sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Pequenas definições à falta de maiores

Millôr Fernandes

Pequenas definições à falta de maiores
de
Millôr Fernandes
 
Chama-se de civilização esse lento processo pelo qual a humanidade acaba concordando com os loucos.
 
Amizade é aquilo que uma mulher tem por outra quando ambas detestam uma terceira.
 
Chama-se de subtileza essa faculdade que nos permite ofender uma pessoa com tempo para ir embora antes que ela possa reagir.
 
Médico é um sujeito que aplica drogas que mal conhece a organismos que nem conhece.
 
Chama-se psicanalista uma espécie de médico que está sempre mais perto da doença do que da cura.
 
Chama-se défice isso que uma pessoa tem quando tem menos do que quando não tinha coisa nenhuma.
 
Chama-se de chato o sujeito que tem um uísque numa das mãos e a nossa lapela na outra.
 
A universidade é um local onde a ignorância é levada a suas extremas consequências.
 
Chama-se celebridade um débil mental que foi à televisão.
 
O pobre trabalha para comer. O rico trabalha para comer fora.
 
Círculo é uma linha que resolve ir dar uma volta.
 
Pontual é alguém que resolveu esperar muito.
 
Solteiro é uma espécie de rato que pensa poder comer o queijo sem cair na ratoeira.
 
NOTA: Hoje ficamo-nos por aqui. Se quiserem mais, digam. Millôr Fernandes é inesgotável. Ele, refilão sem mácula, foi o homem que disse isto: “o que as pessoas não aceitam são pequenas coisas, o facto de eu nunca ter querido poder, de não ter aparecido na TV Globo, afinal alguém tem de ter recato neste país.”
Eugénio Lisboa, 18.08.2023

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