domingo, 23 de novembro de 2025

Ao Domingo Há Música



Testamento (Zapovit)

Quando eu estiver morto, enterre-me
Na minha amada Ucrânia,
Minha tumba sobre um túmulo alto
No meio da vasta planície,
Para que os campos, as estepes sem limites,
A costa do rio Dnieper
Meus olhos pudessem ver, meus ouvidos pudessem ouvir
O poderoso rio rugir.
Taras Shevchenko (1814–1861), poeta, pintor e figura central do romantismo ucraniano cuja obra principal "Kobzar" , uma coletânea de poemas que se tornou símbolo da identidade nacional.
O poema Testamento é visto como um apelo  à liberdade e à resistência contra a opressão. Tornou-se um texto fundamental na cultura ucraniana, recitado em momentos de luta e esperança.
Simples, directo e profundamente emotivo, refletindo tanto o amor pela pátria como a dor da opressão.

No momento actual, em que a invasão da Ucrânia pela Rússia se radicalizou , quase transformando um acto vil, cruel e contrário ao Direito Internacional e  ao ordeiro respeito entre Nações , num acto de livre, merecida e aceitável justificação. O ditador e bárbaro presidente da Rússia impõe, em aparente declarado conluio com o seu equivalente americano, impróprias e indignas condições à Ucrânia para se render e se entregar, amputada e sem defesa, ao carrasco que destruiu o seu país,  dizimou cidades, campos e impiedoso  torturou,  matou indiscriminadamente. 
A ignomínia é tão medonha que ninguém pode ficar indiferente. Recordo Eugénio Lisboa, que,  num enérgico poema aos poetas portugueses silenciosos perante a catatástrofe1, lhes  apelava: Onde está a vossa Musa/ bem canora e eloquente/ que ao bandido que abusa / faz frente intransigente/ (...) À guerra que tudo esmaga,/ opondo a luta imortal,/  que ao invasor embarga/ o seu avanço letal!
Estendo o mesmo apelo ao Mundo para que não permita esta hedionda proposta a um povo que se defende de um sanguinário invasor e luta pela sua liberdade, pela sua independência.

 “Ой у лузі червона калина” (Oi u luzi chervona kalyna – Oh, no prado, o viburno vermelho) arranjo  de Tomas Dičiūnas e interpretado  pelos Lithuanian opera singers: Viktorija Miškūnaitė, Monika Pleškytė, Rafailas Karpis, Edgaras Davidovičius, Jonas Sakalauskas, Arminas Skirvainis, Paulius Prasauskas e o Ukrainiano  músico Andriy Khlyvnyuk .É uma das mais emblemáticas canções da tradição ucraniana, com uma história que atravessa mais de um século. Foi composta em 1914 por Stepan Charnetskyi, dramaturgo e poeta ucraniano, como parte de uma peça patriótica. O “chervona kalyna” (viburno vermelho) é um símbolo nacional da Ucrânia, associado à beleza, resistência e liberdade. A letra fala da Ucrânia que “se inclina” sob opressão, mas que voltará a erguer-se, transmitindo esperança e força colectiva. Tornou-se um hino patriótico durante a Primeira Guerra Mundial e mais tarde na luta pela independência. Foi cantada por soldados da Sich Riflemen, unidade militar ucraniana, como canção de marcha. 
Em 2022, ganhou nova projecção internacional quando o cantor Andriy Khlyvnyuk, da banda BoomBox, a interpretou em Kiev; a gravação viralizou e inspirou versões de artistas como Pink Floyd, que lançaram uma adaptação solidária."

Oh, no prado, o viburno vermelho se inclinou,
Por alguma razão, a nossa gloriosa Ucrânia se entristeceu.
E nós levantaremos esse viburno vermelho,
E nós alegraremos a nossa gloriosa Ucrânia!

Não deixaremos que os moskovitas dominem a Ucrânia,
Vamos levantar-nos, irmãos, e libertar a nossa pátria.
E nós levantaremos esse viburno vermelho,
E nós alegraremos a nossa gloriosa Ucrânia!

  
Ukrainian Choir,  em  'Agnus Dei'.
Uma noite de luar - A mais bela canção ucraniana 
"Esta canção  é  dedicada  ao bravo povo ucraniano que sofre sob a brutal invasão russa , pela Orquestra Sinfónica e Coro Gimnazija Kranj . Os nossos músicos tocaram essa linda canção de amor há alguns anos. Diana Novak fez um arranjo incrível. Foi composta por Mykola Lysenko, com letras escritas por Mykhailo Starytsky. Arranjo: Diana Novak. Solistas: Rok Zupanc, Lovro Krišelj. Mestre do Coro: Erik Šmid. Maestro: Nejc Bečan com a   Gimnazija Kranj Symphony Orchestra.
A produção da PPZ dedica esta linda canção de amor a todo bravo povo ucraniano, que nunca se renderá. A liberdade deles é a nossa liberdade. As suas vidas são as nossas vidas! (Basta activar as legendas em português.)"

1 Eugénio Lisboa, in Poemas em tempo de guerra suja, Editora Guerra & Paz, Setembro de 2022, p 18

2 comentários:

  1. Parabenizo a editora por esta bela postagem. Tão providencial no atual e angustiante contexto geopolítico da Ucrania, tão mutilada. Taras Chevtchenko, um artista iluminado, memória imperecível no renascimento cultural do povo ucraniano no século XIX. Foi o cantor da liberdade influenciando a consciência libertária do seu povo e cujas ideias inspiram até hoje a luta pela soberania da Ucrania. Temos, em Curitiba, uma estátua do poeta numa Praça com seu nome.

    E na minha biblioteca, tenho um tesouro: uma edição bilíngue comemorativa aos 200 anos do seu nascimento, publicada pelo Consulado Honorário da Ucrânia no Paraná.

    Contanto com a tua generosa permissão, trago toda a expressão do poema Testamento, que você publicou os primeiros versos.


    Em alguma página já escrevi que os poetas não morrem jamais, seguem vivos no lirismo e na magia dos seus versos, na memória agradecida dos povos e nos registros indeléveis da História. Manoel de Andrade

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  2. As imagens da estátua, do livro e da página com o poema não foram.

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