Quem me dera encontrar palavras fortes
recheadas de coisas e de sons,
tesouros ocultos em caixa-forte,
agrestes com suas cores e tons,
palavras sexuadas e gulosas,
capazes de fremir e de dar fruto,
palavras destemidas e afrontosas,
visando o relativo e o absoluto,
palavras cheias de escuro e de luz,
recheadas de amor e tempestade,
com passada que namora e seduz,
palavras que ocultam mais de metade,
mas dizem que baste para assustar,
palavras bem sedentas de tumulto,
feitas somente para magoar,
cheiinhas, para o caso, de insulto,
palavras que assassinam o canalha,
mas sabem abençoar S. Francisco,
palavras afiadas como navalha,
que, do pescoço infame, fazem petisco,
palavras que são fogo e que queimam,
palavras que ameaçam e cumprem,
palavras que desfloram e que teimam,
palavras que os lordes da guerra estuprem,
palavras fortíssimas, necessárias,
duras, fortes, doces, imprescindíveis,
palavras clássicas, bem centenárias,
que tornem os nossos sonhos possíveis!
28.01.2024
Eugénio Lisboa, poema inédito
tesouros ocultos em caixa-forte,
agrestes com suas cores e tons,
palavras sexuadas e gulosas,
capazes de fremir e de dar fruto,
palavras destemidas e afrontosas,
visando o relativo e o absoluto,
palavras cheias de escuro e de luz,
recheadas de amor e tempestade,
com passada que namora e seduz,
palavras que ocultam mais de metade,
mas dizem que baste para assustar,
palavras bem sedentas de tumulto,
feitas somente para magoar,
cheiinhas, para o caso, de insulto,
palavras que assassinam o canalha,
mas sabem abençoar S. Francisco,
palavras afiadas como navalha,
que, do pescoço infame, fazem petisco,
palavras que são fogo e que queimam,
palavras que ameaçam e cumprem,
palavras que desfloram e que teimam,
palavras que os lordes da guerra estuprem,
palavras fortíssimas, necessárias,
duras, fortes, doces, imprescindíveis,
palavras clássicas, bem centenárias,
que tornem os nossos sonhos possíveis!
28.01.2024
Eugénio Lisboa, poema inédito
Perdi o meu amigo
Neste final de 2024, vou em busca das palavras e apenas encontro uma . Uma que define para mim, este trágico ano - Perda, a palavra mais dura entre as palavras . Afiada e traiçoeira , rouba-nos quem bem queremos , quando a vida é ainda uma tremenda necessidade. Perder um amigo. O maior e o melhor é uma irreprimível tristeza, um luto dorido que se arrasta , sem tempo e misericórdia, por alguém que foi grande , magnânimo. Dizê-lo , escrevê-lo ou pensá-lo é como pisar um chão que não existe, que soçobra sob nós e se afunda na mágoa por quem perdemos.
Neste ano trágico e ingrato, Eugénio Lisboa deixou-nos. Era o mais generoso dos amigos. Cuidava , com dedicada atenção, a amizade que, nele, era um sentimento maior, tal como o amor. Há quem diga que amizade é uma variante do amor, na sua vertente mais nobre.
Perder Eugénio Lisboa, em Abril, foi o maior atentado perpetrado por 2024.
Não venho e não quero falar do escritor, do poeta , do ensaísta, do professor, do intelectual, do tanto que ele foi ao aliar l' esprit de géometrie e l' esprit de finesse . Venho , hoje, e quero, sim, neste último dia deste escuro ano, falar do homem afável, atencioso, humilde , despretensioso, que sabia prendar o amigo, com uma inefável solicitude de constante lealdade .
Perdi o meu amigo . Não há perda maior.
Sem comentários:
Enviar um comentário