quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Ir-se por tempo abaixo

 

Seiscentos e Sessenta e Seis
 
A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…
Quando se vê, já é 6ª-feira…
Quando se vê, passaram 60 anos…
Agora, é tarde demais para ser reprovado…
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre, sempre em frente…
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
Mario Quintana, (Poema publicado originalmente no livro Esconderijos do Tempo -  Poesia Completa – Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005, p. 479)
 
O AMOR AOS SESSENTA
 
Isto que é o amor (como se o amor não fosse
esperar o relâmpago clarear o degredo):
ir-se por tempo abaixo como grama em colina,
preso a cada torrão de minuto e desejo.
 
Ser contigo, não sendo como as fases da lua,
como os ciclos de chuva ou a alternância dos ventos,
mas como numa rosa as pétalas fechadas,
como os olhos e as pálpebras ou a sombra dos remos
 
contra o casco do barco que se vai, sem avanço
e sem pressa de ausência, entre o mito e o beijo.
Ser assim quase eterno como o sonho e a roda 
que se fecha no espaço deste sol às estrelas
e amar-te, sabendo que a velhice descobre
a mais bela beleza no teu rosto de jovem. 
Alberto da Costa e Silva, in Poemas Reunidos, Nova Fronteira/Biblioteca Nacional,
Rio de Janeiro, 2000
Serge Reggiani, em  Le Temps qui reste 

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