domingo, 25 de setembro de 2022

Uma colheita na seara de Bertrand Russell

Bertrand Russell

Uma colheita na seara de Bertrand Russell
a bem da saúde mental
por Eugénio Lisboa
“Tem havido alguma reacção civilizada, mas visivelmente incomodada, às impertinências brincalhonas que publiquei, a propósito de uma entrevista dada por Gonçalo M. Tavares ao JL. Queria no entanto esclarecer que o facto de usar um tom brincalhão não significa que não estivesse a visar um objectivo muito sério.
A verdade é que grassa pelo nosso milieu cultural uma vaga de irracionalismo, que vê génio em tudo o que é obscuro e vagamente misterioso e oracular. Um exemplo desse “génio” que fabrica apocalipses portentosos, usando frequentemente um português trôpego e macarrónico, como quem bebe copos de água, é o escritor Gonçalo M. Tavares, louvado, galardoado, traduzido (à custa de generosos subsídios), canonizado por tudo quanto é poder literário. O aplauso frenético e altamente abrangente que lhe é dado indicia um elevado grau de iliteracia funcional, em grande parte atribuível ao nosso sistema educativo, que tem patrocinado os projectos e filosofias mais delirantes. Sim, é sempre uma educação deficiente que explica estas vagas de obscurantismo sebastianista. A este respeito, apetece-me abonar-me na mente sempre cristalina e destemida de Bertrand Russell: “Deparamos com o facto paradoxal de que a educação se tornou um dos principais obstáculos à inteligência e à liberdade de pensamento.”
Foi-me um dia argumentado que a minha falta de entusiasmo pela obra do oráculo GMT era uma de dissidência em um milhão de aclamadores. Como se isto fosse resposta com algum sustento filosófico. A certa altura da história da humanidade, quase toda a gente tinha a certeza de que a Terra era plana, que o Sol girava à volta da Terra e que os antípodas andavam de cabeça para baixo. E, no entanto, tudo isto era falso. Como observava Russell (sempre ele!), “o facto de que uma opinião tem sido largamente partilhada não evidencia de maneira nenhuma que não seja completamente absurda”.
Em suma, o meu objectivo é solicitar que olhem para estas coisas com um mínimo de apetite crítico e se não deixem arrastar por um entusiasmo que pode ser da ordem das coisas mórbidas.
Para vos pôr em boa onda, deixo-vos aqui algumas pérolas colhidas na farta e lúcida seara de Bertrand Russell:
 
Do not fear to be eccentric in opinion; every opinion now accepted was once eccentric.

Many people would sooner die than think; in fact they do so.
 
It has been said that man is a rational animal. All my life I have been searching for evidence that would support that.
 
One of the symptoms of an approaching nervous breakdown is the belief that one’s work is terribly importante.
 
Even when the experts all agree, they may well be mistaken.
 
E, já agora, em comentário suave ao carão sempre apocalipticamente fechado de GMT:
 
A smile happens in a flash but its memory can last a lifetime.”

Eugénio Lisboa, 25.09. 2022

Sem comentários:

Enviar um comentário