Peregrinação
Corro o mundo à procura dum poema
Que perdi não sei quando, nem sei onde.
Chamo por ele, e a voz que me responde
Tem o timbre da minha, desbotado.
Às vezes no mar largo ou num deserto
Parece-me que sim, que o sinto perto
Da inspiração;
Mas sigo afoito em cada direção,
E é o vazio passado
Acrescentado...
Areia movediça ou solidão.
Que perdi não sei quando, nem sei onde.
Chamo por ele, e a voz que me responde
Tem o timbre da minha, desbotado.
Às vezes no mar largo ou num deserto
Parece-me que sim, que o sinto perto
Da inspiração;
Mas sigo afoito em cada direção,
E é o vazio passado
Acrescentado...
Areia movediça ou solidão.
Teimoso lutador, não desanimo.
Olho o monte mais alto e subo acima,
A ver se ao pé do céu sou mais feliz.
Mas aí nem sequer ouço o que digo;
O silêncio de Orfeu vem ter comigo
E nega os versos que afinal não fiz.
17 de Setembro de 1953
Miguel Torga, in Diário VII (199-1959) - Obra completa, Círculo de Leitores, 1995, p.653
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