sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Um estremecimento de azul

Perto do centro

Este dia, este momento.
O tempo único e imóvel atravessando-nos aos dois 
como a uma superfície incrédula.
Eu e tu, antes e depois : tu, a Mesma.
E, no entanto, pouco pode o amor alcançar
senão a minha mão na tua mão.
O meu desejo é maior do que eu,
e eu maior do que o meu desejo maior do que eu.
Também o tempo se move imovelmente no tempo,
a esperança na incerteza,
o desejo na convicção da eternidade.
O amor é só um estremecimento de azul.
Perto do centro,
onde a vida e a morte (ambas desprezam
aqueles que se amam) riem.
Manuel António Pina ,in " Atropelamento e Fuga" 2001,  "Todas as Palavras, poesia reunida, 1974-2011", Ed. Assírio & Alvim

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