sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Aforismos de Henry de Montherlant

Henry de Montherlant

Aforismos de Henry de Montherlant

por Eugénio Lisboa
“O escritor francês Henry de Montherlant, um dos maiores do século XX francês – Valéry considerava-o o maior – foi, de um modo geral, mais falado e comentado do que real e profundamente lido, como a sua obra merecia e merece. Como prosador, insere-se na grande linha que vem de Bossuet, passa por Chateaubriand e Barrès e nele desagua. Acrescenta-lhes uma ironia felina e uma coragem de dizer “ce qui est”, própria de quem não tem frio nos olhos. Sobre ele, escreveram-se mais dislates do que os muitos que é normal debitar-se sobre os grandes escritores. Grande romancista, grande dramaturgo, grande poeta e ensaísta, não costuma ser referido como um dos mais notáveis pensadores aforistas, na linha dos maiores que a França produziu e a colocam num lugar ímpar, entre as nações.
Na sua obra de narrador, de dramaturgo, de ensaísta, mas, sobretudo, nos seus notabilíssimos CARNETS, os aforismos penetrantes e, às vezes, assassinos e bem dignos dos mais acutilantes antepassados, pululam. Deixo aqui, hoje, uma pequena amostra, para incitar o leitor a procurar mais.
 
Vivam os meus inimigos! Eles, ao menos, não me podem trair.
Depois de fazer amor, o primeiro a falar diz uma tolice.
Pode ferir-se o amor-próprio; matá-lo, nunca.
Morremos quando não há mais ninguém por quem tenhamos vontade de viver.
A felicidade nunca me aborrece.
Pode fruir-se tanta alegria em dar prazer a alguém, que, às vezes, quase nos sentimos na obrigação de lhe agradecer.
As épocas perturbadas fazem perder tempo. Só se pensa em salvar a cabeça e não há tempo para fazer mais nada.
A política é a arte de captar em proveito próprio a paixão dos outros.
Muitas coisas não merecem ser ditas e muitas pessoas não merecem que as outras coisas lhes sejam ditas. Isto faz muito silêncio.
Todo o grande homem age e escreve para desenvolver duas ou três ideias.
Tudo o que não é paixão tem um fundo de aborrecimento.
A infelicidade só se consola com a infelicidade dos outros.
Há dois momentos na sua vida em que todo o homem é respeitável: na sua infância e na sua agonia.

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