quarta-feira, 10 de julho de 2019

O impacto da geografia no destino das nações


Segundo as projecções, a população mundial
deve chegar a 11 biliões em 2100
Jornalista investiga o impacto da geografia no destino das nações
Tim Marshall associa as tensões da geopolítica internacional do passado e do presente a condicionantes geográficos
Por Luciano Trigo, G1
"Quando se fala em geopolítica internacional, a ênfase costuma cair na política, com o prefixo “geo” sendo praticamente ignorado. 
“Prisioneiros da Geografia – 10 Mapas que explicam tudo o que precisa saber sobre política global", do jornalista Tim Marshall (Zahar, 284 pgs. R$ 49,90), resgata a importância da geografia nas relações entre os povos, mostrando de forma didáctica o seu impacto no destino das nações e nos diferentes graus de desenvolvimento de diferentes partes do globo.Com vasta experiência em áreas de conflito, Marshall mostra como as decisões dos líderes políticos sempre foram e sempre serão influenciadas “pelos rios, montanhas, desertos, lagos e mares que nos rodeiam a todos”. Ainda que o autor exagere um pouco o peso dos condicionantes geográficos – topografia, hidrografia, recursos minerais – no êxito ou no fracasso das sociedades, trata-se de uma leitura interessantíssima, que revela que a geografia está muito mais presente na nossa vida do que pensamos. Ela determina em parte as disputas de poder, as guerras, as línguas, o comércio e religião. Em suma, somos todos prisioneiros da paisagem em que vivemos – e temos menos margem de escolha do que imaginamos.
Os dez mapas citados no subtítulo do livro sintetizam as tensões nas principais regiões estratégicas do mundo: Rússia, China, Estados Unidos, Europa Ocidental, África, Oriente Médio, Índia e Paquistão, Japão e Coreia, América Latina e o Ártico. A análise de Marshall não é ideológica: ele não está preocupado em argumentar a favor de um modelo de mundo ideal, tal como ele deveria ser, mas tão somente em apresentar o mundo real como ele é.
Assim, por exemplo, na análise da relação entre a Europa ocidental e a Rússia, o que importa não é o desapreço do governo Putin às regras da democracia, à liberdade de expressão ou aos direitos humanos, mas simplesmente a dependência dos países europeus do gás russo: "Metade do gás consumido na Alemanha vem da Rússia, o que explica por que os políticos alemães tendem a ser mais moderados nas críticas ao Kremlin do que a Grã-Bretanha, que produz o seu próprio gás, incluindo reservas capazes de garantir até nove meses de abastecimento".
Já um país meridional como Portugal, onde o aquecimento no inverno não é uma questão de sobrevivência, mas de conforto, também tem menos motivos para se preocupar em não melindrar a Rússia com eventuais críticas. Por outro lado, se a Rússia tivesse montanhas no seu lado ocidental e acesso às águas mornas do Oceano Índico, não se preocuparia com a Ucrânia, pois disporia de portos que não congelam no inverno. Além dos distúrbios na Ucrânia, a disputa pelos recursos naturais do território árctico e o crescimento da China são outros temas abordados no livro.
No capítulo sobre a América Latina, o autor sublinha que, no caso do Brasil, apesar de algumas limitações geográficas, o problema não são os recursos naturais, mas a incapacidade de criar uma infraestrutura à altura de seu potencial: "O centro agrícola do sul do país tem, aproximadamente, a mesma dimensão de Espanha, Portugal e Itália juntos, é muito mais plano que o resto do país e é relativamente bem irrigado, mas faltam vias de transporte devidamente desenvolvidas". O mesmo ocorre com a Argentina, outro país que "não aproveitou sempre as suas vantagens ao máximo": "Há cem anos estava entre os dez países mais ricos do mundo, à frente da França e da Itália, mas a falta de diversificação, a sociedade estratificada e injusta, o mau sistema de ensino, uma sucessão de golpes de Estado e a grande variação das políticas económicas um declínio acentuado da Argentina". Ou seja, a “geografia humana” também conta – e muito – no desenvolvimento de uma nação. " Luciano Trigo, em G1
O ritmo do crescimento da população mundial 
"O crescimento - inicialmente lento e de repente vertiginoso - é mostrado de forma clara neste vídeo de cinco minutos feito pelo Museu Americano de História Natural. Na produção, intitulada “A população humana através do tempo”, é possível acompanhar o crescimento da humanidade desde o surgimento dos primeiros Homo sapiens na África (há 200 mil anos) e do início da migração pelo globo (há 100 mil anos).
A população permaneceu inferior a 1 milhão de pessoas até o advento da agricultura, ainda na pré-história. No primeiro ano d.C., a humanidade aproximava-se dos 170 milhões.
A partir de então, a concentração de 1 milhão de pessoas é representada no vídeo com um pontinho amarelo. Os sinais aparecem nessa época nas regiões centrais da Europa, no nordeste do que hoje é a Índia, na China, e em algumas partes da África e do Oriente Médio. 
A distribuição populacional permanece basicamente essa ao longo da ascensão e queda do Império Romano na Europa, da Dinastia Han na China, das rotas de seda no sudeste asiático e da Era de Ouro indiana." Beatriz Montesanti, Nexo (Expresso)

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