quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

Centenário do nascimento de Urbano Tavares Rodrigues


Urbano Tavares Rodrigues

Há 100 anos nascia Urbano Tavares Rodrigues, (Lisboa, 6 de Dezembro de 1923- Lisboa, 9 de Agosto de 2013), um dos nomes maiores da nossa Literatura.

Urbano Tavares Rodrigues é considerado  um dos grandes escritores portugueses do século XX, autor de uma vasta obra , quase 100 títulos, que se expandem por romance, novela, conto, ensaio, crónica e teatro.

Catedrático jubilado da Faculdade de Letras de Lisboa, membro da Academia das Ciências, a sua obra literária e ensaística está traduzida em inúmeros idiomas, desde o francês e do espanhol ao russo e ao chinês.

Urbano Tavares Rodrigues escreveu em diversas revistas e jornais de renome, como o “Bulletin des Études Portugaises”, a “Colóquio-Letras”, o “Jornal de Letras”, “Vértice”, "Nouvel Observateur", entre outros. Foi director da revista Europa e crítico de teatro nos jornais “O Século” e “Diário de Lisboa”.

Em 2012, foi publicado o seu último livro, "Escutando o rumor da vida seguido de solidão em brasa".  Com uma carreira literária de 61 anos, Urbano Tavares Rodrigues recebeu vários galardões literários como o Prémio Ricardo Malheiros com a obra “Uma Pedrada no Charco”, o Prémio da Associação Internacional de Críticos Literários, o Prémio da Imprensa Cultural, o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores e o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco.

Exposição de fotografia evoca centenário de Urbano Tavares Rodrigues
"Uma exposição evocativa do centenário de Urbano Tavares Rodrigues, centrada na sua primeira obra, “Santiago de Compostela (Quadros e Sugestões da Galiza)”, foi inaugurada, ontem, segunda-feira, 5 de Dezembro de 2023, na Torre do Tombo, em Lisboa.
O livro, que reúne um conjunto de crónicas publicadas no Diário de Notícias em 1948, foi o mote para o trabalho do fotógrafo Sérgio Jacques, que constitui a exposição intitulada “Sonhar a Palavra Liberdade”, patente durante um mês no Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), na Cidade Universitária, em Lisboa, a partir da próxima segunda-feira.
A mostra “mistura fotografias da cidade com frases e excertos do livro de Urbano Tavares Rodrigues (1923-2013) e assim lhe rende homenagem”, segundo nota do ANTT.
A exposição inclui ainda o Diário de Notícias de agosto de 1948, onde as crónicas foram publicadas, e ainda os 12 processos movidos pela PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado), a polícia política do Estado Novo, a Urbano e algumas fotografias de positivos do espólio do Diário de Lisboa à guarda do ANTT, que “não podem ser reproduzidas para o exterior”.
As crónicas foram escritas no período em que Urbano Tavares Rodrigues frequentou, na Universidade de Santiago de Compostela, na Galiza, o curso de verão para nacionais e estrangeiros.
O ANTT cita o escritor galego Carlos Quiroga, que, no posfácio do livro de fotografia de Sérgio Jacques, afirma que, “em 1948, estando a concluir os estudos na Faculdade de Letras, Urbano entrou como repórter para o Diário de Notícias”.
“Será por encomenda deste jornal que veio de imediato a Santiago, e será também a Empresa Nacional de Publicidade, com logótipo da Editorial Notícias, que no ano a seguir editou as crónicas em livro. E enviar um rapaz inexperiente, mas muito capaz, no período das férias a Santiago, tinha um motivo justificado”.
Fazia-se assim, a cobertura jornalística do Ano Jubilar Compostelano de 1948, “até porque o próprio ditador [generalíssimo Francisco Franco] do outro lado da raia estaria presente”. 1
Como jornalista Urbano Tavares Rodrigues trabalhou no Diário de Notícias, para onde entrou em 1946, no Diário de Lisboa, Artes e Letras, Jornal do Comércio, n’O Século e foi diretor da revista Europa, entre outros órgãos.
Enquanto repórter, percorreu muitos países, tendo reunido os seus relatos de viagem nos livros “Santiago de Compostela” (1949), “Jornadas no Oriente” (1956) e “Jornadas na Europa” (1958), entre outros livros de viagens que mais tarde publicou.
Preso pela PIDE em 1963 e 1968, usou o segundo período de detenção para escrever “Contos de Solidão”, que passou clandestinamente para o exterior. Apesar da intensa atividade na oposição, só em 1969 Urbano Tavares Rodrigues se filiou no PCP, pelo qual chegou a ser eleito deputado, embora não tendo aceitado exercer o mandato.
Urbano Tavares Rodrigues assinou uma obra literária em que quase sempre expressou preocupações sociais e tendências políticas. É autor de várias dezenas de títulos, entre conto, romance, crónica e ensaio, muitos deles traduzidos em várias línguas.
Urbano participou, como ator (fazendo o papel de si próprio) no filme “Visita – Ou Memórias e Confissões”, realizado por Manoel de Oliveira em 1982. Em 2000 foi-lhe atribuído o Prémio de Consagração de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores.

O fotógrafo Sérgio Jacques é autor e coautor de livros de história, arquitetura, gastronomia, património e turismo cultural. Publica regularmente nas páginas da revista O Tripeiro. Fez a sua tese de mestrado em Madrid alicerçada em memórias pessoais que o levaram a editar em 2011 o fotolivro “Archivos, fotografias e acontecimentos pessoais procedentes de álbuns familiares que se misturam com a história do país.
Durante a última década colaborou com o historiador Joel Cleto, para a recolha e publicação das “Lendas do Porto”. As centenas de fotografias publicadas regularmente em dispersos meios foram reunidas numa coleção de livros com cinco volumes.”
Lusa, 3 Novembro, 2023

1-     Em 1948, Espanha e Portugal estavam sob o jugo de dois tiranos: Francisco Franco (1892-1975) e António Oliveira Salazar (1889-1970). Apesar da sua juventude, Urbano Tavares Rodrigues aportou a Santiago de Compostela consciente do terreno armadilhado que pisava. Provam-no as reportagens que assinou no DN, tal foi a genialidade com que retratou “As peregrinações! Todo o passado de Santiago! Toda a Idade Média ‘essa época enorme e delicada’… As peregrinações! Cheias de fé e padecimentos, de humilhações, de caridade… e de violências também, de roubos, de crimes, até nas igrejas… Que maravilhosa sugestão a das peregrinações medievais a Santiago de Compostela!…”
2-     O Ano Jubilar Compostelano1 de 1948 contou com a presença de Francisco Franco, que o denominou “Primeiro Ano Santo Triunfal”. Um ardil propagandístico do ditador, que Urbano Tavares Rodrigues descreve, assim, na página 18 do seu livro: “A entrada de Franco a toque de clarim, acompanhado de esposa e filha, com repique de todos os sinos da cidade e delírios de palmas, a entrada divinizada com botafumeiro e palavras de responsório, ‘El Señor lo ha elegido y lo ha colocado em alto sobre los reyes de la tierra’ […]”

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