terça-feira, 31 de outubro de 2023

Não há boas maneiras nas guerras

 

Não há boas maneiras nas guerras
por Eugénio Lisboa
“Quando se diz que, nas guerras, deve haver boas maneiras, códigos de conduta, separação de civis e combatentes, Cartas das Nações Unidas de 1945, sobre o genocídio, a Convenção de Genebra, de 1949, para tornarem as guerras mais “decentes”, mais “cuidadosas”, mais “cavalheirescas”, está-se simplesmente a vender uma vergonhosa e hipócrita mentira. Nas guerras, nunca há boas maneiras e os actuais e poderosíssimos meios de destruição, ao dispor dos exércitos de quase todos os países, não permitem finas distinções entre civis e combatentes, entre massacre e genocídio, entre guerra limpa e guerra suja. A segunda guerra mundial foi suja, a guerra do Vietnam foi suja, a guerra do Iraque foi suja, as guerras do Afeganistão foram sujas, as guerras coloniais foram sujas e a actual guerra israelo-palestiniana está a ser sujíssima. Dos dois lados. Sempre dos dois lados. Em todas elas se praticaram e praticam as maiores e desnecessárias atrocidades. Não dá para dizer quem tem razão. Quem mata, esteja de que lado for, não tem razão. Só tem razão quem morre e não devia morrer. As razões que se dão para uma guerra são sempre desrazões. A Batalha de Ourique, a Batalha de Aljubarrota, provavelmente, foram também sujas, embora em escala menor porque se matava menos e, nessas, não se confundia civis com combatentes. Mas TODA a guerra é inerentemente suja e infame. O recurso à guerra, nas sociedades modernas, deveria ser considerado crime e evitado a todo o custo.  Produzir uma espingarda, ou um canhão ou um caça, como disse Dwight Eisenhower, que era um general que ganhou uma guerra, é tirar pão a quem tem fome e é tirar aquecimento a quem tem frio. Ou se proíbem as guerras ou não se proíbem. Mas, enquanto se não proibirem, ninguém tem direito à boa consciência dos que inventam a história da carochinha das “leis da guerra”. Na guerra não há leis, a não ser a do mais forte, que é uma lei da selva. Permitir a um psicopata como Putin ou um autista perigoso, como Kim Jong Un a posse de armas nucleares  (e, em suma, a todos os que as possuem) é realmente andar a brincar à beira do abismo. Só uma total impotência internacional de pôr cobro a esta insensatez pode justificar que se tenha chegado a 2023, com guerras santas, apoiadas por um islamo-esquerdismo muito mau ou por um não menos mau israelo-direitismo. As finas distinções para salvar a face da barbaridade que é a guerra são meros eufemismos para serem usados pelos fautores da guerra, que querem dormir sossegados. Nas guerras, esses códigos nunca são respeitados, nem por atacantes nem por atacados. No Vietnam fizeram-se aos vietnamitas as maiores atrocidades e no Afeganistão, durante a invasão, os afegãos serravam as pernas e os braços aos prisioneiros soviéticos, o que não impede a actual love story entre o Islão e uma certa esquerda (o tal islamo-esquerdismo).
Meus caros senhores e senhoras, nada de hipocrisias, encarem a verdade de frente: as guerras, mesmo as “justas” são crimes abomináveis. Basta ver o rosto aterrado e emudecido de uma criança na faixa de Gaza. Culpado? HAMAS e ISRAEL. Os criminosos estão SEMPRE dos dois lados. Hitler poderia perfeitamente ter sido travado a tempo e a França até estava mais bem armada. E a primeira guerra mundial também foi tudo menos inevitável. A inevitabilidade das guerras é outra história da carochinha. Compre-a quem quiser.”
Eugénio Lisboa, 31.10.2023

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