domingo, 6 de abril de 2014

Ao Domingo Há Música

"Canto porque sou homem. 
Se não cantasse seria 
mesmo bicho sadio 
embriagado na alegria 
da tua vinha sem vinho."
Eugénio de Andradein "As Mãos e os Frutos" ,1948, Ed. Assírio&Alvim
O mês de Abril chegou. Um Abril nebuloso tal como o tempo que medeia entre a concretização do   sonho e o desvanecer da esperança.  Tempo que se perde nos quarenta anos que se celebram este ano. Quadragésimo aniversário de um Abril titubeante, porém radical na certeza de um Portugal diferente. utopia  alimentou a luta que fez emergir um novo tempo. E a Democracia instalou-se. Os anseios formularam-se, mas o desnorte de governações impreparadas instaurou uma crise que vitimiza e ensombra os portugueses. Contudo Abril, o Abril da aurora e do dealbar da Liberdade,  será sempre tempo de celebração. 
A Arte,  nas suas diversas manifestações, enriqueceu-se com a revolução desse Abril sonhado. 
A música, manifestação artística  maior e universal , registou momentos de grande combate e de imenso louvor. Hoje,  o destaque vai para as vozes de Fausto e Zeca Afonso em " Não canto porque sonho", do álbum "P'ro que der e vier", com letra de Eugénio de Andrade e música de António Pedro Braga e Fausto Bordalo Dias.
Não canto porque sonho.
Canto porque és real.
Canto o teu olhar maduro,
teu sorriso puro,
a tua graça animal.

Canto porque sou homem.
Se não cantasse seria
mesmo bicho sadio
embriagado na alegria
da tua vinha sem vinho.

Canto porque o amor apetece.
Porque o feno amadurece
nos teus braços deslumbrados.
Porque o meu corpo estremece
ao vê-los nus e suados.
Eugénio de Andrade , in "As Mãos e os Frutos" ,1948, Ed. Assírio&Alvim

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