sábado, 23 de maio de 2020

Correspondência entre Jorge de Sena e António Ramos Rosa

Jorge de Sena (1919-1978)
António Ramos Rosa  (1924-2013)
Dois grandes poetas portugueses que mantiveram uma correspondência viva ao longo de muitos anos. Jorge de Sena nasceu em Lisboa, em Novembro de 1919 e António Ramos Rosa,em Faro, em  Outubro de 1924. Transcrevemos duas cartas trocadas em Fevereiro de 1959.

                                                     Lx. 20/2/959

Meu caro Rosa:
Acabo de receber o núm.  4 dos Cadernos do Meio-Dia, onde reli  com infinito gosto o seu ensaio sobre o meu livro (1). Em letra impressa, mais se reafirmou a impressão que da anterior leitura colhera: talvez seja vaidade, aliás legítima, mas parece-me do melhor e mais fundo que V. tem escrito. Mais uma vez muito lhe agradeço, e não esqueço nos agradecimentos o relevo que lhe deu à publicação  à cabeça do número, bem o analogamente dado, à cabeça dos poemas, ao meu. Tudo isso do coração e da poesia lho agradeço. Quero crer que será possível ao reeditar-se Fidelidade,  que o seu estudo figure no volume que tão lucidamente ilumina.
Não estou ainda certo de acompanhar ao Sul o Erico Veríssimo (2), como o acompanharei ao Norte; mas, se for,  ficarei a noite do dia 4 na Pousada de lagos e, na tarde de 5, passarei por Faro a caminho de Beja, Évora, Vila Viçosa.
Um abraço muito amigo do

JORGE DE SENA

(1) - António Ramos Rosa, " comentário à margem de Fidelidade,Cadernos de Meio-Dia (Faro), Fevereiro de 1959; incluído em " A poesia de Jorge de Sena ou o combate pela consciência livre" , Poesia , Liberdade Livre (1962).
(2) - Referência à viagem a Portugal de Erico Veríssimo, a convite  de Edição "Livros do Brasil" , de  que Jorge de Sena era consultor literário.

                                                            Faro, 25/2/959

Excelentíssima Amiga (1):
Escrevo-lhe estas apressadas linhas para  lhe pedir o favor de comunicar ao seu marido  que aqui em Faro estamos todos muito interessados em que o escritor Erico Verissimo faça uma conferência nesta cidade. Creio  que nós, algarvios , merecíamos bem tal coisa. Que Jorge de Sena faça os possíveis para tornar exequível este nosso desejo! Ou então ficaremos a pensar que o famoso Reino dos Algarves não é reino nenhum a não ser do Amendoim.
Foi o Círculo Cultural do Algarve que me encarrega de lhe fazer este pedido. Agradecendo-lhe que o transmita a seu marido, aceite as minhas melhores saudações, muito cordiais e respeitosas.

ANTÓNIO RAMOS ROSA

Jorge de Sena e António Ramos Rosa, in "Correspondência ,1952-1978", Editora Guimarães, pp. 188,189

(1)  Mécia Sena, mulher de Jorge de Sena.

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