sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Os poetas são os legisladores não reconhecidos do Mundo

 

Poetry turns all things to loveliness; it exalts the beauty of that which is most beautiful, and it adds beauty to that which is most deformed; it marries exultation and horror, grief and pleasure, eternity and change.
                                                              Percy Bysshe Shelley

 

"A Defense of Poetry" é um ensaio do poeta inglês Percy Bysshe Shelley , escrito em 1821 e publicado postumamente em 1840, em Essays, Letters from Abroad, Translations and Fragments por Edward Moxon, em Londres.
O ensaio , apesar de inacabado, constitui um dos mais significativos escritos teóricos do Romantismo inglês.
Percy Bysshe Shelley ( 1792 –1822 ) foi, entre os diversos poetas ingleses do seu tempo,  um dos que teve mais destaque. Casado com Mary Shelley (de 1816 a 1822), a imortal autora de Frankenstein, e amigo do lendário poeta Lord Byron, foi um poeta romântico, dramaturgo e ensaísta inglês. Em Queen Mab (1813), uma obra de juventude, o poeta expressa  ideias ideológicas e defende a liberdade de pensamento. Nos poemas que se seguiram, como Alastor (1816) e Ode to the West Wind (1818), e na tragédia The Cenci (1818), aborda as temáticas recorrentes da literatura da época: o amor, a identidade, a solidão, a inspiração, a transcendência, o incesto. Em 1820, publicou o drama lírico Prometheus Unbound, onde celebra a liberdade e o amor ideal. 
Em Gateway to the Great Books, Robert M. Hutchins e Mortimer J. Adler escreveram: Em A Defense of Poetry, [Shelley] tenta provar que os poetas são filósofos; que são os criadores e protectores das leis morais e civis; e que, se não fosse pelos poetas, os cientistas não poderiam ter desenvolvido nem as suas teorias nem as invenções.
"A poesia é de facto algo divino. É simultaneamente o centro e a circunferência do conhecimento; aquilo que abrange toda a ciência e aquilo a que toda ciência deve ser referida. É ao mesmo tempo a raiz e a flor de todos os outros sistemas de pensamento; é a origem e o adorno de tudo […] E a perfeita e completa aparência e viço de todas as coisas; é como o perfume e a cor da rosa para a textura dos elementos que a compõem […]," afirma Shelley , em A defesa da Poesia,(p. 194).
Sobre a obra
A obra declara o ‘valor essencial e a natureza ideal da poesia e é a mais importante obra em prosa do autor. Os argumentos são apresentados de modo vívido e de maneira convincente.  Shelley apresenta belíssimos discursos sobre o Amor, a Vida, a importância da Poesia na vida dos Homens, além de discorrer sobre Deus, a vida futura e a razão da existência da Humanidade. O ensaio foi escrito em resposta ao artigo de seu amigo Thomas Love Peacock “The Four Ages of Poetry “, que havia sido publicado em 1820. Para Peacock, Shelley escreveu: ‘Os seus anátemas contra a própria poesia  provocaram-me  uma raiva sagrada… Tive o maior desejo possível de lhe lançar uma lança … em homenagem à minha senhora Urania "(tradução livre).
Shelley procurou mostrar que os poetas fazem a moralidade e estabelecem as normas jurídicas numa sociedade civil, criando assim as bases para os demais ramos de uma comunidade. “os poetas… não são apenas os autores da linguagem e da música, da dança, da arquitetura, da estatuária e da pintura; eles são os instituidores das leis e os fundadores da sociedade civil…”
[…]" a poesia torna imortal tudo que há de melhor e mais belo no mundo […] A poesia tudo transforma em encanto; ela exalta a beleza daquilo que é mais belo e acrescenta beleza ao que existe de mais disforme; concilia a exultação e o horror, a dor e o prazer, a eternidade e a mudança; une, sob seu leve jugo, todas as coisas irreconciliáveis. […] ela  cria sempre para nós um ser dentro de nosso ser. Torna-nos habitantes de um mundo para o qual o mundo familiar é um caos. (p. 196)
O poeta, como é para outros o autor da mais elevada sabedoria, virtude e glória, também pessoalmente deve ser o mais feliz, o melhor, o mais sábio e mais ilustre dos homens. […] a sua constituição é mais delicada do que a de outros homens e vulnerável ao sofrimento e ao prazer, tanto próprios quanto aos dos outros, num grau desconhecido por eles […] (p. 196–198)
O mais constante arauto, companheiro e seguidor do despertar de um grande povo na promoção de uma transformação benéfica nas opiniões ou nas instituições é a Poesia. […] Os poetas são os legisladores não reconhecidos do Mundo." (p. 199)
Percy Bysshe Shelley, in Defesa da Poesia, Editora Iluminuras LTDA, 2002 (obra Defesas da Poesia, duas em uma: além do ensaio de Shelley contém o ensaio de Sidney, Defesa da Poesia). Tradução de Enid Abreu Dobránszky,pp.194, 196,197,198,199

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