Por Eugénio Lisboa
"Há, sobretudo em Inglaterra, dicionários para todos os gostos: dicionários para coisas que se devem dizer depois do jantar, dicionários de insultos, dicionários das melhores coisas que se disseram nos anos 80 ou 90 do século passado, dicionários das melhores tiradas no Parlamento, etc., etc. Pensem na possibilidade de um dicionário qualquer e verificarão que ele já existe.
Um dos dicionários que adquiri, quando vivia em Londres, foi um dicionário de “As 776 coisas mais estúpidas que jamais se disseram”. É uma colecção que nos tira o fôlego, porque colige os disparates ditos ao longo das diferentes Idades de Ouro da Estupidez. Vou dar-vos, aqui, uma pequena amostra daqueles deslizes a que não só os estúpidos estão sujeitos. Se gostarem, poderei dar-vos, depois, uma segunda amostra.
Em primeiro lugar, cito Virginia Guyda, que foi funcionária na Itália Fascista e que assim opinou sobre o item “cultura”: “A cultura é necessária mas deve ser viva e não muito abundante.” A seguir, dou-vos um mimo, da autoria de Johny Walker, campeão de luta de punho (wrist wrestler), informando como conseguira os seus triunfos: “É cerca de 90 por cento de força e 40 por cento de técnica.” E, já agora, este convite de um hotel japonês aos seus hóspedes: “Está convidado a aproveitar a criada de quarto.” Noutro registo, o historiador do Estado do Tennessee, John Trotwood Moore, exprimia assim a sua ilimitada admiração por Andrew Jackson: “Acredito que, depois de Deus, Andrew Jackson foi o maior homem que jamais viveu.” E, já que falamos de política e de políticos, esta pérola da autoria de Alf London (na América), dizendo isto, na sua campanha eleitoral contra Roosevelt: “Onde quer que fui, neste país, encontrei americanos.” Célebre, pelos seus “goldwynismos”, era o produtor cinematográfico americano Samuel Goldwyn, a quem, por altura em que fazia filmar um “western”, vieram dizer que precisavam de mais índios para o que iam filmar: “Tirem alguns do reservatório”, ordenou ele, no seu inglês de trapos, confundindo “reservatório” com “reserva”.
Os políticos são os campeões, neste concurso da estupidez: Orrin Hatch, senador republicano do Utah, explicava assim o seu apoio à pena de morte: “A pena de morte é o reconhecimento, pela nossa sociedade, da santidade da vida humana.” Outro exemplo é esta apresentação feita ao Parlamento, no século XIX: “Apresento-vos o Reverendo Padre McFadden, conhecido em todo o mundo e noutros lugares.” E esta do Presidente da Câmara de Washington D. C., Marion Barry: “Com excepção dos assassinatos, Washington tem uma das taxas de crime mais baixas deste século.” Os políticos, como disse, são os campeões: esta, de um ministro da Informação, na África do Sul (Louis Nel): “Nós não temos censura. O que nós temos é uma limitação àquilo que os jornais podem dizer.” A censura é fértil em atrair os disparates, como se comprova com esta saída do General William Westmoreland, que ficou conhecido pelo seu retumbante fracasso no Vietnam: “Sem a censura, as coisas podem ficar terrivelmente confusas, no espírito das pessoas.”
E, para terminar, mais duas de políticos (sempre os campeões!). Uma, de um legislador irlandês, muito assertivo: ”A única maneira de pôr termo a esta onda de suicídios é tornar o suicídio uma ofensa capital, punível com a morte.” E, por fim, esta deliciosa proclamação oficial do Partido Comunista Chinês, em 1971: “Fazer amor é uma doença mental que desperdiça tempo e energia.” Eugénio Lisboa, em crónica publicada na Revista " LER", Verão de 2018,Nº150, p 51
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