domingo, 14 de março de 2021

Ao Domingo Há Música

Buenos Aires, espectáculo de Tango

Centro Cultural Borges, Buenos Aires

Centro Cultural Borges, Buenos Aires

Sabemos, ouvindo um tango velho, que houve homens valentes. O tango dá-nos a todos um  passado  imaginário.  Estudar o  tango não é   inútil, é estudar as diversas vicissitudes da alma.

                                          Jorge Luís Borges

O  tango  não é triste, nem popular ou suburbano, ou pelo menos, não nasceu assim. É desse modo que  Jorge Luís Borges (1899-1986) o apresenta no livro "O tango ", numa viagem pela história dessa música tão identitária da  Argentina no mundo.    O tango surge da milonga e, no início, é valente e feliz. Depois vai desanimando e ficando triste - afirma Jorge Luís Borges.
O  livro resulta de uma gravação de quatro conferências dadas , em 1965,  pelo escritor argentino  sobre a história do tango . "As conferências são quase um tratado que junta erudição, sabedoria popular e humor para falar não só da música, mas também da sua cidade, Buenos Aires, na Argentina, e da vida dos "guapos" (briguentos) que protagonizam as letras dos tangos.
"O tango não é triste, melancólico, nostálgico, choroso. O tango é alegre", insistia Jorge Luís Borges e criticava Carlos Gardel, apontado como uma figura decisiva na história desta música, por ter alterado o seu espírito original.
"Gardel tomou a letra do tango e transformou-a numa breve cena dramática, em que um homem abandonado por uma mulher se queixa, e em que se fala da decadência física de uma mulher", insurge-se o escritor.
Jorge Luís Borges "gostava dos tangos da 'velha guarda', que ouvia na sua infância, porque não eram patéticos. Tinham letras alegres. E pensava que Gardel "tinha arruinado esta música", explica María Kodama, mulher do ilustre Jorge Luís Borges."
No passado dia 11 de Março de 2021,  celebraram-se 100 anos do nascimento de Astor Piazzolla, (Mar del Plata, 11 de Março de 1921 – Buenos Aires, 4 de Julho de 1992),  bandoneonista e compositor argentino, conhecido mundialmente por ter revolucionado o tango.  Aos oito anos,  teve  o primeiro bandoneón ,  instrumento musical de palhetas livres semelhante a uma sanfona. Na adolescência, Piazzolla conheceu Carlos Gardel, o cantor de tango mais famoso, atrás referido pelo escritor Jorge Luís Borges. Em 1935, Gardel convidou Piazzolla para o acompanhar e tocar na  sua tournée, mas a família não permitiu porque  era menor de idade. A recusa salvou a vida de Piazzolla já que  Gardel e os membros da sua banda morreram num acidente aéreo,  durante essa tournée.
Em 1937, Piazzolla  mudou-se para Buenos Aires, onde começou a construir   o seu próprio caminho na música. A inovação de Piazzolla  deve-se à introdução no tango  de  elementos do jazz e da música erudita,  outra das suas grandes paixões. Na década de 1950 , também se  tornou pianista , tendo obtido uma bolsa para estudar música clássica em  França.
Aí, com o apoio  da compositora francesa Nadia Boulang, descobriu que podia   escrever as suas próprias canções .  Compondo e actuando  com as suas  composições,  Piazzolla criou e deu a conhecer  a “música contemporânea de Buenos Aires”. Realizou trabalhos em diferentes países, incluindo o Brasil, e  tornou-se uma das maiores referências do tango no mundo.  
Em 1990,  a eclosão  de uma hemorragia cerebral, levou-o ao coma, dando fim à sua actividade. Morreu em 1992, em Buenos Aires, deixando um enorme legado:  mais de três mil composições,  das quais  estão gravadas cerca de  quinhentas.
Caminito, Bairro de Buenos Aires 
Milonga Del Angel , de Astor Piazzolla, pelo  Quinteto Tango Nuevo (1984) com  Astor Piazzolla  no Bandoneón; Pablo Ziegler ao Piano ;Fernando Suarez Paz no  Violino; Oscar Lopez Ruiz na guitarra eléctrica e Hector Consol no violoncelo.
 
Tango Apasionado, de Astor Piazzolla  , interpretado pelos bailarinos Mauro Caiazza & Daniela Kizyma, num   exemplo evidente de como a sedução  dos corpos  é forte  no Tango.
   
Tango Oblivion, de Astor Piazzolla, interpretado pelos bailarinos Claudia Miazzo e Jean Paul Padovani.

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