segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Onde é o meu lugar?

Raul Brandão (1867- 1930)  foi contemporâneo da implantação da República em Portugal. O autor de "Húmus", obra de referência  da literatura nacional, registou, em Outubro de 1910,nas suas Memórias ,estas tão intemporais reflexões: 

" Oh meu Deus; nestas ocasiões é que eu queria ver por dentro estes homens lívidos e com um sorriso estampado na cara, que sobem as escadas dos ministérios , para aderirem à República!  É este e aquele, os que estão ameaçados de perderem os seus lugares , as altas situações, o poder. Os tipos não importam - o que importa é o fantasma que transparece atrás da figura; o que importa é o monólogo interior, as verdadeiras palavras que não se pronunciam, o debate que não tem fim, o que nestas ocasiões de crise ruge lá dentro sem cessar. Escutá-los  a todos ! Possuir o dom mágico através das paredes e dos corpos!...Toda a noite, toda a noite de cinco de Outubro quantos perguntaram ansiosos:  - Quem vai vencer? Onde é o meu lugar?... Bem me importam a mim as tragédias e as mortes!...Interesses, ambição, medo, tantos fantasmas que nem eu supunha existir e que levantam a cabeça!...
Não há nada que chegue a estes momentos históricos em que o fundo dos fundos se agita e remexe, para cada um se avaliar e saber o que vale uma alma...
E o desfile segue - o desfile dos tipos que sobem as escadarias dos ministérios, dos que descem as escadarias dos ministérios, uns já com o olhar de donos, mas vacilantes ainda, sem poderem acreditar na realidade, outros com um sorriso estampado que lhes dói. Estamos todos lívidos por fora e por dentro..."
Raul Brandão, in "Memórias", Quetzal Editores,  pp. 262, 263

1 comentário:

  1. Um bando de salafrários derrubaram um regime legítimo, criaram uma Constituinte onde não havia deputados monárquicos apesar da maioria da população ser favorável à monarquia.
    Puseram a Constituição em vigor com um Decreto Ditatorial.
    Demitiram toda a Administração, desde os Notários e as Conservatórias até às Câmaras.
    Roubaram o que restava dos bens das Igrejas e das Paróquias.
    Nunca pagaram impostos vivendo dos empréstimos que contraíam no estrangeiro.
    E AINDA TÊM A LATA DE FESTEJAR A DATA!

    ResponderEliminar