quinta-feira, 27 de junho de 2019

O livro de cabeceira de Alexandre

O livro de cabeceira de Alexandre
por Martin Puchner
                           
           336 A.C. MACEDÓNIA

"Alexandre da Macedónia é conhecido pelo apelido de Magno por ter conseguido unificar as orgulhosas cidades-Estado gregas. conquistar todos os reinos entre a Grécia e o Egipto, derrotar o exército persa e criar um império que se estendia até à Índia - em menos de treze anos. As pessoas têm-se interrogado desde então sobre como é que um governante de um irrelevante reino grego pode ter realizado uma tal façanha. Mas sempre existiu uma segunda pergunta, para mim mais intrigante: por que razão havia Alexandre de querer conquistar a Ásia?
Ao considerar esta questão, vim a concentrar-me em três objectos  que Alexandre  transportou consigo ao longo de toda a sua campanha  militar e que colocava  todas as noites à cabeceira , três objectos  que sintetizavam a forma como ele via a sua campanha.  O primeiro era um punhal. Junto ao punhal, Alexandre guardava  uma caixa. E , dentro da caixa , colocava o mais precioso dos três objectos: um exemplar do seu texto preferido, a Ilíada.
Como chegara Alexandre a possuir estes três objectos e o que significavam para ele?
Alexandre dormia com um punhal porque queria escapar ao destino do seu pai, que fora assassinado. A caixa fora tomada a Dario, o seu adversário persa.  E levara a Ilíada para a Ásia porque era a história através da qual via  a sua campanha e a sua vida, um texto fundador que captava o espírito de um príncipe que iria à conquista do mundo.
A epopeia de Homero foi um texto fundador  para os gregos durante gerações.  Para Alexandre , adquiriu  o estatuto de um texto quase sagrado, razão pela qual  o levava consigo  durante a campanha . É isso que os textos , sobretudo os fundadores , fazem: mudam a forma como vemos o mundo  e também  a forma como agimos  sobre ele. Foi isso certamente que se passou com Alexandre. Foi induzido não só a ler  e a estudar este texto, mas também a recriá-lo. Alexandre, o leitor, colocou-se a si próprio na história, vendo a trajectória da sua própria vida à luz de Aquiles de Homero. Alexandre Magno é conhecido por ter sido um rei excessivo . Mas acontece que foi também um leitor excessivo." 
Martin Puchner, in " O Mundo da Escrita, o poder das histórias que formaram os povos e as civilizações", Temas e Debates, Outubro de 2018, pp 3, 4  

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