segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Morreu a voz maior de Angola


Waldemar Bastos, em Muxima
Waldemar Bastos & London Symphony Orchestra, EPK
(Este EPK é sobre o belíssimo Álbum "Classics of my Soul" de Waldemar Bastos que foi filmado e gravado , em 2012, pela Ikona Productions, em Berlim,  e que tem  imagens de Londres com The London Symphony Orchestra.)

Morreu Waldemar Bastos
"O músico angolano Waldemar Bastos, um dos mais respeitados artistas lusófonos da world music e dos primeiros artistas de Angola a alcançar a internacionalização, morreu esta segunda-feira de madrugada em Lisboa, aos 66 anos, disse à agência Lusa o Ministério da Cultura de Angola. 
Viveu no Brasil e em Portugal a seguir à independência de Angola. Até ao período de reconciliação iniciado em 2018, considerava-se ostracizado pelo regime angolano. Tinha 66 anos.
Radicado em Portugal, estava em tratamentos oncológicos desde há um ano, referiu a mesma fonte.
Com um percurso profissional de mais de quatro décadas, Waldemar Bastos apresentava uma sonoridade que o próprio definia como afro-luso-atlântica, marcada por composições de cariz autobiográfico e influências da cultura africana e portuguesa. Rainha Ginga, Velha Chica e Muxima são alguns dos temas que o tornaram conhecido.
“Não me meti na música com ânsia de fazer discos”, afirmou numa entrevista ao jornal Público, em 2016. “Meti-me na música pelo encontro com o belo. Não consigo fazer nada em cima do joelho, gosto de burilar as coisas com tempo, por isso demorei sempre seis ou sete anos a lançar novos discos. Quando uma pessoa tem isso como verdade para si própria, os outros acabarão por sentir.”
Descrito como uma pessoa directa e interventiva, pronunciou-se com frequência a favor da democratização de Angola e deu nota em várias ocasiões de que se sentia ostracizado pelo poder político angolano. No entanto, sempre se sentiu próximo do público. “Os angolanos acima de tudo estimam-me, amam-me, e eu também, porque só recebo o que dei”, afirmou em 2018.
Trabalhou com nomes como Chico Buarque, Dulce Pontes, David Byrne, Arto Lindsay e Ryuichi Sakamoto, entre outros, com a Orquestra Gulbenkian, a London Symphony Orchestra e a Brazilian Symphony Orchestra. Tinha os Bee Gees e Carlos Santana como referências. Em 2001, foi o único intérprete não fadista a cantar na cerimónia de trasladação de Amália Rodrigues para o Panteão Nacional, em Lisboa. Ele e a fadista tinham sido amigos próximos e admiravam o trabalho um do outro.
Recebeu em 2018 o Prémio Nacional de Cultura e Artes, a mais importante distinção cultural do Estado angolano. No ano anterior, tinha sido considerado Músico e Cantor Internacional de 2017 no X Encontro de Escritores Moçambicanos na Diáspora, em Lisboa, ocasião em que foi elogiado por defender a democracia e os direitos humanos. Em 1999 recebera o prémio New Artist of the Year nos World Music Awards, promovidos pelo Príncipe do Mónaco."
Agência Lusa/Texto Bruno Horta, Observador, 10.08.2020

Waldemar Bastos, em "Velha Chica"

Waldemar Bastos, em M'biri, M'biri

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