quarta-feira, 20 de maio de 2020

Da Não Evidência de Tudo

Eugénio Lisboa
Um novo e magnífico soneto de Eugénio Lisboa, um dos nossos mais eruditos intelectuais a quem  o assombro de um imanente   espanto jamais se extinguiu. Aos 89 anos, continua a explorá-lo desassombradamente.

DA NÃO EVIDÊNCIA DE TUDO

É tão estranha a vida. É tão estranha a morte.
É estranho que seja tudo tão estranho
e tudo cause, em mim, um tal desnorte,
que o assombro seja, em mim, tamanho,

que fico detido, explorando o espanto
de coisa nenhuma ser evidente!
Resta-me, então, digo eu, o canto
que amacia o que não é transparente!

Viver é assim não compreender,
que é a melhor forma de descobrir.
Se há virtudes no não entender,

se é bom forçar a porta, insistir,
contudo, a um mistério decifrado,
outro logo se apresenta fechado!
                                   20.05.2020
Eugénio Lisboa
Congeminações de sempre, que a solidão da peste agudiza!

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