sábado, 4 de janeiro de 2025

Os livros de 2025

Os meus livros de Janeiro
a que peito irão bater
por Manuel S. Fonseca


"Se eu disser que o livro é um coração e que esse coração só bate no peito do leitor, acreditam em mim? Se não acreditam em mim, pelo menos acreditem nos meus autores, António Costa Silva e Fernando Venâncio: os romances que eles escreveram são corações à procura de um peito.
Desconseguiram Angola é o romance que, em dor e riso, em angústia e (des)esperança, António Costa Silva – sim, esse que foi nosso ministro, mas que viveu em Angola a utopia e o quase fuzilamento – criou como homenagem aos que, mesmo no olho de um furacão de caos e miséria, fazem prevalecer o riso limpo: «a farra estava nice… Luanda de sábado à noite.» Tanta dor, tanto humor.
Já Fernando Venâncio – sim, o autor do perfeito Assim Nasceu uma Língua – vai, no seu romance Os Esquemas de Fradique, em busca do coração dessa personagem que fugiu dos livros de Eça para a vida. Tudo se passa hoje, numa vida malandra, em beijos, cinemas e boa comida e bebida, e tudo se passa em longínquos «ontens», que nos revelam de Fradique a descendência, as amantes, a vocação até para espião do rei. Tão bem escrito.
E se querem saber a razão de o coração de Primo Levi nunca ter deixado de bater no seu peito, apesar do cativeiro em Auschwitz, vão ter de ler este O Homem que Salvou Primo Levi, de Carlo Greppi. Descobrirão Lorenzo, homem das obras, e uma história real de compaixão, que nos faz acreditar no humano: ó que esplêndido coração, agora na celebração dos 80 Anos da Libertação de Auschwitz.
E 2025 é também o ano em que celebramos os 80 anos do Fim da II Guerra Mundial. O que se passou, depois, na vencida Alemanha? O professor Emmanuel Droit, ao leitor que anda à caça de diamantes, explica tudo, numa narrativa densa, em A desnazificação, pós-história do III Reich: quem se escondeu, quem assumiu responsabilidades, quem «nada viu, nada ouviu» de 1933 a 1945.
Voltando aos meus leitores: o que eu gosto do leitor sonhador e individualista, que tudo reinterpreta, fazendo de cada livro trampolim para a cada ideia associar mais ideias. São esses os leitores que vão querer ler Inteligência Artificial, Bênção ou Maldição, de Diogo Freitas, um empreendedor e CEO que não teme a polémica: jura-nos que a IA veio para ficar, mas que com a IA veio também uma caixa de Pandora de malefícios, agora exposta nas 160 páginas deste livro.
E para os leitores que no sentido de cada frase mordem as delícias das camadas de um mil folhas, guardei duas gemas filosóficas: O Ouriço e a Raposa,  de Isaiah Berlin e Como é que é ser um morcego, de Thomas Nagel.
Berlin, em O Ouriço e a Raposa, a propósito da filosofia da história de Tolstoi, ensina-nos que uma raposa sabe muitas pequenas coisas, enquanto o ouriço se obstina a saber só uma coisa muito importante. Shakespeare era uma raposa, Marx, um ouriço. E o leitor? Não sei se pelo ouriço ou pela raposa, o livro esgotou: aqui está reeditado, novinho em folha.
Já o filósofo Thomas Nagel apanhou um grande susto quando um morcego lhe entrou no escritório lá de casa. E o morcego? Terá ficado tão assustado como ele? Combinando filosofia, psicologia e neurociência, Como É Que É Ser um Morcego é uma revolucionária digressão sobre «a consciência», sobre o «objectivo» e o «subjectivo»: pode a experiência subjectiva ser objecto de uma descrição objectiva? Um ensaio que exige à ciência uma expansão que acomode o que não está de acordo com a concepção física da objectividade.
Sete livros da Guerra e Paz para leitores que sabem que só se reconhece uma verdade profunda pelo facto do seu oposto ser também uma verdade profunda.
 

Na Crisântemo, juntando-se a três livros anteriores de Sigmund Freud, sobre os sonhos, o narcisismo e o princípio do prazer, chega agora, em nova tradução, Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade, alto escândalo de 1905. Freud sustenta que a perversão sexual faz parte da natureza humana, e aqui se inauguram conceitos como o complexo de castração, complexo de édipo e inveja do pénis. Uma inveja de livro.
Contemporâneo e português é o livro Liderar é um Acto de Amor. Fábio Castro, o autor, confessa-se: «A parentalidade é o melhor curso de autoconhecimento que alguma vez experimentei.» E liga, com razão, a parentalidade é uma profunda transformação da vida pessoal e familiar. Mas também da vida profissional. Uma boa surpresa, sem perversões.

Na Euforia, o ano começa com o sabor transgressor (perverso?) do pecado. De Sierra Simone, a quem já devíamos o bestseller Padre, publicamos agora Pecador:  a mesma liberdade erótica, com Deus de novo à mistura. A protagonista vai, em breve, ser freira. Mas há uma cama (ou várias) a separá-la da vocação.

E vamos lá sair da cama, que 2025 e as livrarias estão à espera dos leitores para lhes porem no peito um merecido coração. "
Manuel S. Fonseca, editor  da Guerra & Paz

Planeamento Editorial JAN-JUN 2025

Janeiro
— Adivinhas de Pedro e Inês, de Agustina Bessa-Luís (Prefácio de Inês Pedrosa)
— Prestidigitação, de Maria Stepánova
— Os Hereges de Duna (5.º volume da série Duna), de Frank Herbert
— Uma Leitura do Génesis, de Marilynne Robinson
— Os Meus Amigos, de Hisham Matar
— Fronteira, de Can Xue
— A Visão das Plantas, de Djaimilia Pereira de Almeida (Reedição)

Fevereiro
— Have Ya Got Any Castles, Baby, de Ana Teresa Pereira
— Não É ainda o Pânico, de Rui Nunes
— Destroçado, de Hanif Kureishi
— A Casa Sombria, de Charles Dickens (tradução de Paulo Faria)
— Carpinteiros, Levantai alto a Cumeeira; Seymour: Uma Introdução, de J. D. Salinger
— O Estranho Desaparecimento de Esme Lennox, de Maggie O’Farrell
— Casa do Capítulo: Duna (6.º volume da série Duna), de Frank Herbert
— Mestre Gato ou o Gato das Botas, de Charles Perrault
— A Bailarina, de Carlos Vasconcelos

Março
— Fidalguia sem Maquia É Gaita Que não Assobia, de Luís Aguiar-Conraria (Prefácio de Fernanda Câncio)
— Luto sem Bússola, de Carme López Mercader
— Paz ou Guerra, de Mikhail Shishkin
— Boulder, de Eva Baltasar
— Franny e Zooey, de J. D. Salinger

Abril
— A Singularidade Está mais Próxima, de Ray Kurzweil
— A Revolução dos Cravos: O Dia em que a Ditadura Portuguesa Caiu, de Alex Fernandes
— Songlight, de Moira Buffini (1.º volume de The Torch Trilogy)
— As Sete Idades, de Louise Glück (Prémio Nobel da Literatura 2020)
— Investigações Filosóficas, de Ludwig Wittgenstein
— Submundo, de Don DeLillo
— Homem em Queda, de Don DeLillo

Maio
— Embaixada a Calígula, de Agustina Bessa-Luís
— Problema 7, de Richard Flanagan (Vencedor Baillie Gifford Prize)
— Tokyo Ueno Station, de Yu Miri
— Segurar, de Anne Michaels (Vencedor Giller Prize 2024)
— A Espada Brilhante, de Lev Grossman
— Obra de Uma Vida, Rachel Cusk
— Visita, de Jenny Erpenbeck
— Mishima ou a Visão do Vazio, de Marguerite Yourcenar
— Os Costumes do País, Edith Wharton
— Conversas entre Amigos, de Sally Rooney
— Os Anéis de Saturno, de W. G. Sebald
— Duna III (Romance Gráfico), de Frank Herbert, adaptado por Brian Herbert e Kevin J. Anderson
— Três Histórias de Esquecimento, de Djaimilia Pereira de Almeida (Reedição)

Junho
— Os Lobos da Floresta da Eternidade, de Karl Ove Knausgård
— A Empregada e o Professor, de Yoko Ogawa
— Hyperion, de Dan Simmons
— On the Calculation of Volume (Om udregning af rumfang I), de Solvej Balle
— Os Emigrantes, de W. G. Sebald
— Analectos, de Confúcio
— Fogos, de Marguerite Yourcenar
— Henrique VI, Parte I, de William Shakespeare (Projecto Shakespeare)
— Henrique VI, Parte II, de William Shakespeare (Projecto Shakespeare)
— Esse Cabelo, de Djaimilia Pereira de Almeida (Reedição)

Os livros que vão ser lançados em 2025 que não pode perder

"A editora LeYa anunciou as suas apostas para o primeiro trimestre d e 2025. Se precisa de sugestões de leitura esta notícia é para si.
Na literatura em língua portuguesa, durante os três primeiros meses do ano, serão publicados, pela Dom Quixote, o novo romance de Afonso Reis Cabral (O Último Avô), sete anos depois de Pão Açúcar, o livro que assinala a estreia de Luísa Sobral (Nem Todas as Árvores Morrem de Pé), o novo volume de contos de Fernando Pinto do Amaral (Contos Suicidas) e a história autobiográfica do brasileiro Marcelo Rubens Paiva (Ainda Estou Aqui), que lançou o filme com o mesmo título na corridas aos Óscares do próximo ano.

A Editorial Caminho, na mesma área, apresenta um novo livro de Germano Almeida (Crime nas Correntes d’Escritas), um lúcido e hilariante primeiro romance do até aqui conhecido apenas como poeta Paulo Teixeira (Não Digas o Que a Baiana Tem) e o regresso de Ondjaki e António Jorge Gonçalves (O Tempo do Cão). Já a Casa das Letras preparou para este início de ano a publicação do novo livro de Francisco Moita Flores (Agora e na Hora da Nossa Sorte).

Na ficção estrangeira, a Dom Quixote destaca o romance da mais recente Prémio Nobel da Literatura, a sul-coreana Han Kang (Despedidas Impossíveis), o também novo da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie (Inventário de Sonhos), o finalista do Booker Prize da argentina Selva Almada (Não é um Rio), o do americano Amor Towles (Mesa para Dois), as estreias em português do venezuelano Rodrigo Branco Calderón (Simpatia), que em Fevereiro estará na Póvoa de Varzim para participar em mais edição do festival literário Correntes d’Escritas, e do italiano Gianni Solla (O Ladrão de Cadernos) e, para além desses, uma nova edição de um há muito esgotado livro do austríaco Joseph Roth (Fuga Sem Fim).

Os mais recentes do japonês Haruki Murakami (A Cidade e as Muralhas Incertas) e do espanhol Arturo Pérez-Reverte (O Problema Final) serão respectivamente publicados pela Casa das Letras e pela ASA, que também editará o romance épico da chinesa Ann Liang (O Lamento dos Rios).

Na área da não ficção, salienta-se o livro coordenado por Rui Ramos, José Luís Cardoso, Nuno Gonçalo Monteiro e Isabel Corrêa da Silva (Dicionário Crítico da Revolução Liberal, 1820-1834), o trabalho da jornalista norte-americana Annie Jacobsen (Guerra Nuclear – Um Cenário) e o novo livro do filósofo Alain de Botton (Uma Viagem Terapêutica). Os três terão a chancela Dom Quixote.

A ASA, no mesmo género, lançará o novo ensaio do italiano Antonio Scurati (Fascismo e Populismo), e a Lua de Papel os mais recentes livros de Scott Galloway (A Álgebra da Riqueza), de Dr. Gabor Maté (No Reino dos Fantasmas Famintos) e de Jordan B. Peterson (Nós, os que Lutamos com Deus). Na Casa das Letras sairá a biografia do actor que deu corpo e alma a uma das mais notáveis e adoradas personagens televisivas alguma vez inventadas: o Kramer de Seinfeld, de Michael Richards (Entradas e Saídas).

Na Banda Desenhada, a ASA publicará, entre outros, Um Oceano de Amor, de Gregory Panaccione e Wilfrid Lupano, Hoka Hey, de Neyef, e Bobigny 1972, de Marie Bardiaux-Vaiente e Carole Maurel.

Já no infanto-juvenil destacam-se o romance juvenil de António Mota (Espera por Mim) e o conto de Luísa Ducla Soares (Meninos de Todas as Cores) que ganha nova vida numa edição ilustrada por Sandra Serra."
Margarida Lopes, Sapo

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