sexta-feira, 14 de julho de 2023

Soneto aos animais que se escondem

 
Os que não gostam da luz que é clara,
os que se escondem debaixo da terra,
esses em quem a coragem é rara,
os que arranham mas fogem à guerra,
 
as minhocas que são hermafroditas,
e só se atrevem a sair à noite,
as toupeiras com patas pequenitas
e garras que arranham à meia-noite,
 
o escaravelho que come excrementos
e pica de-repente, com veneno,
a cobra-cega que foge dos ventos,
 
anfíbio sem patas, de corpo obsceno,
são animais que odeiam a luz
e usam a terra como capuz.
                 14.07.2023
Eugénio Lisboa
 
NOTA: O anonimato sob o qual certas pessoas gostam de se esconder dá para tudo: para fazer comentários anónimos e para escrever cartas anónimas. Tudo, território repulsivo. Exceptuo disto, as almas cândidas que se refugiam no anonimato, por pudor ou timidez, mas sem malícia. A estas só há que encorajá-las a saírem para a luz do dia. Quando uso os animais que vivem debaixo da terra, como metáfora, para os cultores do anonimato, faço uma perdoável injustiça: os animais escondem-se por razões de sobrevivência; os humanos fazem-no, quase sempre, por falta de decência
.

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