terça-feira, 4 de novembro de 2025

Os Livros de Novembro da Guerra & Paz

Os meus livros de novembro
o repouso do guerreiro
por Manuel S. Fonseca
"Vou falar de amigos, dos livros deles e do mundo que há nos livros deles. Se vou também falar de flores?
Não digo, mas experimentem ler com a amizade com que sempre me privilegiam. Obrigado pela paciência de virem ler-me aqui.
Pode entre o ex-comando de muitas batalhas e o ex-maoísta de muita retórica nascer uma amizade à primeiríssima vista? Foi o que aconteceu entre Rui de Azevedo Teixeira e este vosso escriba e editor. O que nos ligou? Por certo a aventurosa vida africana que ambos vivemos e, porventura, o gosto pela inteligência de refeições simples, mas requintadas, que a gota de um vinho sublime transfigura. O Rui brindou-me, e aos leitores portugueses, com uma trilogia de romances de acção e risco e de sagazes angústias amorosas. E se já leram O Elogio da Dureza, O Longo Braço do Passado e O Imenso, Sereno e Doce Rio, venham agora contemplar o repouso do guerreiro amoroso: em Ficções e Ensaios: Fascínios, Espelhos, Labirintos, o Rui, o meu amigo Rui, como se fosse um Borges português, põe-se a degustar outros escritores, de Manuel Alegre a Hélia Correia, de António Lobo Antunes a Clara Pinto Correia. Eis o que vos digo: corram a ver-se ao espelho, com ele, em cada um dos arrebatadores e labirínticos textos deste Ficções e Ensaios.
Outro sereno remanso é o que os leitores descobrirão em Países Estrangeiros, Memórias e Viagens, deambulação do poeta e diplomata Luís Castro Mendes: a ostracização diplomática é uma fonte de inspiração e a verdade é que todo o diplomata, na sua existência entre parêntesis, é um espião dos lugares, um espião da história, um espião da alheia vida de cada povo e cidade em que se infiltra. Leia-se.
Um extraordinário espião do «sonho chinês» é o sinólogo Claude Meyer. Escreveu A China de Xi Jinping, Uma Ameaça à Paz e à Ordem Mundial, um manancial de informação e um guia preventivo do que se pode esperar de Xi Jinping e da sua autocracia. A ambição de supremacia tecnológica e militar chinesa liga-se à obsessão do total controle colectivo e individual. Sim, o que se pode esperar de Xi não é propriamente a promessa de que «cem flores desabrochem». Isto, para que não se diga que não falámos de flores! Da colecção A Minha Estante (está tão bonita!).
Já sabíamos que o wokismo não é flor que se cheire. Mas agora, em Face ao Obscurantismo Woke, 26 professores universitários, cientistas e investigadores decidiram dissecar os efeitos do wokismo na medicina, na investigação científica, na biologia, na filosofia. E os efeitos são um retrocesso científico e uma perda de liberdade que confrangem qualquer espírito livre. Um pseudo-saber militante arroga-se o direito de intimidar, cancelar, excluir e proibir: uma nova Inquisição que queima em praça pública. Pierre Vermeren é o organizador da obra. Da colecção Os Livros Não se Rendem, que a Fundação Manuel António da Mota e a Mota Gestão e Participações sempre apoiam, oferecendo-a às 254 bibliotecas da rede pública.
Quem organizou Bicesse: O Caminho da Paz foi Sónia Neto. Dá, neste seu livro, a palavra a 22 testemunhos dos protagonistas que procuraram o Acordo entre o MPLA e a UNITA, aqui ao lado, em Bicesse, para estancar a guerra fratricida que destruiu Angola. De Cavaco e Silva a Durão Barroso, dos angolanos Lopo do Nascimento a Lukamba Gato, neste livro o que ouvimos e lemos é a História a falar.

São estes os meus cinco livros de Novembro na Guerra e Paz, a que a Euforia, a chancela de new adult, acrescenta um romance, A Fibra das Nossas Almas, de K. M. Moronova. Moronova é uma autora capaz de escrever esta frase: «Tenho 26 anos e quero morrer». E a seguir de trazer para o seu romance um par de olhos crudelíssimos e um avassalador sentido de humor mórbido. Já querem ler? Também eu.

Prometo: na newsletter de Dezembro só falaremos de presentes. Regalos. Gifts. Cadeaux. Prendas, portanto.
Manuel S. Fonseca, editor da Guerra & Paz.

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