sábado, 16 de setembro de 2023

Parabéns, pai

 

Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas, às vezes,  a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa  toda.  Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos  mais urgentes que se tem na vida.
                     Clarice Lispector, "A descoberta do mundo"

Há datas que nos convocam.  A sua convocação é uma inevitabilidade. Residem na iminência do que já sucedeu. Convocam-nos porque moram em nós. Não são  apenas  datas. O conceito de data fica  vazio se não fizer apelo a uma qualquer circunstância. E apesar de se circunscrever a um tempo , carrega  de sentido esse apelo.
E, quando se é convocado pela celebração do nascimento de alguém que nos fez gente e nos amou para sempre, há uma urgência na resposta. É uma data maior porque maior é o seu sentido. Nele reside o gérmen da nossa essência. 
Foi há muito esse nascimento . Marcou para sempre o calendário de um percurso, de uma vida.  Num dia de Setembro, de um tempo ido, nasceu o meu pai. Um pai que é uma lembrança incessante. 
Viver com ele e por ele foi a experiência mais desafiante  da minha vida. Aprendi que a  paternidade acolhe , ensina , protege e promove a liberdade. Etapas que  me  foram construindo. Um tempo de aprendizagem, sob o olhar de um pai que nunca deixou de amar e de  celebrar a vida. Soube celebrá-la, enquanto viveu. 
Hoje, a saudade fortalece  a imperecível  e urgente vontade de lhe   gritar  que me faz falta .  
Parabéns, pai.                                                         

Sem comentários:

Enviar um comentário