sábado, 10 de maio de 2025

Do silêncio

O Silêncio

Quando a ternura
parece já do seu ofício fatigada,

e o sono, a mais incerta barca,
inda demora,

quando azuis irrompem
os teus olhos

e procuram
nos meus navegação segura,

é que eu te falo das palavras
desamparadas e desertas,

pelo silêncio fascinadas.

Eugénio de Andrade, in Obscuro Domínio, Editorial Inova Limitada,1971, p 97
Ruptura

A noite fende -
o silêncio
escorre do muro 

De quanta ferida
abrirem os dedos
só vento é meu , 
só vento respira.

Mas já a minúscula
língua de erva
chama pela neve.

O silêncio
é o meu domínio.
Como se diz: 
a terra é leve.
Eugénio de Andrade, in Obscuro Domínio, Editorial Inova Limitada,1971, p115

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