O Tempo e o Espírito
por Virginia Woolf
“O tempo, embora faça desabrochar e definhar animais e plantas com assombrosa pontualidade, não tem sobre a alma do homem efeitos tão simples. A alma do homem, aliás, age de forma igualmente estranha sobre o corpo do tempo. Uma hora, alojada no bizarro elemento do espírito humano, pode valer cinquenta ou cem vezes mais que a sua duração medida pelo relógio; em contrapartida, uma hora pode ser fielmente representada no mostrador do espírito por um segundo."
Virginia Woolf, in "Orlando", Relógio d’Água Editores
por Virginia Woolf
“O tempo, embora faça desabrochar e definhar animais e plantas com assombrosa pontualidade, não tem sobre a alma do homem efeitos tão simples. A alma do homem, aliás, age de forma igualmente estranha sobre o corpo do tempo. Uma hora, alojada no bizarro elemento do espírito humano, pode valer cinquenta ou cem vezes mais que a sua duração medida pelo relógio; em contrapartida, uma hora pode ser fielmente representada no mostrador do espírito por um segundo."
Virginia Woolf, in "Orlando", Relógio d’Água Editores
Tempo desdobrado
Há um respirar alheio ao tempo.
Na geometria dos triângulos,
tudo se abre, nada se fecha.
O contrário não exclui o seu contrário,
e por isso quem respira alheio ao tempo
não deixa de estar no tempo desdobrado.
As tílias espalham em redor o seu perfume
de consonâncias perfeitas,
como no Lindenbaum de Schubert.
Cheira a Verão na Avenida Central
e debaixo das tílias falamos
sobre o curso das estrelas,
cuja história é também a nossa,
desdobrada no tempo
no desdobramento do nosso tempo.
Frederico Lourenço, in "Santo Asinha e outros poemas", Editorial Caminho, Alfragide, 2010
falar com o relógio na mão
pela noite suspensa entre paredes emprestadas
falar com o relógio na mão
cortando o sonho aos pedacinhos comportáveis
falar com o relógio na mão
quando eram poucos os dias e as noites
falar com o relógio na mão
quando eram poucos os meses e os anos
falar com o relógio na mão
falar pensar olhar seguir amar
e amar e amar com o relógio na mão
eis o destino imediato
Mário Dionísio, in "Poesia Incompleta", Mem-Martins, Publicações Europa-América, 1966
Talvez o maior mistério seja o tempo
por Carlo Rovelli
As palavras que agora dizemoso tempo , na sua voracidade,já arrastou,e nada retorna.Horácio, Odes I,II
"Paro e não faço nada. Não acontece nada. Não penso em nada. Ouço o passar do tempo.
O tempo é isso. Familiar e íntimo. A sua voracidade carrega--nos. A sucessão de segundos , horas e anos lança--nos na vida, depois arrasta-nos para o nada...Vivemos nele como peixes na água. O nosso ser é ser no tempo. A sua cantiga alimenta-nos, descortina-nos o mundo, perturba-nos, assusta-nos, acalenta-nos. O universo desenvolve o seu devir levado pelo tempo, segundo a ordem do tempo.
A mitologia hindu representa o rio cósmico na imagem divina de Shiva que dança: a sua dança sustenta o curso do universo , é o fluxo do tempo. O que há de mais universal e evidente que esse curso?
Mas as coisas são mais complicadas. A realidade frequentemente não é o que parece: a Terra parece plana, mas é uma esfera; o Sol parece vagar no céu , mas somos nós que giramos. A estrutura do tempo também não é o que parece; é diferente desse curso uniforme universal. Descobri isso com espanto nos livros de Física, na universidade. O funcionamento do tempo é diferente do que parece.
Nesses mesmos livros, também descobri que ainda não sabemos como o tempo realmente funciona. A natureza do tempo talvez seja o maior mistério. Estranhos fios o ligam aos grandes mistérios não resolvidos: a natureza da mente, a origem do universo, o destino dos buracos negros, o funcionamento da vida. Algo essencial continua a levar-nos à natureza do tempo."
Carlo Rovelli, in A Ordem do Tempo, Objectiva Editora, Setembro de 2018, pp. 13, 14



O tempo é definitivamente um mistério
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