terça-feira, 23 de julho de 2019

Os Muros que crescem

Aumento do número de barreiras em todo o mundo analisado em livro
"O muro fronteiriço entre os Estados Unidos e o México é um dos exemplos que o jornalista Tim Marshall aborda no livro 'A Era dos Muros', que faz uma síntese sobre estas divisões territoriais que têm aumentado neste século.
Por oposição à "queda" do Muro de Berlim, em 1989, o autor destaca que o mundo vive "uma mentalidade de fortaleza" devido a vários factores como a migração provocada por guerras, alterações climáticas ou degradação económica, religião, perseguições étnicas ou controlos efectivo dos regimes totalitários.
Para o jornalista, há uma tendência para se "ouvir bastante" acerca do muro de Israel, do muro fronteiriço entre os Estados Unidos e o México e em alguns pontos da Europa como na Hungria mas "aquilo que as pessoas não se apercebem é que estão a ser construídos muros fronteiriços um pouco por toda a parte".
De acordo com o levantamento publicado no livro, pelo menos 65 países, mais de um terço dos Estados-nação do mundo, construíram barreiras ao longo das fronteiras sendo que metade das que foram erguidas desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) surgiram entre o ano 2000 e a actualidade.
No caso da República Popular da China, o autor destaca não apenas o controlo fronteiriço entre as províncias internas, as regiões administrativas especiais e os limites terrestres com os países vizinhos, mas também a grande barreira imposta pelo Estado ao uso da internet.
"Xi Jinping é o primeiro líder chinês a chegar ao poder completamente ciente do potencial da internet. Desde que assumiu o cargo em 2013, supervisionou pessoalmente todas as estratégias cibernéticas da China, internas e externas", refere o autor destacando também o papel de Lu Wei, que "subiu a pulso" dentro da agência de notícias Xinhua (Nova China).
"Foi Lu Wei que disse que o seu país tinha cibergovernança com características chinesas, fazendo ecoar a frase de Deng Xiao Ping: 'socialismo com características chinesas", escreve referindo-se ao actual vice-director do Departamento de Publicidade do Partido Comunista Chinês.
Na Europa, Tim Marshall analisa a questão das migrações e as novas divisões que surgiram na Hungria, país liderado pelo nacionalista conservador Viktor Orbán, destacando igualmente a questão relacionada com a fronteira de Suawalki, no enclave russo de Kaliningrado: uma faixa de terra com 102 quilómetros de largura em território polaco, que liga o enclave à Bielorrússia, Estado aliado de Moscovo.
Os militares russos têm permissão para transitar pela Lituânia, na parte que fica ao lado do corredor, a fim de abastecerem as bases e na eventualidade de hostilidades, Moscovo pode fechar facilmente o fosso, cortando assim completamente a ligação entre os Estados bálticos e o resto dos aliados da NATO.
"A situação é complicada pelo facto de a área de Suawalki pertencer à Lituânia e persistirem tensões entre a Polónia e a Lituânia. No entanto, é a ameaça vista na Rússia que explica o porquê de se estar a tornar uma das áreas fronteiriças mais perigosas e fortificadas da Europa", considera o autor do livro.
Por outro lado, refere a crise migratória é o principal motivo para a Europa ter actualmente quase a mesma extensão de barreiras físicas ao longo de fronteiras nacionais que tinha durante a Guerra Fria.
O longo capítulo sobre o Reino Unido analisa a questão do "Brexit" e da possibilidade paradoxal de uma nova fronteira terrestre entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda, abolida no tratado de paz.
Segundo o autor, aqueles que votaram no referendo de Junho de 2016 a favor da saída do Reino Unido da União Europeia são de todos os ramos profissionais, mas muitos, escreve Tim Marshall, provinham das regiões mais pobres de Inglaterra e do País de Gales, "antigas zonas da classe trabalhadora, reflectindo a divisão clássica entre os ricos e os pobres.
"O nosso pior pesadelo será um futuro em que nos refugiamos nos nossos vários enclaves", acrescenta Tim Marshall sobre o Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte.
O livro analisa a questão fronteiriça entre o México e os Estados Unidos recordando os aspectos históricos da fronteira realçando que, até à independência mexicana em 1821 , o Texas era território espanhol onde se calcula viviam na altura apenas cinco mil cidadãos norte-americanos.
No Médio Oriente são estudadas as divisões entre Israel e a Palestina além das fronteiras entre o Iraque e o Irão, a Arábia Saudita e o Irão; os limites fortificados no subcontinente indiano, referindo os aspectos que levaram à construção da sofisticada cerca que divide o Bangladesh e a Birmânia depois da crise do povo rhoyngia.
O Livro 'A Era dos Muros' de Tim Marshall (Edições Saída de Emergência, 287), inclui mapas e fotografias e foi editado este mês em Portugal." Lusa, em 22/07/19 11:51 
Sobre Tim Marshall 
Considerado uma autoridade em Relações Internacionais tem  mais de vinte e cinco anos de experiência jornalística. Foi editor de Diplomacia na Sky News, tendo trabalhado anteriormente na BBC.
Como jornalista, esteve presente em mais de quarenta países e cobriu os conflitos na Croácia, Bósnia, Macedónia, Kosovo, Afeganistão, Iraque, Líbano, Síria e Israel. Escreveu para o The Times, The Guardian, The Independent, Daily Telegraph e The Sunday Times, e o seu blogue Foreign Matters esteve na lista dos escolhidos para o Orwell Prize de 2010. É o fundador e editor de Assuntos Internos do sítio web TheWhatandtheWhy.com. 

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