulgar, velhaco, falso…
6. Não têm vaidade supérflua. Não se preocupam com esses falsos diamantes conhecidos como celebridades, que apertam a mão de bêbados ou são reconhecidos nas tabernas. Se ganham alguns centavos, não se pavoneiam como se estes valessem centenas e não alardeiam que podem entrar onde outros não são admitidos. […] Os verdadeiramente talentosos sempre se mantêm nas sombras entre a multidão, tão longe quanto seja possível do reconhecimento.
7. Se têm um talento, respeitam-no. Sacrificam o descanso, as mulheres, o vinho, a vaidade. Sentem-se orgulhosos de seu talento. Ademais, são exigentes.
8. Desenvolvem para si a intuição estética. Não podem ir dormir com a roupa do corpo, ver rachaduras das paredes cheias de insetos, respirar um ar ruim, caminhar no piso recém cuspido. Pretendem tanto quanto seja possível conter e enobrecer o instinto sexual. O que querem numa mulher não é apenas uma colega de cama. Não pedem inteligência que se manifesta na mentira constante. Querem, especialmente se forem artistas, frescor, elegância, humanidade, capacidade de ser mãe. Não tomam vodka a qualquer hora do dia e noite, não cheiram os armários porque não são porcos e sabem que não o são. Bebem apenas quando estão livres, de vez em quando. Porque eles querem mens sana in corpore sano.
Existem muitos tipos de cultura. Ser culto não se limita a ler muitos livros e acumular conhecimento académico sobre o mundo. Entender a cultura de uma perspectiva mais ampla nos tornará pessoas mais tolerantes e livres."
Sobre o Autor:
"Anton Pavlovich Tchékhov nasceu a 29 de Janeiro de 1860. Em 1887, já exercendo medicina, curso que frequentou em Moscovo, já escrevia e ganhou o prémio literário Púchkin. "Neste tempo, os contos humorísticos e histórias cómicas de Tchékhov apareciam na imprensa periódica , tendo-lhe trazido uma rápida popularidade, embora publicados sob vários pseudónimos (como por exemplo: Antocha Tchekhonté, Irmão do meu irmão, Homem sem baço). Os temas desses contos eram tradicionais para a literatura russa, mas foram compreendidos e apresentados sob um novo ângulo – não com um intuito de gerar simpatia ou compaixão, mas na forma de humor suave ou de piada, que provoca um sorriso. Tchékhov conhecia bem os seus leitores. Este leitor não tinha necessidade de sentir empatia pelo destino amargo de um confrade desconhecido que era objecto de lamentação da literatura russa (por exemplo: Akaki Akákievitch de «O Capote», de Gogol, ou as personagens de Dostoievski). Uma nova camada da vida, desconhecida da literatura russa, tornou-se o objecto de interesse e interpretação artística de Tchékhov. Ele descortinou ao leitor a vida tal como ela é, de dia-a-dia, de rotina e que ele conhecia muito bem. As suas histórias respiram realidade, revelando-se ao leitor todos os vícios do seu tempo: a hipocrisia, a corrupção, a carestia, a lisonja, a sabujice, a prepotência, disfarçados por ironia e sátira através das suas personagens e situações cómicas.
Começou a ser admirado pela crítica, quando publicou a sua novela A estepe, em 1888. Nessa época, passou a ser conhecido também como autor de teatro. Dois anos depois, em 1890, o autor fez uma viagem à ilha de Sacalina. Dessa viagem, surgiu o livro A ilha de Sacalina, publicado em 1895, em que Tchékhov mostra a desumana situação dos presos na colónia penal de Sacalina. Mas o sucesso como escritor não o fez abandonar a Medicina. Assim, em 1892, adquiriu uma propriedade em Melikhovo, onde trabalhou como médico. Contudo, devido aos problemas com a tuberculose e por recomendação médica, o escritor, em 1898, mudou-se para Ialta. Nesse ano, conheceu a actriz Olga Knipper (1868-1959), com quem se casou em 1901.
Tchékhov foi um intelectual de primeira geração: o seu avô foi um servo de gleba, o seu pai um pequeno comerciante. Mas na história da cultura russa, o seu nome tornou-se sinónimo de inteligência, boa educação e refinamento. Tchékhov trabalhou como médico durante a maior parte da sua carreira literária e numa das suas cartas ele escreveu o seguinte a este respeito: "A medicina é a minha legítima esposa; a literatura é apenas minha amante".
Morreu, quando estava em tratamento na Alemanha, a 15 de Julho de 1904, na cidade de Badenweiler." Texto adaptado do artigo de Vladimir Pliassov (CER-FLUC)

segunda-feira, 27 de junho de 2022

Uma vida cheia

Dizem-me que tive uma vida cheia.
Digo-lhes que sim, que, de facto tive.
Se quiserem, foi mesmo uma epopeia.
Vi todo o mundo, menos Telavive.
 
Mas o que é ter tido uma vida cheia?
As vidas enchem-se como tonéis?
Se procurarmos com uma candeia,
não faltam nela excessos e bordéis?
 
E eu não tive afinal tanta coisa!
Bem lindos amores que rejeitei,
ignorar uma ideia que em mim poisa,
 
uma porta que, estúpido, fechei!
Uma vida cheia, dizem Vocês?
Porventura alguém teve tal mercês?
                                      27.06.2022
Eugénio Lisboa

domingo, 26 de junho de 2022

Mozart

Estátua de Mozart em Mozartplatz, Salzburg, Austria

 MOZART

O génio musical no estado puro.
Como se a música fosse só ele,
dando, sem esforço, o mais fino apuro,
com notas que lhe saíam da pele.
 
Criador abundante, a qualidade,
nunca ferida pela quantidade,
quase parecia uma maldade,
aos que a não sofriam com humildade.
 
A música dele pode ser sublime
ou deliciosamente faceira,
mas nunca por nunca ela deprime,
 
fluindo airosa e feiticeira.
Meteoro breve da criação,
mostrou-nos a via da perfeição.
                        26.06.2022
Eugénio Lisboa

      
De Wolfgang Amadeus Mozart , Violin Concerto No.5 in A major, K. 219, pela violinista Hilary Hahn, acompanhada por The Deutsche Kammerphilharmonie Bremen, sob a direcção do Maestro Paavo Järvi.
0:00 Entrance
0:35 I. Allegro aperto 
10:46 II. Adagio 
22:17 III. Rondeau (Tempo di minuetto)

Ao Domingo Há Música

Atenas, Grécia

Acrópole, Atenas

Pártenon, Acrópole, Atenas

Erectéion, Acrópole, Atenas

Teatro de Dionísio, Acrópole

Templo de Zeus, Atenas

                  Não reparaste , ao passeares por esta cidade, que de entre os edifícios
                 que a povoam , uns são mudos, outros falam , e outros, enfim, mais raros,
                 cantam ?
                                    Paul Valéry , Eupalinos ou o Arquitecto

Há cidades onde os traços de um impressivo  passado imperam . Foram faróis que alumiaram muita navegação. Têm nelas a marca de um tempo que determinou a História da Humanidade . Passear por essas memórias é redimensionar a importância da gesta humana. 
Vangelis ( Evángelos Odysséas Papathanassíou), 29 de Março de 1943 —  17 de Maio de 2022),  estudou música clássica, pintura e direcção na Academia de Artes em Atenas. Deixou um grande legado musical que tem sido celebrado em todo o mundo.
"Mythodea -  Music for the NASA Mission: 2001 Mars Odyssey" é uma sinfonia coral deste  compositor grego, apresentada  no Templo de Zeus Olímpico em Atenas,  em 28 de Junho de 2001. A peça,  arranjos e produção são de  Vangelis, bem como os teclados electrónicos. Vangelis é acompanhado pela  Orquestra Metropolitana de Londres , sob a direcção do Maestro Blake Neely  e pelo  Coro da Ópera Nacional da Grécia.

MYTHODEA , MOVEMENT 9, de Vangelis, nas vozes de Kathleen Battle e Jessye Norman numa extraordinária interpretação. Foram acompanhadas pelos teclados electrónicos de Vangelis, pela  Orquestra Metropolitana de Londres , sob a direcção do Maestro Blake Neely e pelo  Coro da Ópera Nacional da Grécia.
 

MYTHODEA, MOVEMENT 10Vangelis, com as vozes de Kathleen Battle e Jessye Norman, acompanhadas pelos teclados electrónicos de Vangelis, pela  Orquestra Metropolitana de Londres , sob a direcção do Maestro Blake Neely e pelo  Coro da Ópera Nacional da Grécia.

 

sábado, 25 de junho de 2022

Paula Rego


Deste à singular pintura, tua,
bebida no sangue das tuas feridas,
uma violência perversa e nua,
só própria das almas destemidas.

Acendeste uma luz muito clara,
na vida torturada das mulheres
e desvendaste a odiosa tara
dos que tinham masculinos poderes.

Mas fizeste mais do que desvendar:
vingaste-te, com desmedida força,
de quem está disposta a assassinar

e de quem goza quando se desforça.
Contas ajustadas em tela e tinta,
que tudo, debaixo do sol, se pinta.
                                25.06.2022
Eugénio Lisboa

Os Livros de Junho




À Espera de Bojangles, Olivier Bourdeaut
Um romance narrado do ponto de vista de uma criança: com euforia e encanto. Os pais vivem com exuberância, música e champanhe cada minuto do dia. Pode a exaltação estilhaçar-se como um cristal?

Nas Montanhas da Loucura, H. P. Lovecraft
Uma das obras-primas de Lovecraft: nos píncaros da loucura, um mergulho no gelo mortal da Antárctica. Um grupo de cientistas descobre uma civilização inumana adormecida. Tensão, horror e morte.

… como que lisboandando, Fernando Machado Antunes
Lisboa visitada pela lírica, pela sintaxe e pelo vocabulário de um poeta que não consegue deixar de ser caluanda. Há versos de fado, há um lirismo musical nesta Lisboa em rima.

Foram as revoltas escravas que acabaram com a escravatura? Quando foram bem-sucedidas, será que os escravos triunfantes criaram sociedades não-escravistas? Um livro essencial para o debate sobre a emancipação dos escravos.

Um grande livro de divulgação científica: o ADN fóssil não só nos ajuda a escrever a História, como pode mesmo reescrevê-la, desfazendo mitos e preconceitos. É essa a grande viagem a que o cientista, seu autor, nos convida.

A Vida de Jesus, texto de Raul Correia, ilustração de Carlos Alberto Santos
Um livro popular que a Guerra e Paz recupera. Uma escrita simples que dá todo o protagonismo aos episódios centrais na vida de Jesus. As ilustrações reforçam a inocência da obra.



Eunice Muñoz: Fotobiografia, texto de Fátima Morais
Um álbum magnífico: todas as imagens dos momentos mais marcantes da obra de Eunice Muñoz, mas também da sua vida em família. Toda a carreira teatral, cinematográfica e televisiva retratada nesta obra de grande qualidade gráfica, só possível com o patrocínio da Fundação Calouste Gulbenkian.

Está aqui, em carne viva, a Guerra da Crimeia, de 1855. Tolstói foi tenente nessa guerra. Relata os acontecimentos cruciais que viveu, desenhando aqui o esqueleto do que vai ser a sua obra-prima, o romance Guerra e Paz. Lida hoje, com a guerra da Ucrânia em fundo, é impressionante.

O Longo Braço do Passado, Rui de Azevedo Teixeira
Um ex-comando português vai dar aulas de literatura numa universidade angolana: começa aqui um périplo atormentado, de amor e violência. Pode haver um crime justo? Um romance português que privilegia a narração dos factos. Por mais crus, por mais brutais que sejam. Um livro lírico, belíssimo, que inaugura a colecção Arquipélago.

Neste livro, o economista e escritor espanhol Fernando Trías Bes mostra-nos como as emoções e os instintos foram a chave para o desenvolvimento da Humanidade: o comércio, o câmbio, os seguros, a moeda são inventos que os humanos criaram para se salvar da violência.

Quetzal Editores


OUTRA VIDA PARA VIVER
, de Theodor Kallifatides
Edição/reimpressão: 06-2022
Preço: 15,50 €

Sinopse
«Depois dos setenta e cinco anos, já quase ninguém escreve», disse-lhe um amigo. Aos setenta e sete, lutando contra a ameaça do «bloqueio de escritor», Theodor Kallifatides toma a difícil decisão de vender o estúdio onde escrevia em Estocolmo e onde trabalhou durante décadas - reforma-se. Incapaz de escrever, mas sobretudo incapaz de não escrever, decide ir para a Grécia natal, na esperança de redescobrir o prazer da escrita na sua língua perdida.
Neste livro de memórias, Kallifatides tenta estabelecer um nexo entre a sua vida e a sua obra, ambas intensas, além de responder à eterna questão sobre como aceitar o peso da idade e o envelhecimento. Ao mesmo tempo, reflete sobre assuntos preocupantes para a Europa contemporânea - desde a intolerância religiosa e os preconceitos contra imigrantes até às crises das cidades - e manifesta tristeza pelo estado de destruição da sua amada Grécia.
Pela mão de um grande escritor, esta é uma meditação eloquente, elegante e motivadora sobre a escrita e o lugar de um autor num mundo em mudança.
CRÍTICAS DE IMPRENSA
«Um livro realmente belo, sobre a verdadeira morte e o renascimento espiritual, um milagre contado com a tranquila naturalidade com que se contaria uma história comum e trivial.»
Mario Vargas Llosa
«Uma autobiografia poética e filosófica. Uma leitura inquietante e provocadora.»
World Literature Today
«Outra Vida para Viver é um deleite e uma aula magistral sobre existência, pertença, desenraizamento, desamparo metafísico e liberdade.»
Las Librerías Recomiendan
«Kallifatides oferece ao leitor uma visão política pessoal do ser humano.»
Siri Hustvedt
Fedra , de JEAN RACINE
(Expoente máximo da tragédia clássica francesa na tradução clássica de Vasco Graça Moura.)
Edição/reimpressão: 06-2022
Preço: 16,80 €

Sinopse
Fedra, filha de Minos e Pasífaa, é mulher de Teseu, rei de Atenas. Apaixona-se por Hipólito, seu enteado, filho de Teseu e Antíope, rainha das Amazonas. Esta terá incutido na sua sucessora a paixão pelo filho.
Hipólito não corresponde aos sentimentos de Fedra. Ele ama Arícia, uma princesa prisioneira, a quem, por razões de Estado, está impedido de se ligar. Fedra, na ausência de Teseu e julgando-o morto, revela o seu amor por Hipólito, mas Teseu regressa. A rainha tenta justificar-se e acusa o enteado de a ter seduzido. Tomado pela cólera, Teseu pede aos deuses que matem o filho. Sem conseguir viver com o remorso, Fedra suicida-se.
Esta é uma das mais importantes traduções de Vasco Graça Moura - profundo conhecedor da obra de Jean Racine, autor cimeiro da tragédia clássica francesa - que volta a estar disponível, numa edição bilingue como a inaugural. A Fedra, que marca o início da recuperação de todas as traduções de Graça Moura do teatro clássico francês, seguir-se-ão novas edições de Andrómaca e Berenice.
O AMOR NO NOVO MILÉNIO, de Can Xue
Edição/reimpressão: 06-2022
Páginas: 448
Preço:19,90 €

Sinopse
Neste romance mágico, sombrio e cómico, um grupo de mulheres habita um mundo permanentemente vigiado, onde há informadores que espreitam entre canteiros de flores e relatórios falsos sobre cada um dos seus movimentos. Também há conspirações, geralmente abundantes numa comunidade que normaliza a paranoia e a suspeita. Algumas das personagens tentam fugir da realidade - seja num misterioso bordel de jogos de azar, em casas que lembram antigos impérios labirínticos ou num emaranhado de túneis e galerias que existem no subsolo. Há quem procure refúgio em regiões onde as ervas medicinais chinesas e a sabedoria milenar podem confortar ou mudar a nossa vida, e quem procure aventuras de adultério, ilusão e entretenimento.
Estas são as formas de amor do novo milénio: satíricas, trágicas, passageiras, duradouras, nebulosas e gratificantes, em cenários que tanto deixam perceber a fraude e a exploração dos outros, como são tingidos de sensibilidade, sexo, grandeza e desejo de aventura - num mundo sem Oriente nem Ocidente, onde somos apenas pessoas que precisam de sonhar.
CRÍTICAS DE IMPRENSA
«Se a China tem possibilidade de um vencedor do Nobel, é Can Xue.»
Susan Sontag
«A escrita de Can Xue está entre as mais inovadoras que apareceram na China nos últimos anos.»
Times Literary Supplement «Enfrentando antigos temas das muitas vidas do amor, Can Xue continua a derrubar noções confortáveis de estrutura, narrativa, enredo e personagem enquanto cria histórias que permanecem na nossa memória muito depois de serem lidas.»
World Literature Today «Ler a ficção de Can Xue é como correr pela montanha abaixo no meio da escuridão. Sentimos um impulso, mas não sabemos para onde nos dirigimos.»
The New York Times
«Neste romance onírico, no meio de cenários cada vez mais bizarros, as aparências dão lugar a camadas ocultas e sobrenaturais.»
New Yorker
Livros Zigurate

Quanto Menos Soubermos Melhor Dormimos: Do Terror à Ditadura na Rússia Sob Ieltsin e Putin , de David Satter
Título original: The Less You Know The Better You Sleep: Russia’s Road To Terror And Dictatorship Under Yeltsin And Putin
Tradução: Carlos Vaz Marques
Edição original: Yale University Press
Nº de páginas: 208
Preço: 16,90

Sinopse
Esta é a história de como um obscuro agente secreto do KGB tomou conta do maior arsenal nuclear de sempre, no mais vasto país do mundo. É uma história sinistra feita de oportunismo, dissimulação e mortos, muitos mortos. Se é impressionável, evite este livro. Dormirá melhor sem saber o que aqui se conta; sem conhecer os pormenores de como uma série de explosões muito mal explicadas e as tragédias da Chechénia, de Beslan, do teatro Dubrovka ou de Alepo se tornaram estações da via sacra que colocou o mundo à beira da terceira guerra mundial.
«A guerra de Putin na Ucrânia levou-nos a dizer que era preciso passarmos, daqui para a frente, a 'conceber o inconcebível'. O livro de David Satter, um dos raros que cumpre plenamente com o seu título, mostra-nos que o inconcebível já vem acontecendo, desde há vinte anos, sob o manto da nossa indiferença. Por isso este livro era já antes essencial, mas agora é imprescindível.»
Rui Tavares, historiador e deputado.

 
Na Cabeça de Putin, de Michel Eltchaninoff
Título original: Dans la Tête de Vladimir Poutine
Tradução: Carlos Vaz Marques
Edição original: ActesSud
Nº de páginas: 208
Preço: 16,90 €

Sinopse
Ninguém ousará fazer passar Vladimir Putin por um intelectual. E, no entanto, o antigo espião que tomou as rédeas do maior arsenal nuclear do mundo gosta de citar filósofos em alguns dos seus discursos. O seu desejo de deixar marca na história bebe influências e ideias de origens diversas e por vezes até contraditórias: da herança soviética com pretensões de ordem científica ao pensamento reaccionário dos arautos de um imperialismo russo. Por entre este mar de referências, Putin, como este livro demonstra, pode ser lido como uma sinistra personagem de Dostoiévski.
«As ideias políticas sempre foram importantes. De onde vêm as de Vladimir Putin? Este é um livro indispensável para compreendermos o programa ideológico do Kremlin e a Rússia que, provavelmente, teremos durante muitos anos. Michel Eltchaninoff mostra-nos a relevância da filosofia política.»
Miguel Monjardino, especialista em geopolítca e geoestratégia.


DESCONTO NA COMPRA DOS DOIS LIVROS EM CONJUNTO + PORTES GRÁTIS

Miguel Monjardino sobre Na Cabeça de Putin: "Este é um livro indispensável."
Rui Tavares sobre Quanto Menos Soubermos, Melhor Dormimos: "Este livro era já antes essencial, mas agora é imprescindível."
€30,42 €
33,80



O Homem que Passeava Livros, de Carsten Henn
Páginas: 200
Preço: 13,41 €

Sinopse
Todos os dias, ao fim da tarde, Carl carrega a mochila com uma série de livros embrulhados com esmero. Fecha a porta da livraria e começa a ronda pelos clientes habituais, a quem secretamente dá nomes de personagens (Olá, Mr. Darcy!). Entrega as obras porta a porta ao milionário recluso, à jovem melancólica, à última freira do convento. É assim há décadas, até ao dia em que uma miúda de nove anos lhe aparece no caminho…
Mal se apresenta, Schascha começa a fazer perguntas: o que leva nessa mochila? Que histórias são essas? A quem se destinam? E começa ali uma inesperada relação. Ela, órfã de mãe, passa os dias sozinha, aborrece-se; ele vive preso a rotinas, envelhece. Juntos descobrem, nos passeios pela pequena cidade, um novo sentido para as suas vidas e para as vidas de quem visitam. E enquanto ambos arriscam um itinerário diferente, o horizonte carrega-se de nuvens cada vez mais pesadas e ameaçadoras.
O Homem Que Passeava Livros, de Carsten Henn, é um romance inesquecível sobre vidas que são transformadas pela magia dos livros. Polvilhado de referências literárias (a começar pelos títulos dos capítulos), transporta os leitores da tristeza mais funda para o mais profundo encantamento (e vice-versa).
Um bestseller extraordinário, que vendeu mais de duzentos mil exemplares na Alemanha e está a ser traduzido em 25 países.
CRÍTICAS
«O poder dos livros pode juntar pessoas, dar-lhes alegria e arrumar a solidão a um canto.»
Regionale Rundschau
CRÍTICAS DE IMPRENSA
«O mais caloroso e tocante romance que poderíamos desejar num ano como este.»
Deutschlandfunk Lesart

Relógio D'Água Editores

 
Filhos de Duna (pré-publicação), de Frank Herbert
Tradução: Manuel Alberto Vieira
Data de Publicação: 06/22
Nº de Páginas: 492
Preço: 22.00 € 19.80 €

Sinopse
LIVRO EM PRÉ-PUBLICAÇÃO. ENVIOS DIA 28 DE JUNHO.
Os Filhos de Duna são os irmãos gémeos Leto e Ghanima Atreides, cujo pai, o Imperador Paul Muad’Dib, desapareceu nos terrenos baldios do deserto de Arrakis há nove anos. Tal como o pai, os gémeos possuem habilidades excecionais, que os torna valiosos para a sua tia Alia, uma mulher manipuladora que governa o Império em nome da Casa Atreides. Enfrentando uma traição e rebeliões em duas frentes, o poder de Alia não é absoluto, e a excomungada Casa Corrino planeia uma forma de reconquistar o trono enquanto os Fremen são incitados à revolta pela enigmática figura conhecida apenas como O Pregador. Alia acredita que só acedendo à visão profética dos gémeos poderá manter o controlo sobre a sua dinastia. Mas Leto e Ghanima têm os seus próprios planos, tanto para as suas visões como para os seus destinos.
«Um enorme acontecimento literário.» [Los Angeles Times]
SOBRE O AUTOR:
Frank Herbert (1920-1986) nasceu em Tacoma, Washington, a 8 de Outubro de 1920. Foi jornalista e escritor de ficção científica. Ganhou notoriedade pela sua obra Duna, assim como pelos cinco livros subsequentes da série. Herbert desejava que os seus livros tivessem profundidade suficiente para justificar várias leituras, e por isso a saga trata de temas como a sobrevivência humana, a evolução da consciência, ecologia, e a interacção entre religião, poder e política. Duna venceu o Prémio Nebula em 1965 e partilhou o Prémio Hugo no ano seguinte, sendo descrito por Arthur C. Clarke como uma obra apenas comparável a O Senhor dos Anéis.

Cartas de Amor, de Virginia Woolf e Vita Sackville-West
Tradução: Margarida Periquito
Nº de Páginas: 288
Preço:18.50 € 16.65 €


Sinopse
Num jantar a 15 de Dezembro de 1922, Virginia Woolf conheceu a escritora e aristocrata Vita Sackville-West, que lhe haveria de inspirar mais tarde a personagem de Orlando. Virginia Woolf parece não ter apreciado particularmente as opiniões de Vita, mas a impressão que esta lhe causou foi intensa. Foi o início de uma relação amorosa, de amizade e colaboração literária. A correspondência entre elas prolongou-se por quase vinte anos, até ao suicídio de Virginia Woolf em 1941. Através desta antologia, conhecemos a evolução dessa relação sentimental.”
SOBRE AS AUTORAS:
Virginia Woolf nasceu em Hyde Park Gate em 1882, num final de século vitoriano. O seu pai era o crítico literário Sir Leslie Stephen. Virginia teve a sua primeira crise depressiva em 1904, aquando da morte do pai. Mudou-se, em seguida, para a casa do irmão Thoby e da irmã, a pintora Vanessa Bell, em Bloomsbury, onde estes se reuniam com outros escritores e artistas, incluindo Lytton Strachey, J. Maynard Keynes e Roger Fry. Essa foi a origem do célebre Bloomsbury Group. Entre os seus participantes estava também Leonard Woolf, com quem Virginia se casou em 1912. Cinco anos mais tarde, o casal fundou a The Hogarth Press, que viria a publicar, além da própria Virginia Woolf, obras de T. S. Eliot, E. M. Forster e Katherine Mansfield, bem como traduções de Freud. O primeiro romance de Virginia Woolf, A Via- gem, foi editado em 1915, mas seria O Quarto de Jacob (1922) a suscitar o seu reconhecimento como uma escritora inovadora. Essa evolução seria confirmada em Mrs. Dalloway, onde a sua escrita captou a evanescente matéria da vida e as fugidias experiências de Clarissa, através de um tempo psicológico e reversível. «Insubstancio, até certo ponto intencionalmente, não confiando na realidade — no que tem de reles», escreveu no seu diário em Junho de 1923, quando trabalhava em Mrs. Dalloway. A sua abordagem modernista, caracterizada pelo uso da corrente de consciência e com ênfase na personagem e não no enredo, foi desenvolvida em Rumo ao Farol, nos monólogos de As Ondas, em Entre os Actos e em vários dos seus contos. Virginia Woolf suicidou-se no rio Ouse a 28 de Março de 1941, em plena II Guerra Mundial. Tinha então quase sessenta anos, publicara nove romances, sete volumes de ensaios, duas biografias e vários contos.
Antes escrevera ao seu marido: «Tenho a certeza de que vou enlouquecer outra vez. E sinto-me incapaz de enfrentar de novo um desses terríveis períodos. Começo a ouvir vozes e não consigo concentrar-me (…). Se alguém pudesse salvar-me serias tu (…). Não posso destruir a tua vida por mais tempo.» E, finalmente, uma frase inesperada, que retoma a que Terence diz a Rachel morta, em A Viagem, seu primeiro romance: «Não creio que dois seres pudessem ser mais felizes do que nós o fomos.»
Vita Sackville-West nasceu em Março de 1892 em Kent, Inglaterra, filha de pais aristocratas e neta de Pepita, uma dançarina espanhola. Viajou e viveu intensamente. O seu casamento com o diplomata e autor Harold Nicolson nada teve de convencional, tendo mantido diversas relações amorosas com homens e mulheres. Escreveu poesia, sendo conhecida pelo longo poema The Land (1926). Entre os seus muitos romances, contam-se Heritage (1919), The Heir (1922), All Passion Spent (1931) e The Dark Island (1934). Foi também autora de livros sobre jardinagem e de biografias, narrativas de viagens e ensaios como Passenger to Teheran (1926), Twelve Days (1928), Saint Joan of Arc (1936), Pepita (1937) e The Eagle and The Dove (1943). Faleceu em 1962.

Os Mortos (pré-publicação), de James Joyce
Tradução: Margarida Periquito
Nº de Páginas: 88
Preço: 8.50 € 7.65 €

Sinopse
LIVRO EM PRÉ-PUBLICAÇÃO. ENVIOS DIA 27 DE JUNHO.
Em Os Mortos, Joyce descreve uma festa natalícia de amigos e vizinhos. Existe, porém, uma tensão oculta e um sentimento de desespero no enredo, que confere um elemento perturbador às aparências desse episódio social.
SOBRE O AUTOR:
James Joyce nasceu em Dublin a 2 de Fevereiro de 1882. Era o mais velho de dez crianças de uma família que passou da prosperidade à quase pobreza. Teve acesso a uma educação privilegiada numa escola jesuíta e no University College de Dublin, onde deu provas do seu talento e cedo assumiu poses de genialidade. Em 1902 deslocou-se para Paris, com a intenção de estudar Medicina, projecto de que desistiu pouco depois para se dedicar à escrita de poemas e prosa. Regressou a Dublin em Abril de 1903, devido à doença de sua mãe. No Verão de 1904 conheceu Nora Barnacle, uma jovem de Galway, que convenceu a acompanhá-lo para o Continente, onde planeava dar aulas de Inglês. O casal viveu em Trieste até 1915. Tiveram dois filhos, um rapaz e uma rapariga. Nora sentiu sempre uma admiração incondicional por Joyce, embora, ao que parece, nunca tenha lido nenhuma das suas obras.
O primeiro livro de poemas de Joyce, Música de Câmara, foi publicado em Londres em 1907, e Dublinenses em 1914. A participação da Itália na Primeira Grande Guerra levou Joyce a deslocar-se para Zurique, onde se manteve até 1919. Durante este período publicou Retrato do Artista quando Jovem (1916) e Exílios (1918), uma peça teatral. Depois de um breve retorno a Trieste no fim da guerra, Joyce decidiu voltar para Paris de modo a poder editar Ulisses, em que trabalhava desde 1914 (ao deixar a Irlanda, jurara escrever um livro com as «três armas» que lhe restavam, «o silêncio, o desterro e a subtileza»). Escreveu ainda Finnegans Wake, apesar da quase cegueira. No começo da Segunda Grande Guerra foi viver para França. Em 1940, Joyce regressou a Zurique, onde faleceu a 13 de Janeiro de 1941.