segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Aquele que procura

«Um homem que lê, ou que pensa, ou que calcula, pertence à espécie e não ao sexo; nos seus melhores momentos escapa mesmo ao humano.» 
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano, p.57


Troianos
São nossos esforços, os dos infortunados;
são nossos esforços como os dos troianos.
Conseguimos um pouco; um pouco
levantamos a cabeça; e começamos
a ter coragem e boas esperanças.

Mas sempre surge alguma coisa que nos pára.
Aquiles junto do fosso à nossa frente
surge e com grandes gritos assusta-nos.-

São nossos esforços como os dos troianos.
Cuidamos que mudaremos com resolução
e valor a contrariedade da sorte,
e estamos cá fora para lutar.

Mas quando vier o momento decisivo,
o nosso valor e a nossa resolução perdem-se;
a nossa alma fica alterada, paralisa;
e em redor das muralhas corremos
à procura de nos salvarmos pela fuga.

Porém a nossa queda é certa. Em cima,
nas muralhas, já começou o pranto.
Choram pelas memórias e os sentimentos dos nossos dias.
Amargamente choram por nós Príamo e Hécuba.
Konstantinos Kavafis, in Poemas e Prosas, Relógio d'Água, p.33

 
Poema
«Com o suor do teu rosto ganharás
o teu pão», escreveram no teu berço.
Dormiste, respiraste e, um dia,
escarneceram do suor do teu rosto.

É hoje, quando tu, filho de Europa,
expulso da seara do teu trigo,
em todos os muros vês escrito
que o suor é vão, e o teu rosto negado.
Fiama Hasse Pais Brandão, in Cenas Vivas, Relógio d'Água, Abril de 2000, p. 16.

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