sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Perguntar é preciso



Um magnífico e interrogativo soneto que Eugénio Lisboa acaba de fazer sair da sua sempre extraordinária e   laboriosa oficina poética.

Perguntar é preciso

Se não há vida para além da morte,
se o nada é o que nos espera,
e o existir não teve nenhum norte,
viver ou não viver tanto fizera.

Mas o não ser é algo que se entenda?
Mas o que será afinal o nada?
Haverá o que do nada dependa?
Será o nada a alma empalada?

Só nos resta, na vida, perguntar,
mesmo sabendo que não há resposta:
feita a pergunta, paira no ar

a suspeita de que nos é imposta
uma vida a buscar, na escuridão,
motivo para a nossa servidão.

                           26.08.2021
Eugénio Lisboa, (Poesia inédita)

2 comentários:

  1. O teu tesouro

    Além, muito além desta paisagem,
    numa realidade apenas pressentida
    compreenderás ao fim dessa viagem
    de onde vens e pra onde vais, na vida.

    No torvelinho incessante dos destinos
    cada um com seu papel nessa ribalta
    semeando a ventura ou os desatinos
    colherás o que te sobra ou que te falta.

    Viandante dos caminhos milenares
    aprendeste na decepção e nos pesares
    que “nem tudo o que reluz é ouro”.

    Guarda-te pois das ciladas da ilusão
    porque “aonde estiver teu coração,
    ali estará também o teu tesouro”.


    A viagem

    Há um mundo maior e distante desta esfera
    onde o farol da vida se acende deslumbrante
    um recanto onde a morte não impera
    e onde as horas se medem pelo instante.

    São degraus de uma escada interminável
    ninhos de luz muito além do entendimento
    onde seres de uma beleza incomparável
    recriam sem cessar o firmamento.

    Se sonhas chegar um dia a essa paragem
    investe o próprio coração nessa viagem
    e, com a caridade, tece e borda o teu vestido...

    pois não entrareis jamais nessa cidade
    sem o traje do amor e da humildade
    e sem o passaporte do dever cumprido.
    Manoel de Andrade

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  2. Muito nos honra a presença de dois grandes poetas . Um excelente acréscimo ao soneto interrogativo de Eugénio Lisboa . Dois sonetos belíssimos.
    Muito obrigada .

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