terça-feira, 21 de maio de 2019

A propósito de "É Proibido Proibir"

Nota de Livres Pensantes:
Manoel de Andrade
Manoel de Andrade evoca Caetano Veloso neste belo ensaio que acabámos de transcrever. Ao fazê-lo despoletou o nosso jeito curioso de investigar e recordar esse acontecimento  de Setembro de 1968 , quando Caetano Veloso  defendeu a canção "É Proibido Proibir" , no Festival Internacional da Canção, o FIC no teatro TUCA, da PUC-SP e foi vaiado por uma plateia ruidosa.
Nelson Rodrigues , numa magnífica crónica, descreve a recepção do público à canção: A vaia selvagem com que o receberam já me deu uma certa náusea de ser brasileiro. Dirão os idiotas que ele estava de salto alto, plumas, peruca, batom etc. etc.. Era um artista. De peruca ou não , era um artista. De plumas, mas artista. De salto alto, mas artista. E foi uma monstruosa vaia [...] Era um concorrente que vinha ali cantar, simplesmente cantar. Mas os jovens centauros não deixaram.
No registo que vamos apresentar, além de se poder ouvir a  voz de Caetano Veloso , vem legendado o seu corajoso discurso. Sobre o mesmo, diz Nelson Rodrigues: Quis cantar, e esmagaram seu canto [...] Súbito , os brios de Caetano se eriçaram mais que as cerdas bravas de um javali. Ele começou a falar. Era um contra 1500. E um que dizia a sua feroz mensagem nos trajes mais impróprios para o seu rompante. Sim, estava de peruca, de  plumas , de batom, de salto alto etc.. E disse as verdades que estavam mudas, sim , as verdades que precisavam ser ditas - urgentes, inadiáveis e santas verdades [...] Tivemos bela fúria de Caetano Veloso, um momento da consciência brasileira.

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