Paixão Segundo São Mateus
"Naquele tempo, foi Jesus com os Seus discípulos para um sítio chamado Getsémani e disse-lhes : " Assentai-vos aqui , enquanto vou, ali orar". E levando consigo Pedro e os filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se . E disse-lhes : " A minha alma está triste até à morte! Ficai aqui e vigiai comigo". Depois, avançou um pouco e prostou-se com o rosto no chão , orando e dizendo: " Meu Pai , se é possível, fazei que este cálice se afaste de mim; contudo, faça-se a Vossa vontade ,e não a minha."
(...) Havendo rompido a manhã , todos os príncipes dos sacerdotes e os anciãos se reuniram em conselho contra Jesus, para O condenarem à morte. E, levando-O, conduziram-n'O e entregaram-n'O ao governador Pôncio Pilatos. Então, Judas, tendo atraiçoado Jesus e vendo que Este havia sido condenado, foi logo cheio de arrependimento, levar as trinta moedas de prata aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos, dizendo :"Pequei,entregando-vos o sangue inocente! ".Mas eles disseram : " Que nos importa isso? Tu poderias pensar no que fazias!"
Evangelho da Paixão e Morte de Jesus, segundo S. Mateus , 26-27
Coro final de A Paixão segundo S. Mateus (BWV 244) , de Johann Sebastian Bach (1685-1750), composta provavelmente em 1727. A interpretação é do Hungarian Festival Choir, acompanhado pela Hungarian State Symphony Orchestra, sob a direcção do Maestro Géza Oberfrank.
A tradução é de Leonardo dos Santos Perin. Fotos de Shutterstock. Obras de Crucificação, Giotto (1304-1306).Deposição, Rafael Sanzio (1507).
Sobre a obra:
Gravura de Leipzig em 1735 mostrando a Igreja de São Tomás (Thomaskirche) à direita e sua escola (Thomasschule) no fundo ao centro |
"A última moda naquela época de 1721 era a apresentação de “paixões musicais”. Paixão, que vem do latim passio, sofrimento, é a história da crucificação de Jesus conforme contada por um dos quatro evangelistas: Mateus, Marcos, Lucas ou João. O costume era ler uma das Paixões durante o culto em dias específicos do calendário da Quaresma, o período de 40 dias (descontando os domingos) que antecede a Páscoa. Até que, no começo do século XVIII, compositores começaram a colocar em música o texto da Bíblia, interpolando aqui e ali uma ária ou um coral. A prática conquistou várias cidades até chegar a Leipzig em 1721, quando Johann Kuhnau (1660-1722), o diretor musical das principais igrejas da cidade, apresentou uma Paixão segundo São Marcos de sua autoria.
Bach chegou à cidade em Maio de 1723 para ocupar o cargo de Kuhnau, falecido no ano anterior. O seu trabalho incluía escrever música para os cultos religiosos semanais, e assim, para a sua primeira Sexta-feira Santa em Leipzig, em 1724, ele escreveu a primeira versão da Paixão segundo São João BWV.245. Quase podemos imaginar Bach a perguntar-se , no final do culto: “o que farei para o próximo ano?”. Alguns esboços da próxima Paixão datam de 1725, mas é provável que ele tenha iniciado mesmo em 1724.
A nova Paixão não ficou pronta do dia para a noite: em 1725 ele apresentou uma segunda versão da Paixão segundo São João, e em 1726 ele reapresentou uma Paixão segundo São Marcos escrita por Reinhard Kaiser e/ou Friedrich Nicolaus Brauns em 1713. Foi só no ano seguinte que a Paixão segundo São Mateus teve a sua estreia, em 11 de Abril de 1727, na Thomaskirche, a igreja luterana de São Tomás.
(...)Durante a vida de Bach, a Paixão segundo São Mateus foi repetida pelo menos mais três vezes: em 1729, 1736 e em 1742, sofrendo pouquíssimas revisões em cada uma das apresentações. A partitura original de 1727 está perdida; o belo manuscrito autógrafo que nós podemos contemplar digitalmente clicando aqui (viva a internet!) foi redigido carinhosamente por Bach no periodo entre 1743 e 1746 para seu próprio deleite. Sabe-se que o compositor tinha muitos ciúmes desse manuscrito, e conservava-o sempre em bom estado: ele mesmo admitia que “a grande Paixão” era a maior das suas obras.
Depois da morte de Bach, a “grande Paixão” permaneceu sepultada no manuscrito até a próxima apresentação em 11 de Março de 1829, quando o jovem compositor Felix Mendelssohn, com apenas 20 anos de idade, preparou e conduziu uma versão reduzida e adaptada da obra em Berlim. Para se ter uma ideia da tal “adaptação”, Mendelssohn regeu do piano em torno de 400 músicos, adicionando clarinetes para satisfazer o gosto musical dos alemães na época." Euterpe
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