terça-feira, 12 de março de 2024

Considerações sobre o resultado das eleições

 
Considerações sobre o resultado das eleições
por Eugénio Lisboa
“O resultado destas eleições evidencia, sobretudo, uma dramática subida do CHEGA e, pior ainda, uma tendência a continuar a subir. A tão universalmente gabada queda da abstenção, infelizmente, quer dizer que os habituais abstencionistas que, desta vez, levantaram o rabinho do sofá, para irem votar, foi para irem votar no CHEGA. Havia, é claro desilusão e ressentimento, devido ao estado do país, mas isso, só por si, não explica tudo. A maioria das pessoas gosta de milagres e, milagres, foi o que Ventura, despudoradamente, lhes prometeu. As pessoas mais qualificadas da nossa sociedade, Professores universitários, juízes, médicos, altas patente do exército, por maior cultura profissional e geral que possuam, gostam de acreditar em milagres que, de repente, os tornem ricos e famosos. Viu-se isso, de forma calamitosa, com a “banqueira do povo”, D. Branca. Quando eu soube do que se estava a passar, fiz logo o diagnóstico, porque me lembrava de casos acontecidos, na minha vida empresarial, em que alguns gerentes de instalações da minha empresa foram despedidos por fazerem o que se chama “rolling the cash”. Era o que fazia a D. Branca e o que fez o americano Madoff. Mas os mais altamente qualificados cidadãos deste país precipitaram-se a depositar as suas poupanças nas mãos daquela “miracle worker” (fazedora de milagres). Muitos ficaram sem nada, quando a suspeita levou a uma corrida geral aos levantamentos. Fui altamente repreendido, ao não aderir àquela loucura, por pessoas que alegavam que senhores Professores universitários não tinham hesitado em pôr o seu dinheiro nas mãos da banqueira. Respondi-lhes sucintamente que, universitários ou não, esses senhores não sabiam fazer contas. André Ventura é a D. Branca da política portuguesa: oferece milagres a quem gosta de milagres e quem gosta de milagres é muita gente. O problema é que esses milagres não estão disponíveis.
Por outro lado, esta iliteracia política de muitos cidadãos deriva do baixíssimo grau de cultura e de educação cívica, com que hoje se sai das escolas e universidades. É assustador ver o que se passa nas redes sociais, que indicia um nível de boçalidade intelectual, que não é de bom augúrio para um futuro saudável do país.
Que, ao fim de oito anos de desgaste governamental do PS, com tudo quanto de negativo aconteceu, o PSD só tenha conseguido um número de deputados igual ao do PS, mostra a fragilidade do futuro governo e a relativa pouca fé dos eleitores no partido de Montenegro. Isto convocaria, a meu ver, uma atitude de adultos da parte tanto do PSD como do PS: esquecerem-se de lutas partidárias e entenderem-se naquelas áreas essenciais ao bem estar do país. Se o não fizerem o descrédito nesta democracia aumentará e o ovo da serpente dará mais filhos.
Eis, em resumo muito resumido, o que penso da situação em que estamos.”
Eugénio Lisboa, 12.03.2024

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