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| Rodeado de correligionários, José Relvas proclama a República da varanda da Câmara Municipal de Lisboa a 5 de Outubro de 1910. Fotografia de Joshua Benoliel. |
"Às 8.30 da manhã passava pela rua do Ouro, em triunfo, a artilharia , que era delirantemente ovacionada pelo povo.
As ruas acham-se repletas de gente, que se abraça. O júbilo é indescritível!
A essa hora, no Castelo de S. Jorge, que tinha a bandeira azul e branca, foi içada a bandeira republicana.
O povo dirigiu-se para a Câmara Municipal, dando muitos vivas à REPÚBLICA, içando também a bandeira republicana.
O povo em massa dirigiu-se aos quartéis dos Paulistas , Carmo e rua da Estrela, onde foram içadas bandeiras brancas, dando vivas à República e à pátria, que eram correspondidas entusiasticamente pelos soldados . Às 8.20 as forças que estavam no Rossio entregaram-se, aclamando -as o povo com delírio. À hora a que escrevemos, os navios estão salvando a bandeira republicana. O "S. Paulo" salvou igualmente.
Vê-se muita gente no Castelo de S. Jorge acenando com lenços para o povo que anda na baixa. Os membros do directório foram às 8.40 para a Câmara Municipal, onde proclamaram a República com as aclamações entusiásticas do povo.
O Governo provisório consta será assim constituído: presidente, Teófilo Braga; interior, António José de Almeida; guerra, coronel Barreto; marinha, Azevedo Gomes; obras públicas, António Luiz Gomes; fazenda Basílio Teles; justiça, Afonso Costa; estrangeiros, Bernardino Machado.
Governador Civil, Eusébio Leão.
Em quase todos os edifícios públicos estão tremulando bandeiras republicanas. A polícia faz causa comum com o povo, que percorre as ruas conduzindo bandeiras e dando vivas à República."
Raul Brandão, in " Memórias, volume II", Quetzal Editores
Há 115 anos foi proclamada a República. O edifício da Câmara Municipal de Lisboa continua o mesmo , resistente e sólido, exposto ao Largo que o enfrenta, embora o país tenha mudado.
Desde então, multiplicaram-se governos , distintos uns dos outros quer pela representação quer pelo modo como foram ou não eleitos.
Da utopia da primeira revolução , do sonho da democracia republicana em que só um verdadeiro governo baseado nos ideais liberais da Revolução Francesa – Liberdade, Igualdade, Fraternidade – podia responder aos problemas do país, passou-se , com o devir do tempo, à ditadura fascista.
Nunca aconteceu, neste Portugal , uma real e verdadeira revolução de genuína mudança.
A última, conhecida pela revolução dos cravos, o 25 de Abril de 1974, abriu as portas das prisões , substituiu a repressão pela liberdade, deu nome à fome e à pobreza, mas continua a servir quem mais pode , quem mais manda. A democracia vive, mas tem quem a regule, quem a limite , quem a defina. Não tem grades, mas tem portas. E nem todas estão abertas.
É este o meu Portugal, pequeno país, afundado num continente chamado Europa. Um continente que estremece frequentemente nos seus velhos alicerces, em deriva identitária.
O registo musical deste domingo vai repassar por vozes e composições que, de certo modo , cantam e ilustram Portugal . Na perspectiva do grande bardo português, Fernando Pessoa, há Uma Música do Povo:
Há uma música do povo,
Nem sei dizer se é um fado —
Que ouvindo-a há um chiste novo
No ser que tenho guardado...
Ouvindo-a sou quem seria
Se desejar fosse ser...
É uma simples melodia
Das que se aprendem a viver...
E ouço-a embalado e sozinho...
É essa mesma que eu quis...
Perdi a fé e o caminho...
Quem não fui é que é feliz.
Mas é tão consoladora
A vaga e triste canção...
Que a minha alma já não chora
Nem eu tenho coração...
Se uma emoção estrangeira
Um erro de sonho ido...
Canto de qualquer maneira
E acaba com um sentido!
9-11-1928
Fernando Pessoa, in Poesias Inéditas (1919-1930). (Nota prévia de Vitorino Nemésio e notas de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1956 (imp. 1990)
Mário Pacheco & Mariza, em Há Uma Musica do Povo.


Hoje o "Ao Domingo Há Música" presenteou-me com 4 vozes femininas, 3 das quais já não ouvia há muito tempo. Ouvi, como é meu hábito na leitura dum jornal, do fim para o princípio, e só na interpretação da Marisa dei conta que em cada vídeo há a possibilidade de navegar, da esquerda para a direita, ou vice-versa, e deparei-me com temas bastante díspares entre si, como a recitação do Rosário na Capelinha das Aparições, Desgarrada à Moda do Minho, um excerto do Contra Poder, (para mim imperdível às sextas feiras). Neste excerto, que tive oportunidade de ver em directo, fiquei, uma vez mais, surpreendido com uma afirmação do João Marques de Almeida, sem qualquer comprovação factual, que o aumento dos imigrantes tem impacto no aumento dos impostos. Achei estranho que nem o moderador do programa, nem Sérgio S. Pinto e Maria C. Branco tivessem pedido a justificação desta afirmação.
ResponderEliminarMas voltemos à música. Hoje numa manifestação em Israel a favor da paz, manifestantes empunhavam cartazes com a frase It's Now Or Never, o que de imediato me fez recordar o "Rei do Rock", Elvis Presley.
A sua vida tão atribulada e a sua discografia, não merecem um reconhecimento neste blogue?