Um caminho de palavras
e pelo sol me ligo a mim
E porque a noite não tem limites
alargo o dia e faço-me dia
e faço-me sol porque o sol existe
Mas a noite existe
e a palavra sabe-o."
António Ramos Rosa, in Sobre o rosto da terra , Livraria Nacional,1961
Escrevo para unir mas em cada sílaba separo
Escrevo para unir mas em cada sílaba separo
No fundo das palavras há talvez uma passagem
um rio subterrâneo Coloco uma palavra
sobre a página e tudo de súbito se move
mas não neste quarto onde tudo permanece imóvel
Que ignoradas luas presente cada verso
ou que violentas panteras o fazem estremecer!
Por vezes a palavra deslumbra-se
com uma mulher prodigiosamente nua
e por isso ela se entrega ao silêncio
não para desistir mas para respirar
Ninguém pode suportar a maravilha
e se quer dizê-la é preciso fugir-lhe
para não ficar demasiado preso a ela
e poder amá-la na medida da distância
António Ramos Rosa, in AS PALAVRAS , Campo das Letras, Abril de 2001

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