quinta-feira, 31 de julho de 2025

Alguns pensamentos recomendáveis,


Arts Life

Alguns pensamentos recomendáveis, depois das ameaças de Putine sobre a eventual necessidade de premir o botão nuclear

Tenho ouvido todas as proclamações pretendendo que as bombas atómicas mais recentes não produzem chuva radioactiva. todas estas proclamações são mentiras deliberadas. Eu participei numa discussão radiofónica sobre este assunto e uma das autoridades de topo do governo dos estados unidos, na área nuclear, gabou-se de que tinha descoberto como fazer bombas “limpas” e que esta sua pesquisa tinha sido feita com fins humanitários.Perguntei: “então, presumo que informou os russos da sua descoberta”. respondeu-me, horrorizado: “Nem pensar, isso seria ilegal”. Deveria eu concluir que só as vidas russas deveriam ser poupadas e não as americanas?

Bertrand Russell, Dear Mr. Russell (1969)

 

Em 1997, se ainda existirmos, é de esperar que dois grupos rivais, de comissários russos e fuzileiros americanos viajem, a enorme custo, até à superfície de marte, mantendo-se vivos durante alguns dias, enquanto andarem à procura um do outro. Quando finalmente se encontrarem, exterminar-se-ão uns aos outros. Cada um dos lados ouvirá falar do extermínio do outro e proclamará um feriado nacional para celebrar a gloriosa vitória.

Bertrand Russell, Has man a future? (1961)

 

É desesperante observar como homens altamente colocados, que, em outros aspectos, não são desprovidos de inteligência, acreditem, tanto no leste como no oeste, que a paz deverá ser preservada se um dos lados se tornar mais forte do que o outro. Pode muito bem acontecer que a próxima guerra acabe com o lado mais forte ainda na posse de algumas bombas de hidrogénio, mas com nenhum dos lados na posse de um único ser vivo.


Bertrand Russell, Fact and Fiction (1961)

Selecção de Eugénio Lisboa, 11.03.2022

quarta-feira, 30 de julho de 2025

A Música e as Palavras

 

As palavras podem só o que podem
e sugerem, das nossas emoções,
uma leve sombra – e mal acodem
ao tumulto das nossas aflições. 

Porém, as palavras são o que temos
e só com elas ao nosso dispor
iremos fazer o que podemos:  
dar ao nosso mundo alguma cor.
                      08.05.2020
Eugénio Lisboa, Poemas em Tempo  de Guerra Suja

Plus rien ne m'étonne , por  Tiken Jah Fakoly e Le Grand Choral 2024 (850 choristes), nas Nuits de Champagne. 
Doumbia Moussa Fakoly, mais conhecido pelo nome artístico Tiken Jah Fakoly, é um cantor de reggae contemporâneo da Costa do Marfim, a residir, actualmente,  no Mali. Tem 57 anos. Tiken Jah Fakoly toca música "para despertar as consciências". A sua música fala sobre as muitas injustiças feitas ao povo do seu país e aos africanos em geral, pelo que faz apelo ao pan-africanismo e ao ressurgimento económico, político e cultural africano. 
Em 2009, Tiken Jah lançou uma campanha intitulada "Un concert une école", (Um Concerto, Uma Escola). Com a campanha e, em colaboração com instituições e associações, pode  financiar a construção de uma escola na aldeia de Touroni e de um colégio em Dianké, no Mali. Realizou concertos em Burkina Faso, Costa do Marfim e Guiné, acompanhados por uma vasta campanha de comunicação promovendo a educação. Tem participado em gravações com outros cantores para promoção de grandes causas humanitárias e pela Paz.
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Tiken Jah Fakoly , em  Arriver à rêver [Official Video]. Música e  video por Tiken Jah Fakoly. .Director : Paul Chabot. Production : Artibella.
 
[Refrain] Faudrait arriver, arriver A rêver, à rêver Arriver, oui arriver A imaginer le monde d’après Faudrait arriver, arriver À rêver, à rêver Arriver, oui arriver À enfin changer le monde pour de vrai Le soleil se lève partout pareil On nous promet mondes et merveilles Pas le temps de penser, pas le temps de rêver Juste le temps d’aller travailler Le monde est tel qu’on le laisse Livrer au vent et au sècheresse À peine le temps de respirer Que tout ne fait que s’empirer Refrain Nos enfants comptent bien sur nous Mais nous on pense surtout à nous La terre il n’y en a qu’une Ne promettons pas la lune Comment imaginer la suite En avançant prendre la fuite ? Comment rendre le monde respirable Comment rendre la vie supportable

Tiken Jah Fakoly,  em  Justice (Acoustic version) [Official Video.

 
(Refrain) Justice t'es pas faite pour nous seuls Et ces gens-là on a l'impression qu'ils sont au-dessus Et que nous on est toujours victimes Justice réveille-toi (ooh Justice) Justice t'es pas faite pour nous seuls Et ces gens-là on a l'impression qu'ils sont au-dessus Et que nous on est toujours victimes Refrain Quand on ouvre des enquêtes sur ces gens-là Très souvent ces enquêtes n'aboutissent même pas Quand ils sont en taule Les mêmes combines reviennent les sortir de là Mais my justice réveille-toi (Oooh) Justice réveille-toi ! L’actualité m’oblige à te parler Refrain

terça-feira, 29 de julho de 2025

Paris era uma festa!

 Paris- 3D Tour Virtual
Paris era uma festa
por Eugènio Lisboa
"Estarmos em Paris, cheios da energia da juventude (eu, com 32 anos, a Maria Antonieta, com 26), era uma festa! Tínhamos, literalmente, mais olhos do que barriga. O dinheiro era pouco, mas o apetite era muito. No admirável livro que Hemingway dedicou aos anos da sua juventude em Paris, logo a seguir ao fim da 1ª guerra mundial, a epígrafe (que o editor lhe colou?) é um excerto de uma carta que o grande escritor americano enviou a um amigo, em 1950, e diz assim: «If you are lucky enough to have lived in Paris as a young man, then wherever you go for the rest of your life, it stays with you, for Paris is a moveable feast.» Nessa primavera de 1963, eu e a Maria Antonieta estávamos no centro dessa “festa móvel”, que era Paris. Vivíamos com sofreguidão: tomávamos o pequeno almoço (nem sempre cedo), almoçávamos, algumas vezes, num pequeno restaurante para camionistas, próximo do hotel (aí conhecemos um estupendo “coq –au vin”) e partíamos, depois, à aventura. Eram livros, era cinema (2 e três filmes por dia, por vezes), eram museus e galerias, era o Sena, eram os boulevards, era a casa de Balzac, era a espantosa casa-museu, de Victor Hugo, na Place des Vosges, era a Rue Vaneau (a “tranquila Rue Vaneau”), onde morara o Gide, era a pura alegria de viver. Caramba, aquilo ia mesmo ficar dentro de nós, para o resto da vida. Eu já ali tinha estado, durante um mês, em 1953, como estudante, ainda com menos dinheiro. Fora uma descoberta! Mas, agora, era diferente: em vez de viajar com um colega do Instituto Superior Técnico, o Graça Baptista, tinha, por companheira, a Maria Antonieta.
Por coincidência, tinha acabado de publicar-se - e encontrava-se bem em evidência, por todo o lado – um romance de Henry de Montherlant, Le Chaos et la Nuit, que logo adquiri (pouco dinheiro, sim, mas devagar...) Ia ser um dos meus grandes encontros literários e vitais. E iria levar-me a escrever um longo ensaio – “Morrer de Velho” – que tenho como sendo talvez o mais importante de quantos escrevi: pelo menos, se tivesse que escolher só um que se salvasse para a posteridade, penso que optaria por esse.  Dizia La Rochefoucauld que os homens não conseguem encarar de frente nem o sol nem a morte. Nesse ensaio eu consegui encarar bem de frente todos os horrores que visitam o envelhecer e o morrer. Serviu-me de purga antecipada. Montherlant confessaria que, ao escrever esse romance, estava a exorcisar o pavor da velhice e da morte. Eu posso dizer que o fiz com ele, mas bem mais cedo do que ele.
Montherlant mergulhava-me, com a sua prosa de alto e impertinente estilo, nos horrores do envelhecer e do morrer e o Fernando Bettencourt ameaçava-me, de carão fechado, embora amigo, com o apocalipse moçambicano, para breve. Mas o apelo de Paris era mais forte. Eu tinha a Maria Antonieta, cuja pedalada era igual à minha, e deixara para trás, no Porto, a Geninha, e, em Lourenço Marques, os meus pais, a tia Maria, os meus sogros e os amigos. E os sítios, e o Índico! Falassem-me de morte e de apocalipses, naquele momento! Eu queria era festa e tinha-a, ali, ao meu alcance, fulgurando por todos os lados, e não ia perdê-la. «There is never any ending to Paris», concluía Hemingway, no seu livro, acabado em vésperas de se matar, «and the memory of each person who has lived in it differs from that of any other.» Na memória dele, Paris já não vive, mas vive ainda na minha e na da Maria Antonieta, que lá voltámos, depois, inúmeras vezes, sempre com vontade de renovar o prazer experimentado, nesse ano em que o caos e a noite se revelaram impotentes para me abaterem, embora se tenham instalado dentro de mim, com força revulsiva. Nos anos seguintes, ainda a viver em Moçambique, sempre que vínhamos à Europa, começávamos por Paris (excepto uma, em que começámos por Londres); depois, vinham outras cidades da Bélgica, da Itália, da Inglaterra, da Espanha, da Holanda, e, por fim, Lisboa. Mas a festa começava em Paris. Mesmo chegados à meia-noite, corríamos ao Bistrot da Brigitte Bardot, ao Arco do Triunfo, e pedíamos o primeiro Bourbon: era o néctar de arranque. No dia seguinte, pela manhã, começava a deambulação. Paris é inesgotável e as galerias de arte da Rue de Seine dão pano para mangas, sem falar na tentação dos “bouquinistes”, de anatoliana memória.
Falei atrás de cinema e na voracidade com que víamos todos os filmes que nos apareciam pela frente (franceses, ingleses, americanos, italianos, espanhóis, polacos), sobretudo, aqueles cuja exibição em território português era duvidosa. O cinema era um gosto (um vício!), que nos ficara – a mim e à Maria Antonieta – da infância e adolescência. Mas era, também, no seu melhor, uma grande arte. Mal recebida, de início, pela intelectualidade mais sofisticada. O romancista Georges Duhamel, autor da celebradíssima  Confession de Minuit e da não menos famosa e longuíssima série romanesca dos Pasquier, considerava o cinema «un divertissement d’ilots, un passe-temps d’illétrés.» E Edmond Sée, no Mouvement Dramatique, dizia esta barbaridade, que, na altura era um cliché: «Le plaisir, l’agrément avant tout  visuels du spectacle dans une salle de cinema n’ont qu’un bien lointain rapport avec le plaisir intellectuel du spectateur dans une salle de théatre.» E, já agora, o eminentíssimo crítico literário, Paul Souday, resumia o assunto neste emblema imortal: «O cinema é inferior ao café-concerto.» Exemplos clássicos de reacção à mudança. A verdade é que nem o cinema matou o teatro nem o teatro impediu que o cinema se desenvolvesse. Se o teatro filmado não tem a força vital, de presença física, do teatro no palco, a verdade é que, em contrapartida, se podem fazer, no cinema, proezas que a melhor tecnologia teatral não é capz de acomodar. A Odisseia no Espaço ou Os Sete Samurais não são viáveis num palco te teatro.
Paris era uma festa intelectual, mas não era menos uma festa gastronómica. Mesmo nos “petits coins”, nos restaurantes despretensiosos, a comida era saborosa. Nesta altura (começo dos anos sessenta), comia-se tão bem em Paris como mal em Londres.
Comia-se bem e comia-se demais. Dizia Montesquieu que o almoço mata metade de Paris e o jantar mata a outra metade. Não sei se é verdade e até desconfio que não é: come-se bem mas come-se devagar e com tempo e isso faz mais por um coração saudável do que o comer mal e à pressa dos ingleses e americanos. Em Paris, come-se pachorrentamente, fala-se daquilo que se come e, de caminho, diz-se mal do governo, o que sempre ajuda. E, sobretudo, almoçar, em Paris, significa mesmo almoçar e não beber um obsceno “pint” de cerveja e desandar: isto, sim, mata!
Ver o Louvre, ver o Museu Rodin, ver a Orangerie, passear nas Tulherias, debicar nas galerias, passear no Sena, descansar numa esplanada enquanto se dava uma olhadela aos últimos “bouquins” desocultados de algum tabuleiro encostado ao rio, que, imperturbavelmente fluía – era parte da festa e fazia bem ao coração, que se não fatigava, porque participava!" 
Eugénio Lisboa, in Viagem à Europa de Acta Est Fabula , Memórias III - Lourenço Marques Revisited (1955-1976), Editora Opera Omnia,Outubro de 2013, pp.209-212

A propósito do Arco do Triunfo, Paris






Inauguração do Arco do Triunfo – Paris
29 de Julho 1836
"O Arco do Triunfo (francês: Arc de Triomphe) é um monumento, localizado na cidade de Paris, construído "em comemoração das vitórias militares do Napoleão Bonaparte, que ordenou a sua construção em 1806. Inaugurado em 1836, a monumental obra detém, gravados, os nomes de 128 batalhas e de 558 generais. Na sua base, situa-se o Túmulo do soldado desconhecido (1920). O arco localiza-se na praça Charles de Gaulle, no encontro das avenidas Charles de Gaulle e Champs-Élysées. Nas extremidades das avenidas encontram-se a Praça da Concórdia e na outra La Defense.
Iniciado em 1806, após a vitória napoleónica em Austerlitz, o Arc de Triomphe representa, em verdade, o enaltecimento das glórias e conquistas do Primeiro Império Francês, sob a liderança de Napoleão Bonaparte – seja este oficial das forças armadas, esteja ele dotado da eminente insígnia imperial. A obra, no entanto, foi somente finalizada em 29 de Julho de 1836, dada a interrupção propiciada pela derrocada do império (1815). Com 50 metros de altura, o monumental arco tornou-se, desde então, ponto de partida ou passagem das principais paradas militares, manifestações e, claro, visitas turísticas.
Diversos elementos arquitectónicos são dignos de detida e fiel observação. Trinta medalhões, localizados sob a bela cornija, fazem, cada qual, referência a importantes batalhas travadas pelo exército francês, dentre as quais Aboukir, Ulm, Austerlitz, Jena, Friedland e Moscou. O friso, por sua vez, retrata a partida (fachada leste) e o retorno (fachada oeste) das tropas imperiais, visto que estas confrontaram-se em diversas regiões do continente europeu.
Na fachada leste, os baixo-relevos aludem à batalha de Aboukir e à morte do general Marceau. À esquerda, situa-se o Triunfo de Napoleão. Este belo alto-relevo, de Cortot, representa a paz e a conquista napoleónica, alcançados pela celebração do Tratado de Viena (1810). Na alegoria, o imperador francês é coroado pela Vitória e reverenciado pela extinta Monarquia. À direita, situa-se a Partida dos Voluntários de 1792 (obra de François Rude), aptos a defender a recém-instaurada e revolucionária República. A liberdade, aqui, é representada pela guerreira e valente mulher, a comandar e a incitar o povo francês. Na fachada oeste, os alto-relevos impressionam pela intensa carga emotiva. Verifica-se a submissão do povo ao Estado e a crença, pelos populares, na vitória das forças armadas.
No interior dos arcos menores, encimados por interessantes alegorias à marinha, à infantaria e a outras guarnições, constam gravados inúmeros nomes de importantes oficiais franceses, assim como diversas localidades nas quais se travaram decisivas batalhas no âmbito do expansionismo francês.
Projectado por Jean Chalgrin, o Arco do Triunfo é, ainda e desde sempre, símbolo do patriotismo e orgulho francês." (Publicado pelo site Cais da Memória)

segunda-feira, 28 de julho de 2025

O artista brinca sempre

O artista brinca sempre
por Irene Lisboa
«Gostava sim - porque não havia de gostar? era um luxo, um prazer do espírito - de fazer novelas. De tratar figuras e cenários, de falar pelos outros, escrupulosamente; de seguir pistas sentimentais.
Mas não tenho de as fazer!
A qualidade de desenvoltura artística não preenche os espaços, todos os espaços, de uma composição literária.
Histórias, saber contar histórias (mesmo nestas horas chatas e banais, vazias, do tempo individual) deve ser agradável. E ver depois que se contaram bem, muitíssimo agradável!
M. contou histórias novas. Sem bizararia. O seu mérito foi esse. Achou histórias para contar, e deu-lhes alma. Caiu aqui, levantou-se ali... mas carregou-as, insuflou-as de ardência, de espectáculo e de modéstica, de personalismo afectivo.
I. achou (foi lúcida) que era uma portuguesa. E que os portugueses são todos assim, mas porquê? desenganados, quase cépticos, deplorativos.
Sim, há excessivo subjectivismo, excesso de intromissão pessoal na narrativa dos portugueses. Põem-se demasiado ao espelho nas suas obras. Hábito? Moda fatalmente transmitida? Comodidade? Restrição de estilo?
Mas M. contou, soube contar coisas de grande afinidade, todas sujeitas a um nexo. Coisas de um lado, de uma janela da sua visão. E bateu-as, encheu-as dos seus sentimentos.
A vida, vista, presenciada, é plana, insinuosa, sem vulto. M. deu-lhe vulto; pela anedota? Sim, mas também pelo seu comentário e o fervor com que apresenta a anedota.
M. mostrou-nos a sociedade que conhece, mas com que não lida, com que se não comprometeu. Porque M. tem no seu livro muitos dos seus sentimentos e ressentimentos, mas não as suas atitudes, o seu espírito mundano, convivente, nem o seu 'savoir-faire'.
Esta é a grande dificuldade ou cautela do artista: dar-se, comprometendo-se. Deseja e foge a comprometer-se. O artista brinca sempre. Consciente e inconsciente. Defende-se dos outros, seus próximos. Dos outros e do seu próprio constrangedor, pesante, imediato ambiente.»
Irene Lisboa, in “ Solidão II”, Editorial Presença. 1999, pp. 92-93

domingo, 27 de julho de 2025

Ao Domingo Há Música


A missão de San Ignácio Miní, na província de Misiones , Argentina , fundada
 originalmente em Novembro de 1610 pelos jesuítas José Cataldino e Simón Maceta
 e refundada em 1632  pelos Jesuítas. É Património Mundial da UNESCO, desde 1984.


Mapa do Parque Nacional de Iguaçu

Cataratas do Iguaçu ,cerca de 275 quedas de água no rio Iguaçu (na Bacia hidrográfica do rio Paraná),que constituem os Parques Nacionais   do Iguaçu. O território do parque faz parte da Ecorregião Florestas do Alto Paraná, que envolve desde as encostas a oeste da Serra do Mar, no Brasil, até o leste do Paraguai e a província de Missiones, na Argentina, com uma área de mais de 471 mil km². A área total dos parques nacionais é considerada Património Natural da Humanidade.



Estar lá

na espessura do mundo
as mãos abertas
o coração em vigília

Estar lá
sem outro desejo
que uma nascente
sem outro desígnio
que o amor.
jean-luc pouliquen, apeadeiro

Os grande filmes  trazem para a tela não só uma história,  mas uma banda sonora que lhe dá consistência e fundo para a verossimilhança com a realidade pretendida.
Estar lá,  dentro da história, da magia  que se cria e se partilha, é o maior segredo do sucesso do filme. 
A Missão , filme britânico de 1986, dirigido por Roland Joffé, com argumento de Robert Bolt e banda sonora de Ennio Morricone, é um dos mais belos exemplos dessa simbiose vencedora.

On Earth As It Is In Heaven, composição de Ennio Morricone, para o filme "A Missão" que recebeu o Academy Award-winning 1986, entre muitos outros grandes prémios. 
A interpretação é da Danish National Symphony Orchestra, sob a direcção do Maestro Christian Schumann  e do Danish National Concert Choir,sob a direcção do Maestro Poul Emborg.
Ave Maria Guaraní , composição de Ennio Morricone, para o filme "A Missão". 
A interpretação é da Danish National Symphony Orchestra e do Danish National Concert Choir , acompanhados por Clara Cecilie Thomsen. A direcção é do Maestro Christian Schumann.
 

sábado, 26 de julho de 2025

Mestres-do-Chá


Mestres-do-Chá
por kakuzo okakura
“Na religião, o Futuro está atrás de nós. Na arte, o Presente é o eterno, O mestre-do-chá defendia só ser possível a verdadeira apreciação artística aos que a encaram como uma influência viva. Assim, procuraram regular o quotidiano das suas vidas pelo elevado padrão de requinte que prevalecia na sala-de-chá. Fosse qual fosse a circunstância, havia que manter a serenidade de espírito, e a conversa deveria conduzir-se de modo a nunca perturbar a harmonia da ambiência. O corte e a cor do traje, a pose do corpo e a maneira de caminhar podiam ser transformados em expressão da personalidade artística. Estes preceitos não deviam ignorar-se com ligeireza, pois até se tornar a si próprio belo ninguém tem direito a aproximar-se da beleza. Assim, o mestre-do-chá esforçava-se por ser algo mais que o artista — a própria arte. Era o Zen do esteticismo. A perfeição está em todo o lado, basta decidirmos reconhecê-la. Rikiu adorava citar um velho poema que diz: «Aos que anseiam apenas pelas flores, eu mostraria com agrado a primavera desabrochada que subsiste nos botões obstinados dos montes cobertos de neve.»
Foram de facto diversas as contribuições dos mestres-do-chá para a arte. Revolucionaram completamente a arquitectura clássica e as decorações interiores, e estabeleceram o novo estilo que descrevemos no capítulo sobre a sala-de-chá, um estilo a cuja influência se sujeitaram inclusivamente os palácios e mosteiros erigidos depois do século dezasseis. O versátil Kobori Enshiu deixou exemplos notáveis do seu génio na vila imperial de Katsura, nos castelos de Nagoya e Nijo, e no mosteiro de Kohoan. Todos os jardins célebres do Japão foram planeados pelos mestres-do-chá. É provável que a nossa cerâmica jamais atingisse aquela altíssima qualidade de excelência se os mestres-do-chá não lhe houvessem emprestado a sua inspiração, uma vez que a manufactura dos utensílios utilizados na cerimónia-do-chá exige o maior dispêndio de engenho por parte dos nossos ceramistas. Os Sete Fornos de Enshiu são sobejamente conhecidos de todos os estudiosos da cerâmica japonesa. Muitos dos nossos tecidos trazem os nomes dos mestres-do-chá que lhes conceberam as cores ou o padrão. Em verdade, é impossível encontrar algum sector da arte em que os mestres-do-chá não tenham deixado marcas do seu génio. Na pintura, e nas lacas, parece quase supérfluo mencionar o imenso serviço que prestaram. Uma das maiores escolas de pintura deve a sua origem ao mestre-do-chá Honnami-Koyetsu, afamado também como artista lacador e ceramista. Perto da sua obra, a criação esplêndida do seu neto, Koho, e dos seus sobrinhos-netos, Korin e Kenzan, quase cai na penumbra. Toda a escola Korin, como geralmente é designada, é expressão do Cháismo. Nos traços largos desta escola parecemos encontrar a vitalidade da própria natureza.
Por maior que tenha sido a influência dos mestres-do-chá no campo da arte, ela não é nada quando comparada com a que eles exerceram na conduta da vida. Sentimos a presença dos mestres-do-chá não apenas nos usos da sociedade polida, mas também no arranjo de todos os nossos detalhes domésticos. Muitos dos nossos pratos delicados, bem como a maneira de servirmos os alimentos, são invenções suas. Ensinaram-nos a vestir somente trajes de cores sóbrias. Instruíram-nos no espírito próprio para nos aproximarmos das flores. Acentuaram o nosso amor natural pela simplicidade, e mostraram-nos a beleza da humildade. Na verdade, através dos seus ensinamentos o chá entrou na vida do povo.
Os que, entre nós, desconhecem o segredo de regular adequadamente a sua existência neste mar tumultuoso de problemas tolos a que chamamos vida, estão num estado de tristeza constante, embora tentem em vão parecer felizes e contentados. Vacilamos ao tentar manter o nosso equilíbrio moral, e vemos prenúncios da tempestade em cada nuvem que paira no horizonte. Contudo, há alegria e beleza na espiral das vagas que se encapelam rumo à eternidade. Por que não entrar no seu espírito, ou, como Liehtse, cavalgar o próprio furacão?
Quem apenas viveu com o belo pode morrer em beleza. Os últimos momentos dos grandes mestres-do-chá foram de um requinte sofisticado tão completo quanto o haviam sido as suas vidas. Procurando constantemente harmonizar-se com o grande ritmo do universo, estavam sempre preparados para entrar no desconhecido. O «Ultimo Chá de Ríkiu» evidenciar-se-á para sempre como o auge da grandiosidade trágica.
A amizade entre Ríkiu e o Taiko Hideyoshi vinha de há muito, e era elevada a estima em que o grande guerreiro tinha o mestre-do-chá. Mas a amizade de um déspota é sempre uma honra perigosa. Vivia-se uma época fértil em traições, e os homens não confiavam sequer nos seus parentes mais próximos. Rikiu não era um cortesão servil, e ousara amiúde discordar do seu feroz patrono. Tirando partido da frieza que existia há algum tempo entre o Taiko e Rikiu, os inimigos deste último acusaram-no de estar implicado numa conspiração para envenenar o déspota. Foi segredado a Hideyoshi que a poção fatal lhe seria administrada com uma chávena da beberagem verde, preparada pelo mestre-do-chá. Para Hideyoshi a suspeição era terreno suficiente para execução imediata, e não houve apelo que demovesse a vontade do irado governante. Um só privilégio foi concedido ao condenado — a honra de morrer pela sua própria mão.
No dia destinado à autoimolação, Rikiu convidou os seus principais discípulos para uma última cerimónia-do-chá. Enlutados, na hora estipulada os convidados encontraram-se no alpendre. Quando olham para o caminho do jardim as árvores parecem estremecer, e no restolhar das folhas escutam-se murmúrios de fantasmas desabrigados. Como sentinelas solenes perante os portões do Hades estão as lanternas de pedra cinzenta. Uma onda de incenso raro solta-se da sala-de-chá; é o chamamento que ordena aos convidados que entrem. Um a um avançam e tomam os seus lugares. No Tokonoma está pendurado um kakemono um escrito maravilhoso de um monge antigo, discorrendo sobre a evanescência de todas as coisas terrenas. A chaleira cantante, à medida que ferve sobre o braseiro, soa como uma cigarra derramando os seus lamentos ao Verão em declínio. Pouco depois o anfitrião entra na sala. Um a um são servidos de chá, e um a um esvaziam silenciosamente as suas chávenas, sendo o anfitrião o último a fazê-lo. De acordo com a etiqueta estabelecida, o convidado principal pede agora permissão para examinar o equipamento-do-chá. Rikiu dispõe frente a eles os diversos artigos, com o kakemono. Tendo todos expressado admiração pela sua beleza, Rikiu presenteia com um destes artigos cada um dos convivas reunidos, como lembrança. Só a malga reserva para si mesmo. «Jamais esta chávena, poluída pelos lábios da desgraça, será usada pelos homens.» Fala, e quebra o recipiente em bocados.
A cerimónia termina; os convidados, dificilmente retendo as lágrimas, despedem-se pela última vez e deixam a sala. A um apenas, o mais próximo e mais querido, é solicitado que fique e testemunhe o fim. Então, Rikiu remove o seu fato-do-chá e dobra-o cuidadosamente sobre a esteira, desvendando assim o imaculado vestido branco de morte que até aqui se ocultara. Com ternura fita a lámina reluzente do punhal fatal, e dirige-se-lhe assim, em versos singulares:

Bemvinda sejas,
Ó espada da eternidade!
Através de Buda
E também de Daruma
Cravaste o teu caminho!

Com um sorriso no rosto, Rikiu entrou no desconhecido.
kakuzo okakura, in o livro do chá, Biblioteca Editores Independentes , 2007

quinta-feira, 24 de julho de 2025

Uma forma de me despedir


Uma forma de me despedir

Há o mar há a mulher
quer um quer o outro me chegam em acessíveis baías
abertas talvez no adro amplo das tardes dos domingos
Oiço chamar mas não de uma forma qualquer
chamar mas de uma certa maneira
talvez um apelo ou uma presença ou um sofrimento
Ora eu que no fundo
apesar das muitas palavras vindas nas muitas páginas dos dicionários
bem vistas as coisas disponho somente de duas palavras
desde a primeira manhã do mundo
para nomear só duas coisas
apenas preciso de as atribuir
Não sei se gosto mais do mar
se gosto mais da mulher
Sei que gosto do mar sei que gosto da mulher
e quando digo o mar a mulher
não digo mar ou mulher só por dizer
Ao dizer o mar a mulher
há penso eu um certo tom na minha voz sinto um certo travo na boca
que mostram que mais que palavras usadas para falar
dizer como eu digo a mulher o mar
mar mulher assim ditos
são uma maneira talvez de gostar
e a consciência de que se gosta
e um prazer em o dizer
um gosto afinal em gostar
Enfim o mar a mulher
pode num dos casos ser a/mar a mulher
mera forma talvez de uniformizar o artigo
definido do singular
Há ondas no mar
o mar rebenta em ondas espraiadas nos compridos cabelos da mulher
que ela faz ondular melhor de tarde em tarde
no mês de setembro nas marés vivas
O melhor da mulher talvez o olhar
é para mim o mar da mulher
e à mulher que um só dia encontro na vida
de passagem um simples momento num sítio qualquer
talvez a muitos quilómetros do mar
mas mulher que não mais consigo esquecer
mesmo imerso na dor ou submerso em cuidados
a essa mulher qualquer
eu chamo mulher do mar
Nos fins de setembro quando eu partir
de uma cidade seja ela qual for
quando eu pressentir que alguém morre
que alguma coisa fica para sempre nos dias
e ou nuns olhos ou numa água
num pouco de água ou em muita água
onda do mar lágrima ou brilho do olhar
eu recear seriamente vir-me a submergir
direi alto ou baixo conforme puder
com a boca toda ou já a custar-me a engolir
as palavras mar ou mulher
com certo vagar e cada vez mais devagar
mulher mar
depois quase já só a pensar
o mar a mulher
Não sei mas será
talvez mais que outra coisa qualquer
uma forma de me despedir
Ruy Belo,  «Toda a Terra» in Antologia Poética, Lisboa, Círculo de Leitores, 1999

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Portugal visto e contado por "nós" e pelos outros

«Amo-te, Portugal porque, não sei como e contra todas as provas e possibilidades, acho que és o melhor país do mundo.(...)
Eu poderia perder anos a fazer um cuidadoso retrato de ti. Por muito verosímil que fosse, davas uma olhadela e dizias com desdém, a fazer-te caro ao mesmo tempo: "Isso não sou eu. Isso é outro país qualquer que inventaste..."
É a tua maneira, Portugal amado, de garantir que continuaremos a tentar retratar-te. Tanto te faz que o retrato seja feio ou bonito, desde que seja de ti.
Quanto mais variados forem, mais gostas. Até tu, nas tuas paisagens, varias e hesitas tanto e recusas-te a decidir, como quem não tem pressa e, no fundo, não escolhe nem decide, porque quer tudo.»
Miguel Esteves Cardoso,em Crónica publicada no Jornal Público, em 10/06/2011
 
Portugal: The Most Ambitious Country on Earth | 4K Travel Documentary,(O país mais ambicioso do planeta | Documentário de viagem em 4K) pelos World Tour
"A maioria das pessoas só vai às praias ou às cidades quando visita Portugal... mas perde a verdadeira história. Este documentário investiga os lugares, a história e as proezas insanas da engenharia que 99% dos turistas nunca veem — desde vilas construídas em rochas até pontes maiores do que Manhattan. Se pensa que conhece Portugal, pense novamente."

terça-feira, 22 de julho de 2025

Reflexão em tempo de guerra


Conselho de um grande dramaturgo russo aos dramaturgos de todo o mundo
por Eugénio Lisboa

Se no primeiro acto colocar uma pistola na parede, no acto
seguinte ela deve ser disparada. Caso contrário, não a coloque lá.
Anton Tcheckov

"Quando Putine começou com os exercícios militares de grande dimensão, às portas da Ucrânia, lembrei-me muitas vezes deste conselho dado pelo grande dramaturgo de A GAIVOTA e tantas outras peças admiráveis, que vi encenadas por todo esse mundo fora. Pedi aos deuses todos do Olimpo que Tcheckov tivesse razão nos palcos dos teatros, mas não no palco da vida. Lembrei-me também de Robert Openheimer, quando estava em Los Alamos, a dirigir a construção da bomba atómica, ter querido sossegar alguém, dizendo-lhe que uma arma tão destrutiva serviria só para dissuasão e nunca seria disparada. Esse alguém respondeu-lhe que, quando os militares dispunham de um brinquedo novo, nunca deixavam de o usar. Putine deu razão a Tcheckov, mostrando que seria má construção dramática exibir uma arma no primeiro acto e não a disparar no segundo. Devemos ler os clássicos com mais atenção. Mas deu também razão ao interlocutor do pai da bomba atómica, ao notar que os militares não gostavam de desperdiçar dinheiro numa arma de destruição, sem depois, a usarem. Preocupa-me que Putine tenha falado em armas nucleares. O acto que se segue pode ser um apocalipse."
Eugénio Lisboa,  08.03.2022

Reflexão em tempo de guerra

E se o homem tivesse aprendido,
Ao longo dos anos que passaram,
Que todo o esforço dispendido,
Em guerras e lutas que massacraram

Os campos, populações e riquezas,
E, com tudo isso, nada ganharam,
A não ser fome, pestilência e pobreza,
As quais, por todo o lado, devastaram

Os ganhos que antes tinham valido
Uma vida de paz e bem murada
- não seria bom tê-lo aprendido?

Será que uma vida ordenada
E calma é difícil de haver?
Estará além do nosso poder?
                 10.03.2022
Eugénio Lisboa, in Poemas em Tempo de Guerra, Editora Guerra & Paz, 2022,p 25

segunda-feira, 21 de julho de 2025

Relatório sobre os Homens

Relatório sobre os Homens
por Giovanni Papini
”O sonho é a explosão dos súbditos na ausência do rei. Se o homem fosse um ser único, não sonharia. Mas cada um de nós é uma tribo em que somente um chefe tem os privilégios da vida iluminada. O chefe é a pessoa reconhecida pelos semelhantes, o «mim» legal da sociedade e da razão, obrigado a uma concordância fixa consigo mesmo. Só ele tem relações expressas com o mundo exterior e o único a reinar nas horas de vigília. Mas abaixo dele há um pequeno povo de cadetes expulsos, de insurrectos punidos, de hóspedes indesejáveis - exilados da zona da consciência, mas donos do subconsciente, encerrados no subterrãneo, mas prontos para a evasão, vencidos mas não mortos. Há a criança que foi renegada pelo jovem, o delinquente imobilizado pela moral e a lei, o louco que todos os dias estende armadilhas à razão raciocinadora, o poeta que a prática condenou ao silêncio, o bobo dominado pelas amarguras, o antepassado bárbaro que ainda se recorda do machado de pedra e dos festins de Tiestes.
O eu quotidiano e vulgar, o respeitável, o vigilante, o vitorioso, dominou essa tribo de larvas inimigas, de irmãos renegados e moribundos. E como a alma tem o seu subsolo, escuridão palúdica encimada pela varanda iluminada da consciência, mantém encerrados lá em baixo os intempestivos e preocupantes rivais. Às vezes, conseguem emergir, no meio-dia do eu dominante, mas por breves momentos - em particular, quando o homem está só consigo mesmo, sem testemunhas, e faz e diz coisas estranhas que evitaria diante dos companheiros. Em certas ocasiões, um deles consegue derrubar para sempre o chefe legítimo, e o homem, em virtude dessa revolução triunfante, torna-se assassino, louco ou génio - por vezes santo." Giovanni Papini , in Relatório Sobre os Homens, Livros do Brasil, Abril de 1986

domingo, 20 de julho de 2025

Ao Domingo Há Música

Ousei dizer as palavras,
Certas palavras.
Ousei exalar o halo
De certas palavras.
Soltavam-se como veús,
Entre beijos e abraços.
Alberto de Lacerda, in Oferenda

Quando a sonoridade de uma voz nos toca é impossível resistir-lhe. Eis por que,   neste domingo de um Julho  ainda renitentemente belicoso, decidimos  apresentar esta voz  .  
Let Babylon Burn,em So Hollow –( Live Acoustic). Uma canção onde os sons do reggae teimam em  emergir.
O cantor confessa tratar-se de uma balada acústica intimista e emocionante sobre a perda, o amor e a dor profunda da despedida. Apenas a sua voz, uma guitarra e o peso da despedida. Esta performance acústica capta a vulnerabilidade crua de um coração partido — sem truques de produção, apenas a verdade. Guitarra de nylon, cordas suaves de fundo e uma alma exposta.
Let Babylon Burn, em No Love song, a Indie Reggae Duet .
 

sábado, 19 de julho de 2025

Postal


Postal 
Num céu  verde,  mais uma ave,
pairando, livre, leve e pura.
Junto ao sol, intrépida nave, 
avança lisa  - e segura.
                 Londres, 05.04.1984
Eugénio Lisboa, in A matéria Intensa, Editora Peregrinação, Baden/Suiça,  Abril de 1985

sexta-feira, 18 de julho de 2025

Le belle canzoni italiane di sempre

Verona, Itália

Itália não é apenas um país belo, repleto de ofertas paisagísticas e arquitectónicas, mas um país rico, com um marcante passado civilizacional e cultural . Viajar por Itália é um constante e magnífico  confronto com esse passado.  Num tempo mais moderno, a Música ligeira italiana teve uma época de ouro tal como  a francesa.
Hoje vamos visitar algumas canções que encantaram nos anos sessenta e setenta do século passado.
 Gigliola Cinquetti , em Non ho l'età (ESC 1964 Italy)  
Gigliola Cinquetti, em Dio, Come Ti Amo (1966) . 
Bobby Solo , em Se Piangi Se Ridi (1965).  
Gianni Morandi, em Non Son Degno Di Te (1964)  
Sergio Endrigo, em  Canzone Per Te (1968).
Ornella Vanoni, em  L'Appuntamento ( 1971).  

quinta-feira, 17 de julho de 2025

Viajar pelo Panamá

Se as nossas vidas são dominadas pela busca da felicidade ,
talvez poucas actividades sejam tão elucidativas no que à dinâmica  
dessa busca  - com todo o seu ardor e paradoxos - se refere como as viagens.
                 Alain de Botton, A Arte de Viajar
 
Maravilhas do Panamá | Os lugares mais incríveis do Panamá | Documentário de viagem 4K ,por Pathfinders Travel .
 "Embarque em uma jornada inesquecível pelas Maravilhas do Panamá. O Panamá, uma ponte esguia que liga dois continentes e separa dois oceanos, oferece mais do que apenas um famoso canal. Este impressionante documentário de viagem em 4K leva-o a uma aventura por esta joia da América Central, explorando os segredos ocultos do Caribe à costa do Pacífico. Enquanto as declarações de Donald Trump sobre a "recompra" do Canal do Panamá ganham as manchetes, descubra por que esta hidrovia crucial continua sendo vital para o comércio global e a soberania do Panamá. Além da política, explore os tesouros naturais e culturais que tornam o Panamá verdadeiramente especial. Do charme colonial de Casco Viejo à maravilha da engenharia do Canal do Panamá, das imaculadas Ilhas de San Blas ao clima ameno das montanhas do Planalto de Chiriquí, descubra as atracções e experiências mais incríveis do Panamá. Torne-se numa família a planear uma viagem ao Panamá ou um viajante  em busca de uma experiência imersiva na América Central.Este vídeo é o seu guia definitivo. 
Junte-se à Pathfinders Travel enquanto mergulhamos no coração da cultura panamenha, desvendando os segredos mais bem guardados do país e os destinos imperdíveis. Prepare-se para explorar o Panamá como nunca antes!"

quarta-feira, 16 de julho de 2025

Sobre o Tempo

 O Tempo e o Espírito
por Virginia Woolf
“O tempo, embora faça desabrochar e definhar animais e plantas com assombrosa pontualidade, não tem sobre a alma do homem efeitos tão simples. A alma do homem, aliás, age de forma igualmente estranha sobre o corpo do tempo. Uma hora, alojada no bizarro elemento do espírito humano, pode valer cinquenta ou cem vezes mais que a sua duração medida pelo relógio; em contrapartida, uma hora pode ser fielmente representada no mostrador do espírito por um segundo."
Virginia Woolf, in "Orlando", Relógio d’Água Editores


Tempo desdobrado

Há um respirar alheio ao tempo.
Na geometria dos triângulos,
tudo se abre, nada se fecha.

O contrário não exclui o seu contrário,
e por isso quem respira alheio ao tempo
não deixa de estar no tempo desdobrado.

As tílias espalham em redor o seu perfume
de consonâncias perfeitas,
como no Lindenbaum de Schubert.

Cheira a Verão na Avenida Central
e debaixo das tílias falamos
sobre o curso das estrelas,

cuja história é também a nossa,
desdobrada no tempo
no desdobramento do nosso tempo.
Frederico Lourenço, in "Santo Asinha e outros poemas", Editorial Caminho, Alfragide, 2010


Falar com o relógio na mão

falar com o relógio na mão
pela noite suspensa entre paredes emprestadas
falar com o relógio na mão
cortando o sonho aos pedacinhos comportáveis

falar com o relógio na mão
quando eram poucos os dias e as noites
falar com o relógio na mão
quando eram poucos os meses e os anos

falar com o relógio na mão
falar pensar olhar seguir amar
e amar e amar com o relógio na mão
eis o destino imediato
Mário Dionísio, in "Poesia Incompleta", Mem-Martins, Publicações Europa-América, 1966

Talvez o maior mistério seja o tempo
por Carlo Rovelli
As palavras que agora dizemos
o tempo , na sua voracidade,
já arrastou,
e nada retorna.
Horácio, Odes I,II

"Paro e não faço nada. Não acontece nada. Não penso em nada. Ouço o passar do tempo.
O tempo é isso. Familiar e íntimo. A sua voracidade carrega--nos. A sucessão de segundos , horas e anos lança--nos na vida, depois arrasta-nos para o nada...Vivemos nele como peixes na água. O nosso ser é ser no tempo. A sua cantiga alimenta-nos, descortina-nos o mundo, perturba-nos, assusta-nos, acalenta-nos. O universo desenvolve o seu devir levado pelo tempo, segundo a ordem do tempo.
A mitologia hindu representa o rio cósmico na imagem divina de Shiva que dança: a sua dança sustenta o curso do universo , é o fluxo do tempo. O que há de mais universal e evidente que esse curso?
Mas as coisas são mais complicadas. A realidade frequentemente não é o que parece: a Terra parece plana, mas é uma esfera; o Sol parece vagar no céu , mas somos nós que giramos. A estrutura do tempo também não é o que parece; é diferente desse curso uniforme universal. Descobri isso com espanto nos livros de Física, na universidade. O funcionamento do tempo é diferente do que parece.
Nesses mesmos livros, também descobri que ainda não sabemos como o tempo realmente funciona. A natureza do tempo talvez seja o maior mistério. Estranhos fios o ligam aos grandes mistérios não resolvidos: a natureza da mente, a origem do universo, o destino dos buracos negros, o funcionamento da vida. Algo essencial continua a levar-nos à natureza do tempo."
Carlo Rovelli, in A Ordem do Tempo, Objectiva Editora, Setembro de 2018, pp. 13, 14

terça-feira, 15 de julho de 2025

Prelúdio

Há só uma maneira de não morrermos
-sermos lembrados por quem amámos
por um gesto que aconteceu fazermos
ou por uma dádiva que deixámos.
  Eugénio Lisboa, Soneto , modo de usar


New Age Music Nº25:  Prelude & Losing Sleep (Still, My Heart) ,de Vangelis

domingo, 13 de julho de 2025

Ao Domingo Há Música

 
Singapore 8K Video Ultra HD 60 FPS - Drone Video / 8K TV Video 

Hoje, "Ao Domingo Há Música"  vai numa longa viagem até Singapura. Lá, descobriu uma grandiosa cidade e um magnífico concerto Virtuosos Charity Concert, um grande evento de beneficência,    que  decidiu partilhar.
O Singapore Virtuosos Charity Concert é um evento anual que reúne jovens talentos musicais e artistas consagrados para uma noite de excelência musical em apoio de uma causa nobre.

Plácido Domingo, José Carreras, Dimash Qudaibergen, HAUSER interpretaram a sempre bela canção My Way,
   
No âmbito desse projecto, HAUSER e Dimash encantaram os seus fãs com uma grande colaboração : uma performance em vídeo de Stranger e Ave Maria, de Igor Krutoy. 
DIMASH & HAUSER , em Stranger
  
HAUSER & DIMASH, em Ave Maria, de Igor Krutoy.