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quinta-feira, 8 de março de 2012

Outro dia

"Montanhas longe alagadas de rosa pálido. O sol já se pôs aqui, as árvores estão mais escuras, os prédios indecisos parece que vão cair. Em baixo passa uma menina de branco, chapéu e vestido brancos, numa bicicleta. Um chapéu de abas largas. Ali mais para a esquerda os montes estão azuis. Uma tristeza enorme me torna prisioneira solitária de uma ilha e mesmo assim sinto-me senhora do mundo. A minha janela é alta e a beleza deste morrer do dia tamanha. Já a menina deslizou e sumiu-se como uma flor pelo asfalto cinzento a rolar. E eu fui assim como uma gota que de mim inteira resvalasse."
Matilde Rosa Araújo,  Páginas de Diário, in “Árvore - folhas de poesia - 1º fascículo, Outono de 1951”

Lucidez desnecessária

Diante das estrelas
E do sol
Sabendo a morte
E a vida aranha
Disconforme
E concordante
Pronta a parar na teia
Envelheci
Mas posso olhar ainda
Ainda
Cravos de sangue e rosas da estrada
Como se eterna fosse
Mas tão tarde.

Matilde Rosa Araújo,in “Voz Nua”, livros Horizonte, 1986