sábado, 18 de abril de 2020

Poesia em tempo de peste

D. Dinis (1261-1325)
GLOSANDO DOIS VERSOS
DE EL- REI D. DENIS
(A propósito de Bolsonaro)

Mui mais queria, besta não havendo,
antes ir a pé que nele cavalgando,
dizia D. Dinis, disto sabendo,
como doutras coisas sob seu comando.
Se nesse tempo a besta escasseava,
como diz o rei que o Pinhal plantou,
agora é animal que abunda à brava
pelo mundo que o português criou.
O Brasil que Cabral a nós abriu
tem hoje, Presidente, Bolsonaro,
que diz que o vírus nunca existiu,
que assim lho diz instinto e faro.
Capitão ignaro, egrégio cavalo,
feito à medida das bestas de carga,
não apetece, mesmo assim, montá-lo
por nos impor maldade à ilharga.
Filho da mãe bem certificado,
bicho raivoso e enviesado,
odeia o pobre e o povo esmagado,
com ódio de bicho mal amado.
Há-de lixar-se, não tarda, o estuporado,
porque tudo lhe será contado,
o que fez, o que não fez, bem pesado
na balança que não mente o resultado!
Se o vírus o apanha de raspão,
com pontaria certa e justiceira,
é vê-lo cobarde e trapalhão,
choramingar ante a foice da Ceifeira.
Assim findam os grandes tiranetes,
assim findam, mijando-se nas pernas:
antes eram pimpões e alegretes,
agora morrem, bichos das cavernas!
                                                  18.04.2020
Eugénio Lisboa,
Lavando o fígado, como mandavam os gregos muito antigos.

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