Não direi que me encantas mais do que o silêncio
porque é assim que despertas as aves e os caminhos.
Meus olhos também nascem pelo parto da esperança
porque vivo na imortalidade
renascendo em cada dia.
Deixa-me rever em prece tua face ressurgida
porque tua luz é sempre uma catarse.
Teu olhar estende as linhas do horizonte
e toda a paisagem é então uma ventura
e já não és mais nada
porque desfaleces no seio da beleza.
Repara como sou pequeno diante do teu rosto amanhecido
mas como é grande o que em mim te contempla.
Para renascer basta-me apenas teu momento
tua humilde majestade
tuas pétalas de fogo
e essa corola ardente
porque não peço nada mais que a tua luz
inaugurando o mundo em cada alvorecer
e que nunca me encontres cego ou vencido.
Manoel de Andrade, in Cantares, Escrituras Editora, São Paulo, 2007, p 61Curitiba, abril de 2004

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ResponderEliminarCreio que escrevi este poema com o olhar da minha infância. Quando pequeno, até os oito anos, morava frente ao mar, e o poeta que ainda dormia na minha inocência, acordava muito cedo para contemplar o encanto das alvoradas de verão surgindo atrás das águas e iluminando a linha do horizonte. Sim, eu era tão pequeno diante do rosto amanhecido da aurora, mas como já era grande o que em mim contemplava o divino milagre da vida, inaugurando o mundo em cada amanhecer.
ResponderEliminarMuito obrigada , Manoel. Esse olhar de poeta nunca se ofuscou pela luz. Tem sabido cantar as alvoradas que devem inaugurar o mundo para perpetuar o encanto da vida.
ResponderEliminarManoel, bom dia.
ResponderEliminarQue beleza!
Realmente, o poeta nasce com a poesia fervilhando na sua Alma.
Você consegue transferi la para todos nós.
Gratidão.