sábado, 9 de agosto de 2025

Livros e eventos culturais para Agosto



os meus livros de Agosto
frutos maduros pendurados nos ramos do Verão
por Manuel S. Fonseca
"Sabem – já experimentaram de certeza –, aquele contentamento doce e silencioso, que nos faz fechar os olhos e nos deixa em paz com a natureza, essa alegria contida que se basta a si mesma? É o que sinto com os meus cinco livros deste mês: não me lembro de um Agosto de cujos ramos se dependurassem livros como estes.
A começar pelo Atlas da II Guerra Mundial. É bom e é monumental, quase o dobro do formato dos nossos outros Atlas Históricos, 24 cm de largura por 31 de altura. E é o mais sistemático atlas da II Guerra: todas as batalhas, todos os exércitos, num livro que é uma revolução gráfica, obra de vários historiadores, com organização de Jean Lopez, numa investigação multidisciplinar de três anos. Para recordar essa guerra que começou há 86 anos no dia 1 de Setembro de 1939, fonte da tremenda onda de dor e morte que varreu a Europa e o mundo. 
Da antítese da guerra que é ou deveria ser a literatura, fala-nos o espanhol Felipe Díaz Pardo em A literatura universal em 100 Perguntas. E eu disse «fala-nos» e não «escreve-nos» porque estas 100 Perguntas são a conversa de sonho que sempre quisemos ter sobre «o que tem o vinho que ver com o nascimento do teatro» ou «qual o escritor que melhor usou o monólogo interior» ou «se é possível encontrar Dostoiévski no local do crime». São 300 páginas de sabedoria, surpresas e de um divertissement efervescente: champanhe, ah pois! 
E agora olhem bem para o orgulho deste editor: estão a ver-me a ulular de prazer na varanda? Não admira: é o que acontece a qualquer editor que possa publicar, com um cheirinho de «inédito» a enobrecer-lhe o café, o grande Luiz Pacheco. A culpa é toda, e redondíssima, do Nicolau Santos. Foi o Nicolau que convidou o irascível Pacheco a escrever crónica in illo tempore no Diário Económico e no Público. Para isso mandaram cartas, trocaram confidências, traficaram inconfidências. E ficaram provas de tudo. Num precioso livrinho, Bater sempre também cansa… mas às vezes até é pouco, estão reunidos os textos que testemunham a nua – sim, nua – e linda sinceridade e genialidade da escrita de Luiz Pacheco e a sua desassombrada visão da vida e da criação literária. E, poderia lá faltar, a sua – ohhh! – «percepção» de algumas grandes figuras da nossa intelectualidade. Setenta e duas páginas de ouro.
Falta-me falar de dois romances que chegam às livrarias em cima da nossa rentrée literária. Publico, pela segunda vez, Evelina Gaspar. No seu O Destino Português de Sam, Evelina traz na mão um homem real, o artista Sam Abercombry. É um australiano, pintor, que se apaixonou por Portugal e, obsessivamente, pelo nosso mito sebastianista. Vive connosco há 30 anos e é feliz em Portugal! E andamos nós a chorar baba e ranho pelos cantos. Vamos, mas é, ler este romance e dar com Sam saltos de canguru.
Fecho com o meu amigo luso-angolano Onofre dos Santos. Este é o seu quarto romance comigo. Se o título – O Último Romance de Camilo – vos faz pensar que Onofre abandonou os temas angolanos dos livros anteriores, estão perdidamente enganados. Agora, como é que Onofre arrasta o velho Camilo Castelo Branco para África e lhe põe na boca a palavra Angola… Ou será que é tudo um pretexto e Camilo, salvo o caixote que lhe chega de Malanje, nunca sairá de Portugal, Porto e Seide? 
São os meus cinco livros de Agosto, frutos maduros pendurados nos ramos do Verão. Um dos pêssegos é Luiz Pacheco. Há editores felizes."
Manuel S. Fonseca, editor da Guerra & Paz
Planeamento Editorial Não-Exaustivo Relógio D’Água
Ago-Nov 2025
Agosto
— Jacarandá, de Gaël Faye (Vencedor Choix Goncourt du Portugal 2025 + Vencedor Prémio Renaudot 2024)
— Os Costumes do País, Edith Wharton (Vencedora Prémio Pulitzer + Prefácio de Claire Messud)
— Mishima ou A Visão do Vazio, de Marguerite Yourcenar
— Tarzan dos Macacos, de Edgar R. Burroughs
— No Castelo do Barba Azul, de George Steiner
— Porque Escrevo, de George Orwell (Ensaios Singulares)
— Matar Um Elefante + Um Enforcamento, de George Orwell (Ensaios Singulares)
— As Mulheres e a Ficção, de Virginia Woolf (Ensaios Singulares)
— A Nossa Necessidade de Consolo É Impossível de Satisfazer, de Stig Dagerman (Ensaios Singulares)

Setembro
— Lavagante, de José Cardoso Pires (Filme estreia a 2 de Outubro, assinalando o centenário de nascimento do autor)
— Hospitalidade, de Djaimilia Pereira de Almeida
— Fidalguia sem Maquia, de Luís Aguiar-Conraria (Prefácio de Fernanda Câncio)
— Pontas Soltas II, de José Gil e Ana Godinho
— Abraço, de Anne Michaels (Finalista Booker Prize 2024)
— Os Lobos da Floresta da Eternidade, de Karl Ove Knausgård
— O Estranho Desaparecimento de Esme Lennox, de Maggie O’Farrell
— Coisas Que só Eu Sei, de Camilo Castelo Branco (Contos Singulares)
— Coração, Cabeça e Estômago, de Camilo Castelo Branco (Prefácio de Gonçalo M. Tavares)
— A Pessoa e o Sagrado, de Simone Weil (Ensaios Singulares)
— Filosofia da Aventura, de Georg Simmel (Ensaios Singulares)
— O Balanço da Inteligência, de Paul Valéry (Ensaios Singulares)
— As Alegres Comadres de Windsor, de William Shakespeare (Projecto Shakespeare)
— O Imperador da Alegria, de Ocean Vuong

Outubro
— O Fim dos Estados Unidos da América, de Gonçalo M. Tavares
— Embaixada a Calígula, de Agustina Bessa-Luís (Prefácio de Guilherme d’Oliveira Martins)
— O Princípio da Incerteza: III — Os Espaços em Branco, de Agustina Bessa-Luís
— Marguerite Yourcenar — Liberdade e Paixão, de Cristina Carvalho
— Conversas sobre Deus — Um Diálogo com Simone Weil, de Byung-Chul Han
— Visitação, de Jenny Erpenbeck (autora vencedora do International Booker Prize 2024)
— As Planícies, Gerald Murnane
— Pergunta 7, de Richard Flanagan (Vencedor Baillie Gifford Prize 2024, autor vencedor do Booker Prize)
— Hyperion, de Dan Simmons (Vencedor Prémio Hugo e Prémio Locus)
— A Espada Cintilante, de Lev Grossman
— Sunderworld, Vol. I: As Extraordinárias Desilusões de Leopold Berry, de Ransom Riggs
— Duna III (Romance Gráfico), de Frank Herbert, adaptado por Brian Herbert e Kevin J. Anderson

Novembro
— Matilde, de H. G. Cancela
— Ciência Pop, de Carlos Fiolhais e João M. Santos
— Tóquio, Estação de Ueno, de Yu Miri (Vencedor National Book Award)
— A Morte e o Jardineiro, de Gueorgui Gospodinov
— O Terceiro Reino, de Karl Ove Knausgård
— Jane Austen: Uma Biografia, de Claire Tomalin
— Henrique VI, Parte I, de William Shakespeare (Projecto Shakespeare)
— Henrique VI, Parte II, de William Shakespeare (Projecto Shakespeare)
— Henrique VI, Parte III, de William Shakespeare (Projecto Shakespeare)


Um total de 13 exposições de fotografia e uma mostra de ‘cartoons’ compõem a terceira edição da Mostra de Fotografia e Autores (MFA) Faro, que decorre até 23 de agosto na capital algarvia.
2 Ago a 23 Ago 2025
Fábrica da Cerveja
Rua do Castelo, 10, Faro
"A organização, a cargo da CC11, em colaboração com o Município de Faro, adianta que estarão em exposição na Fábrica da Cerveja fotografias de autores nacionais e estrangeiros e também uma mostra de ‘cartoons’ de André Carrilho.
Durante o período em que decorre a mostra, haverá a oportunidade de tirar retratos ‘à la minute’ e, a 19 de agosto, quando se assinala o Dia Mundial da Fotografia, haverá uma programação especial.
Logo a receber os visitantes encontra-se “a mais performática das exposições da mostra”, em que se vai poder tirar fotografias ‘à la minute’, no âmbito do projeto “A fabulosa máquina de fazer parar o tempo”, de João Paulo Barrinha, em que o ato fotográfico é encarado como performance.
A mostra apresenta também o projeto vencedor da 1.ª edição do Prémio CC11 Fotografia, “Blessed Ground”, um ensaio documental de Ricardo Lopes, que em 2024 acompanhou o impacto da extração industrial de ouro em comunidades rurais de Moçambique.
Os visitantes poderão ainda ver “Alambiques & Alquimistas”, de João Mariano, que retrata as tradições da destilação de aguardente de medronho nas serras de Monchique e Espinhaço de Cão, e o projeto “Muito Frágil”, de Marc Schroeder, que reúne retratos de estranhos com quem se cruzou em Lisboa.
“Margem Sul”, de Luís Ramos, “Joy Bangla”, de Filipe Bianchi, “Crossing Boundaries”, de Alberto Picco, uma retrospetiva do percurso do fotojornalista Carlos Lopes (1949- 2021) e “Middle Ground”, de Joe Wood, são outras das exposições que poderão ser vistas na Fábrica da Cerveja.
A mostra apresenta, ainda, 31 fotografias do projeto “Cante”, de Ana Baião, feito ao longo de uma década e que retrata quem dá corpo e voz ao cante alentejano, e “Change of Season”, que reúne os olhares de 13 fotógrafas sobre transformação, identidade e mudança.
Além destas, estarão também patentes as exposições “O Algarve”, com imagens do arquivo fotográfico de Asta e Luís de Almeida d’Eça, casal que se notabilizou na fotografia vocacionada para a promoção turística da região ao longo das décadas de 1960 a 1980.
O último piso da mostra está inteiramente dedicado à exposição “Da Ucrânia com amor”, de Adriano Miranda, que reúne fotografias e crónicas publicadas no jornal Público, um testemunho direto da guerra na Ucrânia.
Já o piso térreo da Fábrica da Cerveja apresenta “Senhor Lobo”, de André Carrilho, uma seleção de ilustrações criadas para a imprensa ao longo de 2024, retratando as personagens e os acontecimentos que marcaram o ano.
A MFA Faro é de entrada gratuita e estará aberta ao público entre 02 e 23 de agosto, de terça a sábado, das 18:00 às 23:00, e ao domingo, das 10:00 às 13:00."
Fonte: Agência LUSA
Piquenique jazz com Maria Anadon e Hans Fuecker
"Faça o seu farnel e junte-se ao piquenique jazz no relvado do Museu de Lisboa – Palácio Pimenta!

6 Set 2025  |  17h00

Museu de Lisboa - Palácio Pimenta
Campo Grande, 245 – 1700-091 Lisboa
Preço
Entrada livre
Na companhia da voz de Maria Anadon e do pianista alemão Hans Fuecker, saboreie uma série de canções dedicadas ao universo gastronómico, compostas por George Gershwin, Cole Porter e Joni Mitchell, entre outros.
Pelo jardim do Museu de Lisboa ecoam, assim, clássicos como Frim Fram Sauce, Black coffee, A case of you, Recipe for love, Let’s call the whole thing off, The days of wine and roses e The lady is a tramp. E como em 2025 se celebram os 70 anos da passagem de Cole Porter por Portugal, aproveite ainda para dançar ao som de êxitos como Night and day, Begin the beguine, Let’s do it e I've got you under my skin."


50 Independentes: Arte e Liberdade nos Países Africanos de Língua Portuguesa
Exposição que assinala os 50 anos das independências de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.

12 Jul a30 Ago 2025

Perve Galeria
Rua das Escolas Gerais, n.º 13 . 1100-218 Lisboa
Preço
Entrada livre
"Reúne 50 artistas e mais de 150 obras da Coleção Lusofonias da Perve Galeria, abrangendo mais de 75 anos de produção artística no vasto território da lusofonia.
Entre os nomes apresentados destacam-se artistas com percursos internacionais consolidados, como Ana Silva, Bertina Lopes, Ernesto Shikhani, Malangatana Ngwenya, Manuel Figueira, Manuela Jardim, Reinata Sadimba e Teresa Roza d’Oliveira, entre muitos outros.
A Perve Galeria, em parceria com a Casa da Liberdade – Mário Cesariny, apresentam a exposição “50 Independentes: Arte e Liberdade nos Países Africanos de Língua Portuguesa”, que celebra os 50 anos das independências de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.
Com curadoria de Carlos Cabral Nunes, a exposição reúne obras de 50 artistas representados na Coleção Lusofonias, um acervo construído ao longo de mais de duas décadas com o objetivo de valorizar e divulgar a produção artística do vasto território da lusofonia, em particular de autores que têm sido historicamente invisibilizados pelo sistema da arte e pela narrativa dominante.
O núcleo patente na Perve Galeria, complementar ao apresentado na Casa da Liberdade – Mário Cesariny, apresenta um conjunto alargado e diverso de obras que atravessam diferentes disciplinas artísticas e abrangem mais de 75 anos de produção nos PALOP, organizados em três núcleos temáticos. O primeiro evidencia práticas de resistência ao colonialismo e aos regimes autoritários, com uma forte carga política e emancipatória; o segundo reflete os processos de afirmação identitária e cultural no pós-independência; o terceiro explora dinâmicas contemporâneas, evocando temas como a diáspora, os cruzamentos culturais e a complexidade das experiências híbridas no contexto global.
Através de obras de artistas de distintas gerações e geografias, incluindo nomes com percursos internacionais já consolidados, como Ana Silva, Bertina Lopes, Ernesto Shikhani, Malangatana Ngwenya, Manuel Figueira, Manuela Jardim, Reinata Sadimba ou Teresa Roza d’Oliveira, entre muitos outros, esta exposição constitui um espaço de encontro, escuta e reflexão crítica sobre os caminhos da arte e da liberdade nos Países Africanos de Língua Portuguesa.
Propõe-se assim uma leitura ampla e plural da produção artística lusófona, destacando o papel da arte como forma de resistência, memória e construção de futuros mais justos e inclusivos."
Visita guiada "Há 150 Anos a Aturar o Zé!"
"O Zé Povinho fez 150 anos em junho, mas está mais vivo do que muitos que por aqui andam!

10 Ago 2025  |  11h00

Museu Bordalo Pinheiro
Campo Grande, 382 | 1700-097 Lisboa
Preço
Entrada livre

Tem uma certa idade e já o aturamos há muito, mas deixemo-nos de idadismo. Este centenário é, na verdade, um companheiro e está bem vivo.  

Vamos provar-vos isso dia 10 de agosto, na Visita Guiada Há 150 anos a Aturar o Zé! 

Quem quer vir conhecê-lo? "

Próximas Datas: 10 agosto (domingo)  
Horário: 11h00  
Preço: Visita gratuita, mediante inscrição prévia  

Informações/inscriçõesservicoeducativo@museubordalopinheiro.pt  
Nota: As inscrições devem ser feitas até às 12h00 da sexta-feira anterior. 

>> Mais informações 

E ainda outras sugestões para leituras 



Os livros do verão
Dez leituras para os dias quentes
por Agenda Cultural de Lisboa 1 Julho, 2025

"Escreveu Pedro Homem de Mello no poema Homenagem: “Poetas podeis crer: / Nosso destino / É pedir vida, ainda, às coisas mortas!”. Para os meses de julho e agosto sugerimos a leitura de dez publicações recentes, entre elas, precisamente, o segundo volume da poesia completa do poeta de Povo que Lavas no Rio. Dez livros repletos de vida para ler no período de férias.

Pedro Homem de Mello
Poemas 1964-1979

Cobrindo os anos entre 1964 e 1979, este segundo volume de poemas de Pedro Homem de Mello vem encerrar a publicação da obra completa do autor. A sua poesia, única e inconfundível, é marcada, como salientou José Régio, pela “sinceridade profunda do seu interesse pelo folclore vivo e do seu amor pelo povo” (“Povo! Povo! Eu te pertenço / Deste-me alturas de incenso”, imortalizado por Amália Rodrigues). Centrada na contradição entre “corpo e alma”, explora o tema do desejo (frequentemente homoerótico), contrapondo a experiência da fugacidade do prazer à permanência do remorso e à noção de culpa e de pecado. “Um pagão com o hábito de ser católico”, lhe chamou David Mourão-Ferreira acrescentando, ao associar o seu universo poético à pintura de Leonardo: “Há em Pedro Homem de Mello, muito de certos artistas do Renascimento, pagãos por natureza, – presos no entanto à letra (que não ao espírito) da religião estabelecida”. A edição ficou a cargo de Luís Manuel Gaspar, com um posfácio incindindo sobre os dois volumes de Fernando Cabral Martins. Eis o tão aguardado regresso do poeta de Eu Hei-de Voltar um Dia, que escreveu: (…) E cumprindo uma promessa, / O Poeta que fui eu / Em cada verso regressa / Do país onde morreu?” LAE Assírio & Alvim

Ernest Hemingway
O Jardim do Paraíso
Ernest Hemingway (1899-1961) nasceu em Oak Park, a pouca distância do local onde Frank Loyd Wright começou a construir os seus projetos. Na realidade, a revolução que o escritor promoveu na prosa em tudo se assemelha à que o famoso arquiteto empreendera nas suas “casas da pradaria”: redução da forma ao essencial e despojamento de toda a ornamentação. O Jardim do Paraíso é um romance póstumo, publicado pela primeira vez em 1986. Hemingway terá trabalhado nele por mais de uma década, sem nunca o ter dado por terminado. David e Catherine Bourne, apesar de parecem irmão e irmã, são um jovem casal americano. Em lua-de-mel no sul de França, entregam-se a uma série de jogos eróticos que exploram essa semelhança, enquanto David, aspirante a escritor, se dedica a redigir o manuscrito de um “romance africano”. Conhecem então a bela Marita e entre os três estabelece-se um relacionamento complexo que se adensa à medida que a escrita do livro se aproxima penosamente da conclusão. Uma obra ímpar no universo do autor, que explora com ousadia e elegância os temas do triângulo amoroso, da fluidez de género e da fusão de homem e mulher numa mesma entidade. Foi um dos livros de referência para o artista português Julião Sarmento. LAE Livros do Brasil

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Samanta Schweblin
O Bom Mal
Samanta Schweblin nasceu em Buenos Aires em 1978 e vive em Berlim desde 2012. Vencedora de prémios importantes, como o Juan Rulfo e Casa de las Américas, é autora dos volumes de contos Pássaros na Boca e Sete Casas Vazias, e do romance Distância de Segurança, que, assim como Kentukis, foi finalista do International Man Booker Prize. A revista Granta inclui-a na lista dos 22 melhores escritores de língua espanhola com menos de 35 anos. O título da presente coletânea de contos, O Bom Mal, é profundamente revelador do universo literário da autora que explora o território do ambíguo, da estranheza, da inquietação, do fantástico e até do terror. Como escreveu o crítico do Expresso, José Mário Silva, Samanta Schweblin “insiste em rasgar o tecido do quotidiano com as lâminas da estranheza e do desajuste”. Curiosamente, estes seis contos têm todos origem na vida real, inspirados em pessoas, animais, factos ou acontecimentos que Samanta conheceu ou testemunhou. Sobre a narrativa William à Janela, declara: “aconteceu verdadeiramente. Talvez seja o conto mais autobiográfico que escrevi, e talvez também por isso seja melhor não dizer mais nada.” LAE Elsinore

Julian Barnes
Mudar de Ideias
“Alguns de nós temos convicções fortes fracamente sustentadas, outros têm opiniões fracas fortemente sustentadas. Sempre presumi que os liberais como eu têm opiniões moderadas moderadamente sustentadas. Mas não tenho a certeza de que continue a ser esse o caso. Quando agora pedem a minha opinião sobre um assunto público qualquer, a tentação que me assalta é replicar: ‘Bom, na República Benigna de Barnes…’ Neste breve conjunto de ensaios e palestras cujos temas são Memórias, Palavras, Política, Livros, Idade e Tempo, nunca saímos em boa verdade dessa “República Benigna de Barnes”, onde o escritor, com recurso a histórias da sua vida e da de outros, vai dando conta daquilo em que as suas ideias se mantiveram inalteradas (sobretudo no uso rigoroso das palavras e nos valores sociais e civilizacionais a que a política devia corresponder), ou em que houve mudança de opinião (nomeadamente sob a influência da memória dinâmica e nunca estável, e na apreciação de determinados escritores). Terminamos a leitura deste livrinho ligeiro e divertido com uma ideia benigna sobre a pessoa do autor. São textos que geram empatia e proximidade, onde apenas uma pessoa discursa, mas em que a ilusão da conversa acontece. "RG Quetzal

Paulo José Miranda
Máquinas de Ficção
Paulo José Miranda evoca a tradição de “textos acerca de textos” referindo como influência maior e mais antiga a de Pseudo-Dioníso que se fez passar por Dionísio o Aeropagita, um ateniense que se teria convertido ao cristianismo após escutar as palavras de São Paulo. Pseudo-Dioníso não só inventou um autor que teria vivido 400 anos antes dele, como se referiu a livros que teria escrito e que nunca apareceram. Livros que cita mais de uma vez. Para além disso, “parece usar as citações de livros que não escreveu para construir aqueles que escreveu”. A propósito, Paulo José Miranda conclui; “A pós-modernidade surgiu algures no Médio Oriente entre os séculos V e VI”. Ora, Máquinas de Ficção é, justamente uma invulgar recolha de textos sobre textos. Originalmente publicados no jornal Hoje Macau, convidam o leitor, de forma provocatória, a explorar resenhas de livros que nunca foram escritos — “mas que talvez devessem existir”. Cada texto é uma porta aberta para um universo literário alternativo, onde a crítica se torna criação. Mantendo o jogo com o leitor, Paulo José Miranda cita um excerto de um suposto ensaio de Hélder Macedo, autor que muito admira: “No universo não há lado de fora e lado de dentro, tudo é lado de dentro. E assim acontece no romance. (…) Tal como no universo, no romance tudo é intertextualidade.” LAE Caminho

Fernanda Cachão
O Estado Novo em 101 Objetos
A jornalista Fernanda Cachão lança uma obra, resultante de uma pesquisa de cerca de cinco anos, onde reúne uma seleção de 101 objetos que representam como se vivia antes do 25 de abril de 1974. Esta iconografia de objetos e documentos ilustra, muitas vezes melhor do que palavras, a ideologia que, com firmeza e com tato calculado, dominou Portugal durante 48 anos. Para as novas gerações será, porventura, com alguma surpresa que realizarão que em tempos era preciso licença para usar isqueiro, ter autorização do marido para sair do país e tantas outras condicionantes impostas ‘a bem da nação’. O livro pode ser lido abrindo as páginas ao acaso, ao sabor da curiosidade, para saber um aspeto do regime e o seu enquadramento, pessoal e público. Ficam-se a conhecer ou recordar aspetos curiosos e pessoais como as alcunhas de Salazar: ‘o Botas’, por ter sido fotografado numa cena bucólica, em Almourol, com António Ferro, mostrando as solas das botas esburacadas, uma prova da sua apregoada frugalidade (ainda que normalmente usasse botas de canos alto de boa pelica); ou ‘o Esteves’, por serem constantes as notícias que informavam ‘esteve ontem em visita o Sr. Presidente do Conselho…’. Em suma, trata-se de um compêndio ilustrado do que não convém esquecer. TCP Lua de Papel

Inês Lampreia
No tempo dos super-heróis
É o segundo livro de Inês Lampreia, que tem publicado textos de crónica, ficção e prosa poética nos últimos anos. No tempo dos super-heróis reúne 12 contos e é a um deles que vai buscar o título. No posfácio, afirma o poeta e ensaísta João Rasteiro: “Mais do que uma escrita feminista, julgo estarmos perante uma escrita feminina, comprometida com a contenda por uma sociedade mais justa”. Tendo sobretudo mulheres como protagonistas, mas não reivindicando nenhuma causa, a autora deixa-as subentendidas nas várias histórias que nos conta, passadas desde os tempos das nossas avós e bisavós aos dias de hoje. Cada conto vale por si, no entanto, avançando na leitura, vamos percebendo que se ligam uns aos outros e que, todos juntos, criam um retrato de Portugal no último século. Inês Lampreia usa uma escrita tão descomplicada e “da terra” como as histórias que imaginou. Evoca vidas duras, seja na pobreza ou na solidão, seja na crueza dos campos alentejanos ou na alienação dos dias em Lisboa – cada uma no seu contexto, vidas impregnadas de infelicidade, algumas ainda com réstias de esperança, outras nem isso. Porque, se ali existe uma avó que se refugia nas nuvens ou uma mãe que voa atrás do canto dos rouxinóis, parece que hoje a poesia se foi. GL Urutau

Afonso Cruz
O vício dos livros II
“Há aqueles que não podem imaginar um mundo sem pássaros; Há aqueles que não podem imaginar um mundo sem água; Ao que me refere, sou incapaz de imaginar um mundo sem livros”. É com esta frase do argentino Jorge Luis Borges que Afonso Cruz inicia O vício dos livros II. Depois de, em abril de 2021, ter lançado O vício dos livros, o autor regressa com mais histórias, reflexões e curiosidades para aqueles que não podem viver sem a literatura. Sempre a pensar no leitor e na recorrente questão de como incentivar hábitos de leitura, este volume reúne cerca de 40 textos, alguns autobiográficos, sobre o processo de escrita e sobre a capacidade de a poesia dar vida a tudo aquilo que é objeto da sua arte, dando a conhecer histórias de autores como Eduíno de Jesus, Lídia Jorge, Marguerite Duras, Rainer Maria Rilke ou Raul Brandão, entre outros. A paixão pelos livros é transversal a todos os textos, como se pode também constatar nas pinturas alusivas ao ato de ler, de artistas como Diego Rivera, Matisse, Picasso ou Matisse, escolhidas para ilustrar a presente edição. Refere Afonso Cruz: “os livros só alcançam sucesso através do murmúrio”. Aceite, pois, o nosso murmúrio. SS Companhia das Letras

Louisa Yousfi
Em Nome do Bárbaro
“Mas o que será que perde o bárbaro que a civilização arrastou na sua corrida para o progresso humano, alimentando-o generosamente com as riquezas culturais de que tanto se orgulham os impérios (…)?” Esta é a questão-chave à qual o presente manifesto estético e político sobre a condição dos descendentes da imigração pós-colonial, procura responder. De autoria de Louisa Yousfi, jornalista, crítica literária e escritora, filha da imigração argelina em França e uma das vozes centrais do pensamento decolonial, aqui se expõem as armadilhas e a violência das políticas de integração e mostra como a assimilação pode equivaler à perda de identidade, língua, religião e cultura. Elogiado por figuras como Françoise Vergès e Annie Ernaux, este ensaio revela a estranheza da condição pós-colonial: “bárbaros” no coração do Império, que habitam os seus subúrbios, falam a sua língua, dominam perfeitamente os seus códigos, mas que têm sérias contas a ajustar com ele. É em nome deles que fala, dos que se atrevem a “fitar o nosso sol da Barbárie de frente”, como escreveu o autor argelino Mohammed Dib, citado em epígrafe. Uma espantosa viagem à alteridade radical, desmistificando, sem concessões, as narrativas do ocidente e as suas falhas morais. LAE Orfeu Negro

Julio Cortázar, Carlos Fuentes, Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa
As Cartas do Boom
No romance Adão no Éden, Carlos Fuentes escreve: “(…) a mimese é inevitável na literatura e, no fim, escolher bem os mentores é uma demonstração de talento”. Julio Cortázar, Carlos Fuentes, Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa são os quatro principais romancistas do chamado “Boom Latino Americano”. As cartas trocadas entre eles revelam as múltiplas e valiosas correspondências que se estabeleceram entre as suas obras no auge deste quarteto. Citando os editores do presente volume, as cartas documentam “um momento em que os criadores pareciam ter começado a escrever menos sozinhos para ‘tocar’ em conjunto, como parte integral de uma mesma literatura”. Mentores uns dos outros, de certa forma, como confessa o escritor mexicano: “(…) sei que cada um de nós está muito consciente do que os outros estão a fazer”. Este intercâmbio permite um acesso sem precedentes às suas relações pessoais e coletivas, e desvenda de forma privilegiada a literatura e a política latino-americanas no contexto histórico entre os anos de 1959 e 1975. Testemunha igualmente a relação sincera de amizade e respeito que os unia e que põe definitivamente em causa a máxima de Carlos Fuentes, expressa no citado romance: “Lê os escritores, mas não os conheças pessoalmente.” LAE Dom Quixote

3 comentários:

  1. Sugiro o livro "Um espião no Kremlin" de Cátia Bruno - Editores Oficina do Livro.

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  2. Mário Cardoso
    Sugiro o livro "Um Espião no Kremlin", de Cátia Bruno - Edira - Oficina do Livro

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