Conselho de um grande dramaturgo russo aos dramaturgos de todo o mundo
por Eugénio Lisboa
Se no primeiro acto colocar uma pistola na parede, no actoseguinte ela deve ser disparada. Caso contrário, não a coloque lá.
Anton Tcheckov
"Quando Putine começou com os exercícios militares de grande dimensão, às portas da Ucrânia, lembrei-me muitas vezes deste conselho dado pelo grande dramaturgo de A GAIVOTA e tantas outras peças admiráveis, que vi encenadas por todo esse mundo fora. Pedi aos deuses todos do Olimpo que Tcheckov tivesse razão nos palcos dos teatros, mas não no palco da vida. Lembrei-me também de Robert Openheimer, quando estava em Los Alamos, a dirigir a construção da bomba atómica, ter querido sossegar alguém, dizendo-lhe que uma arma tão destrutiva serviria só para dissuasão e nunca seria disparada. Esse alguém respondeu-lhe que, quando os militares dispunham de um brinquedo novo, nunca deixavam de o usar. Putine deu razão a Tcheckov, mostrando que seria má construção dramática exibir uma arma no primeiro acto e não a disparar no segundo. Devemos ler os clássicos com mais atenção. Mas deu também razão ao interlocutor do pai da bomba atómica, ao notar que os militares não gostavam de desperdiçar dinheiro numa arma de destruição, sem depois, a usarem. Preocupa-me que Putine tenha falado em armas nucleares. O acto que se segue pode ser um apocalipse."
Eugénio Lisboa, 08.03.2022
Reflexão em tempo de guerra
E se o homem tivesse aprendido,
Ao longo dos anos que passaram,
Que todo o esforço dispendido,
Em guerras e lutas que massacraram
Os campos, populações e riquezas,
E, com tudo isso, nada ganharam,
A não ser fome, pestilência e pobreza,
As quais, por todo o lado, devastaram
Os ganhos que antes tinham valido
Uma vida de paz e bem murada
- não seria bom tê-lo aprendido?
Será que uma vida ordenada
E calma é difícil de haver?
Estará além do nosso poder?
10.03.2022
Eugénio Lisboa, in Poemas em Tempo de Guerra, Editora Guerra & Paz, 2022,p 25
E se o homem tivesse aprendido,
Ao longo dos anos que passaram,
Que todo o esforço dispendido,
Em guerras e lutas que massacraram
Os campos, populações e riquezas,
E, com tudo isso, nada ganharam,
A não ser fome, pestilência e pobreza,
As quais, por todo o lado, devastaram
Os ganhos que antes tinham valido
Uma vida de paz e bem murada
- não seria bom tê-lo aprendido?
Será que uma vida ordenada
E calma é difícil de haver?
Estará além do nosso poder?
10.03.2022
Eugénio Lisboa, in Poemas em Tempo de Guerra, Editora Guerra & Paz, 2022,p 25

Sim é uma verdade o homem devia ter aprendido mas não esperemos que a guerra pare este escritor diz tudo muito bom de ler obrigada
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