terça-feira, 17 de novembro de 2020

O Tempo

 Talvez o maior mistério seja o tempo

                                                        As palavras que agora dizemos
                                                        o tempo , na sua voracidade, 
                                                        já arrastou, 
                                                        e nada retorna.
                                                            Horácio, Odes I,II
por Carlo Rovelli
"Paro e não faço nada. Não acontece nada. Não penso em nada. Ouço o passar do tempo. 
O tempo é isso. Familiar e íntimo.  A sua voracidade carrega--nos. A sucessão de segundos , horas  e anos lança--nos na vida, depois arrasta-nos para o nada...Vivemos nele como peixes na água. O nosso ser é ser no tempo. A sua cantiga alimenta-nos, descortina-nos o mundo, perturba-nos, assusta-nos, acalenta-nos. O universo desenvolve o seu devir levado pelo tempo, segundo a ordem do tempo.
A mitologia hindu  representa o rio cósmico na imagem divina  de Shiva que dança: a sua dança sustenta o curso do universo , é o fluxo do tempo. O que há de mais universal e evidente que esse curso?
Mas as coisas são mais complicadas. A realidade frequentemente não é o que parece: a Terra parece plana, mas é uma esfera; o Sol parece vagar no céu , mas somos nós que giramos. A estrutura do tempo também não é o que parece; é diferente desse curso uniforme universal. Descobri isso  com espanto nos livros de Física, na universidade. O funcionamento do tempo é diferente  do que parece.
Nesses mesmos livros, também descobri que ainda não sabemos como  o tempo realmente funciona. A natureza do tempo talvez seja o maior mistério. Estranhos fios o ligam aos grandes mistérios não resolvidos: a natureza da mente, a origem do universo, o destino dos buracos negros, o funcionamento da vida. Algo essencial continua a levar-nos à natureza do tempo."
Carlo Rovelli, in A Ordem do Tempo, Objectiva Editora, Setembro de 2018, pp. 13, 14

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